O Lobo, que voltou sob outra capa, é um dos bloggers mais dinâmicos da blogosfera. Andou por aí muito tempo, depois desapareceu, e agora voltou num momento em que a blogo é um cadáver. Ele tinha sempre ideias para desafios, passatempos, eventos (os calendários, os oscars da blogo, e por aí), e desta vez fez a sua curva da vida, propondo-nos que também nós a fizéssemos. Eu vou elencar os melhores e os piores anos da minha vida. Tenho uma memória prodigiosa, e lembro-me de praticamente tudo, mais ou menos pormenorizadamente, desde os três anos. Anos felizes, felizes, nunca tive até sair de Portugal, verdade seja dita, mas houve uns piores.
1996: o ano em que mudei de colégio, passando a conviver com miúdos mais velhos. Foi a partir deste ano que comecei a sentir verdadeiramente os efeitos da discriminação e da ignorância, ainda que antes, onde vivia, já fosse discriminado por ser mais feminino;
2004: foi um ano terrível. O meu pai sofreu um AVC, que felizmente não lhe deixou sequelas graves, mas tudo aquilo perturbou imenso as minhas rotinas e a minha estabilidade emocional;
2005: o segundo ano da pior tríade da minha vida. Houve uma série de problemas pessoais que tornaram o ano horrível;
2006: o meu annus horribilis. Os meus pais separaram-se, a minha mãe conheceu outra pessoa e passou a viver com ela, o meu pai também saiu de casa. Passei por um processo de transformações e mudanças que me beneficiariam a médio prazo, mas na altura foi tudo um terramoto. Sofri o pão que o diabo amassou;
2010: foi o culminar de um processo de lenta recuperação iniciada em meados de 2007. Entrei na faculdade e isso abriu-me os horizontes;
2015: mais um ano de mudanças, não positivas, mas a partir de 2006 comecei a desvalorizar o que de mau me sucedia, tendo em conta aquilo por que passei naquele período;
2018: um ano muito mau na sua segunda metade, por uma notícia devastadora;
2020: a grande mudança. Sair de casa, do país, constituir família, adoptar um animal. Aconteceu tudo demasiado rápido. Foi o melhor ano que tive desde que nasci;
2021: um ano que vem no seguimento do anterior, muito positivo, com alguns acontecimentos inéditos pelos quais ansiava há muito tempo;
Se fizesse um gráfico, veriam que, desde que vim ao mundo, estaria praticamente tudo abaixo da linha. Houve, sobretudo, anos maus, e outros igualmente maus que foram a continuidade uns dos outros. Foi quase tudo mau na minha vida, digo-o sem medos, e o bom tem sido uma excepção.
Tem sido uma exceção, mas parece-me que está a começar a subir exponencialmente. Aliás, quando batemos no fundo do poço, e chegamos ao fim da linha, onde não podemos descer mais… a única alternativa é manter ou então voltar a subir.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, fiquei a conhecer-te um pouco mais :)
Não sei se terei batido no fundo do poço, mas já houve momentos na minha vida em que me senti terrivelmente sozinho e à deriva.
EliminarObrigado eu por dares algum ânimo a uma rede social que cada vez mais deixa de fazer sentido.
Bem, ainda bem que eu não tenho que fazer isto.
EliminarMas gostei imenso do seu texto. Muito cru e verdadeiro. É assim mesmo que se escreve. Obrigado pela leitura, fiquei a conhecê-lo melhor.
Quanto a mim, um terço da vida ... esqueci-me, ou dar-me-ia muito trabalho lembrar, dos outros dois terços, um deles prefiro não lembrar (faria chorar as pedrinhas da calçada, rsrsrs) e o restante ... fiz por me esquecer, de vez, tão má foi.
Vou-me lembrando de momentos aqui e ali, que me foram simpáticos, pois não quero ficar avinagrado e só quero manter aquilo que formou a melhor parte de mim mesmo.
Mas, e repetindo-me, gostei muito do seu rol.
O meu bem-haja, e que, a partir daqui, seja só uma continuação da descrição que dedicou a 2020.
Manel
Desde 1956 até hoje daria para fazer um rol que iria daqui até à lua.
Olá, Manel
EliminarObrigado. Passei a escrever com menos medo de o fazer. Medo porque durante uns anos alimentava a ideia de uma persona que não existia, que não era eu, e era a mim a quem enganava, ou pretendia enganar, e não aos outros. Não vale a pena mascarar os desaires pessoais ou escondê-los. Há que encará-los e, quiçá, ostentá-los inclusive: eu sobrevivi, e aquilo que se diz de que o sofrimento nos faz crescer é realmente verdade, mas bom, o Manel, com tantos anos de vida e de experiência, seguramente que o saberá melhor do que eu. Sofre-se, cresce-se, mas ficam sempre marcas, como amolgadelas num pedaço de aço que deixamos cair ao chão.
Eu lembro-me de tudo. De cada momento, às vezes até de datas sem importância nenhuma, mas que retive por estarem relacionadas a períodos marcantes.
Cumprimentos, e obrigado, uma vez mais, pela amizade.