25 de setembro de 2012

Autumn.



   Quando o clarão invadiu o quarto de rompante, pensei que talvez um paparazzo tivesse trepado a parede exterior até à janela do meu quarto, mas só depois me lembrei que apenas na casa de férias da avó existe uma trepadeira pelos meus aposentos. Em todo o caso, poderia ter refinado as suas tácticas de espião ultra-secreto de uma revista do social, desenvolvendo formas sobranceiras de atingir os seus intentos, nomeadamente aprender algo com o Homem-Aranha.

   O Outono começara sem anunciar, não fosse o calendário avisar-me do seu início, apesar de há muito a queda da folha existir apenas nos livros da Rua Sésamo, que o pai, religiosamente, comprava para que completasse a colecção. Nesses anos, progressivamente distantes, ainda poderia, caso quisesse, mergulhar sofregamente em amontoados dispersos de folhas alaranjadas, na companhia do Becas, sobretudo. A disciplina do Egas contrastava demasiado com o ímpeto que comandava as minhas emoções.


   Olho para os livros que terei inevitavelmente de ler e observo os contrastes. Têm menos imagens, será a conclusão imediata a que chego. São mais densos em matéria humana, superficial quando comparada aos sonhos de uma criança. Têm a importância que lhes conferimos. Será muita para quem frequenta o meu curso. Não terá valor na perspectiva equidistante de um engenheiro agrónomo ou de um veterinário, pese embora um livro seja um livro. Contudo, as fantasias do Poupas Amarelo eram compartilhadas com o futuro engenheiro agrónomo e com o veterinário. Unia-nos a vontade dos nossos pais em que crescêssemos felizes ou, pelo menos, salvaguardados - enquanto fosse possível - da maldade alheia.

  A transformação que se operou é semelhante à brusquidão das alterações meteorológicas e sazonais. Também a inocência se perdeu, num fenómeno igual  à extinção do clima ameno e outonal.

   Vou secar as folhas verdes que ainda restam para fazer a minha própria estação.

11 comentários:

  1. Quando era mais novo, costumava apanhar as folhas do chão e coloca-las nos meios das folhas de qualquer livro. Como se fossem um separador qualquer :)

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  2. Francisco: Awwwn, que giro. Recordo-me vagamente de fazer o mesmo com folhas secas no pré-escolar. :p


    abraço :3

    ResponderEliminar
  3. Parabéns pelo texto! Muito bonito.

    Espero que este outono aconteça muitas coisas boas na sua vida.


    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Citizen: Obrigado. :)


    abraço :3

    ResponderEliminar
  5. quando a rua sésamo por cá chegou eu era adolescente. ficava a vê-la ao fim da tarde, em casa da ama onde a minha irmã bebé estava. tinha um ritual: acabava as aulas do 11.º e ia lá ter, até às 6h, quando a mãe saía do trabalho.
    "o sol nasceu, como está lindo o céu, cá vou eu, vem tu daí também, aprender como se vai até à rua sésamo!".
    :D
    bjs.

    ResponderEliminar
  6. Margarida: Eu não me recordo da série infantil, mas sim dos livros. O meu irmão tinha uma colecção e o pai também me fez uma. :)

    beijinhos :*

    ResponderEliminar
  7. Ah, Margarida, como essa música era divertida...

    Então pensaste que eram os paparazzo? Oxalá não estivesses a fazer um strip-poker, como algumas personalidades da realeza...

    ResponderEliminar
  8. Coelhinho: Não, estava a ler quando o relâmpago me assombrou, ahah. x)

    ResponderEliminar
  9. Continuo a deliciar-me com os teus escritos.
    Consegues levar-me contigo...
    Era eu, em sonhos, o paparazzo :)))
    Só tu, Mark, me trazes tanta magia nestes tempos de preocupação.
    Um abraço amigo :)

    ResponderEliminar
  10. Mudança e vontade secar as folhas para criar a própria estação.

    Bonito isso !

    ResponderEliminar
  11. Pedro: Awwwn, que querido. :)

    abraço grande :3



    Joel: Obrigado. ^^

    ResponderEliminar