29 de setembro de 2010

És "moche"?



O quotidiano dá-nos provas de que o mundo em que vivemos já não é o mesmo. Antigamente (e que interessante que é uma pessoa da minha idade usar este advérbio...), as pessoas pautavam as suas vidas por interesses concretos, palpáveis e úteis. As conversas, os diálogos que se estabeleciam tinham um outro sabor. Tudo era bem mais rico em sabedoria, em empatia e naquele sentimento de reciprocidade de interesses e vontades. Quando se conhecia alguém, e depois das apresentações feitas, era natural perguntar a idade, os livros preferidos, as músicas favoritas e quem sabe a cor predilecta. Depois, surgia o convite para o jantar ou até mesmo para o simples cafezinho (sem acento grave no "e", uma vez que este foi abolido no Acordo entre o Brasil e Portugal em 1971).
-"És moche?"
Eis a pergunta mais corrente, em Portugal, num primeiro encontro. E desengane-se quem pensa que está circunscrito às camadas mais jovens. É um vírus que se alastrou por gerações e gerações contaminadas pelas deturpações dos novos tempos (algo entre a queda do Império e a Crise Económica). Pronto, não é bem assim, há sempre quem pergunte de outra forma.
-"Não és moche? Ah, és extravaganza? Também não? Ah, já sei, és Tag!"
Já está, já está! Não se cai no seguidismo e conseguimos quatro frases fantásticas e originais. Vejamos, é extremamente importante ter um tarifário igual para uma futura amizade. É condição essencial. Ah, pouco importa se és mau ou bom, altruísta ou egoísta, um padre ou um criminoso. Nem interessa o nome. Interessa o tarifário. És moche? Gosto bué de ti. Não és? Opá, fica p'ra outra, 'tá?
E assim gira o nosso mundinho insignificante, em torno de uma estrela insignificante, que faz parte de uma galáxia não menos insignificante, nesse todo que é o Universo. Valha-nos Deus que tem as três redes!...






Sim, sim, Mark, fala, fala, mas também tens moche e extravaganza... Parvo! Sê diferente: começa a usar sinais de fumo!!!

7 comentários:

  1. Felizmente não tenho aqui ninguém comigo pois ainda pensavam que eu sou doidinho de todo, por causa da gargalhada que dei.

    Pois é "jovem", são as frases do século XXI. As frases iniciais para o "engate", acho eu. Temos que nos habituar.

    "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... e o que conta é o tarifário. hehehe

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  2. É melhor que "Tens farmville?" lol.
    Gosto muito de ser tag, faz as pessoas pensarem duas vezes antes de me mandarem mensagem. É um óptimo filtro :P.

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  3. Já tinha pensado bastantes vezes sobre isto dos tarifários... e como as amizades giram à volta destes. São uma espécie de grupo restrito que só entra quem faz parte de um deles. E é ter dinheiro para ter três ou ter só um e acabar por ser restringido pelo que se usa... É a vida lol

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  4. Se não te conhecesse, pensaria que estavas a falar uma língua qualquer desconhecida.
    Estes termos, moche, extravaganza, tag...soam-me a chinês; é que eu sou mesmo do "antigamente" (mas não faças um alargamento do conceito, por favor).

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  5. Bem, no meu tempo apenas se perguntava pelas três redes. Agora a juventude já chega ao pormenor do tarifário? Muito evoluídos, sim senhor

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  6. Desculpem lá, mas eu fiquei preso noutro ponto do post... Qual acordo ortográfico de 1971? Pensava que antes do actual (que é de 1990) só tinha havido o de 1945, que nem foi subscrito pelo Brasil. Desculpem a ignorância, mas acho que este é o aspecto mais interessante de todo o post.

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  7. Não me referi a um Acordo Ortográfico. De facto, só existiram dois: o de 1945 e o de 1990. Todavia, e devido ao facto de continuarem a existir diferenças ortográficas entre os dois países, ambas as Academias (Academia Brasileira de Letras e Academia de Ciências de Lisboa) reuniram-se em 1971 para resolver uns casos pontuais. :)

    Procura na internet e encontrarás. :)

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