3 de junho de 2012

Segundo Round.


 Nem uma corrente mínima de ar percorria o anfiteatro. Estava cheio. Eram visíveis os rostos avermelhados, suados, de vários alunos. O professor desesperava dentro do blazer cor-de-mel. A camisa tornara-se transparente, revelando o seu peito justo ao tecido. Pequenas mechas de cabelo, molhadas, colavam-se à testa, dando-lhe um ar relaxado e mais novo.
 Avisos feitos, como lhes chamam, "avisos à navegação", e começou o exame. A mesma rapariga que, meses atrás, me perguntou se o Sir Winston Churchill era francês, estava de novo sentada a meu lado, agitando-se ansiosamente no pequeno assento de madeira. Os seus olhos pequenos, a estatura franzina e o seu nariz largo, espesso e oleoso, tornam-na numa figura enigmática. O gancho minúsculo, azul com uma borboleta amarela, que pouco cabelo conseguia suster, dava um toque desordenado ao conjunto. Temi que me fizesse perguntas de modo a que os vigias se apercebessem.
 A prova era acessível, demonstrando, uma vez mais, a benevolência da professora.


 Um grupo de namorados amontoou-se à entrada do cinema. 
 Apesar de não gostar particularmente de pipocas, incluindo do seu som estaladiço, não resisti ao pedido da minha amiga para que comprássemos um pacote médio, doces.
 Os trailers ainda passavam na tela quando chegámos à sala, praticamente vazia. O enredo não convencia e acredito que fossem mais pelo actor em si. Não conseguimos decifrar os números devido à escuridão. Tentei identificar algumas características nas pessoas que estavam presentes. Todas iguais, assim como aprendemos nos manuais dos iluministas do século XVIII. O individualismo surgia, sim, com a luminosidade repentina que inundava o espaço.
 Ouviram-se gritos com o disparo que o Robert Pattinson deu na sua própria mão. Foi como um grito de alerta e acredito que tenha funcionado como despertador para uns tantos. A lógica formal não é facilmente captada. É natural que o mesmo leve a um aborrecimento dos espectadores.
 Porém, reflectindo numa frase do filme, tão óbvia e, por isso mesmo, tão despercebida, por que motivo é comum e até socialmente bem visto dizer-se que se detesta pessoas ricas quando, no fundo, quase todos o queriam ser?
 Engoli em seco e temi os Homens.


14 comentários:

  1. é a inveja é um dos sentimentos que mais facilmente se manifesta. Antes fossem outros...

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  2. O Dinheiro não traz Felicidade, mas ajuda muito...

    Mais vale ser um doente com dinheiro que um pobre sem ele...

    Abraço amigo

    P.S - Boa sorte para a nota :)

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  3. Dissertações curiosas neste post meu querido Mark! \^w^/

    Numa primeira parte, abordas a temática de um novo exame, um novo desafio onde vocês todos foram colocados à prova e onde tu, certamente, serás bem sucedido, pois és um aluno exemplar.

    Na segunda parte, descreves a futilidade das pessoas que foram ao cinema ver o filme por causa do actor em questão - que diga-se de passagem nunca considerei nada de especial, prefiro o jovem lobo a ele! :P

    Quanto ao dinheiro, eu creio que a maior parte das pessoas tem uma noção errada do mesmo.

    Provavelmente todos desejavam ser ricos, ter todo o dinheiro que pudessem e quisessem. Poder comprar mil e uma coisas sem haver necessidade de olhar para a conta bancária.

    São tudo ideias muito sedutoras.

    Mas na verdade, isso só nos levaria ao lado fútil, artificial e material da vida.

    As pessoas ricas são invejadas, são pessoas que não dormem totalmente descansadas, pois estão propícias a serem raptadas ou assaltadas, estarão certamente rodeadas de pessoas interesseiras e malvadas, que se fazem de amigas quando na verdade querem apenas lucrar alguma coisa ou tirar partido da "fama" ou "poder".

    No entanto, as pessoas ricas, pelo menos materialmente, serão ocas e vazias na sua grande maioria.

    Ricos ou pobres, ninguém escapa a duas condições humanas: ficar doente [certas doenças são incuráveis, e aí de que servirá todo o dinheiro do Mundo nessas ocasiões?] e a Morte. Quando morremos, não levamos os bens materiais para o Outro Mundo. Eles ficam cá, para serem gastos por outras pessoas, quem sabe melhor ou pior que nós.

    Beijinho e big hughie! :333

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  4. Seus textos são deliciosos e sua escrita tão minuciosa que consigo visualizar cada detalhe.
    As pessoas desejam o poder e a riqueza que invejam por pura hipocrisia. Assim é a humanidade.
    Abraço-te.

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  5. Creio que há pessoas que vão ver os filmes sem terem maturidade para eles...

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  6. mais uma aventura na faculdade, espero que tudo corra bem. aliás, de certeza que vais ter uma excelente nota, :)
    o filme deve ser cosmopolis, tenho curiosidade em ler o livro, mas não em ver o filme, o actor não me seduz, nem o facto de ter o produtor português paulo branco (sim, vi a notícia da enchente no ccb. quando fui ver o bes photo já lá estava o cartaz do filme...).
    bjs.

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  7. Quantos são aqueles que veneram um filme, por causa de determinado ator/atriz...
    Pena!
    Pessoalmente adoro cinema de autor. Daquele que não passa nas nossas salas de cinema ;(

    Grande abraço.

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  8. Speedy: A inveja é o que de pior temos em nós. :(

    Francisco: Sim, infelizmente é essencial. Por ele se mata; por ele se morre.
    Obrigado! <3

    Hórus: Eu confesso que acho alguma graça ao Pattinson. :D
    Quanto ao dinheiro: realmente também os milionários têm a vida dificultada, mas não diria que são, na sua maioria, ocos e vazios. Há de tudo. Não podemos confundir o nome de família com as personagens caricatas do chamado "jet set". :D Esses, sim, na sua maioria serão vazios de tudo. :S
    No nascer e no morrer, todos somos iguais. É a justiça da vida. :)

    Ty: Muito obrigado. :)

    Tânia: Também fiquei com a ideia de que isso acontece frequentemente...

    Margarida. Sim, é o "Cosmopolis". Eu confesso, tal como disse ao Hórus, que acho uma certa, vá, piada, ao Pattinson. Sei lá... xD
    Obrigado pelos votos. :')

    Paulo: Sim, e filmes independentes, fora das grandes produções de Hollywood. Às vezes os de baixo custo de produção são os melhores.


    Abraços e beijinhos. :3

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  9. Tive o secreto receeio que tenhas ido ao cinema com a do Churchill francês...

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  10. Coelhinho: Não! LOL Nem conheço a rapariga. :D

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  11. Nalguma coisa havíamos de discordar; considero o Pattinson um actor sofrível (só gostei dele no filme "Litlle Ashes" a fazer de Dali) e fisicamente não é de todo o meu tipo...

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  12. João: Eu gostei dele em todos, especialmente na saga "Crepúsculo". Pronto, já percebi, não se preocupem que eu gosto e não me importo. :D LOL

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  13. Ainda não vi o filme, mas está na lista. Espero que não tenhas revelado nada de importante acerca do mesmo... :):)

    Um abraço.

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  14. Blog:

    Saudades! :)

    Não revelei nenhum pormenor importante. :)

    Abraço. :3

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