6 de março de 2024

Quatro anos em Espanha.


   Por estes dias cumprem-se quatro anos desde que vivo em Espanha. Quatro anos. O tempo passa a voar. O mais engraçado é que vim com bilhete de ida e volta. Não sei se já contei esta história. Eu e o meu marido conhecemo-nos nos finais de 2017, em Lisboa. Ele acabava o seu período como médico de formação (já estava licenciado, fazia os estágios necessários) e eu andava em Direito, a não fazer nada, por andar. Mantínhamos uma relação à distância fruto das nossas circunstâncias pessoais. Em 2020, numa das suas viagens para estar comigo, em Lisboa, combinou-se que eu iria muito em breve à Galiza para conhecer o território. Assim foi. Em finais de Fevereiro do mesmo ano, vim, com ideia de voltar em duas semanas, no máximo, até porque a minha mãe já estava doente.

    Depois tudo se precipitou. Fui ficando e ficando, e até hoje. A minha mãe foi a responsável em certa medida. As mães pensam mais nos filhos do que nelas próprias, e quando me dispus a voltar, disse-me para que não o fizesse, que aqui estaria melhor. E tinha razão. Eu vivia com ela e o seu companheiro, numa relação muito atribulada - dávamo-nos muito mal, eu e ele.

   Entretanto já mudei de casa, a minha mãe e o companheiro partiram, pelo meio foram-se o meu pai e a minha avó, perdi toda a família que me restava em Portugal e continuo aqui. A vida, o destino, Deus, o que lhe queiram chamar, leva-nos por caminhos imprevisíveis.

6 comentários:

  1. A história é bonita. Não tenho nada que opinar, pois a vida é sua e terá que ser o Mark a resolvê-la, não obstante, a sua opção foi uma opção interessante.
    Na minha vida de jovem tomei uma opção semelhante, no entanto sob diferentes circunstâncias, mas dei-me mal com ela.
    Fui obrigado a regressar a Lisboa, pois não tinha uma forma de me aguentar independente (economicamente falando) em Paris.
    E não considerei avisado viver numa cidade estranha, num país que não era o meu, com uma pessoa que mal conhecia (sei-o agora), e de uma forma que não pudesse viver de forma independente.
    Optei por regressar e completar a minha formação e tornar-me, desta forma, independente. Custou, mas teve de ser feito. Não há atalhos para pessoas como eu, isto é, com o meu feitio. Tenho o "nariz demasiado empinado" e sou demasiado orgulhoso por natureza para me sujeitar ao que quer que fosse. Continuei a sê-lo até hoje e continuo a pensar de forma semelhante.
    Na minha vida sou eu o responsável último pelas minhas ações, não deixo que outros se intrometam nas minhas decisões, sobretudo quando são importantes suficiente para que possam decidir o meu futuro.
    Claro que posso eventualmente (e por norma faço-o) consultar a pessoa com quem estou (acaso aconteça tê-la), poderei mesmo ouvi-lo e decidir de acordo, mas a decisão final tem de ser minha, visto que, no final, serei eu que irei arcar com as consequências.
    Mas gostei da sua história e desejo-lhe as melhores e maiores felicidades.
    Continue e muitos cumprimentos
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel,

      Somos profundamente diferentes. O Manel é uma pessoa independente, dona do seu nariz, livre, e eu sou dependente emocionalmente e noutros aspectos também. Nunca tomei a rédea da minha vida, do meu destino, por incapacidade e cobardia. Por medo. Assim, deixo-me levar ao sabor da maré. Vivo onde não gosto, faço o que não quero. Vivo permanentemente contrariado, porque não sou -nunca fui- dono de mim. Não que haja quem queira mandar em mim; sou eu que me ponho nessa situação porque sou, finalmente, um incapaz. E não temo as palavras, assim como não temo os julgamentos sociais.

      A felicidade, como depreenderá, duma pessoa que vive com as minhas circunstâncias pessoais, é difícil de obter. Procuro sobreviver.

      Cumprimentos,
      Mark

      Eliminar
  2. Deixo te um Grande Abraço amigo
    Força

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado, Francisco.

      Outro abraço,
      Mark

      Eliminar
  3. Julgamento? Nem pensar Mark.
    Ninguém tem de o julgar. A vida de cada um é aquilo que é, e desde que o Mark viva a sua vida à sua forma, o problema é seu e ninguém tem nada a ver com isso.
    Tanto mais que somos responsáveis pela vida que escolhemos, ninguém tem nada que opinar sobre isso.
    Por isso continue a fazer aquilo que se propôs, e que optou, e não ligue a quem quer que seja, excepto a pessoa a quem uniu o seu destino, que esse é alguém que está igualmente dependente de si.
    Em conclusão, não aceite julgamentos de quem quer que seja, e seja o mais feliz que puder a viver a sua vida.
    Somos todos dignos disso, já que nos puseram cá sem que tivéssemos sido tidos ou achados no acto, quer da procriação quer no nascimento.
    Tente ser feliz, e faça aquilo que achar melhor para o seu/vosso futuro.
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel,

      Não me referia ao Manel, naturalmente. Sabe, houve aqui uma pessoa (onde vivo, um meio pequeno), que num desentendimento comigo me disse que eu era um “mantenido” do meu marido (um “mantenido” é alguém que vive às custas de outra pessoa). Era a esse tipo de gente que me referia. Eu não escondo que é o meu marido quem me dá de comer, por manifesta incapacidade psíquica da minha parte de conseguir cuidar de mim sozinho. Era a essa dependência que me referia, a par da emocional. Não temo esses julgamentos sociais.

      Eu gostava de ser uma pessoa decidida, capaz, determinada, que conseguisse prover a todas as suas necessidades, mas herdei, além de uns genes terríveis, traumas e problemas que me tornaram na pessoa que sou hoje.

      Sim, pode ser que o meu marido dependa de mim também. Eu nunca me achei especialmente importante na vida de ninguém. Acho sempre que o mundo continuaria igual sem mim. Acho, aliás, que se desaparecesse ninguém daria por isso.

      Cumprimentos, e obrigado pelas palavras
      Mark

      Eliminar