O quotidiano dá-nos provas de que o mundo em que vivemos já não é o mesmo. Antigamente (e que interessante que é uma pessoa da minha idade usar este advérbio...), as pessoas pautavam as suas vidas por interesses concretos, palpáveis e úteis. As conversas, os diálogos que se estabeleciam tinham um outro sabor. Tudo era bem mais rico em sabedoria, em empatia e naquele sentimento de reciprocidade de interesses e vontades. Quando se conhecia alguém, e depois das apresentações feitas, era natural perguntar a idade, os livros preferidos, as músicas favoritas e quem sabe a cor predilecta. Depois, surgia o convite para o jantar ou até mesmo para o simples cafezinho (sem acento grave no "e", uma vez que este foi abolido no Acordo entre o Brasil e Portugal em 1971).
-"És moche?"
Eis a pergunta mais corrente, em Portugal, num primeiro encontro. E desengane-se quem pensa que está circunscrito às camadas mais jovens. É um vírus que se alastrou por gerações e gerações contaminadas pelas deturpações dos novos tempos (algo entre a queda do Império e a Crise Económica). Pronto, não é bem assim, há sempre quem pergunte de outra forma.
-"Não és moche? Ah, és extravaganza? Também não? Ah, já sei, és Tag!"
Já está, já está! Não se cai no seguidismo e conseguimos quatro frases fantásticas e originais. Vejamos, é extremamente importante ter um tarifário igual para uma futura amizade. É condição essencial. Ah, pouco importa se és mau ou bom, altruísta ou egoísta, um padre ou um criminoso. Nem interessa o nome. Interessa o tarifário. És moche? Gosto bué de ti. Não és? Opá, fica p'ra outra, 'tá?
E assim gira o nosso mundinho insignificante, em torno de uma estrela insignificante, que faz parte de uma galáxia não menos insignificante, nesse todo que é o Universo. Valha-nos Deus que tem as três redes!...
Sim, sim, Mark, fala, fala, mas também tens moche e extravaganza... Parvo! Sê diferente: começa a usar sinais de fumo!!!
Felizmente não tenho aqui ninguém comigo pois ainda pensavam que eu sou doidinho de todo, por causa da gargalhada que dei.
ResponderEliminarPois é "jovem", são as frases do século XXI. As frases iniciais para o "engate", acho eu. Temos que nos habituar.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... e o que conta é o tarifário. hehehe
É melhor que "Tens farmville?" lol.
ResponderEliminarGosto muito de ser tag, faz as pessoas pensarem duas vezes antes de me mandarem mensagem. É um óptimo filtro :P.
Já tinha pensado bastantes vezes sobre isto dos tarifários... e como as amizades giram à volta destes. São uma espécie de grupo restrito que só entra quem faz parte de um deles. E é ter dinheiro para ter três ou ter só um e acabar por ser restringido pelo que se usa... É a vida lol
ResponderEliminarSe não te conhecesse, pensaria que estavas a falar uma língua qualquer desconhecida.
ResponderEliminarEstes termos, moche, extravaganza, tag...soam-me a chinês; é que eu sou mesmo do "antigamente" (mas não faças um alargamento do conceito, por favor).
Bem, no meu tempo apenas se perguntava pelas três redes. Agora a juventude já chega ao pormenor do tarifário? Muito evoluídos, sim senhor
ResponderEliminarDesculpem lá, mas eu fiquei preso noutro ponto do post... Qual acordo ortográfico de 1971? Pensava que antes do actual (que é de 1990) só tinha havido o de 1945, que nem foi subscrito pelo Brasil. Desculpem a ignorância, mas acho que este é o aspecto mais interessante de todo o post.
ResponderEliminarNão me referi a um Acordo Ortográfico. De facto, só existiram dois: o de 1945 e o de 1990. Todavia, e devido ao facto de continuarem a existir diferenças ortográficas entre os dois países, ambas as Academias (Academia Brasileira de Letras e Academia de Ciências de Lisboa) reuniram-se em 1971 para resolver uns casos pontuais. :)
ResponderEliminarProcura na internet e encontrarás. :)