Há uns dias perfizeram cinco anos desde a morte violenta e brutal do ser humano Gisberta. E destaco a condição de ser humano por um motivo muito específico: não há transexuais, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, etc; há seres humanos. As pessoas não são embalagens passíveis de serem rotuladas.
Gisberta morreu barbaramente assassinada por jovens delinquentes a quem foi perdoado o homicídio. Sofreram umas advertências por parte da Justiça e pouco mais. A vida de Gisberta nada significou para as autoridades judiciais portuguesas. Para além disso, depois de assassinada, vários órgãos da Comunicação Social referiram-se a Gisberta como sendo um homem, apesar de todos saberem que Gisberta era uma mulher e gostava de ser tratada como mulher. Nem nesse detalhe aparentemente insignificante Gisberta foi respeitada. Para Portugal e para a generalidade dos portugueses tratava-se de um brasileiro, paneleiro, seropositivo, drogado, prostituto e ignóbil. Mas Gisberta não era isso. Gisberta foi uma mulher linda, amiga do seu amigo, solidária, que infelizmente passou por duras provas durante a sua vida. A Justiça, aquando da sua morte, tratou-a como o povo a tinha em consideração: como lixo. Para alguma comunidade LGBT - ou que raio é isso - Gisberta foi alguém que não merecia consideração porque desprestigiava os gays. Gisberta não era gay, era uma transexual - e já referi que abomino rótulos.
A vida de Gisberta nada contou e da sua triste história nenhum ensinamento se retirou, afinal, pouco mais de um ano depois, outra "transexual" foi encontrado assassinado em Portugal (Luna).
Hoje poucos se lembram de Gisberta. Já não era a estrela de outrora, já não era jovem, já não era bonita. Vivia envelhecida pela precocidade da sua dependência das drogas, afetada pela SIDA e pela discriminação de que era alvo. Passava fome e frio. Vivia num prédio abandonado. Foi espancada e deitada para um poço - viva. Morreu afogada, segundo a autópsia. Os assassinos foram os autores da proeza.
Quem quis saber dela? Afinal, quem quer saber de um "paneleiro"?
Todos nós poderíamos ser uma Gisberta.
A Gisberta não era mais, nem era menos.
E tu, serás a próxima Gisberta?
Descansa em paz, amiga.
Bela homenagem a alguém que mostrou, com coragem, que queria ser ela própria; e pagou com a vida essa afirmação.
ResponderEliminarVítima de uma sociedade machista, homofóbica e do mais baixo nível moral.
Merece o nosso respeito, já que a Justiça não soube prestar-lhe esse direito.
Wow! Deixaste-me impressionada e emocionada por cada palavra que a descreveste...
ResponderEliminarDefendeste-a com unhas e dentes e admirei o teu gesto.
Relembraste os 5 anos da sua morte e será que mais alguém se lembrou?
Beijinhos Mark, gostei muito deste homenagem singela...
Enfim... Força Mark!
ResponderEliminarEu por acaso, não a conheço... mas fiquei emocionada com os abusos que ela sofreu :/
É por estas e por outras que adoro o teu blog. Um dia falas de coisas fúteis (para mim) no outro escreves um texto belissimo como este. És especial
ResponderEliminar'E tu, serás a próxima Gisberta?' Puseste me a pensar nisso, serei?
Onde quer que ela esteja a Gisberta ficou feliz com esta homenagem linda
Abraço Mark
muito bom post... Senti-me até embaraçado porque nem eu trato essa triste memória e essa grande senhora com o respeito devido. E ainda bem que há pessoas como tu, a escrever assim, a dizer que sim... Que se importam e que temos que nos impostar também. Stay Well e muitos parabéns.
ResponderEliminarp.s. Lembrei-me de 'languishing'...
ResponderEliminarEste é um mundo cruel e cheio de injustiças. Umas, são inevitáveis, aquelas que ocorrem na natureza, como um caçador capturar a sua presa para sobreviver. Podemos pensar que é injusto para a presa, mas é necessário à continuação da vida. Outras injustiças são causadas por pura ignorância e avareza de um ser que se diz ser humano, mas que não passa de algo ainda mais abaixo do que um animal. Os predadores matam porque precisam disso para sobreviver, agora, quando um homem mata um ser humano apenas porque não gosta dessa pessoa é... um acto indescritível e abominável. Eles mataram-na porque ela teve um carácter forte e assumiu quem realmente era. Quando me perguntas "Serás a próxima Gisberta?", eu respondo: "Se isso significa que vou morrer a demonstrar quem sou e o que me vai na alma, podes bem crer que serei!"
ResponderEliminarOi Mark. Eu sou brasileira e comentei seu blog uns dias atrás. Esse caso me emocionou muito porque apesar de eu ser uma mulher, saber que alguém sofreu desse jeito me deixou sem palavras. A Gisberta saiu e foi procurar uma vida melhor aí na Europa. Encontrou a morte, a dor e todo esse sofrimento. Muito obrigada por escrever sobre ela e por deixar aqui sua homenagem. Beijos. Laiane.
ResponderEliminarbem lembrado Mark. E uma bela homenagem.
ResponderEliminarMereceste um abraço.
Excelente post!
ResponderEliminarExcelente postura crítica e literária.
Continua!
Abraço.
"Os assassinos foram os autores da proeza". Mais um 5-estrelas, Mark!
ResponderEliminar*bows to you*
ResponderEliminarÉ por estas e por outras que te admiro tanto. ^/////^
Tens uma sensibilidade muito grande, adoro quando mostras este teu "lado". Tal como tu dizes, antes de tudo o resto, somos seres humanos. ^^
Beijinho e abraço! :)