A melhor estratégia não será a de encarar cada avaliação como um castigo. De outra forma não faria as cadeiras. Contudo, os anfiteatros novos provocam-me arrepios. O átrio circular, de paredes cobertas de pequenas pedras cristalinas em tons de castanho, madre-pérola e branco, tornam o espaço distante e frio. As vozes ecoam, cujo som projectado contra as paredes assume uivos estranhos.
Ajudei uma aluna (colega e amiga) invisual a descer a escadaria que nos leva ao piso inferior. A sua perspicácia e intuição em muito suplantam as nossas capacidades. Reparou que eu estava ansioso. Ao perguntar-lhe como chegou a surpreendente conclusão, uma vez que consigo manter o timbre vocal sereno, disse-me que soube-o através do contacto das minhas mãos na pele do seu braço. Ela identifica a minha voz a uma distância extraordinária. Falando baixinho - e estando suficientemente longe de si - escuto-a a chamar por mim.
"Oláaaaaaaa Mark!!"
Sentámo-nos de forma a deixar uma fila de intervalo, como sempre. Li o enunciado. Pensei. Voltei a ler. Pensei. E, pela primeira vez em muito tempo, senti-me a desfalecer perante o que me era exigido. A alínea b) está terrivelmente incompleta. Não tenho medo.
Olhando para a S., vejo o quão mesquinho consigo ser. Ali estava ela, de portátil ligado, a fazer o exame calmamente. Dissera-me, há tempos, que temia voltar a reprovar de ano. Contra as regras estabelecidas, quebrei o protocolo e dirigi-lhe a palavra, dizendo-lhe que tinha a certeza de que tudo iria correr bem. Murmurei-o baixinho, mas aproximando-me dela ao ponto de os professores verem. Sorriu - e o seu sorriso é tão bonito - desejando-me igualmente boa sorte.
A S. é uma vencedora.
Deu-me ânimo e senti-me restabelecido. As palavras certas, no momento exacto, fazem toda a diferença.
Concluído, entreguei e saí, esperando por ela no átrio para a levar até à sua mãe, que religiosamente a vai buscar todos os dias, esperando-a no bar.
A minha tarde terminou com o Sol a desaparecer no horizonte.
Cada avaliação é um passo a mais no caminho que percorres. E todos os passos dados com segurança vão levar-te longe, como mereces.
ResponderEliminarMuito bonita a descrição que fazes.
A S. é uma vencedora, sim... mas tu, Mark, também és um vencedor.
O primeiro round já está...
Os outros também os vais superar.
Um abraço amigo <3
Muito obrigado, Pedro. :)
ResponderEliminarAbraço meigo. <3
É nestes momentos em que contactamos com pessoas que tem "menos" uma faculdade que nós, neste caso a visão que nos ensinam o quanto nós somos Sortudos :)
ResponderEliminarAbraço e boa sorte para os dois :)
É verdade, Francisco. Ela é muito determinada. Diz que se reprovar de novo, começa a trabalhar para ganhar o seu dinheiro e sair de casa. :)
ResponderEliminarBem mais independente do que eu.
Abraço e obrigado. :3
Não páras de me surpreender pela positiva fofinho! :')
ResponderEliminarAdoro a tua cada vez maior sensibilidade....
Bem hajas por seres como és!
Boa sorte e tenho a certeza que depois da tua boa acção, a tua colega vai conseguir passar também!
Beijinho :3
Oh, não fiz mais do que a minha obrigação, Hórus! :)
ResponderEliminarObrigado pelos votos. :3
Abraço e beijinho. <33
Mark, mais que uma obrigação, foste solidário, essa é a mais nobre característica. com um incentivo, uma pequena e doce palavra mudaste-lhe a disposição, que já era de vencedora, para invencível, sorriu-te e recebeste um pouco da sua força. ganharam os dois.
ResponderEliminarbjs.
Margarida, sabes, meditei nas tuas palavras e cheguei à conclusão de que se consegui dar-lhe ainda mais força do que aquela que ela por si só já tem, então realmente fico bastante mais feliz.
ResponderEliminarHá professores que não têm qualquer tipo de paciência com ela, tratando-a como se não tivesse limitações óbvias. Fico extremamente revoltado. Há casos de insensibilidade gritante!
Beijinho. **
Ah, se todos fossemos um pouco de ti. Que pessoa cheia...
ResponderEliminarPessoas assim deixam-me muito motivado. Demonstram habitualmente uma força de vontade e perseverança que aprecio muito. Boa sorte para os dois!
ResponderEliminarTânia e Coelhinho: Obrigado a ambos. :)
ResponderEliminarUma palavra, só uma palavra, às vezes, faz milagres.
ResponderEliminarJoão: Faz. :)
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