Como estás? Sei que não te escrevo há umas semanas, mas isto por aqui não anda muito bem. Isto, quero dizer, eu. Os dias são intermináveis e parecem não ter fim...
Sabes, a mãe casa-se este sábado que vem. Anda eufórica, feliz da vida. Posso afirmar mesmo que nunca a vi assim. Se é bom? Sim, é bom, é bom para ela e para todos, menos para mim. Sinto-me completamente perdido, isolado, sem rumo definido. Não sei qual o meu lugar, o meu espaço na vida de quem eu pensava serem as pessoas que mais me amavam.
Na semana passada, a mãe e a Leninha foram comigo comprar a minha roupa para o casamento. O shopping estava cheio de pessoas, felizes, às compras. Divertiam-se numa tarde de quase Verão. A Leninha e a mãe falavam e faziam planos sobre isto, sobre aquilo... Eu acompanhava-as mudo, apático, quase alienado da realidade. Só queria fugir dali, fugir delas. Queria encontrar alguém que pudesse abraçar, alguém em quem pudesse encostar a cabeça e sentir algum conforto. Pedi para ir ao banheiro e chorei, chorei como nunca tinha chorado em toda a minha vida. Chorei num pequeno cubículo de um banheiro público. Quando saí, um grupo, de três homens, olhou perplexo para mim ao ver o meu rosto todo molhado. Passei-o depressa por água e saí rapidamente. Sabes, tem sido assim nos últimos tempos. Já nada me faz sorrir. Passo os dias a chorar, seja no banheiro do colégio, no meu quarto, num beco de uma rua... Ninguém se preocupa comigo ou com o que sinto. Por fora, sou o espelho do "bom menino", sorrio, sou educado, transpiro alegria; por dentro, estou aos gritos.
A mãe gosta é de dizer às amigas que eu sou o melhor. Fica toda emproada quando o director do colégio ou os meus professores dizem que sou dos melhores alunos do colégio, que tenho notas assim e assado e que tenho um caminho brilhante pela frente... Chega! Que se lixem as boas notas! Eu não sou uma máquina, não sou alguém que nasceu para agradar a todos. A mãe exige e exige e nada dá em troca. Só tem olhos para o "noivo", o "noivo"! Isto é patético! Uma mulher que já tinha idade para ter juízo vai se casar pela terceira vez na vida. Parece uma adolescente que vai viver com o namorado pela primeira vez. Ridículo.
No fundo, já nem vontade tenho de protestar. Resigno-me, indiferente ao que vem por aí.
O pai não me telefona há meses. Como sabes, nem no dia do meu aniversário me ligou. Nem um e-mail, nem uma simples sms, nada... Vou falando com a avó, com a Leninha e o Pedro, mas não me abro o suficiente. O Pedro pensa que a fonte dos meus males está no pai, no meu pai. Ele "endeusa" a nossa mãe. Não que goste daquele maldito homem, mas não a enfrenta, cedendo a todos os seus caprichos.
Sinto-me num precipício prestes a cair lá bem no fundo.
Ah, é verdade, vi o Luís a beijar uma rapariga do colégio. Normal, tratando-se dele.
Cada dia é pior e não vislumbro uma única esperança a curto ou longo prazo.
Tudo está a cair como um castelo de cartas. A minha vida, os meus sonhos e a minha felicidade.
Não sei quando te voltarei a escrever. Talvez nem o faça. Talvez morra até lá.
De qualquer forma, obrigado por me "escutares" e por seres o meu eterno confidente.
Beijinho,
M.
Oh Mark, escrevias com uma simplicidade e ingenuidade tão... boa de se ler!
ResponderEliminarDe nada, querido és tu!
ResponderEliminarTudo se vai resolvendo e tu ultrapassaste isto, não foi?
É nestes momentos que, para além da escrita e música precisamos dos Amigos (não me refiro a conhecidos).
ResponderEliminarSe por alguma razão algo semelhante voltares a viver - quem esquece o passado está condenado a repeti-lo -, abre-te com Eles.
És um rapaz perfeitamente normal. Nos nossos dias, sensibilidade é virtude. Não a percas...
Abraço.
mark, já eras tão sensivel naquela altura, se eu estivesse ao pé de ti podes ter a certeza que te dava um ombro amigo para chorares à vontade
ResponderEliminarAbr
Foi decerto um período muito difícil para ti, mas agora, à distância, acho que concordas que este facto ajudou e muito a marcar a tua forte personalidade.
ResponderEliminarPelo que dás a conhecer, permaneces fiel a muitos dos teus princípios. Mas o que descreves marcou sem dúvida os teus traços de personalidade.
ResponderEliminarUm abraço!
Enfim, és único, és tu =)
ResponderEliminarHugz
Em vez de dizer-te "parabéns" ou "escreves tão bem" (e sem querer ofender quem o fez), deixa-me dizer-te que compreendo perfeitamente o que escreveste nesse dia. Já passei por isso. Quer dizer, mais ou menos... Felizmente nunca passei pelo divórcio dos meus pais, mas passo por discussões acesas diárias de coisas banais, discussões essas que nunca são resolvidas nem faladas acertadamente mais tarde. e, na verdade, não sei o que será pior.
ResponderEliminarAnyway, passar por algo mais ou menos é o sentir falta de alguém onde colocar um ombro amigo. Tenho amigos a sério, é verdade (e ainda bem que assim o é), mas nunca tenho coragem de colocar lá o ombro. Nunca quero chatear ninguém. E acho sempre que os amigos a sério compreendem quanto estás mal e eles próprios pegam na tua cabeça e colocam-na no seu ombro. ;)
Mas, já passei por isso. Provavelmente vou passar de novo. São as fases da vida que, assim quero entender, só nos fazem ficar mais fortes.
Espero que estejas bem melhor do que nessa altura. *
Cláudia, és bem querida. (:
ResponderEliminarPaulo, senti-me bem ao ler as tuas palavras. São de uma sensibilidade forte. Obrigado. (:
Tomás, fiquei mesmo tocado com o que escreveste. Acredito que sim. Às tantas, vamos ganhando alguma proximidade com as pessoas que lemos todos os dias. Obrigado.
Pinguim: Sim, foi um período conturbado. Também era demasiado imaturo, logo, foi-me mais difícil ultrapassar e encarar as evidências. E a evidência maior era que a mãe e o pai se separaram, ponto, e que a partir daí tudo ia mudar.
Bom, também era quatro anos mais novo. Na nossa idade faz muita diferença.
Blog Liker, sim, marcou-me bastante. Apesar de já terem decorrido praticamente quatro anos, consigo recordar-me de cada momento. Este episódio no shopping, então, é épico pelo lado negativo. Que dia, meu Deus!...
Miguel, (:
O-Riordan, também passei pela fase das discussões. No caso dos pais, nunca foram muito acesas. Discutiam, claro, mas tinham (vá lá) a sensibilidade de evitar que eu me apercebe da situação. Por isso, não foi através de discussões que me apercebi de que algo estava mal; foi devido ao frio que se instalou entre eles.
Tal como tu, nunca quis incomodar ninguém. Nunca quis chatear as pessoas com "as minhas coisas". Fiz mal, assumo-o e, hoje em dia, não aconselho ninguém nesse sentido. Torna-se bem pior ao acumularmos tanta dor cá dentro.
Estou melhor, obrigado. (: Até aceito razoavelmente bem a distância do pai, que está no Porto, e o marido da mãe, vulgo padrasto. (:
Abraços a todos. ^
Vou corrigir o que disse lol
ResponderEliminarEnfim, és único, és tu =)
And i like You hehe
Hugz
Miguel, que querido, ahahah (:
ResponderEliminarHug.