Hoje fui lanchar com as primas e a avó. Por vezes, temos o hábito de ir lanchar a uma pastelaria fantástica que fica perto da casa da avó. No entanto, e devido ao facto de ter estado encerrada, optámos por uma outra pastelaria, igualmente boa, mas mais distante. A anterior pastelaria reabriu, com uma nova gerência, mas mantendo quase tudo da mesma forma em que estava. Ao anterior proprietário, sucedeu uma senhora simpática que dirige a pastelaria com os seus dois filhos, mais concretamente uma filha e um filho.
Ao entrar, reparei que o filho da senhora olhou instantaneamente para mim. Sentámo-nos numa mesa e passado pouco tempo o senhor veio ao nosso encontro perguntando, de forma simpática, o que desejávamos. É um homem na casa dos trinta e alguns anos, mais maduro, de olhos verdes, magro, não muito alto e extremamente educado. Fiquei ligeiramente encantado com a sua postura discreta.
Pedimos um chá, scones e umas torradas integrais. Como reparei que a casa tinha daqueles gelados de cone em que podemos escolher os sabores, pedi também um gelado. Como era de esperar, convidou-me a acompanhá-lo, de forma a servir-me o gelado. Ao levantar-me, cedeu-me a passagem, atitude que muito me agradou, uma vez que revelou educação, cavalheirismo e respeito. Fomos, então, para uma zona mais reservada da pastelaria, onde se encontram os gelados. Durante os curtos passos, sorriu para mim e perguntou-me se vivia naquela zona.
-"Não, estou a acompanhar a avó e as primas no lanche. A avó, sim, vive aqui." - respondi-lhe.
A montra continha imensos sabores, desde morango a baunilha, passando por chocolate e outros. Perguntou-me que sabores desejava.
-"Melão. Não sei se terá sabor de melão?..." - disse-lhe, revelando algum receio.
-"Claro que temos. E para o menino, mesmo que não houvesse, arranjava-se..." - respondeu-me.
Não consegui evitar uma risada, subtil e controlada, no entanto, uma risada. Fiquei um pouco constrangido, mas adorei a sua atitude. Revelou, de forma directa, uma tentativa de estabelecer um laço qualquer comigo, porém, fê-lo de forma inteligente e bem-humorada. Entregou-me o gelado e agradeci-lhe a atenção para comigo. Ao regressar à mesa, a avó e as primas estavam a começar a beber o chá e a comer as suas torradas.
Durante todo o tempo em que estivemos na pastelaria, o homem não retirou o olhar sobre mim. Sorria, de forma discreta, embora visível. Pareceu-me ser uma boa pessoa, simples, educada, reservada e calma. A idade não é, de forma alguma, um constrangimento, até porque colocava muitos rapazes de vinte a um canto. Tinha imenso charme e experiência, ao contrário da imaturidade que existe por aí. Para imaturo basto eu. Nunca me tinha acontecido algo semelhante, ou seja, já fui alvo de olhares e interpelações por parte de pessoas mais velhas, mas nunca nenhuma me suscitou tanta curiosidade e interesse. Até a Pati reparou no «empregado giraço, 'tá a ver?» (palavras da própria).
Ao sairmos, dei por mim a imaginar quantas e quantos tentarão a sorte com aquele empregado... De forma objectiva, descarada, fácil e até mesmo suja. A promiscuidade reina por aí. Espero que ele, que me pareceu escapar a essa tendência, não seja absorvido por uma força maior...
Muito interessante.
ResponderEliminarSempre gostei destes "encontros" ocasionais...