6 de maio de 2010

A Maldade

Quando a força é menor, entramos num período de aparente apatia. Somos tomados por ímpetos de desistência. Caímos naquela turbulência típica de um marinheiro que não conhece o rumo a seguir, o caminho a tomar. Apoderam-se do nosso corpo forças negativas, pensamentos de submissão a uma corrente maior que nos tenta encaminhar para um lugar onde, lá bem no fundo, não queremos estar. Não se trata de uma fraqueza espiritual, bem pelo contrário; por vezes, estas forças exteriores à nossa vontade têm como última finalidade atrapalhar o caminho que queremos seguir. Serão as chamadas forças de bloqueio. Eu acredito que o ser humano é capaz de todas as coisas possíveis, incluindo as piores e as melhores. É incrível como conseguimos fazer o bem com uma mão, sendo que utilizamos a outra para fazer o mal. Por vezes, fazemos o mal mesmo a quem não queremos. Somos agentes passivos do sofrimento alheio. É um argumento válido para a nossa desculpabilização? É evidente que não. Em última instância, somos seres responsáveis pelos nossos actos, logo, a previsão das consequências imediatas tem de ser devidamente calculada. Já existimos há milénios suficientes para sabermos quais as consequências dos nossos actos. A experiência é uma parte fundamental na consolidação da personalidade do indivíduo. Aprendemos com os erros desde a mais tenra infância. A socialização permite-nos a absorção das regras e dos comportamentos adequados para vivermos em sociedade, no entanto, e durante este processo, erramos o suficiente para aprendermos pela experiência. Até aqui se vêem as forças de bloqueio que, de uma forma ou de outra, todos possuímos. Teremos uma tendência inata para o mal? Ou seremos tendencialmente bons, como afirmou Rousseau? Se Rousseau estiver correcto, são as regras das sociedades que corrompem o indivíduo. Estaremos num quadro de inevitabilidade. São as contrapartidas de toda a aprendizagem que efectuamos. A maldade será uma característica humana que pode ser sujeita a um auto-controlo pelo indivíduo, dependendo da sua vontade e da sua submissão aos desafios e às regras. Como o Homem precedeu a Sociedade, a maldade será, em todo o caso, humana. Prolifera quanto maior for a imoralidade dos indivíduos. O desafio será atingir o bem? Creio que sim.
Em todo o caso, a maldade advém do inconformismo. Até mesmo do inconformismo em relação ao bem. Resulta do egoísmo humano e até mesmo da sexualidade, na busca incessante do prazer. A maldade pode assumir uma forma de prazer.
Depois, também existem todas as concepções religiosas sobre a origem da maldade. No entanto, a génese da maldade não é, de todo, o centro das questões humanistas sobre a sua existência. O grande desafio é a análise das suas consequências e das suas manifestações. O objectivo é o seu controlo.
O Homem já percebeu que a sua existência e a existência da maldade estão profundamente interligadas. São indissociáveis. A maldade é uma componente humana. Uma imperfeição, ou mesmo a origem das imperfeições. Somos imperfeitos porque somos maus. Somos maus porque somos imperfeitos.
Somos imperfeitos e maus porque somos humanos.

6 comentários:

  1. Podiamos tentar ser mais humanos, mas deve ser impossível...

    ResponderEliminar
  2. É, deve mesmo, infelizmente. :(

    ResponderEliminar
  3. E quem não é "mau", não é humano...
    E ainda bem que assim é, pois a perfeição é uma monotonia!

    ResponderEliminar
  4. E somos humanos porque somos únicos, somos egoístas e vingativos, por sermos únicos!

    PS: Inspiras!

    ResponderEliminar
  5. Onde existe o Homem, existe sempre a face do Mal, mas também existe o Bem, temos é que saber destinguir um do outro e fazer a nossa escolha para que possamos ser um pouco melhores.
    Bjs

    ResponderEliminar
  6. Todos somos capazes do mal. Mas, por vezes, o mal que fazemos pode ser a afirmação e o crescimento de nós próprios.

    ResponderEliminar