Se fosse viva, a bivó Palmira completaria hoje 102 anos. Faleceu em 1997. Não sei bem porque motivo, lembrei-me de ir ao cemitério de forma a estar mais perto dela. Para além de duas vezes avó, era uma boa amiga. Pensei que talvez alguém da família quisesse vir comigo. Telefonei aos tios, disseram-me que não podiam; uma prima está grávida e não quis vir, outro primo foi passar a Páscoa à Serra da Estrela, o outro tinha um jogo particular de ténis com os amigos... Liguei para vinte números familiares e ninguém podia. Pensei em convidar a Ana (prima), mas não fazia muito sentido, pois ela é prima materna e a bivó é da parte do pai. Embora não tivessem qualquer laço de sangue, conheciam-se e a bivó gostava muito dela, mas decidi que era melhor não. Também não liguei para nenhum amigo porque não é propriamente um programa de tarde muito divertido. Duvido que alguém viesse. Quanto muito a Só, e e... Liguei ao pai. Mais uma vez o telefone estava em voice mail... Decidi ligar à mãe dele, à avó paterna, filha da bivó.
-"Estou sim, avó?, tentei durante toda a manhã ligar para o pai; a avó sabe onde ele está?" - perguntei eu, na expectativa.
-"O pai está no Porto. Foi passar lá a Páscoa com o tio Zé. E, para a semana, provavelmente vai à Alemanha. Passa-se alguma coisa que eu deva saber?" - respondeu, autoritariamente.
-"Não, deixe estar. Era algo sem importância. Um beijinho, boa Páscoa." - disse eu, desligando o telefone de imediato.
O pai, mais uma vez, não me telefonou a dizer que não estava cá. É capaz de ir à China sem que eu saiba.
Fui sozinho. A mãe guardou uma chave do jazigo de família do pai, mesmo depois do divórcio.
Na rua do cemitério existem imensas floristas. Comprei um bouquet de orquídeas, as flores preferidas da bivó. Entrei no cemitério. Estavam lá imensas pessoas, talvez por ser feriado e dia Santo. O jazigo fica numa zona mais sossegada, onde não estava ninguém. Abri a porta, mas não quis entrar. Depositei as flores dentro do jazigo e fechei a porta. Ainda é grande. Muitos dos familiares que lá estão nem os conheci. Dos que conheci, estão lá o tio Lourenço, o tio Heitor, o tio Antonino e a tia Milu, para além da bivó, claro. Meditei um pouquinho em sua memória e saí.
Foi uma mulher dedicada à família, sempre preocupada com o bem-estar de todos. É desta forma que retribuem todo o carinho que ela nutriu por eles em vida. Ingratos, todos eles.
Quando alguém morre, cai no esquecimento.
Esquecem-se, porém, que um dia também morrerão.
As pessoas esquecem-se com muita facilidade quem lhes faz o bem, mas se alguém lhes fizer mal, nunca mais se esquecem.
ResponderEliminarA Bivó onde está, continua a olhar por eles, mesmo sendo ingratos.