7 de agosto de 2013

Tapada das Necessidades.


   Continuando o roteiro por espaços verdes da cidade, combinei com um amigo irmos à Tapada das Necessidades, em Alcântara. Coincidentemente, a ideia partiu dele, embora um comentário ao texto anterior contivesse essa sugestão. É uma zona que muito me agrada. Saímos no Rato e fomos percorrendo o caminho, a pé, até chegarmos ao nosso destino. Passámos pelo jardim da Estrela (que várias memórias me traz quando, em pequenino, passeava com a avó) e pela Basílica (onde entrámos), durante o percurso.

    É, de facto, uma pena que a linha do metropolitano não abranja esta parte da capital ou, numa outra perspectiva, como refere o meu amigo, é uma bênção para aqueles bairros que o metro não chegue lá. Quanto mais pessoas, mais degradação e confusão. Não deixa de ter razão. A minha opinião é baseada nunca preguicite aguda em andar e, claro está, no comodismo. Como a manhã esteve fresca e agradável, não foi cansativo.

   O jardim é gratuito. Tem horário de abertura e de encerramento. Situa-se ao lado do Palácio das Necessidades (onde funciona o Ministério dos Negócios Estrangeiros). Não admira que fosse uma das zonas mais apreciadas pela monarquia portuguesa (há relatos que nos remontam aos tempos de D. João V): é uma pequena delícia escondida. Estava quase vazio, com a excepção de um casal de namorados da nossa idade e de alguns trabalhadores que restauravam uma estufa. É amplo e tem uma variedade apreciável de plantas, flores e árvores. Bastantes cactos. O meu amigo (doravante, P.) disse-me que os cactos, antes de morrerem, libertam uma espécie de ramo alto, com flor, que anuncia a sua morte. Sorri. Estamos sempre a aprender. Não sabia.

     Na realidade, jardim não será a designação correcta: trata-se de uma tapada: extensa, coberta de caminhos por entre a vegetação e com estradas de terra batida. Vimos mesas de madeira para piqueniques e ficámos com pena, afinal, teria sido interessante. O P. levou as raquetes de badminton para jogarmos. Melhor, para ele ensinar-me (ou tentar...) a jogar. Então, dirigimo-nos a um campo verde onde um pai jogava à bola com o filho. Foi hilariante. Sempre que tentava lançar a peteca, ou a arremessava em baixa altitude ou de forma errada. Demorou um pouco até começar a fazê-lo minimamente bem. O P. apenas ria e fazia-me rir. Mandava-me correr para conseguir alcançar a peteca que acabara de lançar. Ora, eu sou um asno a correr e estava de skinny jeans (o que não é propriamente confortável). Ele é todo desportista, de calções e ténis. É evidente que teve em consideração a minha asma, perguntando-me se estava bem ao mínimo arfar. Não demorou muito para que terminássemos sentados sobre a relva, partilhando a garrafa de água, entre gargalhadas espontâneas. Ainda passámos por alguns laguinhos e fontes, com patos. Mais uma vez, vieram-me à memória os patinhos do jardim da Estrela.




     O P. é diferente de mim. Somos opostos; completamo-nos. O beijo na Gulbenkian surgiu casualmente durante as conversas que fomos tendo. Nenhum quer uma relação ou, pelo menos, não é algo que nos suscite interesse. A sua maturidade dá-me segurança. Explicou-me o que podemos ganhar mantendo uma amizade sólida, estando frequentemente juntos sem as amarras de um namoro. Não se trata de libertinagem. Não andamos com outras pessoas, mas um relacionamento implica tempo e um cuidado que nenhum quer. Falou-me em 'amigos com benefícios'. Concordei com o que me apresentou e com os seus argumentos. Não fechámos nenhuma porta, não sabemos o que o futuro nos trará, nem travaremos seja o que for. Somos amigos e assim ficaremos. Selámos a conversa com um abraço e com um beijo. Não um ósculo de cinema, à boa moda de Hollywood; algo sentido e nosso.

        Caminhámos de mãos dadas pelo resto do passeio.

35 comentários:

  1. Mark tem cuidado com amizades com benefícios... só te digo isso, às vezes não resta nada :s
    Tal como num namoro, há imensos riscos aplicados.

    Boa sorte e que sejam felizes*

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    1. Eu sei, eu sei que é difícil manter o discernimento e separar as águas, mas deixámos tudo bem claro. Somos amigos e não mais do que isso! :)

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  2. Olha, querido Mark, depois de te ler, sabes o que me apraz dizer? "Não deixes a peteca cair." xD

    Il faut surtout être heureux :)

    Abraço!

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  3. Acho que o P. é muito maduro. Fizeram bem em concordar com este tipo de amizade. Falaram e vão continuar a debater o tema por outras ocasiões. Tenho a certeza que te fará muito bem e será uma experiência enriquecedora para ti! Viver sem medos e de mãos dadas é tão bom! Fiquei feliz! ^^

    Hughie :*

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    1. Exacto. Para quê apostar numa relação, a qual nenhum conseguiria manter? Temos os pés bem assentes na terra, aliás, somos amigos há imenso tempo. Não o conheci anteontem, nem há uma semana.

      Ele é bem mais maduro do que eu.

      abraço. :)

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  4. Gostei dessa dos amigos com benefícios ;)

    Abraço amigo Mark :D

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  5. As coisas tem que fazer sentido para os próprios, e não tem de ter um nome. Se lhe decidiste chamar "amizade com beneficíos", é lá contigo. Não importa o que lhe chamas, mas sim o que isso significa para ti.

    E agora podes chamar-me muito burro ou muito ingnorante, mas o que são "skinny jeans "???

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    1. Não fui eu que utilizei essa terminologia; foi ele. Eu refiro-o no texto. :)

      Oh, normal! Por que chamaria de burro? :D Skinny jeans são calças de ganga mais justas à perna, sobretudo na parte inferior (tíbia). :)

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    2. Ok, não sabia que esse tipo de calças tinha um nome próprio... lol

      Eu costumo usar é destas: http://www.dockers.com/PT/pt_PT/men-pants/p/404340008?productid=404340008&brand=DOCKER
      (não desta marca, mas deste estilo...) Não sei se tem um nome próprio, mas a ter deve ser qq coisa estilo "calças à betolas", lol


      Abraço :)

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    3. É uma designação. :) Geralmente são usadas por adolescentes e jovens adultos (onde me incluo).

      Ahah, também tenho dessas devido à faculdade; confesso que não gosto muito de me ver (fico mais velho). Mas são giríssimas!

      abraço. :)

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    4. Sim, são calças mais à "homem", enquanto que as tuas skinny são mais à "jovem"...

      Eu sou um antiquado... :D

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    5. Antiquado? Nada disso: são clássicas e giras! :) Gosto imenso de ver um rapaz assim. :)

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  6. Conheço tão bem esse sitios xD Não sabia que eras de lisboa xD Bem vindo

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    1. É, sou alfacinha. :)

      Por acaso, não conhecia a Tapada! '-'

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  7. Acho que quando as coisas estão esclarecidas por ambas as partes, não há nada de mal nessas amizades coloridas. É algo saudável.

    E podes continuar a dar-nos ideias de lugares interessantes em Lisboa, gosto disso.

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    1. Subscrevo! E visto que não andamos com mais ninguém... Somos amigos e assim continuaremos. :)

      Obrigado, sempre que passear para algum lugar interessante da cidade, certamente divulgarei! :D

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  8. r: talvez seja melhor não o ver mesmo... sei lá

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  9. é isso mesmo, com cabeça e maturidade, ambos vão perceber o que pretendem um do outro.
    sejam é sempre honestos um com o outro!

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  10. tenho um passeio organizado pela junta de freguesia dos prazeres por aí reservado há que tempos, mas tenho estado de férias. agora, só em setembro. o que é bom é que há guia, o técnico da JF, um senhor simpatiquíssimo (o mesmo que fez a visita guiada ao cemitério dos prazeres).
    quanto ao p., olha o meu sorriso :)))))))) desfruta a vida, que mereces.
    bjs.

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    1. Tens de ir à Tapada das Necessidades! É um local muito acolhedor e sossegado.

      Obrigado. :) Sabes, estou a viver momentos que não vivi quando deveria (e a vida, como sempre digo, tarde ou cedo cobra o que não experimentámos no devido tempo).

      beijinho.

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  11. Eu e o R. também somos opostos, aliás acho mesmo que esse é o segredo da nossa relação. Eu aprendi a gostar do mundo dele e ele do meu, e penso que ganhámos muito com isso. Quando há respeito pelo outro, essa partilha da diferença é uma fonte de vida. E depois viver com uma pessoa igual a ti, deve ser um tédio ;)
    Os compromissos não precisam de palavras. Quando perceberem o que sentem um pelo outro, logo verão. Entretanto, desfruta porque gostar de alguém e ser correspondido é das melhores sensações que há. Sei que dizer isto é um bocado piroso, mas é verdade. :)

    Abraço Mark.


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    1. A vossa relação é o desejo de qualquer um. É linda. :) Vocês estão juntos há tantos anos, vivendo momentos a dois inesquecíveis (a recente viagem à Turquia, p. ex.).

      Sem dúvida, viver com alguém igual a nós deve ser monótono demais; no meu caso, igual a mim, seria insuportável (tenho um feitio peculiar :D).

      Creio que nos damos bem. Há respeito e há carinho. De momento, não necessitamos de compromisso. :)

      abraço, Arrakis.

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  12. Ai que lindo!

    Desculpa a piroseira, mas fiquei a sorrir :)

    A maior Felicidade.

    Abraço Mark

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    1. Ahah, nada piroso. :D

      Obrigado! Vamos ver no que dá. :)

      abraço, Ricardo.

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  13. Adorei o final :)
    Continuem a passear de mão dada (sempre!)
    Abraço

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  14. Em primeiro lugar deste-me a conhecer um sítio "novo" para mim - a Tapada das Necessidades.
    E depois um novo conceito de amizade, a a amizade com benefícios...
    Não critico a denominação, mas para mim essa ou outra denominação não são essenciais.
    É uma amizade e isso é o primeiro ponto, é uma amizade especial e isso é um facto que não pode ser refutado.
    Que se baseia em conceitos por vós estabelecidos em conversas que servem precisamente para isso é outra realidade muito positiva.
    Se são opstos, tanto melhor como bem refere o Arrakis e eu posso confirmar.
    A complementariedade é bem melhor que a consonância...nestas questões afectivas.
    Fico muito satisfeito por ti e pelo P.

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    1. É mais um local que tens de conhecer, João. :)

      Exacto. As denominações são absolutamente dispensáveis. Trata-se de uma amizade que vamos aproveitando como queremos. O essencial é haver respeito e isso há.

      Totalmente opostos, até nas preferências musicais...

      obrigado, João, e um abraço.

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  15. Parece-me um começo. E como começo não precisa de ter já as regras todas traçadas :)

    Andar de mão dado só andei uma vez em Março na praia com o miúdo :P LOL

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    1. Eu gosto e ele também, mas só quando estamos a sós. :)

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