5 de outubro de 2015

Rescaldo Eleitoral.


    O dia de ontem foi decisivo para Portugal. Acompanhei, como milhões, o escrutínio, as projecções. Cumpri com o meu dever cívico depois do almoço. Desde logo fiquei surpreso com a afluência às urnas, a maior de sempre desde que voto, transmitindo essa percepção a quem me acompanhava. A noite revelaria, contudo, que a diminuição da abstenção não foi tão expressiva.
     As sondagens, nomeadamente a da Universidade Católica para a RTP, confirmaram as expectativas geradas: a coligação PàF obteve o maior número de votos; o PS foi o grande derrotado da noite. A extrema-esquerda, mormente o Bloco de Esquerda, aumentou a sua representatividade no Parlamento. A CDU foi ultrapassada pelo Bloco no número de mandatos, atingindo, ainda assim, um resultado digno. O PAN (Pessoas- Animais-Natureza) elegeu um deputado.

     Em democracia, ganha quem obtém o maior número de mandatos. Nesse sentido, a coligação PàF ganhou e nada mais resulta do escrutínio de ontem. Goste-se ou não, eu não gosto, é a realidade que há e é com esta que temos de contar. Uma vitória pouco expressiva, consubstanciando uma maioria relativa, e não absoluta, pela qual clamava, e o PS. Os mandatos que conseguiu são insuficientes para um governo estável. Não mais se bastarão. A anterior maioria, agora minoria de direita, precisará de consensos. Consensos com o PS, uma vez que o BE e a CDU (desmembrando-se em PCP e PEV) não aceitarão quaisquer acordos, e bem, fiéis ao seu eleitorado, com a coligação. Convém que nos elucidemos de momentos próximos que poderão comportar instabilidade política. O que se segue a este acto eleitoral é um processo notório: o Presidente da República ouvirá os partidos com assento parlamentar, respeitando os resultados eleitorais (187.º, número 1 da Constituição, doravante CRP), e dada a sua ideologia política é natural que convide a coligação a formar Governo. Ainda que goze de relativa discricionariedade e que nada o obrigue a nomear Primeiro-Ministro alguém que careça da sua confiança, acreditamos que o faça e que indigite, num primeiro momento, e depois nomeie (133.º, alínea f) da CRP) Pedro Passos Coelho. Há uma coligação que se propõe a formar Governo, portanto tudo o indica. António Costa referiu que respeitará a decisão do povo, que manifestamente aponta no sentido de um governo da PàF, excluindo-se qualquer coligação pós-eleitoral com alguma das forças mais à esquerda do PS, o que poderia, embora altamente improvável tratando-se de Cavaco Silva, originar um cenário nunca antes visto de governo coligado à esquerda.

      Após a nomeação do Primeiro-Ministro e restantes membros, o Governo entra em funções, todavia circunscritas à prática de actos necessários para assegurar a gestão do país (186.º, número 5 da CRP): estamos perante um Governo de gestão. A Constituição obriga à apresentação do programa de Governo na Assembleia da República no prazo máximo de dez dias, o que extraímos do artigo 192.º, número 1 da CRP. É neste momento que recaem todas as atenções, porque pode ocorrer algum destes cenários. Vejamos: pode ocorrer que um dos grupos parlamentares proponha a rejeição do programa do Governo, apresentando uma moção nesse sentido; assim acontecendo, se por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções for aprovada a rejeição do programa do Governo, o Governo fica automaticamente demitido (artigo 195.º, número 1, alínea d)), seguindo como Governo de gestão até ser substituído; se a moção de rejeição do programa do Governo não obtiver o número de votos suficientes para ser aprovada, o Governo entra em funções plenas. Numa segunda hipótese, pode o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança à Assembleia da República, podendo também ocorrer uma de duas situações: por maioria simples, o Parlamento pode aprovar a moção de confiança, entrando o Governo em funções irrestritas; o Parlamento rejeita a moção de confiança, o Governo fica demitido, uma vez mais (desta feita a alínea e) do artigo 195.º, número 1), permanecendo como Governo de gestão até à sua substituição. Pode ainda, numa terceira hipótese, não existir nenhuma proposta de uma moção de rejeição do programa, nem o Governo solicitar um voto de confiança; não havendo qualquer votação, o debate do programa do Governo prossegue e o silêncio do Parlamento vale como um voto de silêncio positivo tácito (expressão doutrinária minha), entendendo-se que a Assembleia permite que o Governo entre em plenitude de funções.

       Sem maioria absoluta e sem qualquer acordo à vista com o segundo partido mais votado, a vida de um governo minoritário é difícil. Escapar às moções de censura da Assembleia da República, de maioria contrária, já não é possível com a sua expressão eleitoral. Um governo com maior número de deputados facilmente contornaria este mecanismo de controlo político do Parlamento. Também a aprovação de uma moção de confiança pode ser inviável, implicando a demissão do Governo. Num momento posterior, a apreciação do Orçamento de Estado por um Parlamento cujas cores políticas superam a cor política do Governo também poderá acarretar consequências graves para a sobrevivência de um governo minoritário. A apreciação dos decretos-lei do Governo pela AR é uma forma de controlo político que ganha contornos distintos, e gravosos, estando perante um governo de minoria parlamentar. E fazer submeter decretos-lei sob propostas de lei, no Parlamento, não garante a sua aprovação, que careceria de maioria absoluta (que assim escaparia ao veto absoluto dos decretos-lei pelo Presidente da República, absolutíssimo tratando-se de matéria reservada à competência legislativa do Governo).

         O PS, não tendo ganho estas eleições legislativas, e verificando-se o cenário que tracei de constituição de governo PàF, minoritário, desempenhará uma função essencial, quer na aprovação (abstenção ou desaprovação) do programa do Governo, quer mais tarde, quando o Orçamento de Estado for apresentado na Assembleia da República. A coligação de direita não se basta, precisando de entendimentos com outras forças emanadas da eleição de ontem. A coligação PàF, por seu lado, terá de perceber o ligeiro cartão amarelo do povo, que se expressou na inexistência de uma maioria que lhe permita governar tranquilamente. O que infiro desta composição do Parlamento é o seguinte: o povo quer que a coligação continue a governar, acreditando num crescimento económico e no aumento do emprego expectáveis depois de tantas medidas de contenção e de austeridade, mas quer que o PS contrabalance, dê o seu aval em medidas sensíveis e cruciais. O BE e a CDU são a expressão desse descontentamento e da derrota do PS em assumir-se como alternativa credível e confiável. Não entrarei na análise à continuidade de António Costa no PS, decisão que compete aos militantes do partido. Gostei do seu discurso ao final da noite, ponderado, tão distinto dos discursos da coligação PàF, agressivos, pedantes, o que me leva a duvidar que tenham apreendido com clareza a vontade dos cidadãos.

          A tarefa do Presidente da República reveste-se de especial relevo e cuidado. Também a Assembleia da República, quer a coligação, quer os demais partidos nela representados, deverá atender às necessidades do país. A instabilidade política, que de certo modo antevejo, traria um agravamento dos nossos problemas estruturais.

           Conjunturas que se confirmarão, ou não, nas próximas semanas. Algo é certo: constituindo Governo, a coligação passará por momentos penosos no panorama parlamentar português desde a primeira reunião da Assembleia da República.

25 comentários:

  1. Sempre a mesma história. De alguma forma vcs estão mais à frente que nós por aqui. Possuem o Voto por Direito e não por Obrigação Legal, possuem um regime Parlamentarista, e por aí vai. Direita, Centro, Esquerda não importa muito. Tudo igual em qualquer parte do mundo. O que precisamos é de posicionamento mais claro da sociedade, cobranças e de políticos com o mínimo de compromisso com a nação e com os seus. Por aqui, lutei com unhas e dentes pela ascensão do PT ao poder. Ledo engano. Mostrou-se igual o pior que todos os outros. Sonhos desfeitos, luto hoje, com todas as forças, para alijá-los do poder. O Brasil clama por reformas estruturais, políticas e éticas como nunca antes.

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    1. Olá, Paulo. Em primeiro lugar, obrigado por se ter ao dado ao "trabalho" de ler algo tão distante da sua realidade (só agora percebi como ficou incrivelmente extenso!). :)

      Não se engane: o nosso regime não é parlamentarista; é semipresidencialista, como tive a oportunidade de dizer há dias. Por cá, o Presidente tem funções muito específicas. Agora mesmo, tem ampla discricionariedade na escolha do futuro Primeiro-Ministro. Num regime puramente parlamentar, seria uma mera "figura decorativa".

      Estou mais ou menos a par da situação brasileira e conheço outros queridos amigos brasileiros que estão descontentes com o PT e com o rumo que a economia brasileira vem levando. É realmente decepcionante, tratando-se o Brasil de um país com tamanho potencial. :(

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  2. Não vou comentar em pormenor que este assunto deixa-me fora de mim. Já me bastou ontem nos outros blogues e a troca de palavras no Facebook. Tenho que cuidar do meu coração lol Mas ainda assim, uma análise lúcida, fria e objectiva, bem escrita e que retrata de uma forma geral o dia de ontem. Parabéns pelo artigo.

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    1. Sabes, cansei-me de tanta opinião televisiva. As opiniões são como os chapéus: há muitas; Constituição, todavia, há uma, a nossa, e é dela que se extrai o que fazer e como. Já que gosto (bastante até) de direito constitucional, nada como esclarecer uns pontinhos...

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  3. Eu li que ganhou o atual governo, algo assim. Eu pensava que depois de tudo o que aconteceu aí que esse governo era impopular. Bom saber esses detalhes. O povo decide, não é mesmo? Por aqui como você falou já está ganhando a insatisfação. E olha que eu nem votei na Dilminha.

    Abraços!

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    1. Sim, a coligação 'Portugal à Frente' (PàF), composta pelo PSD e pelo CDS, obteve o maior número de votos na eleição legislativa de ontem. Parecia impopular, mas os eleitores recearam, no meu entender, dar um voto de confiança ao PS, temendo que o sacrifício dos últimos anos fosse em vão. O tempo dirá se agiram acertadamente.

      abraço.

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  4. Não gostei dos resultados no global mas fiquei feliz por saber que o meu voto fez diferença.

    Uma coisa é certa, ninguém sabe bem ao certo o que estará para vir. E tem piada, escrevi "certo" e "certa" na mesma frase e a culpa não foi da vontade, foi destas eleições que mais uma vez mostraram que o povo português gosta é mesmo de ouvir sempre a mesma cantilena...

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    1. O meu voto talvez tenha feito a diferença ao "roubar" a maioria absoluta ao PSD e ao CDS.

      É... Um resultado que há um mero ano era impensável. Mais por demérito do PS do que por sucesso da coligação.

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  5. acho uma benção já não ter facebook. livra-me de ler certas coisas.
    síndrome de estocolmo, aliado a uma divisão dos partidos da esquerda. perderam mais tempo em discutir entre si do que a criar uma alternativa à onomatopeia.
    resta-nos tempos difíceis, o parlamento irá estar ao rubro, mas o povo escolheu, o voto é soberano.
    mas fico aliviada por não existir maioria de direita. já foram demasiados sacrifícios. antes, tinham a faca e o queijo na mão. agora, terão de negociar muito bem.
    se existir uma moção de censura e o governo for demitido, há a hipótese de voltar a ganhar, desta vez com maioria. o PS quer correr esse risco? se teve este resultado agora, o que teria nessa altura? a moção virá do BE ou da CDU e o PS abstém-se e fica tudo na mesma, por enquanto, até o PS arrumar a casa até ao congresso.
    bjs.

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    1. Eu utilizo o fb, nestes casos, para apontamentos objectivos e minimalistas. Análises como esta são incompatíveis na lógica de um mural de fb.

      A esquerda, em Portugal, sofre de um trauma qualquer. Está profundamente dividida. Não se entendem. Mais facilmente o PS se coligaria com o PSD (como, de resto, já fez: o Bloco Central) do que com o PCP ou o BE.

      O que se passa, Margarida, é que não há Governo sem a aprovação do seu programa de governo. O programa terá de ser aprovado poucos dias após a nomeação do Primeiro-Ministro e dos demais membros. Se o grupo parlamentar do PCP, suponhamos, propor a rejeição do programa e o BE votar a favor, o PS terá de abster para que o Governo não seja demitido. Mas, claro, o BE obteve um resultado excelente e o PS não arriscaria tanto. Nem a CDU. Deixá-los-ão governar, até que se "enterrem até ao pescoço", passo a expressão.
      Alguma cabeça irá rolar. Li, há umas horas, um nome que já se propõe a secretário-geral do PS...

      um beijinho.

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    2. Margarida (creio que irás ler isto), ficou um equívoco por solucionar, que uma visão rápida do teu comentário não permitiu detectar: o facto de o programa do Governo ser rejeitado não implica novas eleições. Penso que referiste isto. O Presidente, ao demitir o Governo, pode procurar um outro executivo da composição da Assembleia da República. Demissão do Governo e dissolução da AR são mecanismos constitucionais distintos. E tivemos um acto eleitoral há dias. A AR reunirá por direito próprio muito em breve, e nos seis meses posteriores à sua eleição não pode ser dissolvida (172.º, número 1, 1.ª parte). Além disso, o artigo 172.º, número 1, 2.ª parte da Constituição não permite a dissolução da AR no último semestre do mandato do Presidente da República, ou seja, Cavaco Silva, à partida, já não tem poderes de dissolução da Assembleia da República. O seu mandato terminará algures em finais de Fevereiro, se as contas não me falham.

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    3. obrigada, Mark. tomei nota, ontem, quando fiz zapping e parei, julgo, na nova rtp3, exactamente quando estava em rodapé esse facto: que a assembleia não pode ser dissolvida no último semestre do mandato do PR.
      mas fica o teu sempre oportuno esclarecimento. não irá haver novas eleições, não agora.
      as eleições para PR não são em março?

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    4. Eu nem me recordava do término do mandato. Hoje, ao reler a nossa breve conversa, dei-me conta do equívoco. Mesmo que o mandato não estivesse a terminar, a AR iniciará funções em breve e Cavaco Silva teria de encontrar outro executivo da composição da Assembleia.

      Não. Creio que as eleições são em Janeiro e novo Presidente tomará posse em Março.

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  6. Adorei este teu texto, como todos os outros.

    Vamos aguardar e ver o que acontece. Sou hoje que alguém do PS quer que o Costa se demita. Vamos ver o que acontece...

    No meio disto tudo, o Seguro deve estar a rir à grande e à francesa ahahahahahahahahhahahahahha assim como eu

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    1. É provável, como disse ontem, que António José Seguro sinta que foi feita alguma justiça. Se for patriota, lamentará, claro está. O PS, que acredito que apoie, perdeu.

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  7. Mark, vou dar-te os parabéns, porque és a primeira pessoa que conheço que quando se refere à CDU não diz que sofreu uma pesada derrota.

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    1. Não tens de me dar os parabéns. Fiz apenas uma análise imparcial.

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  8. Aparentemente o povo tomou a decisão mais lógica de todas: tínhamos um grande problema, a bem e a mal o governo resolveu-o ou evitou-o, mas a custo de grandes prejuízos e retrocesso nos direitos sociais e desenvolvimento do capital humano. Por isso o povo pede que continue, por entender que em economia é mais capaz que um PS cujo desnorte anterior não abona a seu favor, mas com sensibilidade de esquerda - olhando o direito social. A grande surpresa é já termos um deputado pelos animais! E um terço de mulheres deputadas! Os países nórdicos alcançaram o seu nível de vida sem política de maiorias, habituados desde infância ao trabalho de entendimento em grupo por um bem comum. Que não se desperdice esta oportunidade com a portugalidade alcoviteira e peixarada de 'o meu bairro é melhor que o teu'.

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    1. Alex, este governo aumentou exponencialmente o desemprego, incumpriu as suas metas eleitorais, foi além do programa de resgate para pôr em prática um plano puramente ideológico. E eu duvido que o problema tenha sido resolvido. Não vejo crescimento económico algum. Quem sabe tímidos passos em frente, impulsionados pela propaganda governamental.

      O povo não confia no PS. Torna-se evidente. Desconfia da sua capacidade em, pelo menos, manter o país não pior do que está. Há aquela ideia de que a direita é mais rigorosa quando está em causa o controlo das contas públicas.

      O PAN. Uma boa surpresa. Desde 1999 que a AR não conhecia uma força política nova.
      Creio que quanto à paridade ainda ficamos aquém do esperado. Temos uma AR vincadamente masculina.

      Numa democracia ideal, sim, as cores parlamentares chegam a consensos, mas a verdade é que residem várias ideologias incompatíveis no Parlamento. O que seria um pacto de vontades entre o CDS e o PCP!

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  9. Por mais que me custe, concordo que quem ganhou foi o PAF. Por mais voltas que dêem, a esquerda perdeu, apesar de somar, no total, mais votos. Se houvesse acordo pré eleitoral, seria diferente mas agora é tarde.
    Dentro de 1 ou 2 anos haverá novas eleições... digo eu.

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    1. Olha, li, ontem, que o PCP quer coligar-se com o PS, o que seria inédito e assombroso, dado que são partidos com posições totalmente opostas na maioria das pastas (quando discutissem o Euro, a UE, não haveria de faltar...).
      Teoricamente, pode haver acordos pós-eleitorais, e até já houve (salvo erro em 2002, entre o PSD de Barroso e o CDS de Portas).

      Também acredito nisso. A coligação formará um governo que terá vida curta.

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  10. Eu creio que estamos perante um governo que tem os dias contados. Uma nova crise política avizinha-se. O cenário é aterrador. Bem vistas as coisas, não há soluções à vista. Se formos a eleições novamente, duvido muito que o PS ganhe com maioria absoluta. Primeiro, porque as pessoas estão descontentes com tudo o que se anda a passar. Creio que na incerteza em que vivemos, o povo preferiu votar na coligação, porque esses, pelo menos, já sabem em que real estado andam as coisas. Não gosto da ideia, mas infelizmente creio que face a toda a situação que vivemos, é o cenário mais "seguro", pelo menos do ponto de vista da imagem que passamos para o estrangeiro, que é como quem diz, para a Merkel e para os Mercados Internacionais.

    Ao PS faltam muitas coisas. Em primeiro lugar, há que tornar-se um verdadeiro partido de Esquerda, porque verdade seja dita, não existem muitas diferenças entre ele e o PSD, por exemplo. Creio que até se poder dizer - e espero não estar a dizer uma barbaridade - mas o PS é mais Centrista do que de Esquerda.

    Outro ponto que eles têm de mudar é na forma de fazer política. Perderam estas eleições porque, daquilo que eu assisti dos debates, só trocavam acusações, sobre o que havia sido feito nos últimos 4 anos pela coligação. Deviam ter falado sobre as propostas que tinham para governar, clarificar bem, junto do povo essas propostas, ao invés de fazerem um jogo de ziguezaguear perante os confrontos. Não me recordo do António Costa ter sido claro em muitos dos assuntos sobre o que faria se fosse governo. Já sei que a resposta a isso é clara - sem saber ao certo o estado em que se encontram as coisas e tendo em conta os compromissos que Portugal tem com as instituições estrangeiras, ele não se pôde alongar nos discursos. Mas devia, mesmo assim, falar mais do que pretendia fazer do que acusar a coligação disto ou daquilo.

    Posto isto, temos também as guerras internas dentro do PS. Ele é o líder, mas ainda existem muitos "Seguristas" entre outros "-istas" que estarão, certamente, mortinhos por lhe "fazer a folha". O facto de Sócrates ter sido preso durante este último ano, sendo solto a pouco tempo das eleições, também terá tido a sua consequência na ideia das pessoas, creio eu.

    Depois temos os partidos mais à Esquerda do PS. O PCP, cuja mensagem quase nunca varia, sendo mais um "vira e toca o mesmo". Quanto ao Bloco de Esquerda, creio que saiu fortalecido com a liderança da Catarina, comparando com os tempos do Louçã, mas ainda assim, precisam de amadurecer um pouco mais. é tudo muito bonito, mas... a verdade é que precisamos de um governo que se preocupe com os portugueses, mas que também cuide da nossa imagem perante os mercados internacionais, porque quer queiramos, quer não, nós precisamos mais deles do que eles de nós.

    Quanto ao Presidente, Cavaco nada fará. Está em final de mandato e deixará a batata quente para o novo Presidente, que será Marcelo Rebelo de Sousa. Resta saber como lidará Marcelo com este "presente envenenado".

    Excelente post, Mark! Parabéns! ^^

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    1. Olá, Mikel. Obrigado pelo teu comentário.

      Eleições não teremos, não proximamente (refiro-me às legislativas). O Presidente está constitucionalmente impedido de dissolver a Assembleia da República, e nem faria sentido dissolvê-la, uma vez que acabou de ser eleita. Depois de ouvidos os partidos com assento parlamentar, Cavaco Silva nomeará um Governo. Se "cair" na aprovação do seu programa, pois bem, outra solução terá de sair deste quadro parlamentar. Pelo que ouço e leio, há agitações no PS e nos partidos à sua esquerda com o propósito de formar um governo de esquerda, em maioria no Parlamento. Duvido que Cavaco Silva compactue, até porque o que o PR quer, de facto, é um entendimento entre PSD e PS, ao estilo de um "Bloco Central" século XXI. Evidentemente, o PS não quer qualquer entendimento. Tem aspirações governativas por si só. E apoiar a prossecução destas políticas, que tanto vem combatendo, ainda o descredibilizaria mais.

      O PS tem longa história (mesmo surgido oficialmente em 1973). Já «arrumou o socialismo na gaveta», nos tempos de Mário Soares (palavras do mesmo), já pendeu mais para a direita, para a esquerda. Depende. Quando o rumo da política do país está mais à direita, o PS posiciona-se mais à esquerda. Oscila. É um partido de centro-esquerda. Não escondo, nem pretendo, a minha identificação com o partido.

      Os debates foram pouco esclarecedores. Não respondiam às perguntas, contornavam o que se pretendia. Houve ataques, acusações. Mesmo assim, achei esta campanha eleitoral mais "limpa" do que as anteriores. Recordo-me de uma em que Santana Lopes aludiu, vergonhosamente, à orientação sexual de José Sócrates.

      A vida de Costa não será fácil num PS que quer governar. Já há quem o queira substituir. Alguns nomes vão surgindo, timidamente.
      O BE ganhou, sem dúvida, com a saída de Louçã. É um partido de oposição. Muitas das suas propostas não são exequíveis, mas é importante haver um contrabalanço na AR. Também por isso duvido que o PS, o PCP, o PEV e o BE cheguem a qualquer consenso. Têm pontos de vista opostos em variadíssimas matérias, começando no Euro e na UE. O PS é tradicionalmente europeísta; o PCP é eurocéptico. Acompanho o PCP nesta matéria. Sou favorável à UE, todavia rejeito qualquer avanço para uma união política, e é claro que não posso concordar com este modelo em que a solidariedade entre os Estados-membros não sai da letra dos tratados.

      Bem, vamos ser cautelosos. Ainda tenho esperança que ganhe outro candidato que não o Professor, que respeito, mas com o qual não partilho nada (ou quase nada) no que diz respeito a orientações políticas.

      Obrigado, Mikel. :)

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    2. Eu concordo contigo - sendo eu de esquerda também, não me agrada que ganhe o Professo Marcelo. Gosto de o ouvir falar aos domingos e creio que a popularidade dele advém disso mesmo - daí estar na frente da corrida por uma larga vantagem. quanto a outros candidatos, seria preciso que a Esquerda sacasse de um bom "trunfo" para causar algum impacto. A Dra Maria de Belém seria uma boa candidata,como mulher para Presidente, mas certamente que os erros que causou ou melhor dizendo, a fraca actuação enquanto Ministra da Saúde nos tempos de Guterres serão argumentos que os seus opositores lhe atirarão à cara quando começarem os debates, questionando o seu talento para governar. Fora ela, que outros candidatos bons teremos à Esquerda? Seria preciso um candidato que já estivesse com uma larga experiência política, que reunisse consenso e que fosse alguém que o público gostasse. Porque aqui em Portugal, muitas vezes as pessoas votam na pessoa em si e não nos partidos que elas representam.

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    3. Às eleições presidenciais subjaz uma lógica distinta: o/a Presidente não governa, preside. Os governos de Cavaco Silva e de Mário Soares não estão imunes a críticas, e tal facto não obstou a que viessem a conquistar o eleitorado quando se propuseram às presidenciais. Cavaco, aliás, perdeu umas presidenciais, salvo erro quando defrontou Jorge Sampaio.

      E nas presidenciais vota-se efectivamente na pessoa, nem tanto no partido. Já nas legislativas, pelo contrário, votam na pessoa quando seria suposto votarem no partido, no programa que esse partido apresenta.

      Não vejo nenhum candidato à esquerda, disponível e credível, daí ter apontado Maria de Belém, p. ex., noutra rede social. Fala-se dela. E seria uma senhora, o que traria outra sensibilidade à política, acredito.

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