8 de fevereiro de 2022

Budapeste (parte V).


   O regime comunista desintegrou-se, na Hungria, em 1989. Caiu de forma pacífica, como de resto em todos os países do antigo bloco soviético, à excepção da Roménia, que executou o seu líder, Ceausescu, após um julgamento sumário. À época, as praças de Budapeste estavam todas elas repletas de estátuas e símbolos do comunismo. Com a transição para a economia de mercado, retiraram-se aquelas estátuas das praças públicas e chegou-se a cogitar a sua destruição. O bom senso imperou e, em 1993, inaugurou-se um parque a cerca de 12km de Budapeste, um descampado, como que um cemitério onde depositar aquelas enormidades de bronze sem ferir susceptibilidades e comprometer o novo rumo político pró-ocidental que se almejava.


Lenine, o grande líder e fundados da União Soviética


  Chama-se Memento Park, e a sua construção não se deu ao acaso. Arquitectonicamente, tudo foi idealizado para lhe conferir um simbolismo. A entrada, por exemplo, parece-nos sumptuosa, reportando-nos a um templo clássico, mas depois, quando passamos a porta, vemos que se trata de um terreno amplo, seco, desértico, com as estátuas dispostas aqui e acolá. É uma alusão ao comunismo, um modelo de regime que promete muito, sem que, no fim, se cumpram as expectativas. Estávamos em 1993, e ainda não lhes podia ser exigido aos húngaros que fizessem leituras apolíticas da sua história recente. Fora do parque, no lado oposto à entrada, vemos as botas de Estaline sobre um pedestal. Sobejaram apenas as botas. A estátua foi destruída integralmente numa revolta contra o regime comunista em 1956, que o Exército Vermelho sufocou imediatamente. Tal não sucedeu às de Lenine. Temos uma no pórtico da entrada, gigante, e outra no recinto do parque. Até ao dia de hoje, o fundador da U.R.S.S goza de mais prestígio e consensualidade do que Estaline.


Monumento à República Socialista Húngara (1969)


   Lá dentro, e depois da compra do bilhete, encontrarão não só elementos soviéticos como húngaros, e inclusive um Monumento aos Combatentes Húngaros das Brigadas Internacionais de Espanha, que foram -sem querer abordar muito a história espanhola nesta publicação- unidades militares que lutaram ao lado da República durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), contra Franco, do bando dos nacionalistas. Como acabou, vocês já sabem.

    Têm à disposição ainda uma pequena loja que vende recuerdos do recinto.

Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.

4 comentários:

  1. Se for como na República Checa, ou na Polónia, os locais odeiam os russos. A par dos alemães.

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    1. Não faço ideia. Não falei com ninguém sobre o sentimento em relação aos russos, mas imagino que seja igual.

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  2. A Rússia nunca se recompôs da perda da influência. Isso ainda se vê na situação da Ucrânia. Os povos de leste estão sempre na corda bamba.

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    1. É verdade. Eles consideram aquela região da Europa como a sua esfera de influência. A situação da Ucrânia preocupa-me.

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