O limiar, ténue, que separa a vida da morte perturba-me. Faço raciocínios à partida ridículos, pegando na hora da morte de alguém e imaginando que, escassas duas horas atrás, em grande parte dos casos, o que se passaria não poderia sequer ser conjecturado. Isto, evidentemente, nos casos de mortes trágicas ou inexpectáveis. Raramente temos a percepção de que somos matéria, disforme e perecível; um pedaço maior ou menor de carne, dependendo da vontade de um músculo que bombeia a vida através de vasos que percorrem o nosso corpo. E, na sua presença, derradeiramente caem sonhos, planos de futuro e esperanças. Tudo é vão.
Tratando-se de pessoas novas, ponho em causa o trabalho e a dedicação, o esforço em atingir objectivos. Qual o propósito se é tudo demasiado efémero?
A morte recente de Margarida Marante pairou sobre mim durante os últimos dias. As recordações de a ver no pequeno ecrã são escassas, embora existam. Sabendo da notícia, disse-a rapidamente à mãe, que não disfarçou a sua incredulidade. Conhecera-a há duas décadas, por aí, através de amigos comuns. Estiveram juntas em algumas ocasiões, mais ou menos formais, sendo suficientes para que guardasse algum tipo de ideia formulada sobre a senhora. A determinação, o seu carácter não consensual (não serão enfadonhas e previsíveis as pessoas consensuais?) e o rigor na sua área, dedicando-se afincadamente, contrariando a sua juventude e inexperiência, são memórias que ficam. Enquanto mulher, disse-me, era altiva, contudo cordial. Um valor de uso rápido, desgastado, que as intempéries fizeram questão de arruinar.
Aconselhei-a a passar pelo local onde jazia em câmara ardente. A sua inclinação para o fazer ajudou ao mote. No meu caso, não faria sentido e talvez me perturbasse. Sou demasiado susceptível ao sofrimento alheio e a emoções fortes. Seria o suficiente para matutar dias e dias, num claro registo de máquina fotográfica, cujas imagens só a custo são apagadas. Fora-me melhor assim.
Cinquenta anos de vida, actualmente, é deixar tanto por fazer. Não deixa de ser injusto. Complexo será viver em paz, se a inevitabilidade da morte estará sempre presente.
Margarida Marante foi uma excelente jornalista. Competentíssima, preparava muito bem as entrevistas e o seu trabalho era de muito mérito.
ResponderEliminarAfastada dos 'media' há alguns anos, deixa-nos mais pobres. E custa muito... dói ver partir gente tão nova.
Um abraço com todo o carinho, meu querido amigo Mark.
Gosto-te tanto :3
Pedro: Subscrevo as tuas palavras. Lamento imenso a sua morte. :|
ResponderEliminarabraço, e muito obrigado pelo carinho :3
Oi Mark. Olha eu tive de ver no Google quem era a senhora e vi que era uma jornalista importante em Portugal. Lamento muito.
ResponderEliminarNós somos bem frágeis mesmo. Em um momento rápido morremos e eu ainda procuro encontrar a resposta pros conhecimentos que adquirimos. Não acredito que tudo seja perdido pra sempre não. Eu tento tocar minha vida sem pensar na morte. Vc deveria fazer o mesmo, tá muito novo pra isso.
Abraços!
Ty: Dúvidas existenciais... também eu as tenho!
ResponderEliminarEu não penso "na morte". Quando confrontado com ela, apercebo-me de que tudo é extraordinariamente relativo e efémero.
abraço :3
Infelizmente, a morte é a única certeza de cada ser humano...
ResponderEliminarLamento a sua morte como todas as outra. De facto foi uma grande jornalista e que pouca gente lhe deu a devida atenção, quando mais precisou dos amigos. Onde estavam eles?!
Depois do divórcio, nunca mais se ouviu falar dela...
Paz à sua alma
Abraço amigo
Francisco: Tens toda a razão. Mas, segundo li, o primeiro marido ainda lhe deu algum apoio. Os amigos é que desapareceram quando ela mais precisou. É sempre assim. :|
ResponderEliminarEla traçou um caminho sem retorno. Envolveu-se com quem não devia e desabou completamente.
Que descanse em paz.
abraço :3
Bonito texto e bonita reflexão sobre a questão de morte que sempre foi indagada para humanidade. Por mais que tentamos não pensar nela, ela sempre estará presente em nossos pensamentos. Enfim, é isso.
ResponderEliminarSe cuida e um abraço.
Citizen: Pensar constantemente seria uma forma de suicídio. Ao extremo, negligenciaríamos a vida e a necessidade de a cuidar e lhe dar um rumo.
ResponderEliminarabraço e obrigado pelo cuidado :3
Não podemos pensar que a vida é efémera e temos que vive-la da melhor forma.
ResponderEliminarMas tal como tu também não lido muito bem com esses momentos.
abraço
Era uma mulher sofrida. Embora a causa da sua morte tenha sido ataque cardíaco, estava há muito doente, com depressões atrás de depressões.
ResponderEliminarCuriosamente, as tuas primeiras palavras acerca da morte, causaram-me um grande impacto, pois hoje vim de comboio visitar a minha Mãe, à Covilhã e a composição colheu mortalmente uma senhora de cerca de 50 anos, o que é sempre lamentável.
sad: Sim. O pior é que a nossa racionalidade torna-nos o único ser vivente com plena e total consciência do seu perecimento. :|
ResponderEliminarJoão: Exactamente! Tive o cuidado de ver algumas entrevistas dela, na net, e apercebi-me dessa amargura no seu olhar, na voz, na sua respiração cansada...
Oh, que horror. :( Lamento muito!
abraços a ambos :3
Eu também fiquei um pouco como tu, meio incrédulo e pensativo e passaram-me pela cabeça muitas das considerações que aqui fazes. Como dizia alguém aquando da morte do Bernardo Sasseti, a morte é sempre um escândalo, sobretudo quando leva os mais jovens. Embora já não fosse jovem, a Margarida tinha ainda muito a dar e é uma pena que tenha partido assim.
ResponderEliminarPaz à sua alma.
O primeiro marido da Margarida deu-lhe imenso apoio, até ao fim da vida dela. Infelizmente manipulada por pessoas que não lhe queriam bem, muitas vezes me surpreendi com a paciência e amizade (ou amor infeliz?) do Henrique para com ela. O jornalismo português fica mais pobre, mas não hoje. Foi, já, há alguns anos atrás.
ResponderEliminarArrakis: Não poderia concordar mais contigo. Devo dizer que a morte do Bernardo também me deixou extremamente melancólico (soube da notícia quando estava na reprografia da faculdade a imprimir umas fichas). A frase que mencionas é arrebatadora e cruel de tão verdadeira. :|
ResponderEliminarCoelhinho: O Henrique, apesar de estar separado há anos da Margarida, continuava a ser uma tábua de salvação e amparo. As companhias, más, essas, foram as responsáveis pela "morte social" da Margarida. A sua morte física foi um triste acrescento. :|
abraços a ambos :3
Mark, também fiquei chocada com a morte precoce dela. lembro-me de a ver na rtp e depois na sic. os últimos anos foram difíceis para ela, ainda mais por ser uma figura pública.
ResponderEliminarcuriosamente, quando morre alguém, as minhas recordações vão as as primeiras mortes que vivenciei em pequena, o que é compreensível: umas tias velhinhas e um rapazinho de 7 anos que era meu vizinho e meu amigo. eu era um ano mais velha que ele.
são estas mortes estúpidas devido a desastres, de crianças que tinham toda a vida pela frente, que ainda hoje me impressionam.
a vida é frágil, efémera, como já li. resta vivê-la da melhor maneira.
bjs.
Margarida: As mortes de crianças ainda são mais chocantes. São percursos que nem chegam a começar. Na minha perspectiva, qualquer morte antes dos oitenta vem cedo demais. Falo eu, que sempre tive o pressentimento de que viverei pouco.
ResponderEliminarbeijinhos :*
(há uma gralha no meu texto: as=para)
ResponderEliminarcredo, Mark, agora assustaste-me.
eu nem quero pensar muito na morte, embora tenha a espada de damôcles pairando sobre a cabeça.
bjs.
Margarida: Não fiques assustada. :D É um pressentimento; não é uma premonição, e daí nem se verifica. Mas tenho esta ideia (talvez estúpida) desde os meus quinze anos, mais ou menos.
ResponderEliminarEu imagino. :|
beijinhos :*