Começarei por um pequeno resumo: quando vim viver para Espanha, fui para uma pequena aldeia de 2.000 habitantes. Arrendámos um apartamento, um lugar muito simpático, acolhedor, com umas vistas lindíssimas sobre os montes. Umas vistas de sonho. Vivemos ali cerca de 2 anos e alguns meses. A aldeia era realmente muito, muito pequena. A transição de Lisboa para aquele lugarejo não foi fácil. Rapidamente me fartei e comecei a pressionar o meu marido para sairmos. Decisão errada. Quem não as comete, não é? Erramos tanto ao longo da vida.
Pressionado por mim e também porque ali não tinha posto fixo como médico, em 2022, finais, mudámo-nos para uma vila, a 40km daquela aldeia, com 15.000 habitantes, após o M. ter firmado o seu contrato como médico definitivo (na aldeia estava numa situação provisória, como médico interino). Desta vez, e porque não nos quiseram arrendar um apartamento pelo facto de termos um cão, tivemos de comprar um apartamento meio à pressa, sem poder escolher e reflectir em condições (a nossa ideia era arrendar primeiro e depois, com calma, comprar uma casinha). Também não queríamos gastar muito dinheiro num apartamento -o fito da casa sempre esteve presente-, pelo que “agarrámos” em dois e lá nos decidimos por um porque teve mesmo de ser.
De umas vistas maravilhosas sobre as montanhas, passei a ter umas sobre o prédio da frente. A par disso, mais ruído; contudo, o pior são os vizinhos. Por baixo de mim vivem uns tipos que fumam marijuana, de muitíssimo mal aspecto, com quem já me indispus várias vezes. São barulhentos, não respeitam o horário de descanso, enfim. Ficam com uma ideia do meu tormento. Admito que exagere um pouco, sou mesquinho, mas a verdade é que não era esta a ideia que tinha da vila; ou seja, quando saí da aldeia, pensei que viria para melhor, que seria mais feliz, e tal não sucedeu. Sim, aqui há mais comércio, tenho mais por onde me mover, mas vivo num apartamento que detesto, com uma decoração que detesto (comprámo-lo mobilado - teve de ser tudo à pressa), com uns vizinhos que abomino.
Este apartamento nunca foi uma decisão definitiva. O fito da casa estava e está presente. O que se passa é que o meu marido é esquisito com todas as casas que vemos e vimos, nenhuma lhe agrada -sobretudo pelos preços, que até poderíamos pagar-, e entretanto a minha saúde mental, já de si frágil, vai-se deteriorando. Além de sempre ter querido ter um pequeno jardim -nada de extravagâncias, não quero um palácio nem lá perto-, vejo-me a viver numas condições que não suporto, entre uma gente que, e permitam-me, não está ao meu nível e nem sequer ao do M., um médico. Ele quer uma casa boa, bem localizada, com jardim, bem construída e barata. Quer o céu e mais alguma coisa. Isso não existe. Ou é cara e boa, ou é barata e há que fazê-la toda de novo. E, repito, até nos podíamos permitir comprar uma casa bem boa. Para ele, podemos esperar, ir vendo. Eu não sou tão paciente, e sofro muito mais (ele não sofre nada) com o facto de vivermos aqui. Todas as casas que visitamos não lhe servem, e vamos ficando, ficando…
Estou muito infeliz aqui. Muito. Não sei quanto tempo vai durar esta situação. Sei que não posso e não devo exigir mais -é o meu marido quem cuida de mim-, mas ao mesmo tempo estou no limite das minhas forças. De todas elas.
Esta publicação foi um desabafo. Um desabafo. Só posso escrever. Não o quero aborrecer mais, e já não tenho mãe nem pai com quem possa falar.
Como diria o António Variações "Só estamos bem onde não estamos" e pensamos sempre: Se está bom assim, sempre pode ficar melhor...
ResponderEliminarPor vezes esquecemo-nos que erramos e as coisas não são bem assim. Vamos de cavalo para burro mesmo eheheheheh
Tudo se arranja, vai com calma. Um dia de cada :) e desabafa :) o canto é teu e estamos cá como se estivéssemos numa mesa de café a conversar
Abraço amigo
Um mestre, o Variações. Escreveu canções intemporais, que jamais passarão de moda.
EliminarEu fui de cavalo para burro. Não me refiro à saída de Lisboa para aqui, porque foi o melhor que fiz. Aí estaria sozinho, sem família. Refiro-me a ter saído da aldeola para esta vila.
Desabafar é o que me resta.
Um abraço,
Mark
Ainda bem que foste para aí :)
EliminarTambém me referia a teres saído da aldeia para ires para a vila, apesar de teres mais coisas aí, ou assim pensavas que irias ser mais feliz
Todos nós já tomamos decisões que depois nos arrependemos mais tarde :)
Tudo a correr pelo melhor
Abraço amigo
Pensava que aquí estaria melhor é enganei-me. Ninguém tem uma bola de cristal…
EliminarUm abraço,
Mark
Não sou bom conselheiro, pois nem a mim mesmo sei encontrar respostas. Limito-me a viver o dia a dia e esperar que as coisas se arranjem no futuro.
ResponderEliminarPor tudo isto não sei muito bem o que dizer-lhe, só que, seguramente deve haver uma solução.
Mas creio que é sempre melhor falar de forma clara com o seu marido e expor o seu problema. Quando as pessoas se gostam acabam por encontrar uma solução, ainda que não seja definitiva.
Talvez a solução passe pela análise da situação de forma muito aberta e tentar encontrar uma saída possível.
Mais uma vez, quando as pessoas se gostam comprometem-se, e as soluções aparecem.
Estou a escrever-lhe isto mas não sei o caminho, seguramente o Mark sabê-lo-á melhor que ninguém.
Cumprimentos com desejos de que as coisas se arranjem para contento de ambos
Manel
Manel,
EliminarEm todo o caso, obrigado pelas palavras. O Manel é bastante sensato no que me diz. Os conselhos, se fossem bons, não se davam; vendiam-se. Não é o que se costuma dizer?
Eu sei qual é a solução: comprarmos uma casinha. Sou demasiado sensível aos ruídos, antissocial e preciso do meu espaço.
Cumprimentos,
Mark