Hoje voltei a passar pelo nosso jardim. Há muito que não ia para aqueles lados. No entanto, sempre que passo por lá, recordo-me de quando me levavas até àquele cantinho mágico, apesar de nos cruzarmos com outras pessoas. A nossa árvore continua lá, sobre o mesmo banco castanho, desgastado pela fúria do tempo que o deixou sem brilho e vitalidade. A pequena rua que circunda as filas de árvores altas e estreitas mantém o seu ar de profundidade e infinito. Lembro-me de que o tempo parecia não ter fim. Os momentos especiais adquiriam a sua transversalidade que lhes permitia contornar o real. Paradoxalmente, sabia sempre a pouco, deixando-me sedento por mais paz interior e sumo voraz da tua presença. A relva parece-me menos verde, de cor amarela e pouco densa. Recordo-me de quando a pisávamos suavemente, rindo e brincando, ignorando o que estava lá fora, no mundo que nunca nos pertenceu. A fonte, outrora cristalina e alva, repousa agora moribunda e agonizante, num estertor súbito que horrorificou o meu olhar. Já não tem pequenos peixes vermelhos e prateados, nadando em suaves círculos em torno do centro. Restam folhas mortas que flutuam na atmosfera cíclica de inquietude e incerteza. As flores fitaram-me com o seu olhar mortiço, sem a música e o cheiro de antes. Também elas contam os seus derradeiros dias. Passaram por mim velhos e novos, felizes e infelizes, homens e mulheres. Todos pareciam ignorar a história daquele jardim que, em tempos, fora belo. Invadiram-no, desprezando o que lá se viveu, os segredos daquelas árvores, a imponência das suas presenças que exigiam respeito. O céu continua azul.
Espera... o jardim continua como era. Os meus olhos, esses, é que mudaram. Para sempre.
Pois, eu não! :)
ResponderEliminar"o jardim continua como era. Os meus olhos, esses, é que mudaram. Para sempre." Adorei esta parte!
Beijo
De nada :)
ResponderEliminarBeijo
As coisas mudam, sejam na nossa cabeça ou na realidade...
ResponderEliminarUm blog que promete:
ResponderEliminarhttp://bisexualadolescente.blogspot.com/