16 de abril de 2010

O Pequeno Toque

A vida é feita de pequenos toques. Toques, à partida, sem qualquer tipo de simbolismo, mas que fazem toda a diferença. O beijo dado no momento certo, o abraço inesperado, a palavra de conforto, a mão que ampara e protege... Somos seres sociáveis, necessitando de afectos. Perdeu-se a vontade de ajudar com o conforto a quem mais precisa. Tornámo-nos seres desprovidos de sentimentos, frios, até mesmo insensíveis ao sofrimento alheio.
Também existe o medo do afecto. O medo das falsas interpretações e da calúnia suja e mórbida. A distância com que as pessoas se cumprimentam causa-me alguma impressão. Principalmente homens. O único lugar socialmente admissível em que dois homens podem extravasar os seus sentimentos é no estádio de futebol. Nesse lugar, tudo é correcto e nada é reprovável, o que inclui, evidentemente, os abraços calorosos e os beijos inesperados. Fora daí, é tudo uma mariquice, para não usar outro termo pejorativo mais ofensivo...
Esta visão profundamente estereotipada reprime as emoções e a espontaneidade social.
O mesmo não sucede com o género feminino. As senhoras beijam-se, abraçam-se, que ninguém o toma como um sinal de homossexualidade. Está correctíssimo. Podem e devem fazê-lo. Desde quando um beijo é um sinal claro de amor e paixão profunda? É, sim, um sinal de afecto e de estima.
Eu não beijo todas as pessoas com quem travo algum tipo de contacto, mas beijo, isso sim, as pessoas que me são queridas. Era só o que faltava! Reprimir os meus sentimentos e tornar-me num frustrado de primeiríssima qualidade. Bom, também é verdade que convivo num meio social mais aberto, jovem, alegre e mesmo elitista, sem esses tabus sociais que minam as relações interpessoais. Somos o que somos e não adianta fugirmos disso. Tudo o resto é pura ilusão.
Recordo-me de um amigo que conheci quando tinha 16 anos. Era um querido, super simpático. Um dia, quando nos estamos a despedir, em vez do tradicional aperto de mão, dei-lhe um beijo redondinho na cara para sua surpresa. Sabem que mais? Disse-me que também há muito que queria, mas estava com receio da minha reacção. É claro que podemos beijar outros rapazes. Não é feio, não é exibicionismo; é afecto.
Depois, claro, podemos discutir se é correcto um beijinho ou dois. Cada pessoa tem os seus critérios. Eu opto por um. Só um beijo leve na face. E não é necessário colocar o lábio todo na cara, que molha imenso e é deselegante! Só um leve toque na pele com os lábios, suave.
Acima de tudo, beijando ou não, o importante é sermos verdadeiros connosco e com a pessoa a quem cumprimentamos. É preferível um abraço sentido a um beijo do mais falso que há.
O toque, aquele pequeno toque, seja qual for, é que jamais poderá ser esquecido.

2 comentários:

  1. Acho um abraço muito mais afectuoso que um beijo. Há mais envolvimento. Um beijo dá-se ás senhoras para as cumprimentar.

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  2. Eu concordo plenamente contigo, um beijinho é sempre um beijinho! E um abraço bem sentido também é bom! ^^

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