8 de novembro de 2019

A Rainy Day in New York.


   As perguntas que se impõem são as seguintes: como é que um filme ambientado numa Nova Iorque chuvosa e romântica pode desapontar? Como é que uma suite luxuosa com vista sobre Central Park, uma bebida num piano-bar ou um passeio de charrete nos podem aborrecer? Woody Allen foi matreiro, pois jogou com os nossos sentimentos mais primários: a necessidade de amar e ser amados, e soube fazê-lo bem, com um argumento que eu diria, vá, leve, que deixa que os actores possam brilhar sem os esmagar com preocupações excessivas. É uma narrativa pensada para extrair os olhares, as poses, os sorrisos, os estados d'alma. Um filme que se detém nas personagens, em detrimento da densidade do argumento, e personagens todas elas muito jovens, acompanhando as idades dos actores. Entretanto, Allen explora os problemas de afirmação num mundo hermético e elitista como o é aquele da família de Gatsby, com um toque de paixão e erotismo na introdução de uma figura mundana (e profana…): a prostituta, que transpira sensualidade.





  A par da fotografia e dos pormenores da iluminação, que o tornam quase nostálgico e antigo, sofisticado, e complementam o tom romântico, quanto às interpretações tenho alguns reparos a fazer: Timothée Chalamet é um promissor actor da sua geração, mas eu, no seu lugar, tenderia a fugir dos papéis de menino de classe alta, meio dandy, uma vez que é um registo no qual ele vem reincidindo, e isso pode amolgar a sua versatilidade. Vemo-lo como Henrique V no novo filme da Netflix, The King, o que é bom. Elle Fanning sobrepôs "adequadamente" à sua beleza cândida e infantil aquela máscara de loira despistada e até espalhafatosa. Selena Gomez pareceu-me artificial e pouco à vontade.

   Acima de tudo, e sabendo que este filme não agradará a quem espera muito mais de Woody Allen, o realizador quis tão-somente ambientar outro dos seus filmes na amada Nova Iorque, escolhendo desta vez os amores inconsequentes e irreflectidos daquela idade em que já não se é adolescente e nem bem adulto. A cidade que nunca dorme e as comédias românticas não são uma novidade em si. Claro está que não é uma obra-prima, mas é um filme engraçado, que se vê bem sobretudo acompanhado e, se possível, com a cabeça recostada num ombro.

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