23 de junho de 2010

Manhã de Compras



Hoje de manhã acordei bem cedo para fazer algumas compras com a avó. Após o fim das aulas, eu jurei a mim próprio que não iria sair da cama antes das onze da manhã durante os meses de férias, mas, afinal, não foi necessário muito tempo para quebrar a promessa... Ontem, a avó convidou-me para ir ao El Corte Inglés porque, imagine-se!, quer comprar mais um serviço de louça. Ela já tem imensos, mas mesmo assim. Não quis ir apenas com a avó. Convidei a Pati, que também já está de férias.
Fomos de carro, comigo a conduzir. Foi a primeira vez que transportei a avó e estava nervosíssimo. Correu tudo bem. À chegada, levou-me ao piso da Moda Casa que, por acaso, eu adoro. Tem coisas giríssimas e dá uma enorme vontade de comprar tudo. Deixámos a avó sossegada a escolher o seu novo serviço e descemos ao piso de entrada, onde se localizam os cd's, os livros, etc. Enquanto estava na livraria, aproveitei para procurar uns livros sobre o Direito que, como sabem, é a minha prioridade. Sinto uma mão a tocar-me no ombro.
-"Olá, olá, 'tás bom?"
Assustei-me e olhei para trás, pensando tratar-se da Pati, com mais uma das suas brincadeiras. Era um rapaz que conheci há imenso tempo, filho de um empresário que colaborou com a mãe. Não me recordava do seu nome. Que situação incómoda...
-"Olá, tudo bem? Por aqui a esta hora? Tu és o (?), desculpa." - disse-lhe, envergonhado.
-"Não faz mal." - sorriu - "Sou o (...). É verdade. Eu trabalho perto daqui, sabes?" - respondeu-me, sorrindo.
Eu já não me recordava dele, mas, apesar de não ser um deus na Terra, tem um sorriso encantador, é extremamente educado (valor que prezo imenso), tem uns gestos super charmosos, os olhos são ligeiramente rasgados e é mais alto do que eu (essencial!).
-"A sério?" - questionei-lhe - "Mas, se bem me lembro, estavas a tirar um curso qualquer..."
-"Sim, e estou. Mas também estou a trabalhar para pagar as propinas. Tem de ser!" - exclamou, sempre sorrindo.
"Humm, giro, educado, culto e trabalhador. Que espécie rara..." - pensei.
-"Mas, desculpa intrometer-me, tu não precisas propriamente de trabalhar para pagar propinas, ou estou enganado?" - perguntei-lhe, tentando disfarçar a indiscrição com um sorriso.
-"Não é essa a questão. É assim que aprendemos o que é a vida. O pai quer que eu trabalhe para saber o que o dinheiro custa. Quer que eu comece por baixo, como ele começou. E eu também quero sujar as mãos, para crescer." - respondeu-me, decidido.
"Toma, bem feita para aprenderes a ficar calado. Deu-te uma bela lição. És um tiozinho inútil, fútil e debochado..." - pensei.
-"Humm, pois, fazes muito bem.." - senti um calor a subir pelo meu corpo. Corei. - "Isso é uma grande... lição de vida..." - as palavras sairam a murmurar.
-"E tu, o que fazes?" - indagou-me, sempre sorrindo.
-"Bom, presentemente, estou de férias. Acabei o 12º. Espero entrar em Direito." - respondi-lhe, deixando o incómodo da situação anterior desaparecer subtilmente.
-"Fazes bem. Direito é uma boa opção, apesar de alguns dizerem o contrário. E agora, vieste às compras?"  - constatei que queria prolongar a conversa.
Contei-lhe que estava com a avó, que deixei no piso dos artigos do lar, e com uma prima, que, àquela altura, já nem sabia onde estava.
-"Muito bem, gostei de te ver. Gosto do teu cabelo e do corte." - sorriu, afinal, creio que sentiu que podia arriscar mais um pouco.
Não fiz por menos.
-"Oh, obrigado! Gosto dos teus olhos e da tua simpatia." - disse-lhe, sorrindo.
Riu, levando a mão à cara, num gesto que adorei.
Quando se preparava para falar, chega a Pati. Fiz as apresentações e senti que era chegada a altura de nos despedirmos, porém, não podia ser para sempre. Fala, fala, pede, pede!!! Pediu.
-"Dás-me o teu número?" - perguntou-me, envergonhadamente - "O teu nome é (...), que ainda me lembro."
A Pati olhou para mim seriamente, de seguida, olhou para ele.
-"Humm, já vi tudo..." - murmurou, baixinho - "Espero ali, perto dos perfumes."
Dei-lhe o número e despedi-me com um aperto de mão. Voltei para perto da Pati. Decidimos subir para ver o que a avó andava a fazer. Lá estava ela, a escolher o seu mais recente serviço de louça, com entrega ao domicílio, claro.
Comprámos e voltámos para casa da avó. À chegada, tinha uma sms dele no meu telemóvel.


"Gostei d t ver. Olha se quiseres podemos almocar  ou assim. Diz qlqr coisa. Gostava d t ver novamente =)"


Respondi-lhe afirmativamente, mas não dei uma data. Sinceramente, apetece-me e não me apetece. Parece paradoxal e, no fundo, é. Nos dias de hoje, é tudo muito fácil. Olá - Número - Almoço - Beijo - Cama. Detesto estas sequências. Comigo, não. É apenas mais um número na minha lista.


5 comentários:

  1. adoro a tua forma de escrever (:*
    acho que tens muita razão dizeres isto "Nos dias de hoje, é tudo muito fácil. Olá - Número - Almoço - Beijo - Cama. " porque realmente é o que acontece agora.

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  2. não está nada de especial ;b
    eu também acho isso horrivel ..

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  3. Uau, que coincidência e timming.
    Também concordo contigo em relação à sequência, no entanto não a posso criticar, visto que, de certo modo, também sou assim, ás vezes.
    Vamos lá ver como é que essa relação se desenvolve.

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  4. "O hábito não faz o monge" e "Não há regra sem excepção"...
    Pensa nisso.

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