Shakespeare e as mil caras
Escolhi esta foto, que infelizmente tem as letrinhas a incomodar, não ao acaso; fi-lo porque deixa patente o móbil de Peter Yates, o realizador, com esta narrativa construída em torno das estrondosas interpretações destes dois grandes nomes da sétima arte: Albert Finney, falecido este ano, e este filme insere-se num ciclo evocativo da sua obra, e Tom Courtenay. Mais do que a decadência física e mental de um velho actor que se arrasta pelos palcos por vocação e uma mistura de sentido de obrigação e responsabilidade para com o seu público, sobressai, sobretudo, aquela relação entre vedeta e camareiro, de mútua dependência, com momentos de tensão, de esgotamento, de impaciência e de amor, não um amor homossexual, mas, e de forma unilateral, por Norman, um amor um tanto ou quanto homoerotizado, vendo em Sir a figura que, à sua forma, idolatrava.
Yates foi quase um artesão: esculpiu aquelas personagens, permitindo a Finney e a Courtenay que pudessem mostrar toda a sua arte e talento nas mil e uma faces que um actor pode ter, do choro, à ira, à ternura, em emoções teatralizadas que extravasam quase os limites da acção humana. Praticamente não nos damos conta das outras personagens, tal a demolidora presença do velho actor shakesperiano e do seu camareiro.
É um filme muito físico. Finney vocifera, estrebucha, arrasta-se pelos palcos e corredores. Vê-lo cansa-nos os olhos e perturba-nos os ouvidos. O actor berra, berra muito. O que se quis foi fazer daquela personagem, que cambaleia sempre entre a ficção e a realidade, um apanhado de todas as criações do dramaturgo inglês: Macbeth, Rei Lear, Othello e por aí.
Não admira que tenha havido alguma inépcia e até prostração de Yates perante um argumento tão arrebatador e exigente para aqueles dois actores. Tudo o mais soçobra ante aquelas interpretações, e os maneirismos de representação põem mais em evidência os actores do que as personagens. É um duelo a dois.
Finalmente, este filme é uma escola de boa representação. Daqueles manuais em imagem e som que qualquer aspirante a actor deve ver.
Yates foi quase um artesão: esculpiu aquelas personagens, permitindo a Finney e a Courtenay que pudessem mostrar toda a sua arte e talento nas mil e uma faces que um actor pode ter, do choro, à ira, à ternura, em emoções teatralizadas que extravasam quase os limites da acção humana. Praticamente não nos damos conta das outras personagens, tal a demolidora presença do velho actor shakesperiano e do seu camareiro.
É um filme muito físico. Finney vocifera, estrebucha, arrasta-se pelos palcos e corredores. Vê-lo cansa-nos os olhos e perturba-nos os ouvidos. O actor berra, berra muito. O que se quis foi fazer daquela personagem, que cambaleia sempre entre a ficção e a realidade, um apanhado de todas as criações do dramaturgo inglês: Macbeth, Rei Lear, Othello e por aí.
Não admira que tenha havido alguma inépcia e até prostração de Yates perante um argumento tão arrebatador e exigente para aqueles dois actores. Tudo o mais soçobra ante aquelas interpretações, e os maneirismos de representação põem mais em evidência os actores do que as personagens. É um duelo a dois.
Finalmente, este filme é uma escola de boa representação. Daqueles manuais em imagem e som que qualquer aspirante a actor deve ver.
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