26 de maio de 2023

O limite do humor é a piada.


   Não sei se alguma vez se deram conta, mas o humor mudou em Portugal. Mudou nos últimos vinte anos. Mais ou menos na altura daquele programa extremamente popular na televisão, onde os comediantes subiam a um palco e contavam piadas e anedotas, era muito comum fazer-se piadas com as pessoas LGBT. Na altura, as vítimas eram sempre os mesmos: Cláudio Ramos, Carlos Castro, José Castelo Branco. Tinha piada -para eles, naturalmente- satirizar em torno da feminilidade das pessoas. Sem nos darmos conta, estávamos a propagar a homofobia. Para mim, um miúdo então com dezasseis, dezassete anos, não era fácil chegar a casa, ligar a televisão e até num programa dum humorista de que eu gostava, o Herman, ter de ouvir piadas sobre homens apenas por serem mais femininos. Isto após um dia inteiro de ofensas, humilhações e achincalhamentos na escola, e inclusive onde vivia, por conta daquilo que eles julgavam saber, a minha sexualidade.

   Hoje em dia, já não é politicamente correcto fazer-se piadas com a sexualidade, ou a feminilidade (no caso, de homens). E não o é não apenas porque despertámos, em termos de consciência social, para a necessidade de respeitar, senão também porque simplesmente perdeu a piada. Já não tem graça. E esse é o verdadeiro limite do humor.

4 comentários:

  1. Não sei se concordo consigo. Creio que o humor com base nas caraterísticas mais efeminados continuam a funcionar, só que, nestes últimos anos houve uma espécie de consciência internacional que acordou, e julgo que em função de uma série de lobbies que decretaram que esse tipo de humor já não estava "in".
    E as pessoas são muito sensíveis ao que está "in" ou que está "out". Como a moda.
    Creio que surgiu a par de outras manifestações como a violência contra a mulher, nomeadamente a violência doméstica, o sexismo e a violência sexual exercida nos locais de trabalho (e novamente, sobretudo contra a mulher), e, a reboque, já que se tratam de situações que mexem com "minorias", veio a situação dos gays.
    E os gays começaram a manifestar-se publicamente, o que anteriormente não sucedia.
    A par com tudo isto, gays influentes começaram igualmente a dominar os media, manipulando a sociedade.
    No total, creio que coisas boas foram accionadas, mas não tenho a certeza que tal tenha sucedido pelas razões corretas.
    No entanto, e na generalidade, a situação mudou para melhor, por isso... que importa que o que está na base nem sempre seja muito correto.
    Cumprimentos para vós
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Eu, por outra parte, creio que já não funciona muito bem. Haverá sempre um tolo que se ri, porém, estamos muito mais consciencializados para a necessidade de respeitar, e digo respeitar assim, sucintamente.

      Essa mudança, eu devo-a também a todos aqueles que deram “o corpo às balas”; já o haviam dado antes e continuaram a dá-lo, enfrentando os preconceitos. Carlos Castro, José Castelo Branco em Portugal, e outros tantos, e até eu, à minha maneira, numa escala muito mais pequena.

      É curioso, mas hoje converso com pessoas que foram colegas no colégio, algumas até que se “metiam comigo”, passo a expressão, e que reconhecem que eram outros tempos; que tão-pouco elas tinham sido educadas para isso, para compreender e respeitar. A sociedade mudou, e claro, mudou também em relação às mulheres, às crianças (já não se tolera a palmada pedagógica), e talvez menos em relação aos nossos velhos, mas isso tem que ver, digo eu, com a nossa tendência para não olhar para a decadência. Nos velhos, vemo-nos no nosso futuro.

      Um forte abraço,
      Mark

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  2. De facto, o mundo está chato.
    Nos dias de hoje, já não haveria um episódio do sai de baixo
    O famoso Alô Alô que satirizava com a Hitler e segunda guerra mundial
    Hoje é tudo uma camada de sensíveis Falsos, dá-lhe umas cervejas e ouve os depois. Sai tudo...
    Estamos a caminho de uma Coreia do Norte onde alguém te diz quando rir e quando deves ficar chocado ehehehehehe
    Mero desabafo...
    Abraço amigo

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  3. «De facto, o mundo está chato.
    Nos dias de hoje, já não haveria um episódio do sai de baixo
    O famoso Alô Alô que satirizava com a Hitler e segunda guerra mundial
    Hoje é tudo uma camada de sensíveis Falsos, dá-lhe umas cervejas e ouve os depois. Sai tudo...
    Estamos a caminho de uma Coreia do Norte onde alguém te diz quando rir e quando deves ficar chocado ehehehehehe
    Mero desabafo...
    Abraço amigo»

    Mais uma vez, amigo Francisco, o teu comentário não entrou. Deixo-o aqui, e respondo-te:

    Tens razão. Estamos mais sensíveis, todavia, tem o seu lado bom: estamos mais atentos à discriminação, ao preconceito. Estamos mais esclarecidos. O humor continua a existir, mas é mais inteligente. Não caímos na tentação fácil de ridiculizar um homem porque é feminino, por exemplo, porque já não tem piada. E deixou de ter piada também porque -e ainda bem- se vulgarizou: hoje é comum vermos homens orgulhosamente femininos nas ruas.

    Um abraço,
    Mark

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