Mil seiscentos e quarenta. Um ano simbólico em Portugal, representando a tomada de soberania por parte de uma casa real nacional, depois de sessenta anos incorporado na Monarquia Hispânica. Lá fora, concretamente em Inglaterra, iniciava-se a longa luta entre o Parlamento, desejando afirmar-se, e o poder régio. No nosso país, a Revolução que pôs cobro ao domínio dos Habsburgos haveria de conduzir, lentamente, à afirmação e consolidação do poder do monarca. Desengane-se quem encara este golpe revolucionário como o garante da nossa independência, porquanto esperava-nos vinte e oito anos de duras batalhas (sendo as mais importantes a Batalha do Montijo, em 1644; a Batalha das Linhas de Elvas, em 1659; a Batalha do Ameixial, em 1663; a Batalha de Castelo Rodrigo, em 1664 e, por último, a Batalha de Vila Viçosa, em 1665), que em todas nos singrámos vencedores, até que Carlos II de Espanha reconheceu, por fim, a nossa independência. Enquanto decorriam os conflitos armados, reorganizou-se o governo, sendo coroado Rei D. João IV, nas Cortes de Lisboa de 1641, adoptando uma forma de governo absolutista, que o tornava no árbitro final das decisões do Estado, ainda que ouvisse o Conselho de Estado ou as Cortes (que seriam convocadas cada vez menos a partir, sobretudo, do reinado do seu filho, D. Pedro II).
As guerras contra a Monarquia Hispânica, ou Espanha, consumiram dinheiro e energias durante mais de um quarto de século. No final do século XVII, a situação económica era precária, os cofres do tesouro estavam quase vazios, mas, apesar de todas as dificuldades, Portugal conseguiu desenvolver e incrementar a cultura da vinha e preparar algum fomento industrial com o Conde da Ericeira. Entretanto, certa ocorrência mudaria por completo a situação do país no comércio internacional; em 1697, foram encontradas minas de ouro no Brasil, na região que ficaria conhecida por Minas Gerais. Depois de um ano de buscas realizadas pelos bandeirantes, o minério seria, por fim, achado. Esta descoberta, por assim dizer, trouxe para a metrópole o mais importante meio de pagamento de então: o ouro, propiciando uma vida sumptuosa que a riqueza agrícola e industrial do país não poderia suportar. A vida e o esplendor da Corte vinham dessa riqueza encontrada no Brasil, que o comércio do vinho, do sal, da fruta, do tabaco e da madeira apenas permitia sustentar o nosso povo operoso. O absolutismo paternalista e opulento de D. João V, que em tudo procurou imitar a corte parisiense, só teve lugar pelo volume colossal de remessas de ouro brasileiro, construindo-se, assim, palácios, igrejas (tão ao gosto do devoto monarca), comprando-se obras de arte dos mais variados escultores e pintores. Todavia, o ouro diminuiria...
Em 1750, com a ascensão ao trono de D. José, o país teria de conhecer políticas diferentes. Os últimos anos do governo de seu pai já haviam sido difíceis. Sebastião José, o futuro Marquês de Pombal, empreenderia uma evolução do absolutismo régio: o despotismo esclarecido, consolidando o poder régio, ao responsabilizar e expulsar os Jesuítas, também ao amedrontar a velha nobreza, não obstante realizando reformas importantes, administrativas, militares, económicas e sociais, imbuído no espírito das Luzes. Contrabalançando o decréscimo no comércio do ouro, fomentou a indústria do ferro, em Angola, e a indústria do algodão e do cacau, no Brasil.
Não mais o Reino conheceria tanta magnificência e fausto como até então.
Já tinha saudades :3 Obrigado por tratar o Brasil em seu artigo.
ResponderEliminarAbraços!
É impossível falar da história de Portugal nos séculos XVI, XVII e XVIII sem referir o Brasil. :)
Eliminarum abraço.
Não mais, mesmo. Até porque nunca tivemos governantes originais que fossem buscar a "riqueza" noutros pontos e através de outras fontes, como por exemplo, no século XXI na componente tecnológica. Não. Vivemos governados pela mediocridade, pela cunha'zita do pai e do amigo, e da política de baixos salários e baixas qualificações com a desculpa que o país não "pode". O país não pode, por exemplo, sustentar um Eduardo Catroga ou um Dia Loureiro, sendo que se o primeiro diz que trabalha numa empresa privada e como tal essa mesma empresa lhe pode pagar o salário que quiser, não podemos esquecer que esse senhor ajudou na privatização dessa mesma empresa.
ResponderEliminarSobre o período que descreveste, o testemunho deixado (como por exemplo Mafra) são evidentes dessa época e teríamos muito mais para mostrar e admirar que o terramoto que assolou Lisboa não tivesse destruído a cidade (e tudo que nela estava guardado).
Bom, naquele tempo era natural extrair as riquezas dos territórios descobertos e ocupados. Nós assim o fizemos, a Espanha fê-lo, o Reino Unido, os Países Baixos e a França também. Todos o fizeram.
EliminarA realidade da "cunha" é antiga. Aliás, há documentos onde ela surge, pedindo-se cargos, benesses várias aos monarcas. Existe com maior frequência nos países do sul da Europa, é verdade, mas a natureza humana não conhece fronteiras políticas. Acredito que haja em maior ou menor extensão em todo o lado. Talvez as repercussões sejam diferentes. Ainda assim, o tráfico de influência e a corrupção, activa e passiva, são ilícitos típicos no nosso ordenamento.
É verdade. O terramoto privou-nos de importantes construções da época, como a Casa da Ópera, inaugurada escassos meses antes.
Entra Ouro em Portugal, e o Tuga deixa de trabalhar e é gastar até mais não. Anos depois entram os dinheiros da CEE. Não se investe em Igrejas ou Palácios, mas sim em condomínios, montes e afins lolololololololol
ResponderEliminarAgora são os diamantes da isabelita e mais uns acordos feitos no Dubai. Daqui a uns anitos ficamos a saber de tudo
Não sei como consegues extrair essas brilhantes conclusões de um texto que nada tem que ver com essa realidade que descreveste, mas tiro-te o chapéu por isso, passo a expressão. Lol :)
EliminarAdoro esta parte da história, em que nada se produziu neste país, com a descoberta do ouro no Brasil
EliminarQuerido amigo, perdoar-me-ás a correcção, mas produzíamos, sim. Estávamos, por assim dizer, "reféns" do Tratado de Methuen assinado com a Inglaterra, e que muito prejudicou a nossa débil economia, mas além do vinho, como referi, produzíamos outros produtos que, claro está, não eram suficientes para cobrir o luxo da corte joanina. Tens razão, contudo, ao analisar a economia portuguesa dos séculos XVII e XVIII e inferi-la como estagnada e dependente (o que retiro das tuas palavras).
EliminarMuito bem contextualizado. Registro aqui q sou das Minas Gerais ...
ResponderEliminarObrigado, Paulo. Belíssima terra. :)
EliminarMark "datas" é contigo e sei o quanto a história te fascina. Não sei como consegues gerir toda essa informação, pois quando estudava essa disciplina, apesar de gostar, tinha um grave problema, as datas :-S.
ResponderEliminarE a nossa história é rica nelas, eu sou pobre em as fixar.
Não te sei explicar, No Limite. Provavelmente porque gosto dos factos; a partir daí, tenho de memorizar as datas, fazendo-o de modo inconsciente. Por exemplo, quanto às Cortes de Lisboa que aclamaram D. João IV, é fácil: foram no ano que se seguiu à Restauração, em 1640. Logo, é só juntar mais um. Há estes pequenos truques. :)
EliminarEm verdade te digo, as "datas" não importam assim tanto. Convém sabê-las, claro, até por uma questão de enquadramento, mas algumas há que, enfim, são suplantadas pelos factos.
Desta história conhecemos bastante pelas aulas do colégio e cursinho para passar no vestibular. Gostava bastante de história, se não fizesse Medicina bem provável que iria para algum ramo de humanas. Rs
ResponderEliminarAbraço!
Por cá também, sendo matérias aprofundadas a nível do ensino superior. Aliás, no ensino médio / básico não dão a conhecer os detalhes que tive a preocupação em mencionar.
EliminarEu quero muito vir a poder especializar-me em História algum dia.
abraço!
mais uma excelente abordagem da nossa História. não me recordava, já, destes aspectos. tive esta disciplina do 10.º ao 12.º. anos, fiz a específica, e foi uma das minhas disciplinas preferidas. gostava de ter tido um professor como tu (se bem que o meu era bom e foi o mesmo durante os 3 anos).
ResponderEliminarsim, ouro e fausto (não o que vendeu a alma); quando o houve, ostentação. está-nos no sangue (o Francisco tem uma certa razão :p )
bjs.
Eu tive História do 5.º ao 12.º. Já no 1.º ciclo, ou seja, na antiga "primária", tive uma introdução, sobretudo na disciplina 'Estudo do Meio'. Tive uma professora no 10.º ano e a mesma no 11.º e 12.º anos. Esta última, aliás, com mestrado na área e com alguns prémios académicos. Era excelente!
EliminarSim, tem certa razão, claro. Aliás, como se costuma dizer em relação ao reinado de D. João V: "Se o Rei pecou, pecou com o povo.", que queria festas, feriados, e teve-os sobremaneira.
um beijinho. :)