18 de junho de 2025

The Emancipation of Mimi, vinte anos depois.


 Faz agora vinte anos que Mariah Carey lançou The Emancipation of Mimi, um dos álbuns mais marcantes da sua carreira -e, sem que ela o soubesse, também da minha vida.

  Era 2005. No calendário, um Verão escaldante; no coração, uma inquietação difícil de nomear. Tinha 19 anos e começava a perceber que a vida não era tão protegida como julgava. Foi o ano em que os meus pais, até aí aparentemente estáveis, começaram a dar-se mal. O ambiente em casa tornava-se tenso, pesado, um silêncio que gritava por dentro. No ano seguinte, a separação seria inevitável.

   No meio desse desconforto íntimo, The Emancipation of Mimi apareceu como um raio de luz. Eu passava tardes inteiras colado à rádio, com os dedos cruzados, à espera de ouvir It’s Like That e We Belong Together -os dois grandes êxitos daquele Verão. Era quase um ritual: o rádio ligado, o volume no máximo, e eu a tentar esquecer o infortúnio da minha existência e o vazio. Cada vez que a voz da Mariah ecoava, sentia uma espécie de abraço. Um conforto.




    O álbum marcou não só o meu Verão, mas também o regresso triunfante de Mariah Carey. Depois do fracasso duplo de Glitter (2001), tanto o filme como o disco, e de Charmbracelet (2002), que também não teve o impacto esperado, muitos pensaram que o tempo dela tinha passado. Mas em 2005, ela renasceu. Com The Emancipation of Mimi, mostrou ao mundo que ainda tinha muito para dar, com uma voz renovada, uma presença mais madura e uma vulnerabilidade que tocava fundo.

  Esse renascimento artístico coincidiu, de forma quase simbólica, com a minha necessidade de encontrar esperança no meio do caos. O título do álbum, A Emancipação de Mimi, parecia falar também da minha tentativa de libertação, de encontrar força dentro de mim quando tudo à volta desabava.

   Hoje, vinte anos depois, olho para esse álbum não apenas como um marco da pop, mas como uma tábua de salvação. Há músicas que são mais do que canções: são memórias, abrigo, capítulos da nossa história. We Belong Together ainda me emociona. Ainda me lembro do silêncio do meu quarto, da solidão, e daquela melodia que dizia tudo o que eu não conseguia dizer. É um esboço da minha emancipação, a possível naquele momento, que estava prestes a começar, com o início de um novo ciclo.


30 de maio de 2025

Cada um com o seu ritmo.


    Há dias em que dou por mim a pensar nisto: quase todos os meus colegas da faculdade já estão casados. Muitos com filhos. E eu? Também estou casado, é certo, e feliz, muito feliz. Os filhos, decidimos que não. Não sentimos esse apelo, esse chamamento. E está tudo bem.

  Sempre fui ligeiramente fora de tempo. Desde miúdo que o noto. O meu ritmo nunca foi o dos outros, e durante muito tempo achei que havia qualquer coisa de errado comigo por causa disso. Agora vejo que não. Simplesmente, a vida tem mesmo muitos caminhos, e nem todos passam pelo mesmo sítio.

  Não temos de nos espelhar nos outros. Não temos de seguir os passos que nos dizem que são os certos. A verdade é que cada um de nós tem o seu tempo, os seus desejos, a sua forma de chegar às coisas. Eu tenho vindo a conquistar o que acredito merecer, ao meu ritmo e à minha maneira. A minha casa. O meu marido. Os meus animais. Comecei a conduzir talvez tarde, porém, quando me senti preparado e maduro para o fazer. Pouco a pouco, tudo vai acontecendo.

   A felicidade não obedece a um único modelo. O que existe é o que nos faz sentido. E isso basta. Não preciso de viver como os outros para saber que a minha vida é minha.

   E se às vezes me sinto fora do compasso, não faz mal. Talvez esteja apenas a dançar outra música. Uma mais minha. E nessa música, com o tempo certo dos dias bons e das noites tranquilas, e dos dias menos bons e das noites agitadas, eu vou sendo -devagarinho- aquilo que sempre sonhei ser: eu, em paz com o que conquistei, seja pouco ou muito. Que me seja suficiente.


25 de maio de 2025

Já posso desfrutar, inclusive de noite.


 

   A minha piscina, de noite, já preparada para o Verão. 

22 de maio de 2025

Bichas… (parte 6 - bichas que gostei de conhecer).


   Recentemente, escrevi uma leva de várias publicações sobre bichas que conheci através do blogue e não deveria ter conhecido. Nunca referi os seus nomes. Deixei no ar sobre quem seriam. Contudo, houve pessoas que gostei de conhecer, e essas sim irei mencionar aqui, já que me parece justo falar do bom também. Pessoas que conheci pelo blogue e com quem tive bons momentos. Nem tudo foi aquele terror que descrevi no Bichas que conheci… (partes 1, 2, 3, 4 e 5).

   Vou começar pelo Francisco, do blogue Um Deus Caído do Olimpo. Foi, de todas as pessoas que conheci através dos blogues, aquela com quem mais mais privei, quer com outras pessoas, quer os dois apenas. É um rapaz tranquilo, boa onda. Tem lá as suas maluquices, mas não é má pessoa. Jamais me esquecerei duma noitada, que acabámos às 6h da matina em Santa Apolónia a tomar o pequeno-almoço. Se Deus quiser haveremos de repetir!

    O N., do blogue Um Ribatejano no Oeste. Este rapaz tinha uma paixoneta por mim. Não era correspondido, mas nem isso por perdemos a amizade. Entretanto, com os anos fomo-nos afastando. Não sei nada dele. Espero que esteja bem, e guardo boas recordações dos momentos vividos (nunca tivemos nada de íntimo, atenção).

    O Horatius, do blogue Aqui do Campo. Bom rapaz, simples. Ainda hoje mantemos um contacto frequente pelas redes sociais.

    A Magg, leitora de blogues, com quem saí várias vezes. É uma moça educada, não se mete em intrigas nem em confusões. Pareceu-me que, em todas as polémicas, procurou sempre manter uma certa distância, e até mesmo imparcialidade. Gostei de a conhecer.

    O rapaz do blogue Meia Noite e Um Quarto. Perdão, não me lembro do nome. Era giro. As bichas ficavam todas babosas. Das poucas vezes que privei com ele, pareceu-me ser um bom rapaz, boa onda.

    O Sérgio, do blogue good friends are hard to find. Estive com ele, salvo erro, uma ou duas vezes. Igualmente simples, boa onda. Pena que se foi dos blogues (mas quem é que não se foi?)

   O Manel, leitor do meu blogue, talvez a pessoa que mais gostei de conhecer pessoalmente. Tivemos um jantar a dois agradabilíssimo. Um senhor culto, educado, um gentleman. Vamos mantendo contacto.

    O Miguel, do blogue um voo cego a nada. Deixo-o para o fim porque o Miguel já não está entre nós. Partiu em 2019, depois de uma longa doença. Sei que me estimava, como eu o estimava; sei que me admirava pela minha escrita inusual num rapaz tão novo (sim, eu fui novo). Afastámo-nos na recta final da sua vida, e consigo intuir o motivo - terá sido “envenenado” contra mim por duas ratazanas que lhe eram próximas (a bicha bicho, solteirona dos gatos, e a bicha velha da linha de Sintra). Paz à sua alma. Ele e o seu encantador blogue fazem falta.

   Conheci outras pessoas nos eventos dos blogues, que não tiveram qualquer impacto em mim, cujos nomes já nem me lembro, e que portanto não gostei nem desgostei de conhecer. Fica aqui a minha homenagem a todos.

19 de maio de 2025

Uma expressiva viragem política.


  As eleições legislativas de ontem marcaram uma viragem incontornável no panorama político português. Pela primeira vez, o CHEGA conquistou um espaço significativo no parlamento, tornando-se muito provavelmente a segunda força mais votada. As peças do jogo mudaram. Há, desde ontem, um antes e um depois; um novo actor na cena política, capaz de influenciar determinantemente políticas e decisões.

   A ascensão do CHEGA não surgiu do nada. É o reflexo de uma frustração profunda e prolongada de uma parte do povo português que se sente esquecida pelas políticas do sistema tradicional. Durante anos, PS e PSD lideraram discursos que se tornaram distantes da realidade concreta: salários baixos, insegurança, serviços públicos que falham e uma sensação crescente de impunidade nas esferas do poder. A estrondosa derrota do PS e dos partidos à sua esquerda não deve ser lida como um simples “revés eleitoral”, mas sim como um sinal claro de que a paciência dos cidadãos se esgotou. Os portugueses não acompanham os discursos fúteis e muitas vezes hipócritas de partidos como o LIVRE, o PAN ou mesmo o BE. As suas bandeiras não são o foco das preocupações do cidadão comum, que está-se marimbando para a Palestina ou para a Ucrânia, ou até mesmo para as energias “verdes”. As pessoas querem trabalho, dignidade salarial, bons serviços públicos, paz e segurança.

   Mas a leitura do descontentamento não pode ficar apenas pela esquerda. Também o PSD, no último governo, teve oportunidades concretas de reformar o país, e falhou. Na área da saúde, por exemplo, os problemas crónicos mantiveram-se ou agravaram-se: listas de espera intermináveis, falta de profissionais no SNS, encerramentos parciais de urgências e um sentimento de abandono nas regiões do interior. Para muitos eleitores, não há diferença entre promessas que não se cumprem à esquerda… ou à direita.

   É neste vazio de respostas eficazes que o CHEGA cresce. Para muitos, surge como a única voz que fala sem rodeios, que denuncia o que está mal, e que desafia a complacência das elites partidárias. É um partido corajoso, que não teme enfrentar o que considera ser prejudicial para o país, como a imigração descontrolada, a doutrinação das nossas crianças na ideologia woke LGBT ou ainda, para citar outro exemplo, o atentado aos nossos valores cristãos e tradicionais, onde se insere a família.

    O desafio está agora em saber escutar este novo eleitorado, e não com medo, mas com inteligência. E com a responsabilidade de fazer da política um espaço de soluções, e não apenas de trincheiras ideológicas.


14 de maio de 2025

Bichas… (parte 5 - a bicha adolescente tardia).


   Falar desta bicha tem coisas que se lhe digam. Comecemos pelo começo, como se costuma dizer: esta bicha não me suscita ódio, ou raiva. Pena, talvez, ao olhar para trás. A bicha começou a organizar jantares de bloggers, quando a bicha velha (a que sustentava um chulo do leste) deixou de organizar os ditos jantares. Esta bicha -olhem, curiosamente como a bicha velha, mas muito mais nova- achava-se a melhor: ela própria dizia que era o “blogger gay mais influente de Portugal”. Delírios. Tinha 200 seguidores, nenhum impacto social, jamais foi influencer ou teve relevância. Vivia num mundo à parte. Quando a conhecemos, percebemos o porquê dessa insegurança: é feio, usa óculos, veste-se mal. Um horror. A acrescer que de adolescente não tem nada: tinha perto de trinta anos na altura. 

    Bom, eu conheci a bicha num desses eventos. Chegamos ao Natal, e eu, que me relacionava cordialmente com ela, propus-lhe que me ajudasse a organizar um lanche de Natal de bloggers, uma vez que adoro a quadra. E fi-lo para ser algo divertido, a dois, e não porque precisasse da ajuda. Fi-lo, honestamente, de coração aberto. O que se passou a seguir é hilariante. Depois do lanche, a macaca foi escrever no blogue dela que a ideia houvera sido dela, que a organização fora dela, omitindo-me completamente, quando fui eu quem lhe deu a ideia de participar comigo na organização. Nem mencionou o meu nome. Reparem, isto é uma estupidez, mas é este tipo de gente que, em cargos de poder, passa a perna aos colegas se puder. Nestas mesquinhices (sujou-se por pouco) vemos como são as pessoas e o que fariam noutras situações. 

   Depois da polémica -porque naturalmente tudo aquilo me revoltou-, foi escrever barbaridades a meu respeito sem me mencionar. Quem não se sente não é filho de boa gente. A criatura acho que já nem anda por aí. Achava-se tão importante… Nunca o foi. Às vezes penso que Deus é justo, e portanto não foi à toa que ela dormiu dois anos no sofá da sala. (risos) Uma miserável. Aqueles jantares eram um pavor. Uma vez até levei um amigo meu, fora do mundo dos blogues, para que aquilo tivesse mais animação. Quando soube que eu ia ao festival de cinema de terror (Motel X), começou a ir também; quando soube que eu ia ao Queer Lisboa, o mesmo, escrevendo críticas sobre os filmes para me imitar. Indescritível, e ridículo. Hoje em dia, anos e anos depois, rio-me. 

    Não lhe desejo mal. Que ela seja feliz. Creio que não o é, a julgar pela vidinha que tinha. Olhem, beijinhos para ela, e que se porte mal (era vulgar até nos chavões).

13 de maio de 2025

O jardim.


   Como vocês saberão, eu e o M., o meu marido, comprámos a nossa casa em Abril de 2024, há pouco mais de um ano. É um chalé com imenso terreno, piscina, árvores de fruto, enfim, a casa de sonho de muitos. Porém, não estava perfeita, se é que existe a perfeição. O anterior proprietário nunca aqui viveu. Construiu a casa e, sabe-se lá porquê, continuou a viver no seu apartamento. Soube que dormiu aqui três vezes em tantos anos. A casa estava abandonada, apesar de habitável. Abandonada no sentido de descuidada. O jardim precisa de uma grande volta, o interior estava pronto a entrar, mas de igual forma precisava de arranjos. Pouco a pouco estamos a tentar deixar tudo arranjadinho. O jardim é uma das nossas prioridades de momento.


Pouco a pouco, porque Roma e Pavia não se fizeram num dia


  Temos um terreno de quase 1.700m2. É imenso. O terreno circunda a casa toda. Há aqui muito para fazer. Entretanto, neste último fim-de-semana, o M. e eu começámos a dar um jeito numa parcelazinha do jardim. Aquilo vai ganhando forma. É bom ter projectos. Mal vejo a hora de ter tudo como eu quero, o que vai levar muito tempo, quer dentro de casa, quer no exterior.

(a propósito, e Deus lhe tenha a alma em descanso, o anterior proprietário suicidou-se há uns dias; quando soube, fiquei chocado)

11 de maio de 2025

Gaza.


  Vou ser bastante curto: porque é que estas bichas que se preocupam tanto com a situação humanitária em Gaza não vão para lá ajudar em vez de irem de férias para Itália e para o raio que as parta? É que a solidariedade de redes sociais pode até parecer bem, mas não engana.

   Cada vez tenho menos paciência para esta esquerda burguesa, ociosa e hipócrita.

8 de maio de 2025

Leão XIV.


  Com a eleição de Robert Francis Prevost como Papa -agora com o nome de Leão XIV- algumas feridas voltam a abrir-se. Feridas antigas, que muitos de nós carregamos em silêncio. Porque isto não é apenas a escolha de um novo líder religioso. É a escolha de alguém que, pelas suas palavras e atitudes passadas, deixou claro que vê a nossa existência -a das pessoas homossexuais- como algo em contradição com o Evangelho.

  Em 2012, Prevost expressou preocupação com a “vida homossexual” e com as chamadas “famílias alternativas” formadas por casais do mesmo sexo. Falava como se o nosso amor fosse uma ameaça, como se fosse errado, ilegítimo, quase um desvio moral.

   Agora é Papa. E embora alguns esperassem que seguisse o caminho mais acolhedor de Francisco, tudo indica que Leão XIV representa uma reafirmação da rigidez doutrinal. O medo de mudar. O medo de ver o outro como legítimo.

    Como homem gay e crente, confesso que isto me dói. Porque continuo a sonhar com uma Igreja que acolha de verdade, que não nos tolere “apesar de”, mas que nos celebre “com tudo o que somos”. Não espero milagres. Mas ainda espero gestos. Palavras. Sinais de que também nós temos lugar à mesa.

    Talvez o maior desafio não esteja apenas em Roma, mas em nós próprios: em continuarmos a acreditar no amor, mesmo quando nos fecham a porta. Em vivermos com dignidade, mesmo sem reconhecimento. Em falarmos, mesmo quando parece que ninguém nos quer ouvir.


7 de maio de 2025

XVII Aniversário.


   Creio que é o primeiro ano em que me esqueço de assinalar o aniversário do blogue no próprio dia. Foi no dia 3 deste mês que o As Aventuras de Mark perfez 17 anos. Meu Deus! Dezassete anos. Não hei-de eu estar velho, se o blogue tem a idade de muitos matulões que andam por aí!

   Já escrevi tanta coisa sobre este espaço, sobre mim, que se volto a arriscar incorro em pena de me repetir. Quem me lê já sabe que não sou uma pessoa fácil. O bom dos blogues é que, se chegam a durar, a ter história, conseguimos ver a evolução de quem os escreve. Eu passei dum miúdo fútil, mas pretensamente “afável”, que escrevia longos textos sobre História, Filosofia e Política (lembram-se?), para alguém que dispara a matar, que diz o que pensa, e que foi perdendo densidade. Eu não deixei de me interessar por ciências humanas; não há é público nesta plataforma obsoleta que são os blogues. Está passada de moda. Cheira a naftalina. Só aqui andam as bichas velhas e as que caminham para velhas (eu). As outras andam por aí a fazer bichices no Tik Tok e a ganhar pasta no OnlyFans. (risos) Eu, por acaso, gosto mais de mim assim. E gosto mais do blogue assim também, sem ter de manter um nível ou uma aparência, ou seja, “o que esperam de mim”. Vá, e parabéns ao blogue.

3 de maio de 2025

Bichas… (parte 4 - a bicha bicho).


   À partida, já tinha falado de todas as bichas que conheci através do blogue e não devia ter conhecido. Ou falara delas directamente, ou seja, numa publicação específica, ou superficialmente. Mas há algumas que merecem um destaque especial. Uma delas é a bicha bicho. E quem é a bicha bicho? A bicha bicho era uma mulher que vivia com cinco ou seis gatos. Estranhíssima. Tinha um blogue onde se julgava escritora. Escrevia uns contos medíocres. Aparentava ler muito, isso sim. A bicha bicho -e digo-o assim porque nunca me convenceu da sua heterossexualidade- era uma macha. Masculina. Não excessivamente. O facto de não lidar com ninguém fora do seu local de trabalho tornava-a numa pessoa amargurada. Isso ressaltava. Tinha uma meia irmã com a qual não se dava muito, a mãe morrera anos antes. Uma solitária, solteirona empedernida, mal resolvida. Estive com ela algumas vezes, a maior parte das quais juntamente com outros bloggers. Eram quase sempre encontros em grupo.

    Sendo sincero, nunca gostei dela, e a custo disfarçava-o. Parecia-me (e mais tarde veio a comprovar-se) que era intriguista e dissimulada. Cínica mesmo. E eu cínico não sou. Digo o que tenho a dizer, o que às vezes me causa problemas. Com a bicha bicho, comecei a ter leves atritos, até culminar num. Conto-lhes o último, o que pôs um ponto final a tudo. 

      Eu e alguns outros bloggers decidimos ir passar o São João de 2017 ao Porto. Para tal, arrendávamos um apartamento por dois dias. Cada um pagaria cerca de 100 euros. Não me lembro bem. Isto tem quase dez anos. Uma leitora de blogues (por acaso dessa não tenho nada a dizer, até me chegou a dar boleia a casa) arrendou o apartamento. Tudo falado, marcado e pagado. Acontece que um dos bloggers, estudante como eu, armou-se em pobrezinho. Ia connosco sem pagar. Assumíamos os custos da sua estadia, ou ficava alojado na casa de um blogger que vivia no Porto. Algo assim. Não me pareceu justo, afinal, de todos os bloggers, eu e ele éramos os únicos que não trabalhávamos. Se eu iria pagar, por que razão ele não pagava também? Para mim também seria um sacrifício. Eu sei o quanto custa tirar um curso de Direito. Como tal, e porque não sou cínico, pus as cartas em cima da mesa e disse-o. O plano de ir ao São João caiu pelo ralo da sanita (pelo menos para mim). Houve uma série de intrigas patrocinadas sobretudo pela bicha bicho e pela bicha adolescente de 30 e tal anos (de quem falarei, talvez, noutro momento). Eu fiquei com fama de demónio -já estou habituado-. Nada de novo. Não sei como saiu a bicha bicho da polémica. A macaca continuou por aí, até que perdeu um grande amigo da blogosfera, vítima de cancro, e com isso sentiu-se desamparada e acabou por arquivar o próprio blogue. Levou um chá de sumiço. E é tudo sobre a bicha bicho, com nome de flor silvestre, como ela, sem ser especial e sem precisar de grandes cuidados.

      Para terminar, um episódio caricato que vivemos a dois, eu e a bicha bicho: um dia fui ter com ela à Margem Sul, onde ela vivia. Eu levava dinheiro, mas não tinha trocado para o comboio e a máquina não aceitava a nota que eu tinha nem o cartão multibanco. Isto no regresso. Tinha umas moedas. Faltava 1 euro. Pois bem. Ela emprestou-mo, com a condição de depois lhe fazer uma transferência bancária. Sim, de 1 euro. (risos) Há anedotas que a vida nos proporciona que são óptimas para nos fazer rir, passem os anos que passarem. :)

30 de abril de 2025

Apagão.


   Não me recordo de algo assim. Recordo-me de, em miúdo, faltar a luz algumas vezes. Nada como isto. Um apagão internacional. Eu fui afectado, claro, ao residir em Espanha. Parece que afectou Portugal, Espanha e algures pelo sul de França. Os motivos, não no-los querem dizer, ou ainda não os conhecem. Por aqui, por Espanha, a Audiência Nacional (que é um tribunal sui generis que não tem paralelo em Portugal) já está a investigar as causas, ou seja, se não terá sido um ciberataque. 

    No meu caso, estive sem electricidade desde as 12h30, como todos, até às 6h do dia seguinte. Dezoito horas, a rezar para que a comida não se estragasse. Tenho uma arca frigorífica no rés-do-chão da casa onde guardo a carne e o peixe. Além de perder dinheiro, seria comida que se estragava, e com a fome que grassa pelo mundo… Felizmente aguentou. Em todo o caso, eu não estou nada tranquilo. Pandemias, apagões… O mundo está-se a tornar num lugar estranho e perigoso. Eu acho que situações insólitas como estas e outras começarão a suceder-se. E é isso que me mete medo. O que ainda virá por aí…

27 de abril de 2025

25 de Abril de 1975.


   Há uns anos que não falava do 25 de Abril. Repetir a mesma ladainha ano após ano torna-se chato e inútil. Este ano, entretanto, assinalaram-se os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal, e também as primeiras nas quais puderam votar mulheres. As primeiras eleições de sufrágio verdadeiramente universal. Teve uma participação de 91%. Das cidades à província, as pessoas acudiam às urnas para votar. Vi uma reportagem na RTP. O analfabetismo era tão grande que muitos nem sabiam em quem votar. E diziam-no. “Eu votei ao calhas”; “Eu votei num qualquer”. Também não sabiam em que é que se votava. Uns diziam que era para o Presidente da República. 


Jamais se voltou a ver uma adesão às urnas como a 25/04/1975


   Na verdade, a 25 de Abril de 1975, exactamente um ano após a revolução, votou-se para a Assembleia Constituinte, isto é, a assembleia que viria a redigir a Constituição de 1976, que entrou em vigor precisamente no dia 25 de Abril do ano seguinte. Um dia histórico, não da dimensão do 25 de Abril de 1974, mas ainda assim um dia histórico, e merece ser assinalado.

21 de abril de 2025

Adeus, querido Papa Francisco.


   É realmente um dia muito triste para mim. Cada um falará por si. O Papa Francisco foi o responsável por eu ter abraçado a Igreja. A sua mensagem de inclusão (uma Igreja para todos, repetindo o todos três vezes) não deixou margem para dúvidas: o Papa queria que a Igreja acolhesse homossexuais também. Nós, que durante tantos séculos, e inclusivamente mais recentemente com João Paulo II e Bento XVI, fôramos desprezados e tratados como aberrações, com o Papa Francisco voltámos -pelo menos eu- a sentir-nos integrados e acolhidos no seio da nossa fé. E eu estou seguro de que o Papa teria ido mais além se pudesse, uma vez que a Igreja é uma instituição enorme, onde há lobbies fortíssimos. Fica a imensa saudade.

   Quanto ao seu sucessor, temo o que poderá vir por aí. Espero que o conservadorismo de João Paulo II e de Bento XVI não se repita, e que o caminho que o querido Papa Francisco iniciou não se encerre, pelo contrário, prospere e continue.


17 de abril de 2025

Dad or Son?


   Eu não sou destas publicações -creio até que é a primeira no blogue deste tipo, em dezassete anos-, mas prontes, como diz o outro. Para desanuviar um pouco e recuperar (também um pouco) do que era a blogosfera de há muitos anos, divertida e lúdica (risos). Bem, e com o perdão de Deus por estarmos em Semana Santa, vocês ficavam com o pai ou com o filho? Ou com ambos? Estes dois começaram a aparecer-me nos reels do Youtube, não faço ideia porquê.






15 de abril de 2025

Paris VIII (Saint-Chapelle et Conciergerie e Panteão Nacional).


   No nosso último dia em Paris, adoeci. Alguma virose, suponho. Cumpri com o programa a custo, por querer muito aproveitar e sobretudo para não perder o dinheiro (como sabem, compro todos os bilhetes com a devida antecedência). Nesse sentido, começámos o dia na Saint-Chapelle, um templo gótico precioso, como se diz em Espanha, cuja capela superior está dotada duns vitrais maravilhosos que merecem bem enfrentar a afluência de gente -aliás, em Paris onde é que não há afluência de gente?-.


Se tivesse um pouquinho menos de gente…


  A Conciergerie foi uma prisão, recordada principalmente no período pós-revolucionário do Terror (1793/94). Não lhe vi especial interesse. Tinha umas exposições temporárias, imagino, para preencher aquele espaço frio e inóspito. Vemos o que foram as celas dos prisioneiros, umas explicações relativas e pouco mais.


O Panteão Nacional francês 



Túmulo de Voltaire


  O Panteão Nacional, sim, para quem gosta de ver túmulos funerários. Há quem considere desprezível, desprezível aqui no sentido de perda de tempo. Pode ser, mas eu não quis sair de Paris sem ir ao Panteão. Um panteão que fica aquém, em beleza, do nosso, pelo menos na parte das criptas. Outra coisa é na planta baixa. Por lá poderão encontrar os túmulos de escritores franceses como Victor Hugo, Émile Zola, bem assim como de filósofos da envergadura de Voltaire ou Rousseau, entre inúmeros outros (os investigadores Curie também, e há quem diga que os túmulos têm uma protecção adicional de chumbo devido às radiações dos corpos… se é verdade ou mito…).


Eu adoro comprar livros, e encontrei boas surpresas


   Por coincidência, à tarde, no mesmo dia, descobrimos uma livraria lusófona, portuguesa e brasileira, que foi um verdadeiro achado. Naturalmente, adquirimos inúmeros livros, e vimo-nos aflitos, no dia seguinte, para levar todo aquele arsenal nas malas, e mais ainda para disfarçá-los no embarque.

11 de abril de 2025

Paris VII (Les Invalides e Le Marais-Bastille).


   Ui, há tanto tempo que não falo da minha viagem a Paris. Entretanto foram surgindo outros temas da actualidade social e política, e fui deixando para trás. Como falta pouco, continuo. No nosso sétimo dia em Paris, começámos pelos Inválidos, que em parcas palavras é um complexo arquitectónico mais conhecido por albergar a tumba de Napoleão Bonaparte. Embora seja um mero túmulo, pelo menos em mim suscita alguma curiosidade estar diante dos restos mortais de tão insigne figura. Nos Inválidos, também está situado o Museu Militar. Eu não gosto particularmente de museus militares, mas já que estava…


O túmulo do grande general, Napoleão Bonaparte 


Os Inválidos


O Muro dos Justos


   À tarde, passeámos pelo bairro de Le Marais e pela Bastilha. Passámos designadamente pelo Memorial de Shoah, que se trata de um muro onde se recordam as vítimas do Holocausto nazi. Entrámos em igrejinhas e capelas, procurando, como dissera antes, fazer desta viagem um equilíbrio saudável entre a vertente mais cultural de palácios e museus e a outra, de explorar a cidade, que é igualmente cultural, claro.

9 de abril de 2025

Debates Legislativas 2025.


   Tenho acompanhado os debates, mas zero vontade de fazer o que costumo fazer em todos os actos eleitorais, isto é, a minha própria análise a cada um dos debates. Supostamente, não deveríamos ter eleições legislativas este ano, se Luís Montenegro não tivesse provocado esta crise devido à promiscuidade entre a sua vida profissional e pessoal. Recebeu avenças sendo primeiro-ministro, não se demitiu, não se explica, há uma suspeição no ar que perdurará ainda que o PSD “ganhe” de novo as eleições. É um acto eleitoral sem sentido; as pessoas não entendem porque têm de voltar às urnas um ano depois. As pessoas querem -queriam!- estabilidade, que é o que menos têm, e eu não consigo olhar para a cara de Luís Montenegro, para aquele sorriso de cínico, sem ver a sua responsabilidade única por esta crise, portanto, não irei fazer uma análise pormenorizada de cada debate, e nem sei se voltarei a falar dos debates e desta eleição. Não há vontade. Aliás, eu nem vivo em Portugal (embora vote, como qualquer emigrante). Não sei por que razão continuo a preocupar-me com um país que, sendo sincero, já não me diz nada.

4 de abril de 2025

Bichas… (parte 3 - a bicha bruxa).


   Hoje venho falar-lhes de uma bicha dos blogues que conheci… bem, hilariante. A macaca foi a Lisboa já não me lembro porquê. Sei que me queria conhecer, desfazia-se-me em elogios e beijinhos quando comentava no meu blogue… Enfim, foi. Queria conhecer-me. Eu, por educação, acedi. Bem, qual o meu espanto quando a vejo! Cabelo meio comprido atrás, meio careca à frente, com uns fios esquisitos ao pescoço, esotéricos, as unhas sujas. Um filme de terror. Onde ir com “aquilo”? Fomos até ao Terreiro do Paço (eu cheio de medo que alguém conhecido me visse naquela companhia). 

    Soube mais tarde que a bicha queria que eu a tivesse levado a passear por Lisboa, sei lá por onde, o Castelo de São Jorge, ou quiçá mais em plano romântico, no Palácio da Pena, em Sintra. Não me lembro como soube, mas vim a saber. Que tinha ficado decepcionada por não a ter levado a passear. Eu sentei-me com ela junto ao Tejo, no cais das colunas, e estava a rezar a todos os santinhos para me poder pirar dali o mais rápido possível.

   Creio que voltei a ver a criatura esquisita nuns jantares de blogues. Sei que hoje ainda anda por aí nos blogues a escrever contos juvenis, a lançar tarot, búzios, horóscopos, eu sei lá. (risos) Isto só a mim. Bem, é melhor calar-me. Ainda me faz uma bruxaria.

3 de abril de 2025

Oviedo.


   Neste fim-de-semana, fomos à capital das Astúrias, Oviedo, que ainda fica a mais de 250 quilómetros da nossa casa. Espanha é grande.


A catedral e, na estátua, A Regenta, personagem enigmática da obra de Leopoldo Alas


Uma das ruas comerciais de Oviedo


    Gostei imenso da cidade. É bonita. A catedral também, embora por dentro desaponte um pouco. É uma urbe super bem cuidada, limpa, com um plano urbanístico equilibrado, fácil de percorrer, de vida nocturna agitada e, pareceu-me a mim, com um pouco menos de imigrantes (pr*talhada e outros que tais).



Cudillero deixou-me sem palavras



As suas casas


    No domingo, aproveitando a continuação de bom tempo, fomos a uma vila lindíssima (está entre os pueblos más bonitos de España) chamada Cudillero, perto do mar, na costa asturiana. As casas foram construída na encosta; estão como escarpadas entre os montes, de frente para o mar. Uma beleza. Já de regresso, fizemos uma paragem noutra vila chamada Tapia. Deixo-lhes fotos.

1 de abril de 2025

Anjos vs. Joana Marques.


   Para os mais desatentos, os Anjos (dúo dos irmãos Rosado) processaram a humorista Joana Marques. Sem perder muito tempo com a polémica, que podem pesquisar na internet, basicamente eles cantaram o hino nacional num evento, aquilo foi um desastre, e a Joana Marques (a humorista da rádio) pegou na actuação e fez uma brincadeira (se de mau gosto ou não, vai de cada um). Eles entraram com uma acção na justiça por danos no valor de 1 milhão de euros.

    O que é que eu acho. Acho que há várias questões. Os danos patrimoniais. Eles têm empresas associadas que, ao verem aquela rábula dela e o impacto que teve, se quiseram afastar deles. Empresas de publicidade e outras. Agora, temos de ver o resultado final de tudo isto. Acredito que eles perdem mais com o processo e o mediatismo em torno dele. Eu não sabia do vídeo da Joana Marques, nem do vídeo deles a cantarem o hino nacional, e como eu milhares de portugueses. Soube disto com a notícia do processo. O processo teve o efeito de viralizar mais o vídeo do hino. Eles eram acarinhados pelo público. Neste momento, além de já todo o país ter visto o vídeo, passaram a ser vistos como duas pessoas que não têm capacidade de encaixe e humor. Acho que levantaram uma poeira enorme que os vai prejudicar mais. As pessoas estão do lado da Joana. E depois há a questão do milhão de euros. Também não entendem esse valor. Eles vivem do público, do carinho das pessoas, e a opinião pública não está com eles nisto. Não está mesmo. E eles não conseguem ver isso. Se perderem o processo então, será uma hecatombe. Aliás, na minha opinião, para eles será sempre uma derrota. Já perderam no tribunal da opinião pública.

28 de março de 2025

Bichas… (parte 2).


  Aqui há uns dias fiz uma publicação sobre personagens (no sentido comum e pejorativo do termo) que conheci na blogosfera. Conhecer mesmo. Pessoalmente. Algumas ficaram de fora, nomeadamente uma bicha velha, mais convencida que o convencimento, que conheci em vários jantares e outros meetings. A bicha, setentona, considerava-se o máximo. Organizava jantares, onde tinha de ser a estrela principal. Todos tinham de lhe dizer amém e desfazer-se-lhe em elogios. Arrogante como só ela, o facto mais curioso de tudo isto é que a bicha mantinha um rapaz do leste europeu. Sim, mantinha. Isso mesmo. Mantinha-o (€) para poder dizer que namorava e era amada. Tinham uma diferença de idades de alguns quarenta anos, e um “namoro” totalmente virtual, que escassas vezes se tornou real. 

   Houve outra bicha (esta não conheci pessoalmente, felizmente) que me perseguia. A perseguição durou anos. Tive uma discussão com a ameba no blogue dela (onde ainda se fazia passar por hétera), e a coisa ficou por aí. O blogue desapareceu. Nunca mais pensei na criatura. Anos depois, surge num comentário dum blogue doutra bicha a “arrasar-me”; a dizer cobras e lagartos a meu respeito. Claro que me ri. Foi hilariante. Entre um episódio e outro passaram-se quê? Dez anos? A bicha, ainda amargurada, surgiu do nada, quiçá das catacumbas do Trumps.

    E foi mais um episódio do Bichas (que conheci… ou não).

22 de março de 2025

Estremoz e (in)Justiça.


    Esta quarta e quinta-feiras estive em Portugal, em Estremoz, no Alentejo. Já sabem que vivo no noroeste de Espanha, portanto, fiz 1.200 km. Para nada. Tinha a audiência de julgamento marcada para o dia 20 (quinta). Fui um dia antes para fazer a viagem tranquilamente, descansar, e poder estar no Tribunal de Estremoz às 9h45 do dia 20. Chego ao tribunal, estou dentro do tribunal, vem o meu advogado e diz-me que a instância foi suspensa devido à morte da minha avó no dia 1 de Janeiro deste ano, isto é, há que habilitar os herdeiros para continuar com o processo.

    Quando o tribunal teve conhecimento da morte da minha avó, a juíza decidiu manter o processo, ou seja, apesar de o Código de Processo Civil prever que, com a morte de uma das partes, se suspende o processo até se proceder à junção aos autos da habilitação de herdeiros, uma vez que a audiência estava marcada, e dada a excepção da lei relativamente a audiências marcadas, a juíza emitiu um despacho onde decidia que sim, que o julgamento era para manter. No dia 20, outra juíza pegou no processo e decidiu o contrário: que o julgamento não é adiado apenas quando se trata de falecimento de uma das partes estando o processo em tribunais superiores, ou tendo já começado a audiência oral. Vou resumir para leigos: uma juíza pegou no processo e anulou a decisão da colega, porque não lhe apeteceu fazer o julgamento naquele dia; porque provavelmente pegou no processo no dia anterior e não esteve para se chatear, sei lá porquê. Sei que me fez fazer 1.200 km de carro, fez o meu marido pedir dois dias no trabalho (um médico, com responsabilidade de médico), além de todos os gastos inerentes a uma viagem desta envergadura. Para nada.

   Naturalmente, o meu advogado vai pedir uma indemnização pelo incómodo e por todos os gastos, mas o que eu queria mesmo, a apreciação da causa, é adiado mais uma vez. Já o tinha sido por sobreposição de agendas, e agora por um motivo totalmente fútil, uma vez que a minha avó, embora sendo parte do processo (ré), nem sequer ia depor. Se eu soubesse que a velha ia morrer no decorrer do processo… Agora é que é caso para dizer: se a minha avó não tivesse morrido, ainda hoje era viva. Nunca um ditado popular fez tanto sentido.

17 de março de 2025

Marinha Lucence.


   Eu não sei se vocês conhecem a costa norte da Galiza, também conhecida aqui como Mariña Lucence. A Galiza tem quatro províncias, a saber: Pontevedra, Ourense, A Coruña e Lugo, e é precisamente no norte da província de Lugo que está a costa lucence. Aproveitando mais um fim-de-semana, decidimos ir a Foz e a Ribadeo, que distam da minha residência quase 200km. São ambas cidades costeiras.


As nossas sombras na Praia da Rapadoira


O pôr-do-sol em Foz


  Em Foz, além da sua magnífica praia (Praia da Rapadoira), fomos àquela que é conhecida como a catedral mais antiga de Espanha, que começou a ser construída em torno do século XI, e que há uns anos, devido a essa condição de mosteiro mais antigo, ganhou a dignidade de basílica atribuída pelo Papa Bento XVI: a Basílica de São Martinho. É um conjunto arquitectónico singelo, dada a sua antiguidade, que convém visitar exactamente por isso: sabemos que estamos num local com história.


A Basílica de São Martinho


    À tarde, passámos pela Praia das Catedrais, a cerca de 15km de Foz. É uma praia belíssima, cujo nome advém dos famosos arcos das grutas, que se assemelham aos das catedrais. Atrai dezenas de turistas pela sua singular configuração. Nos meses de Verão, é necessário reservar a visita com antecedência.


A indescritível Praia das Catedrais


O Farol de Isla Pancha


    Já em Ribadeo, visitámos o porto, o centro, entrámos numa loja de artesanato e comprámos várias peças (da Regal, que são umas cerâmicas exclusivas, isto é, quem as faz não as faz de modo industrial, portanto, nenhuma peça é igual à outra). Finalmente, para terminar, fomos ao Farol de Isla Pancha, cuja paisagem dispensa comentários. Passear e conhecer lugares novos é vida.

12 de março de 2025

SPA.


   Este fim-de-semana, aproveitando a folga do M., fomos a um SPA. A última vez fora há mais de dois anos. Eu adoro piscinas interiores de água tíbia, chorros de água, sauna, banho turco, tratamentos a gelo, massagens, etc. E tudo isso fizemos. Ficámos comodamente alojados num hotel 5 estrelas, a cerca de 75 quilómetros de distância. Um espaço muito tranquilo, acolhedor. Deu para relaxar. Deixo-lhes uma foto do magnífico pequeno-almoço na sala de refeições.



5 de março de 2025

Anora.


   Já há imenso tempo que não ia ao cinema (mudam-se os tempos, mudam-se as oportunidades; fiz uma adaptação livre). Longes vão os dias em que, quando morava em Lisboa, ia ao cinema dia sim, dia não. Ontem fui, para ver o filme que, na última edição dos Óscares, arrecadou, entre outros, Melhor Filme, Melhor Direcção e Melhor Actriz Principal, num total de cinco estatuetas.




   Reduzi-lo a um filme sobre trabalhadoras do sexo é falta de intuição, inteligência e perspectiva. Anora é mais do que isso. É uma estória de carência afectiva e ilusão. A cena final, sublime, vem acrescentar ainda a frustração, a desilusão, o cansaço, o sentimento de objectificação, tudo junto, que culmina assim. Um filme que, só pela derradeira cena, quanto a mim arrebatadora, merece a pena.

3 de março de 2025

Bichas...


   Na blogosfera, conheci do pior da natureza humana. Não me desiludi, porque não esperava muito melhor. Nós, humanos, somos o que somos. Às vezes dou por mim a pensar na bicha que tinha a mania que era importante, que julgava que fazia eventos (que inclusive me roubou uma ideia), e rio-me. De igual forma, penso na tipa dos gatos, intriguista, estranhíssima. Rio-me. E ainda houve uma bicha, com quem me cruzei uma única vez, e a quem tracei imediatamente o perfil. Meio careca, pretensiosa, fez-se acompanhar dum rapaz jovem, que, coitado, imaginou que terá visto ali um daddy ou algo que o valha. Tive pena do rapaz, e no fundo tenho pena da bicha, que não consegue segurar ninguém a seu lado. Ao mesmo tempo, admiro-lhe a capacidade de continuar a acreditar que é possível que alguém lhe ponha e tire a arrastadeira daqui a uns anos. O importante é não perder a esperança. E também me rio.

2 de março de 2025

Dignidade.


   Creio poder dizer que o país foi apanhado de surpresa com esta polémica em torno de Luís Montenegro. Aquela cara de trafulha nunca me inspirou confiança, e parece que enganado não estava. Continuar a angariar clientes para a empresa “familiar” e a receber avenças sendo Primeiro-Ministro é inadmissível. Nestes momentos, a atitude digna a ter é só uma: apresentar, ante o Presidente da República, a demissão. O que é que o tipo fez? Foi lacónico na declaração ao país e passou a bola, passo a expressão, para o parlamento. Não tem dignidade, nobreza de carácter, nem honra. Um homem tem de saber ser um homem particularmente nos momentos mais difíceis e decisivos, e neste caso não se trata tanto de empurrar o país para novas eleições, senão da idoneidade de um Primeiro-Ministro, e da confiança que perdeu junto do povo. Além disso, o Presidente da República dispõe de mais mecanismos sem ter de recorrer necessariamente a eleições.

21 de fevereiro de 2025

Vila Real.


    Neste último fim-de-semana continuámos pelo Norte. Fomos a Vila Real. É uma cidade que, a meu ver, tem menos interesse do que Chaves, ou até mesmo Bragança. No seu centro histórico, há umas igrejinhas e pouco mais para ver. Pareceu-me, e isso foi-me dito por um natural, uma cidade bastante conservadora. O norte de Portugal é-o.


O encantador Palácio de Mateus 


   O que sim nos apaixonou, a mim e ao meu marido, foi o Palácio de Mateus, que é uma beleza, e que gostei muito mais do que de Versailles. Chamem-me louco, ou o que quiserem. Além de bonito, não tem enchentes de turistas (pelo menos nesta época baixa). Os jardins são simples, porém com muito encanto, e o mesmo se diga do interior do palácio, que há décadas queria visitar, e que a distância face a Lisboa foi tornando impossível. Naturalmente, como sempre acontece, viemos carregados de livros e recordações, embora as melhores estejam na nossa memória.

17 de fevereiro de 2025

Jorge Nuno Pinto da Costa (1937-2025).


   Os meus pais eram portistas. Ferrenhos. A minha mãe por influência do meu pai. Nenhum nasceu no norte. 
     Eu cresci sob a enorme influência do Futebol Clube do Porto. Foi o único clube do qual fui sócio, em pequeno, e o único equipamento que vesti. Em adulto, fiz-me do Sporting, todavia, o carinho pelo FCP existe e mantém-se, pelas recordações de infância e pelos meus pais. 
    Pinto da Costa foi apresentado aos meus pais através de um dirigente desportivo da nossa família. Eu não tive oportunidade de o conhecer. Admirava-o pela ironia, pelo atrevimento em lutar contra o centralismo lisboeta, e também pela devoção ao Porto, clube e cidade. O clube, tinha sete títulos de campeão nacional quando Pinto da Costa chegou à Presidência, em 1982. Hoje tem 30. Com Pinto da Costa, em 1987, o Porto ganhou todos os títulos internacionais. A essa taça dos campeões europeus somar-se-ia outra, em 2004; duas taças intercontinentais e mais um sem-número de troféus nacionais e internacionais. A par de dirigente desportivo, Pinto da Costa encabeçou também uma resistência nortenha ao centralismo de Lisboa, muito embora não tenha jamais enveredado numa carreira política.
    Presto-lhe aqui a minha homenagem, que seria também a dos meus queridos pais.

10 de fevereiro de 2025

Bragança.


   Faço aqui uma paragem nas minhas publicações sobre Paris (que ainda não terminaram) para lhes falar da escapadinha que fiz com o meu marido neste fim-de-semana passado. Fomos até Bragança, cidade que não conhecia. Eu conheço muito pouco do Norte de Portugal. Ao ser de Lisboa, o norte sempre foi uma região relativamente longe para mim. Não ter família no norte tão-pouco ajudou. Das raras vezes que saía de Lisboa, ia em direcção ao Alentejo (onde sim tenho família) ou ao Algarve.


O Castelo de Bragança 


  Agora estou colado ao norte, sobretudo a Trás-os-Montes, porque vivo na Galiza. Bragança está a 130 quilómetros, sensivelmente. Ter começado a conduzir, em Abril do ano passado, mudou radicalmente a minha vida. Antes, quando o meu marido tinha dias livres, ou ficávamos por casa ou estávamos dependentes de transportes públicos, que aqui, ao ser uma zona rural, são escassos. Acabávamos por praticamente não fazer nada, excepto nas férias. Agora não. Para que tenham uma ideia, o M. fez o sábado até às 15h. Fui buscá-lo ao trabalho. Seguimos para Bragança. Às 17h e pouco estávamos lá. Ainda passeámos à luz do dia. Dormimos na cidade. No domingo, levantámo-nos cedo, passeámos mais, fomos aos museus que queríamos, a uma livraria, almoçámos e regressámos. Às 18h estávamos em casa. Uma maravilha.


A principal praça da cidade


   Sobre Bragança. Gostei da cidade. Surpreendeu-me ver tantos pretos. Não contava com isso numa cidade do interior transmontano. Senti-me no Senegal. À parte disso, a cidade necessita de um maior investimento na reabilitação da sua zona histórica. Tem imensos edifícios em ruínas e risco de desmoronamento. Está mal cuidada. 


Um careto 

  O castelo é bonito. Segue a lógica de muitos castelos portugueses, em cujo interior há casinhas e comércio. Além da zona histórica, de museus eu recomendo (muito!) o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, o Centro Sefardita e o Museu Ibérico da Máscara e do Traje. Entretanto, quisemos trazer uma máscara dos caretos para casa. No museu da máscara não aceitavam pagamentos com cartão. Entrámos no posto de turismo e recomendaram-nos um pequeno espaço que, além de servir bebidas e pastéis tradicionais, poderia ter artigos à venda. Assim foi. Chama-se “Marron Oficina da Castanha”, e é um lugar dedicado a produtos artesanais e à castanha. Sim, o fruto. Vendem tudo à base da castanha: patés, doces, até cerveja de castanha. Além disso, tinham uma máscara lindíssima à venda, livros sobre a cultura transmontana e outros itens.

     Estas escapadinhas são deliciosas.

5 de fevereiro de 2025

Almirante Gouveia e Melo? Cristina Ferreira?


   É cedo para se falar de presidenciais, embora em Portugal o tema comece a ser explorado dois anos antes. Aventam-se potenciais candidatos, e há alguns assumidos (Marques Mendes). Já estamos acostumados. Nestas eleições, à semelhança de 2016, creio que são favas contadas para o Almirante Gouveia e Melo, que não me agrada. O lugar dos militares é nos quartéis. Tivemos militares durante o PREC e um militar na Presidência da República de 1976 a 1986 (Ramalho Eanes), e a coisa não correu bem. Eanes era demasiado interventivo, e já ouvi dizer que este é igual. O poder político deve estar entregue a civis. Parece-me claro. Contudo, o Almirante granjeou uma enorme fama durante a pandemia. Não sei muito bem o motivo, visto que já não morava em Portugal. Nas presidenciais, sendo uma eleição personalizada, ganha-se pelo carisma, pelo mediatismo, e foi surpreendente para mim quando, há dias, ouvi falar no nome de Cristina Ferreira por Pacheco Pereira. Segundo Pereira, Cristina Ferreira é a única pessoa com carisma suficiente para enfrentar e, possivelmente, derrotar o Almirante, que seguramente se vai candidatar. 

   A apresentadora e directora da TVI, como qualquer cidadão maior de 35 anos, pode candidatar-se. Não me parece mal que o faça. A hipótese é vista como uma piada, entretanto, rodeando-se de bons acessores, não vejo em que é que a falta de experiência política -que o Almirante também não tem- poderia prejudicar as ambições políticas de Cristina Ferreira, isto é, não é preciso ser-se político nem jurista para se ser Presidente. Convém conhecer a Constituição e os poderes do Presidente, mas disso encarregar-se-iam os ditos acessores. Eu veria com melhores olhos Cristina Ferreira como Presidente do que um militar.