26 de outubro de 2012

O mundo numa sala.


   A minha turma deste ano é substancialmente diferente de qualquer uma que integrei. Para além de mais calma, tem uma componente multicultural que me agradou. Devido ao facto de ser reduzida no número de alunos, decidiram colocar os estudantes estrangeiros, do programa Erasmus, na frequência das aulas connosco.

   Há estudantes de várias partes da Europa: Holanda, Eslovénia, Grécia, Espanha, Polónia e Itália. A par destes, há um significativo número de estudantes brasileiros, o que se explica pela afinidade entre os dois países.
   A dinâmica das aulas também varia consideravelmente em relação aos anos anteriores. Alguns professores dividem-se em três línguas, nomeadamente o castelhano, o inglês e, claro está, o português. A uma disciplina preteriu-se mesmo a língua portuguesa ao inglês, uma vez que o núcleo da cadeira é essencialmente internacional, incluindo manuais a consultar e demais elementos.

   A cultura de cada um desses alunos evidencia as suas origens. Os dois rapazes espanhóis são extrovertidos, assim como o rapaz italiano, fazendo jus à sua herança genética latina. O aluno holandês e a aluna polaca são calmos e de parcas palavras. Todavia, ninguém bate o contingente brasileiro no que à alegria diz respeito. Cada elemento da turma, em si, abraçou este ou aquele estudante estrangeiro, o que reflecte a personalidade de cada um que se coaduna com a do outro. Eu costumo ficar ao lado do rapaz italiano.

   Está em Portugal há um ano e domina muito mal a língua portuguesa. Falamos em inglês, o que até é um auxílio para que desenferruje os alicerces. Não há nada como a nossa língua materna que, unanimemente comprovado, é aquela em que melhor exprimimos as nossas emoções. É como se perdesse um pouco do meu eu quando falo com ele. Falta uma peça na minha engrenagem e acabo sempre por me sentir um autómato. As línguas francas e secundárias só dão bom resultado no plano estritamente profissional / estudantil.
   O italiano é uma língua com pouca expressão, seja na Europa, seja no resto do globo. E ninguém fala italiano naquela sala. Disse-me que traduz os textos do português para o italiano, mas que a tarefa se torna demasiado difícil quando se apercebe de que, literalmente, não consegue encontrar uma lógica nas frases traduzidas. Resta-lhe deduzir o essencial.

   Sentamo-nos um ao lado do outro para que possa ler pelos meus códigos. Hoje, uma rapariga que jamais vira por lá sentou-se à sua esquerda e facultou-lhe as suas folhas para que ele tirasse pequenas notas. Ele deu-lhe alguma atenção e eu senti uma ponta qualquer de ciúme que não pude entender. A sua forma de se relacionar comigo, rindo-se e cumprimentando-me sempre, inclusive dirigindo-se em concreto a mim, fez-me criar um laço de afecto. Não sou o que se poderá designar como uma pessoa de fácil trato; não sou dado; não sou de falar a tudo e a todos, tampouco de me dar a conhecer. Ele cativou-me pela sua espontaneidade e simpatia, ao ponto de às vezes não me imaginar naquela sala sem a sua companhia. Será uma inevitabilidade.

  Talvez veja mais do que afinal existe. 
  Talvez dê importância ao que não deveria. 
  Talvez desconheça o meu lugar, resquícios de não estar habituado aos revés do querer.
   

14 comentários:

  1. Sempre bom, conhecer outras línguas, lololololol

    Tudo no Bom sentido é claro :)

    Abraço

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  2. Vai praticando também um pouco de italiano, que te pode fazer jeito...E não te esqueças de que "Che pecatto" é "Que pena" e não pecado...

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  3. "Talvez veja mais do que afinal existe.
    Talvez dê importância ao que não deveria.
    Talvez desconheça o meu lugar, resquícios de não estar habituado aos revés do querer."

    tão eu.

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  4. quase 'a residência espanhola' numa aula de direito :)
    quero saber mais sobre estes estudantes de erasmus ;)
    bjs.

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  5. Boas Mark! :)

    Já faz algum tempo que por cá não passava.

    Mas eu posso dizer-te, por experiência própria, que tenho o maior prazer por trabalhar todos os dias com pessoas de outras nacionalidades. A multiculturalidade faz-me sentir uma pessoa com sorte. Não só por conhecer o mundo (de certa forma). Mas para entender que as diferenças são fascinantes.
    No meu dia-a-dia, tenho contacto e mais afinidade com Portugueses, Espanhóis e Italianos (Pois são aqueles que mais nos assemelham no modo de vida) mas depois fico fascinado quando estou em contacto com Suecos, Finlandeses, Ingleses, Holandeses etc.

    É fantástico o que aprendes com eles (Já para não falar que é fantástico quando partilham connosco a sua gastronomia. Uma vez provei uma sopa Polaca, que tinha aspecto de vinho tinto, mas tinha um sabor muito esquisito, no final de contas, era boa, mas eu não estava seguro se realmente o era!)

    Um grande abraço,
    K.

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  6. Francisco: :)


    João: O italiano é uma das línguas mais românticas que conheço. :)


    Rapaz das marés: :)


    Margarida: É uma experiência enriquecedora. :)


    K.: Olá K. :)

    É realmente extraordinário poder lidar com outras culturas; aprende-se imenso. E, depois, a vontade e o esforço em se integrarem é de salutar. Eu estou especialmente próximo do rapaz italiano e devo dizer que ele é ternurento. :')



    abraços a todos e beijinho :3

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  7. Eis que recordei os meus 1º e 2º anos de curso. Partilho a mesma personalidade e na altura, a atenção por parte dos amigos.
    É normal. Não te preocupes. Constrói laços e fortalece-os. Não fujas, como tanta vez fiz... O tempo passa!

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  8. Paulo: Já tenho essa percepção da inevitabilidade da passagem do tempo. Não fugirei; manter-me-ei apenas cauteloso. :)

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  9. buon giorno, Mark.
    Prendiamo un cappuccino?

    Abraço com muito carinho :33

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  10. Pedro: Of course, why not?

    I'm sorry, but my italian is terrible. :D

    a sweet and tender hug :3

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  11. Eu aproveitava e pedia-lhe para ele me ensinar italiano (uma das línguas que mais gosto), pode ser que ele te dê umas explicações e assim percebes se essa ponta de ciúme tem mesmo razão de ser ou não ;)

    Abraço Mark, boa semana e bons estudos!

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  12. Arrakis: O italiano é uma língua muito bonita e romântica, ao contrário do castelhano que eu detesto! :s

    Muito obrigado, boa semana para ti também. :')


    abraço :3

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  13. É muito bom poeres este ano partilhar as aulas com tantas pessoas de tantas nacionalidades diferentes! Será certamente um dos anos mais ricos que tiveste até hoje! ^^

    Quanto ao rapaz italiano, eu sinceramente não fiquei surpreso com o facto de ele te cativar. Na verdade, por tudo aquilo que já deste a conhecer de ti aqui no blog, consigo imaginar-te perfeitamente a passear por Roma, Milão ou até mesmo Veneza, na companhia deste "ragazzo meraviglioso"! ;)

    Baccio e abbraccio per voi! ^w^

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  14. Hórus: Tem sido o ano mais enriquecedor, é verdade. :)

    Awwwn, passear por Itália, que sonho!... Com ou sem ele seria inesquecível. :)


    baccio ;) :*

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