8 de abril de 2010

Faz-me acreditar em ti...

Acordei ao som da tua sms. O relógio marcava as quatro da madrugada. Soube, instintivamente, que eras tu. Quem mais me acordaria a essa hora? Desta vez pediste para falar comigo nem que fosse pela última vez. A verdade é que perdi o sono com a tua impaciência. Prometi a mim mesmo que não deixaria que me afectasses novamente. Seria totalmente impenetrável às tuas solicitações e ao poder irresistível que exerces sobre quem queres. É uma das tuas facetas. Consegues levar o barco até ao teu porto. Comigo teria de ser diferente. Era a hora de terminar aquilo que há muito deveria ter acabado.
Quando recebi a tua segunda sms, fui ao teu encontro em pijama. Em Abril as noites ainda são frias. Não foi o frio que me gelou a alma, mas sim o reencontro. O brilho do teu olhar consegue superar os ventos gélidos dos pólos. Estavas assim, simplesmente tu, encostado ao carro que tanto aprecias e  em que tantas miúdas boas devem ter adorado passear. O fumo do cigarro que expiravas apressadamente tornava o ambiente solitário e misterioso. Estava preocupado, não fosse a mãe acordar e passar no meu quarto para ver se estava bem.
És tão simpático, quase que poderia acreditar de novo em ti. Tiraste o casaco e colocaste-o sobre as minhas costas. Sim, sou eu. Estou de madrugada na rua para ouvir-te mais uma vez. Sentes a minha fraqueza? Desfiaste as tuas palavras melodiosas e ardis como o gato que mia para ser engraçado. Não responderei à pergunta "Ainda me amas?", porque é demasiadamente ridícula para que tenha uma resposta. O vento suave trouxe consigo um cheiro vulgar. Naturalmente o perfume barato de algum engate mentirosamente verdadeiro. Era bonita, ao menos?
O carro estava meticulosamente limpo. Tiveste o bom senso de não colocar aquelas bandas estranhas a tocar. Ouvi o que tinhas para me dizer. Afastei a tua mão do meu braço as vezes suficientes para que percebesses de que não se trata de um jogo. Também é verdade que, por várias vezes, baixei o olhar de modo a não ceder à tentação dos teus olhos e à vontade estranhamente louca de te beijar. Não adianta chorares. Consigo ser frio, mais frio do que a noite cerrada que nos abraçava no seu engodo traidor.
Antes de sair, dei-te um beijo. Não por ti, por mim. Talvez o último, quem sabe. Foi parecido com o primeiro, mas com muito menos ilusões. Despi o teu casaco e saí do carro. Será que esperarias que entrasse ou partirias indiferentemente? Esperaste que entrasse. Porquê? Porque não partiste de uma vez? Afinal, gostas de mim um bocadinho... Quero acreditar que sim, seja verdade ou mais uma mentira.
Deitei-me com o teu sabor em mim, abraçado ao urso gigante a quem dei o teu nome. Pedi para sonhar que fosses tu. Abracei-o com todas as forças que o meu corpo poderia despender.
Só eu sei como quis acreditar em ti.

6 comentários:

  1. O facto de teres dado o nome dele ao urso tocou-me mais ainda...
    Abraço :)

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  2. Não sofra por algo inútil. Sorria por tudo pela dádiva que é a vida e por Deus ser seu companheiro. É tudo o que importa ;)

    Boa Continuação

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  3. Amei o teu texto é íncrivel como consegues depositar todos os teus sentimentos num texto e como consegues passar esses sentimentos aos leitores.

    Boa sorte com isso.

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  4. Lindo o texto, gostei muito. Beijo.
    http://compromissocomoacaso.blogspot.com/

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  5. Sem palavras - apenas uma: Magnifico!

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