Tal como os Scorpions preconizaram há mais de vinte anos em relação aos regimes socialistas do leste europeu, também agora o Médio Oriente dá sinais de mudança.
Depois da queda dos regimes socialistas e da própria União Soviética, foi chegada a altura do grito de revolta das populações dos países do norte de África depois de décadas de profunda e despótica tirania. A Tunísia ousou revoltar-se, sendo seguida de perto pelo Egito, Iémen e até mesmo a Líbia. Que conclusões tirar? Que o mundo está em constante mudança. Os regimes autoritários cada vez são menos tolerados pelas populações que, por sua vez, paulatinamente tornam-se mais instruídas e conhecedoras dos seus direitos. Contrariamente à ideia difundida no Ocidente, os países do norte de África e do Médio Oriente, em geral, têm uma população estudantil informada e dinâmica, apesar da grande maioria dos jovens não ter acesso à educação de nível superior. Todavia, os que a têm, possuem um forte espírito crítico em relação ao que os rodeia, aliado às novas tecnologias como a internet, nomeadamente as redes sociais. Aliás, a internet foi um elemento fulcral no êxito da revolta no Egito. Esta camada juvenil distingue-se das camadas juvenis da Europa: eles pegam em armas, lutam, reivindicam os seus direitos e morrem pelas causas em que acreditam. Tão diferente do cenário na Europa!... Fiquemos por Portugal e recuemos até 25 de Abril de 1974. Foi o MFA que fez a Revolução. Não foram os jovens, não foi o povo. O povo nunca se insurgiu de forma visível perante o Poder. Os militares, descontentes com a derrota inevitável da longa Guerra Colonial, revoltaram-se e provocaram o Golpe de Estado que levou à destituição de Marcello Caetano.
Nos países do Médio Oriente a situação é diferente. O povo - em massa - foi para as ruas e fez a revolução. E ganhou. São povos que têm conhecimento dos regimes laicos do Ocidente, onde há uma separação nítida entre as diferentes Igrejas e o Estado. E querem, naturalmente, transpor o mesmo para a sua realidade. Acreditam - e bem - que o Islamismo e a democracia podem caminhar lado a lado sem qualquer problema.
Francis Fukuyama - que tive o prazer de ler com dezassete anos - na sua obra O Fim da História e o Último Homem defendeu a tese de que a democracia será o destino final da Humanidade. Fukuyama (para quem não sabe, é um importante filósofo norte-americano de origem nipónica) defende que os diferentes povos do mundo têm direito à democracia. Efetivamente é assim.
Que a transição no Médio Oriente seja um exemplo para outros povos que vivem sufocados sob regimes tirânicos, autoritários e despóticos.
Eu, pessoalmente, não sou muito adepto de política, mas tenho interesse em conhecer o que se passa no mundo. Fiquei surpreendido por sabe que ainda havia esse tipo de regime autoritário em alguns países. Mas agora sei que existem e que estão a perder terreno, o que é uma satisfação para mim. Concordo quando dizes que todos têm direito a ser governados por uma democracia. Todos têm direito a poderem fazer escolhas e divulgar opiniões e a escolher os seus líderes e representantes.
ResponderEliminarDe facto, são ventos de mudança que sopram fortes.
Não vamos meter tudo no mesmo saco; os regimes ditatoriais de Portugal, Espanha e da Grécia dos Coronéis, por exemplo, não têm comparação com os regimes ditatoriais do Médio Oriente ou dos países do Magreb, porque os tempos são outros, essencialmente.
ResponderEliminarE também as imensas diferenças culturais e religiosas.
A democracia é um bem inegável, mas tem consigo um poder real: poder auto-destruir-se.
Eu acho muito bem o que está a acontecer naqueles países, mas há que pôr algumas reservas.
Não tenho especial simpatia pelo senhor Kadhaffi, mas na Líbia o processo não vai ser tão "simples" como na Tunísia ou mesmo no Egipto.
A Líbia tem um enorme poder económico: o petróleo e o gás natural, e o mundo ocidental não vai dar de mão beijada um país essencial para as economias ocidentais a um exército não politizado ou a um povo onde não há partidos políticos.
Hoje ouvi declarações do MNE português, em Bruxelas que me assustaram: este processo na Líbia será porventura o mais difícil para o Ocidente, desde a Segunda Guerra Mundial.
A democracia é muito bonita, mas por vezes é "perigosa" é o recado que vem de Bruxelas. A ver vamos.
Entretanto o preço do petróleo vai disparar, pois a Líbia é só o 4º. maior produtor mundial...
Mark,
ResponderEliminarConcordo com o que disse. Foi-se o tempo em que as ditaduras se mantinham no poder sem questionamento. Agora se questiona, se exige, se remove...
Me pergunto se esses ventos chegarão à China ou à Cuba.
Tomara que cheguem. Tomara que a geração que nos seguirá viva em um mundo onde haja liberdade, onde não seja exigido o uso de burkas (sejam elas físicas ou não).
Marcelo B. Pires.
Bem, eu sou a favor da democracia, da liberdade de expressão e do respeito pelo próximo, mas não se iludam... Mesmo hoje em dia, as democracias que existem estão muito longe da perfeição e são comandadas por poderes económicos. A diferença real entre as democracias que hoje temos e as ditaduras é que para além de termos mais liberdade de expressão, temos a falsa ideia de controlo sobre o estado de direito. Mas os poderosos/ricos continuam a mexer os cordelinhos à distância e nas democracias têm a vantagem de que ao não darem a cara, quem se queima são os governantes que eles subornam, ameaçam e corrompem...
ResponderEliminarPensem nisso!
Abr
Pinguim: A natureza dos regimes ditatoriais é irrelevante. Ditaduras são ditaduras, sejam mais ou menos limitadoras das liberdades individuais. Uma vez que a liberdade é um bem inestimável, pouco adianta concluirmos que as ditaduras do sul da Europa foram mais brandas que as do Médio Oriente.
ResponderEliminarAcho muito interessante este tipo de coisas e escritas por ti ainda mais interessantes se tornam ;p
ResponderEliminarEm relação à comparação entre as ditaduras de países europeus e no magrebe ou noutros países islâmicos, acho que um dos fatores que mais peso têm é precisamente a velocidade e qualidade da informação. Hoje em dia é quase impossível para um poder instalado controlar a totalidade de informação que chega à população, contrariamente ao que se viveu por cá há 40 ou 50 anos. Por muitos déficits de formação que os jovens tenham, graças às novas tecnologias têm um poder de mobilização maior que nunca. E isso associado às condições precárias de desemprego e corrupção que vivem fazem-nos lutar pela democracia.
ResponderEliminarE Fukuyama... muito bom, tanto O Fim da História e o Último Homem mas sobretudo (e mais atual) A Construção de Estados. Porém, desculpa a opinião, é apenas utopia política. Para a classe decisora, o Estado Social não é o melhor exemplo de democracia. Pelo menos em Portugal.