Que D. Afonso VI foi um rei com características que o diferenciaram de todos os outros monarcas não é um facto novo. Em todas as épocas, vários historiadores se debateram e tentaram investigar ao pormenor detalhes que pudessem desvendar mais sobre a vida deste rei.
Sempre foi público que D. Afonso VI não teve capacidades governativas; uma febre hemiplégica (provavelmente meningite) deixou-o física e mentalmente incapaz. Tornou-se um jovem rebelde, arruaceiro e diminuído. Gostava de sair à noite pelas ruas de Lisboa com o seu grupo de amigos. Com eles, provocava desacatos e confusões que muitas vezes só eram solucionados graças ao seu estatuto.
No entanto, o facto de ter sido vítima de uma conspiração pelo seu irmão Pedro (futuro D. Pedro II), com vista à usurpação do trono, levou-me a criar um interesse pela vida deste rei. Tenho comprado vários livros sobre D. Afonso VI, e todos eles se referem a uma amizade entre o monarca e um genovês de seu nome António Conti. Este homem era amigo íntimo do jovem rei e são bem conhecidos vários relatos de discussões (algumas públicas) entre D. Afonso VI e a sua mãe, D. Luísa de Gusmão. D. Luísa reprovava esta amizade, considerando-a nefasta para o seu filho. A verdade é que António Conti passou a ser moço da câmara do rei, tendo pleno acesso ao quarto deste, bem como ao ritual do vestir e despir. São conhecidas aventuras do rei e do senhor Conti com prostitutas de rua, mas D. Afonso VI, devido à sua hemiplegia, dificilmente conseguiria concretizar o acto sexual na sua plenitude. Em bom português e correcto, não deveria ter erecção. Também são conhecidos relatos desta amizade algo homoerótica entre o jovem Afonso e o genovês, para além de frequentes encontros do jovem rei com alguns mulatos que, por esta altura, acompanhavam o rei, para desgosto de D. Luísa. Não será difícil imaginar que provavelmente D. Afonso VI tenha tido algum relacionamento com António Conti e com esses amigos mulatos. As suas incapacidades tê-lo-ão levado a exorcizar estes problemas nos braços do seu bom amigo de Génova.
D. Afonso VI casou com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia em 1666, mas pouco tempo depois a Rainha pedia a anulação do casamento por este não ter sido «consumado», ou seja, não tiveram relações que permitissem assegurar a sucessão ao trono. Parecem existir documentos suficientes que atestam a incapacidade do monarca em ter relações de cariz sexual. Mais tarde, D. Maria Francisca casaria com o próprio D. Pedro II, irmão do rei.
D. Afonso foi afastado do trono por D. Pedro, que assumiu a regência, exilado para a ilha Terceira (Açores) e mais tarde para Sintra, onde faleceu em Setembro de 1683.
Da sua vida atribulada e misteriosa, restam as certezas de um reinado injusto e de uma vida pessoal estranha e duvidosa.
Eu sempre soube que aquelas perucas e sapatinhos de salto alto mexia com eles ;)
ResponderEliminar@Filipe M. - Ameiiii xDDD
ResponderEliminarE eu que nunca me interessei pelos nossos reis? xDD Afinal ainda tem alguma coisa de interessante! rsrs
Filipe :)) pois, é verdade. Aquela moda é muito duvidosa. :)
ResponderEliminarPinkie, há muitas coisas interessantes nos nossos reis. :) D. Afonso VI foi especialmente interessante. ;)
ResponderEliminarE ter a sorte de ler o Processo original de destituição do Rei? Passei um verão no Arquivo do Palácio de S. Bento a deliciar-me com as folhas desse documento! Rodeada de grandes estantes repletas de livros, onde o cheiro do passado torna-o presente, o decifrar das entrelinhas e o reconstituir daqueles tempos e personagens fez esquecer a praia...Foi viciante aquele verão!
ResponderEliminarParabéns pelo texto! Na história há sempre temas ou personagens interessantes para estudar ou conhecer! E não tão distantes como alguns podem pensar...
ResponderEliminarDeve ser uma experiência única ter acesso a esse documento de destituição real. Nem imaginava que ainda existia.
ResponderEliminarEu gosto muito de D. Afonso VI, devido ao que sofreu durante a sua vida. Mas naquela época era mesmo assim. Eram cenários habituais (já o D. Sancho II foi afastado pelo irmão...).
Muito, mas muito obrigado pelo comentário. :))
Saudações;
ResponderEliminarChamo-me Caio e faço mestrado em LIteratura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP).
Você menciona que adquiriu uma série de livros sobre El-Rei D. AFonso, em qual você leu algo sobre a homossexualidade dele? Você teve contato com um livro que fala sobre a doença dele, dando pormenores? Entregarei minha dissertação daqui duas semanas, de repente, você pode me ajudar.
Muito Obrigado.
Caio
domjoaodacamara@yahoo.com.br
Olá Caio.
ResponderEliminarNenhum dos livros que comprei se refere explicitamente à sua provável homossexualidade, no entanto, todos eles fazem referência a uma amizade muito íntima entre o rei e o genovês António Conti. Daí, a minha dedução pessoal. Sabe, ainda existem preconceitos, agravados quando está em causa a imagem (apesar de débil) de um rei. Por isso, qualquer livro que compre abordará, certamente, esta relação íntima.
Sobre a doença: eu tenho um livro da Academia Portuguesa da História, de Maria Paula Marçal Lourenço, mas não sei se estará disponível no Brasil.
Fique bem e boa sorte na dissertação. :)
Caro Mark;
ResponderEliminarDesde já, gostaria de agradecer sua atenção. Já foi uma ajuda interessante. Sobre o livro da Maria Paula Marçal Lourenço, realmente não está disponível no BRasil. Será que você, muito gentilmente, poderia me dizer se ela dá um nome à doença dEl-Rei? Há alguma descrição interessante nesse livro?
OBRIGADO!
A doença que vem mencionada no livro é uma "febre maligna", talvez hemiplegia ou uma meningoencefalite. O diagnóstico médico, naquela época, era vago e erróneo.
ResponderEliminarA certeza, porém, é que D. Afonso ficou afectado por toda a sua vida, com mazelas físicas e psicológicas.
Penso que, as imagens gizadas em torno da sua homossexualidade de D. Afonso VI, são, efectivamente, resultado de leituras anacrónicas por parte dos interessados no tema assim como no respeitante à sua impotência e aos restantes sintomas da sua enfermidade.
ResponderEliminarExistem documentos, relatos, fontes deste período riquissimas em informação. Mas note-se que, praticamente, são visões parciais dos eventos ocorridos no processo de afastamento do rei do poder e da dissolução do seu matrimónio com Maria Francisca de Sabóia e que favorecem maioritariamente D. Pedro. Importante ponto, para quem não sabe, é o longo percurso por toda uma tradição historiográfica que degrine Afonso VI em função do irmão D. Pedro cujas versões que nos legaram para a posteridade foram consideradas como as historicamente mais veridicas.
Atente-se também que a amizade ílicita do monarca com os irmãos Conti tem a particularidade de se inscrever no fenómeno do "valimento" ou "privança" que muito caracteriza as relações informais entre os prinicpes e os seus subditos em época moderna. Acresce que neste caso especifico os italianos souberam aproveitar-se das debilidades do rei para alcançar o seu favor..Nesta lógica de ideias também castelo melhor, o braço direito de Afonso VI, como favorito e valido do rei, por privar intimamente com ele, também seria amante dele!
Relativamente à impotência todas as conclusões são redutoras. É verdade que o rei sofreu em pequeno de uma "febre maligna" deixando-o com ligeira paralisia de um dos lados do corpo. Mas a crer nas fontes que dizem que "EL rei andava muito bem a cavalo" e "gostava de tourear metendo-se em constante perigo" demonstram claramente que o rei n seria tão incapacitado como julgamos. A incapacidade sexual de que tanto se fala é algo que pode, estritamente, estar relacionado com essa doença que o afectou, cientificamente designada nos dias de hoje como hemiplegia.
Agora coloca-se a questão: será que o rei era realmente impotente, ou a difusão desse epíteto resultou de uma empresa de difamação por parte dos partidarios de D. PEdro para o afastarem do poder, dado que um rei que n pode pocriar, é um homem incapaz de assegurar a dinastia e preservar a independencia da nação? Como sabemos se ele era impotente? Obviamente, que os testemunhos do tribunal que depuseram contra ele durante anulação do seu matrimónio afirmam que o rei era incapaz de manter cópula e quando o era dificilmente aguentava o coito, ejaculando sémen para fora do vaso natural (isto na linguagem da época). Perante tal descrição, será que o rei era um impotente perpetuo, ou sofreria de alguma outra doença de foro neurologico que causaria algo do genero ejaculação precoce? Não sabemos, pois não estavamos la para ver. So recorrendo a uma analise aos seus restos mortais poderiamos disspiar as nossas duvidas. É um tema que ira permanecer na incognita, mas devemos ressalvar esta problematica historiografica com alguma cautela, pois parece-me credivel que “a impotencia” do rei tenha sido um instrumento de toda uma cabala na qual a rainha tambem participou para o afastar...
Sou especialista nesta materia pois tenho uam dissertação de mestrado neste assunto, dai saber do que falo... e por curiosidade de final de noite vim à net saber o que se escrevia deste rei que tantas paixões desperta...
Quem quiser indicações bibliograficas ou outros apontamentos:
Raustria1667@gmail.com
Cumprimentos
Caro anónimo, obrigado pelo seu comentário.
ResponderEliminarPodemos, sem dúvida, atribuir alguns factos relativos a D. Afonso VI como deturpações e mentiras criadas por D. Pedro e os seus partidários, todavia, é mais do que certo de que D. Afonso foi um rei diminuído, física e mentalmente, com vários problemas de saúde e comportamentais. Recuperou da "febre maligna" da infância, é certo, caso contrário não teria chegado à idade adulta. Contudo, e apesar de montar a cavalo e realizar outras tarefas, ficou com sequelas visíveis numa parte do corpo.
Não são apenas opiniões de alguns historiadores. Há uma unanimidade no que diz respeito às características deste monarca. Claro que é difícil admitir a homossexualidade num monarca, mas todos os dados apontam nesse sentido, para além dos problemas de D. Afonso acima referidos. Segundo consta, António Conti dormia numa câmara contígua à do rei e não consta que Castelo Melhor também o fizesse...
Os livros e as fontes históricas que tenho lido - eu e várias pessoas - atestam as conclusões a que chegámos.
Cumprimentos. ^^
Bem, obviamente, que não poderei dar resposta rápida a pensamentos automaticamente pré-concebidos do retrato que tens sobre o rei. Apenas aconselho a uma maior reflexão, pois a tua leitura é muito redutora, mas também não podemos fazer de juizes da historia! A minha opinião é baseada numa visão cientifica até por que aliás conheco muito bem os estudos que têm saido sobre ele e inclusive o da Prof. Paula Lourenço, que alias, conheço muito bem pessoalmente e com quem tivemos discussões sobre este assunto. A tua opnião é muito passional. Leste Afonso VI do Circulo de Leitores? Se leste, reflecte muito bem essa problemática de que te falei...alias os autores nem sequer tocam na questão da homossexualidade ou bissexualidade....porque será?
ResponderEliminarÉ verdade que uma doença o atingiu e que o tera afectado...que dimensão essa doença teve em questões de foro psicologico e fisico, não sabemos...há quem avance até com teorias de sociopatia na sua pessoa...certo é que ela foi largamente descrita por varios coetaneos do monarca, e claro, quase sempre partidarios do Infante D. Pedro...de estranhar não é?
É também verdade que Castelo Melhor, dormia num espaço contiguo à câmara do rei e junto dele...portanto para quem se interessa por este tema apaixonante não se deve basear apenas nas leituras...necessita de ir às fontes, base primordial de conhecimento. Não há qualquer, qualquer mesmo, consistencia documental que fale subtilmente ou não numa relação com o Conti. Os pensamentos contemporaneos advêm das leituras de algumas passagens de obras como as “Monstrusiodades do tempo ou da fortuna” ou “Catastrophe” entre outras, de onde se deduz a possibilidade de um relacionamento homoerótico erroneamente. Recordo mais uma vez certas leituras relacionadas com as questões de “privança”, “valimento”, “favorito”, conceitos que podem ajudarte a compreender as relações informais, privadas e até intimas que o soberano mantinha com homens proximos de si...faz-te parte da racionalidade cortesã....Conti foi um oportunista..aproveitou.se da sua debilidade, mas até ao ponto de terem uma relação homossexual, só mesmo no imaginario apaixonado das pessoas....lol
Impotente, louco, imbecil, e pelos vistos “homossexual”. Parece que é mais um epiteto acrescentar ao rol da lista que já existe. É engraçado, porém, pensar que um homem destruido fisicamente e sexualmente, incapacitado no juizo, tivesse a audacia de escolher um homem como castelo melhor e de lhe conceder o seu favor no governo do reino, que aliás, foi crucial para Portugal na afirmação da sua independencia face a Castela!!! Sera que seria assim tão diminuido no juizo? O probblema do rei é o facto de ser muito «voluntario», dado a certas liberdades que não se coadunavam com os protótipos da realeza de seiscentos, mas isso só pode ser entendido nos parametros da educação que teve e que podem ter sido incipientes, razão apontada como falha da sua formação de principe...
Ha muita coisa a ser dita e escrita. É necessaria alguma cautela nos juizos de valor que fazes, pois em historia não podemos fazer tais juizos...
Caro Shaka (vejo que "ganhou nome"),
ResponderEliminarEu não fiz juízos de valor sobre a vida pessoal de D. Afonso VI. A consulta das fontes históricas e da bibliografia referentes a D. Afonso levaram-me - e a várias pessoas - a deduzirmos a sua suposta homossexualidade. A mim parece-me, espero que esteja errado, que lhe custa um pouco aceitar que D. Afonso seria homossexual. Acha, permita-me, que tal facto o denigre? Eu creio que não. Não faça uma defesa tão visível da heterossexualidade do rei.
Quanto à escolha de Castelo Melhor, olhe, é evidente que D. Afonso não era totalmente incapaz. Não era um louco, senil; era, isso sim, um homem profundamente diminuído e incapaz de estar à altura do cargo que desempenhava.
Veja, eu gosto bastante de D. Afonso VI e, aliás, sei o quão a historiografia foi injusta para com este rei, mas deduzirmos a sua homossexualidade não é algo que afecte a sua imagem. Pelo contrário, ajuda a compreendê-la. Li "D. Afonso VI" do Círculo de Leitores, sim. É natural que não se encontrem grandes referência bibliográficas relativamente à alegada homossexualidade de D. Afonso VI: veja a sua atitude ao negar veementemente tal suposição! Vivemos numa sociedade heterossexista, em que admitir a homossexualidade de um "famoso da televisão" é difícil, quanto mais a de um rei!!! Não se esqueça que tal ideal faz parte do imaginário e da história colectivos. D. Afonso VI não terá tido apenas um relacionamento com António Conti: ao que tudo indica, terá se relacionado também com vários mulatos, escravos e libertos, que deambulavam por entre as ruas de Lisboa. Alguma historiografia diz-nos que iriam "a bordéis"... Parece-me, mais uma vez, uma visão heterossexista.
Em História, como disse, não se fazem juízos de valor, todavia, não há verdades irrefutáveis, nem dogmas inquestionáveis. A análise e a constante procura da verdade são a tónica de qualquer historiador ou interessado. Não se negue a conceber outras hipóteses e não fique tão agarrado às suas verdades e, permita-me até, a alguns preconceitos.
Ser imparcial na leitura "cientifica" das fontes, e livre de assuntos novelescos, é ser perconceituoso?
ResponderEliminarA sexualidade faz parte da vida de qualquer ser humano. Investigar possíveis verdades não são "assuntos novelescos", como referiu. A vida das figuras da nossa História não se resume às guerras e às questões económicas; a vida pessoal interessa e muito. A menos, claro, que para si a vida pessoal de cada um sejam "assuntos novelescos".
ResponderEliminarA historia é subjectiva nos entendimentos que cada um faz dela, sobretudo para os apaixonados, mas uma hipotese, em historia, tem ser fundamentada com bases documentais e cientificas, não em episódios lineares, dai esta ciência dita social e humana seguir um método cientifico para estruturar o conhecimento que formula.
ResponderEliminarD. Sebastião possivelmente fora homossexual, há fontes que a isso induzem e comprovo-o; D. Pedro I também, assim o diz Fernão Lopes...Nestes casos existem doumentos e cronicas que o afirmam, quase que o diga, explicitamente.
Agora continuo a afirmar que têm de me mostrar nitidamente documentação od se afirme "explicitamente" q ele teve relações homossexuais, pq o q se diz aqui, alias o q afirma é q ele teve efectivamente um caso, tomando isso como dado adquirido, que é o que revela no discurso...mas n posso tambem exigir muito pq nem sequer sei se o senhor sabe o que e historia, enquanto ciência, como ela se fundamenta e como se criam discursos cientificos com base nos instrumentos que os historiadores têm ao seu dispor,....Mas isso ja são outras águas, que necessitam de um forte background por todos aqueles que ousam falarem de coisas que pura e ignorantemente desconhecem :)
Bom, começou a tratar-me por "tu" e agora avançou para o "senhor". Olhe, o "senhor" está no Céu e essa arrogância em afirmar que eu não sou entendido no assunto, chamando-me de ignorante, só lhe fica mal. Não me conhece de lado algum para afirmar que não sou entendido e descanse que não necessito do seu "background". Já vi que desconhece totalmente o que são exercícios de retórica. O que é humildade desconhece completamente. LOL
ResponderEliminarEm relação a D. Sebastião o que há são igualmente suposições, assim como em relação a D. Afonso VI. Oh, meu caro, o que eu fiz foi um exercício hipotético baseando-me em fontes históricas e bibliográficas. Já em relação a D. Pedro I, há documentação inequívoca, é verdade, ao que parece.
Sei o que é História, sim, e sei como podemos chegar aos factos: através da análise das fontes. Claro que uma dose de audácia e espírito aberto, o que manifestamente não tem, ajuda muito.
Então e aquela Paixão todo por Inês de Castro?
EliminarFicaremos então com a sua subjectividade e com o seu "espirito aberto" pleno de retoricas
ResponderEliminarParece-me, alias, bem para quem almeja seguir a vida de romancista contemporaneo
um bem haja
:) peço desculpa por qq incómodo ou transtorno
Eu fico com a minha subjectividade e o "senhor" ficará com a sua vaidade e arrogância. Acredite, não sabe tudo e espero que ainda tenha muito para aprender!
ResponderEliminarAdmito que gargalhei com a sua deixa de "romancista contemporâneo". Não o pretendo ser, e se o pretendesse, não era desprimor algum.
Não me causou qualquer transtorno ou incómodo. Ao contrário de si, aceito a opinião contrária, dentro dos limites do bom senso e do respeito.
Até mais.
Li com interesse esta discussão, com o afastamento temporal (passaram-se 4 anos) e pessoal (porque não conheço os intervenientes). O Mark perdeu uma excelente oportunidade de cultivar aqui um diálogo com mais benefícios para todos os que nos interessamos por este assunto. Quando Shaka começa a falar consigo, é gentil, mas Mark, logo na primeira resposta, é agressivo. Shaka ao invés de resistir e permanecer gentil, vai cedendo ao estilo que Mark vai imprimindo. E assim se perde uma excelente oportunidade de discutir a questão da homossexualidade de Afonso VI com mais proveito.
EliminarDurante anos tenho tido interesse na questão, porque realmente a história de Afonso VI parece mal contada e custa ver aqueles sulcos no quarto de Sintra. É um caso que me apaixona. Um ser humano não merece aquele tratamento, nos dias contemporâneos sabemos que, mesmo que ele fosse afetado por qualquer doença psíquica, encerrá-lo, nada mais é que uma crueldade. No caso dele, foi azar ter nascido rei. Se fosse um homem comum, por muitas maleitas que tivesse, faltas de juízo, tendência para arruaceiro, o que fosse, não o teriam conduzido àquele destino, sem ter cometido crime nenhum.
EliminarÉ notório, em todo o discurso de Shaka, que não é por preconceito que rejeita a tese da homossexualidade de Afonso VI. Foi o Mark que, à falta de melhores razões, levanta esse argumento de suposta homofobia. Oh, Mark! Só porque alguém rejeita essa teoria, partir logo para acusações de homofobia! Nada no discurso de Shaka nos faz deduzir semelhante tipo de pensamento! Espero que não o faça comigo também - aceito a homossexualidade humana com grande naturalidade. E até hoje, chegada ao seu blogue, tinha muita tendência para aceitar como boa a tese da homossexualidade de Afonso VI.
De facto, Mark, da leitura de livros de história a que tenho tido acesso (nunca li fontes primárias, é certo, sou, como o Mark, uma mera interessada no assunto), nenhum o diz explicitamente, mas tal como o Mark, eu tenho posto em hipótese a homossexualidade de Afonso VI (talvez o filme "O processo do Rei" contribua para este imaginário, pelo facto do protagonista ter sido Carlos Daniel, que julgo ter sido o grande amor de Mário Viegas).
Ler os escritos de Shaka, embora mero comentador num blogue que reclama ser investigador de História, fez-me pensar. De facto, não tenho qualquer base para fundamentar a teoria que até hoje me estava na mente. Era natural, como sucedeu com D. Pedro I, que tivesse ficado alguma coisa escrita sobre o assunto. Afonso VI foi alvo de um processo, onde afirmar a sua homossexualidade seria um bónus para quem o queria depor... O facto de Conti ter acesso ao quarto do rei por uma porta, não me parece que prove a natureza homossexual da sua relação. À época, acesso por porta ao quarto dos reis era normal, não era visto como hoje nós pensamos as coisas. Ora, esse acesso por porta é o único facto em que podemos fundamentar as nossas suspeitas. Não há mais nada, que eu tenha conhecimento, de factos que fundamentem a teoria da homossexualidade do rei, sem ser o favorecimento de Conti e este ter acesso ao quarto por via de uma porta a partir do quarto dele - coisa que à época deles tinha outro tipo de conotação. Os contemporâneos não gostaram que o rei desse tal acesso a um arrivista aproveitador, mas não se escreveu nada sobre um amor entre eles.
E não se diga que ninguém se atreveria a escrevê-lo sobre um rei: pois se o fizeram sobre D. Pedro I e D. João VI (houve um padre que afirmou tê-lo visto a ser masturbado por um cortesão - o padre foi depois degredado), mais o fariam sobre um rei contra quem se fez um golpe.
Antes que teça já comentários malévolos por eu aparecer aqui como "anónima", justifico-lhe que não sei postar comentários com outra das hipóteses e informo-o que me chamo Inês. Recomendo-o a reler a discussão que teve com Shaka com distanciamento do tempo, para perceber que andou mal: foi desagradável, fez acusações pessoais (desde chamar indiretamente homofobo passando por acusar o interlocutor de vaidoso e arrogante). Shaka devia ter-se mantido sempre digno, mas lamentavelmente deixou-se empurrar por essa paixão no último comentário.
É notório que Mark ama a História, ou não teria sido tão apaixonado nos seus comentários. A paixão às vezes não nos permite ver as coisas com clareza.
Inês de Portugal,
EliminarÉ a sua opinião. Shaka, que começou por comentar anonimamente e só depois ganhou nome, foi desde o primeiro comentário muito inconveniente, do que me posso lembrar. Como calcula, nem me vou dar ao trabalho de reler. Se houve arrogância, começou do outro lado, não do meu.
O seu problema, cara Inês, e também o desse Shaka, é que rejeitam por completo a hipótese de D. Afonso VI poder ter sido homossexual. Talvez o meu erro tenha sido aventar motivos. Só vocês o saberão. Há, no entanto, autores que corroboram com o que eu venho defendendo.
Se tivesse conhecimentos, saberia que D. Pedro só aceitou a Coroa depois de o irmão falecer, muito embora lhe tenha usurpado o trono. Duvido que permitisse que se espalhassem rumores da homossexualidade do irmão, admitindo-se que tivesse conhecimento dela. Ainda havia respeito e pudor, e a homossexualidade era um delito, sodomia, como deve (deveria?) saber.
A amizade de D. Afonso com Conti ia além de uma mera amizade. Havia intimidade, partilha. Claro que um exercício desta natureza torna-se complicado quando faltam fontes, e as que referiu acerca de D. Pedro I e de D. João VI também podem não ser credíveis, e com um distanciamento temporal enorme.
Lamento que só tenha visto as acusações do meu lado, ignorando, cerrando os olhos, às injúrias desse Shaka, e à sua arrogância (fui ler um pouco dos comentários e nota-se claramente que o senhor se acha um entendido, mais do que os outros, o dono da verdade, tecendo observações que apenas visam, como se ele conseguisse, coitado, diminuir-me seja lá no que for). Aliás, o senhor escreveu "perconceituoso". Acho que é um indício bastante bom.
Não me alongarei. Recomendo-lhe este livro que aborda a homossexualidade de D. Afonso VI: "Reis que Amaram como Rainhas", de Fernando Bruquetas de Castro. ;) Até lhe deixo o link - veja a minha má vontade consigo!
http://esferadoslivros.pt/livros.php?id_li=%20214
Passe bem!
Muito lhe agradeço o link. Porque haveria o Mark de ter má vontade comigo? Teço-lhe críticas, é verdade. Aceitar críticas é apenas saudável, há que ter discernimento e aceitação pelo facto de nem sempre agradarmos a todos. Nunca me passaria pela cabeça que tivesse má vontade comigo por criticá-lo, pelo que vejo é um amante do saber, e esse facto já me basta para manter conversação consigo. Manter conversas salutares importa conhecimento para todas as partes envolvidas. O que me desgosta em alguns dos seus argumentos é que personaliza as questões e assim perdemos todos. Eu gosto de ler o que escreve. Acredito que devemos ter todos uma atitude de receção e não de colonização do espírito alheio.
EliminarPermita-me corrigi-lo em algumas das considerações que faz relativamente ao meu comentário. Diz que eu tenho um problema. Que rejeito por completo a tese da homossexualidade de Afonso VI. Eu não tenho problema nenhum... Aliás, gosto imenso de discutir estes assuntos! E além de não ter problema nenhum, veja bem o que escrevi em cima: "eu tenho posto em hipótese a homossexualidade de Afonso VI".
Por isso, não veja radicalismo da minha parte, onde ele não existe. Como poderemos nós arrogar-nos a este conhecimento sobre factos íntimos e tão passados? Tal como Mark, eu tenho-me questionado sobre isto. Foi por isso que vim aqui parar ao seu blogue...
Quanto aos motivos para questionar a dita tese, são apenas os que refiro em cima. E aqui digo-lhe já: gosto do seu blogue, simpatizo com a sua escrita, mas se me acusar de homofobia, ofende-me muito e estou certa que não será essa a sua intenção e que, portanto nunca o fará. Para mim, a característica de homofobia é desprezível, ponto. Gostaria de mantermos uma conversa inteligente. Aliás, foi por ter feito isso relativamente ao dito Shaka que, a meu ver, esteve mal. E ainda bem que percebe isso, quando diz que foi seu erro aventar motivos. Estamos aqui apenas a cavacar sobre a orientação sexual do rei e ter dúvidas sobre ela, obviamente não faz dos opinadores homófobos.
Diz ainda o Mark que se eu tivesse conhecimentos. Porque não os tenho? É isso? Oiça, não sou especialista, não. Sei pouquinho. Por acaso sabia que o D. Pedro só foi rei depois da morte do irmão. E que a Maria de Sabóia era então conhecida por rainha-princesa, porque antes fora rainha e agora era só princesa, até à morte do seu ex-marido, altura em que passa o usar o titulo de rainha outra vez (3 mesitos, porque morre logo depois - não simpatizo nada com o que leio sobre ela).
Como "devo", "deveria" saber... Sou só uma interessada, não tenho dever de saber nada...
Se não personalizarmos as discussões elas são tão mais proveitosas... Podemos dedicar-nos só a falar das nossas ideias sem estar a recorrer a estes "o seu problema", "se tivesse conhecimentos" e "como deveria saber". Era sobre isso que eu estava justamente a criticá-lo na conversa com o Shaka. O Mark pode beneficiar-nos a todos, que aqui visitamos o blogue, se nos der a sua opinião, com o seu raciocínio claro, a sua lógica. E perde sempre que se deixa levar por fulanismos.
E sobre a resposta que me dá, de fundo, só tenho elogios a dar-lhe! Faz sentido, sim, que o irmão tivesse mantido algum pudor, apesar de tudo. Vou tentar ler esse livro. Pode ser que a minha biblioteca local o tenha!
Obrigada pela partilha e por se ter dado ao trabalho de me responder. Continuo com dificuldades em assinar isto, por os meus conhecimentos cibernáuticos também são limitados, então vai como anónimo - mas sou a Inês, hem?
Convido a visitarem o projecto Sintra Doom.
ResponderEliminarSintra Doom é um projecto artistico que interpreta lendas e narrativas da historia de portugal de um modo historicamente liberal e dramaticamente carregado.
"O TORMENDO DE D. AFONSO VI" é a narrativa actual.
Fica na vila de Sintra, rua Costa do Castelo nº1, traseiras do antigo Hotel Victor, 13h -18h, encerra ás quartas.
O espaço publico do projecto encerrou.
EliminarA narrativa encontra-se no site sintradoom.com
http://www.sintradoom.com/Site.PT_daf6.swf
Meu Deus, mais de um ano depois ainda se lembra do meu blogue e de que comentou aqui. Obrigado! Lol :D
EliminarEliminar
O que eu aprendo contigo acerca dos Reis Portugueses :D
ResponderEliminarAbraço amigo Mark e tem um excelente fim de semana
Ainda bem, Francisco. :D
Eliminarabraço grande e bom fim de semana. :)
Prováveis LGBTs na realeza de Portugal:
ResponderEliminarInfante D. Henrique, o Navegador (1394-1460) - Não, ele não usava chapeirão nem bigode. Nos Painéis de São Vicente (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Lagos40_kopie.jpg), é o cavaleiro corpulento ajoelhado, de túnica roxa, com ar de inglês, de mãos postas, segurando uma espada, em primeiro plano na 5ª tábua (a contar da esquerda) vd. http://paineis.org/A01.htm. Muito pio, como era uso na época, o atlético D. Henrique não foi para padre, mas nunca se casou ou teve namorada, e filhos claro que não gerou (adoptou um sobrinho a quem fez herdeiro). Aquando da conquista de Ceuta, espantou muito pai e irmãos, chorando baba e ranho pela morte um seu servidor e amigo intímo. Tanto assim, que passaram três meses sem cortar cabelo e barba e vestindo-se de luto carregado. A coisa atingiu tais proporções que a mãe do morto o repreendeu: «Ah, senhor, que é lá isto? Que é feito da vossa real virtude, da vossa dignidade e juventude, para assim carpirdes que nem mulher? Isto é muito pouco próprio.» O Infante criou um fundo para que fossem rezadas missas perpétuas pela alma do amigo. O irmão D. Duarte chegou a adverti-lo para que "não desse mais prazer aos homens para lá do que se deva fazer de forma virtuosa."
Depois do desastre de Tânger (em que ficou cativo D. Fernando, o Infante Santo - também virgem de mulher...), desgostoso exilou-se em Lagos, no Algarve. Rodeado de inúmeros, atentos e leais escudeiros, criados desde moços na sua câmara, a quem gostava muito de agradar e a quem trazia sempre bem vestidos, o Infante dedicou-se de alma e coração ao comércio de escravos e à exploração náutica "proxy". O investigador Harold B. Johnson dedicou-lhe um estudo esclarecedor, "A question Jaime Cortesão never dared to ask: might Prince Henry 'The Navigator' have been gay?" http://people.virginia.edu/~hbj8n/question.pdf
D. Pedro I, o Cruel (1320-1367) - Apesar de confirmado pândego e mulherengo (além de gago e epiléptico), o apaixonado de Inês de Castro, não deixava de ter um fraco por rapazes. Assim o disse Fernão Lopes na sua crónica, quando descreveu o atroz castigo a que este rei, comprovadamente sádico, sujeitou um dos seus escudeiros. Reza a crónica que «em esta sesão vivia com el-rei um bom escudeiro, e para muito, mancebo, e homem de prole, e n'aquelle tempo estremado em assignadas bondades, grande justador e cavalgador, grande monteiro e caçador, luctador e travador de grandes ligeirices, e de todas as manhas que se a bons homens requerem, — chamado por nome Affonso Madeira,— por a qual rasão o el-rei amava muito e lhe fazia bem gradas mercês.» Este enérgico e vivaço Afonso Madeira apaixonou-se por Catarina Tosse, mulher boazona de um corregedor, que acabou por cortejar e seduzir. Quando o rei soube disto foi aos arames e «como quer que el-rei o muito amasse, mais que se deve aqui de dizer, posta de parte toda bemquerença, mandou-o tomar dentro em sua camara, e mandou-lhe cortar aquelles membros que os homens em mór preço tem: de guisa que não ficou carne até aos ossos, que tudo não fosse corto. E pensaram Affonso Madeira, e guareceu, e engrossou em pernas e corpo, e viveu alguns annos engelhado do rosto e sem barbas, e morreu depois de sua natural morte.» Ou seja, o enciumado monarca, cortou rente a genitália do favorito que ficou a falar fininho...
Infanta D. Maria (1521-1577) - Filha de D. Manuel I, alcunhada de "Minerva Portuguesa", muito bonita e rica, vivia sempre rodeada de damas, dedicando-se às artes e letras, tendo criado uma espécie de "universidade feminina". Recusou sempre os casamentos que lhe eram propostos, morrendo solteira e sem filhos. Humm...
Prováveis LGBTs na realeza de Portugal - 2
ResponderEliminarD. Sebastião I (1554-1578) - O retrato mostra-nos um jovem de aspecto algo efeminado: lourinho, a boca muito pequena e carnuda, o rosto bochechudo de feições infantis. O órfão D. Sebastião foi criado debaixo das saias da avó Catarina e dos irmãos Câmara, dois beatos jesuítas, um deles, Luís, com um historial pouco recomendável. Ao que parece, contava o príncipe 10 anos começou a sofrer de um persistente corrimento uretral, que actualmente encaixaria perfeitamente no diagnóstico de gonorreia. Passado algum tempo o padre Câmara foi afastado e o aio Menezes advertiu a rainha Catarina que o padre era uma má influência, pois era alguém que já conhecia a "natureza" física do príncipe e que depressa o controlaria mentalmente. Ou seja, o padre entrou em intimidades com o rapaz e infectou-o com um esquentamento. O rei cresceu com alguma fortaleza, mas sofrendo sempre de estranhos achaques, fruto da tal infecção. Mulheres nem vê-las, misógino patente que era, ficava horrorizado quando lhe falavam em casamento e rejeitava todas as noivas. Dava misteriosos passeios nocturnos pelas matas de Sintra ou à beira Tejo. Um dia, foram encontrá-lo no meio da mata agarrado a um escravo negro fugitivo, tendo então contado a estranha história de que lhe saltara em cima julgando tratar-se de um javali... Criado num ambiente beato e alucinado com fantasias de cavalaria serôdia, senhor de um temperamento irascível, quezilento e inclemente (mandava enforcar por qualquer pecadilho) foi um D. Quixote sem Dulcineia que foi explodir no desastre suicida de Alcácer Quibir, atirando o país para a mão do rei de Espanha. Harold B. Johnson também o investigou no artigo "A Pedophile in the Palace: or The Sexual Abuse of King Sebastian of Portugal (1554-1578) and its Consequences" http://people.virginia.edu/~hbj8n/pedophile.pdf
Afonso VI (1643-1683) - Um retrato da autoria de Domenico Duprà, existente no Palácio de Vila Viçosa, mostra-nos um jovem Afonso bonito, tão bonito que parece uma rapariga vestida de rapaz. Seria assim o príncipe, ou simples lisonja pictórica? O certo é que o príncipe foi um desafortunado. Atingido na infância por provável meningite que o deixaria física e mentalmente diminuído para o resto da vida. Quis o azar que morresse o primogénito Teodósio e lhe calhasse o pesado encargo de herdeiro do trono português, para o qual estava completamente incapacitado. Estouvado e irresponsável, depressa se tornou presa da rapaziada do quarteirão real (os mitras/gunas da época), não tardando a juntar-se-lhes nos bandos de desordeiros nocturnos, percorrendo as ruas de Lisboa e praticando todo o tipo de patifarias e deboches. Um astuto vendedor italiano, chamado Conti, aproveitou a deixa e aproximou-se do estouvado príncipe, tornando-se depressa seu favorito e íntimo no palácio, indo lá dormir para escândalo geral. Apesar de notoriamente incapaz, fizeram Afonso noivo de uma princesa francesa, Maria Francisca de Sabóia. Celebrado o matrimónio, a jovem rainha não perdeu tempo a denunciar a impotência do rei e a pedir a anulação do casamento, nisso apoiada pelo cunhado Pedro, que depressa a tomaria por amante. Incapaz de garantir sucessão, foi levantado um humilhante processo ao rei, em que, chamadas a testemunhar, várias mulheres que tinham tido intimidade com Afonso informaram o tribunal de que o rei era impotente e um ejaculador precoce, incapaz de realizar coito que se visse (ou sentisse). Anulado o casamento, o rei foi destituído e exilado para a ilha Terceira e o irmão Pedro casou com a cunhada, subindo ele ao trono. Sempre prisioneiro e sempre agressivo, Afonso viria a morrer em Sintra, aos 40 anos, de um AVC.
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ResponderEliminarD. João VI (1767-1826) - Feio, barrigudo, pernicurto, boquiaberto, comilão, notoriamente linfático e melancólico, D. João mais parecia um tasqueiro apatetado do que um príncipe. Timorato, algo beato, detestava o exercício físico, gostando de música sacra e de ler. No fundo, era um pachorrento e capaz de gestos magnânimos, e passou para a História como sendo um bom rei com habilidade política. Aos 18 anos casaram-no com uma filha de Carlos IV de Espanha, a muito feia Carlota Joaquina que só contava 10 anos (como muitos dos Bourbons, sofria de um acentuado prognatismo, a mandíbula saliente, dando-lhe um fácies de aspecto embirrento e inspirando antipatia instantânea a quem a olhasse). O casamento só se consumou passados 5 anos, ainda não tinha Carlota 15 anos. Algumas cartas publicadas, mostram Carlota muito desejosa de agradar ao marido, contudo reza a história que ela lhe fazia a vida negra, humilhando-o publicamente com insultos e impropérios, vivendo separados. Também se diz que o corneava desavergonhadamente e que a maioria dos infantes não eram filhos do rei. Aos 25 anos o rei teria tido um caso com uma dama da corte, de que teria havido uma filha, que foi nascer a Espanha. Exilados no Brasil, o inferno conjugal continuou, tendo a irrequieta Carlota conspirado por várias vezes para depor o marido. Conta o historiador brasileiro Tobias Monteiro que o rei era masturbado pelo seu favorito, o Tenente General Francisco Rufino de Souza Lobato. E acrescenta que ao ser surpreendido em flagrante pelo Padre Miguel, capelão da Fazenda de Santa Cruz, foi este prontamente exilado para Angola, sem no entanto ter deixado de divulgar a história. Francisco Rufino, além da patente militar, teve carreira bem sucedida: de simples criado íntimo do rei, foi elevado a Barão e Visconde de Vila Nova da Rainha, e era pessoa de maior confiança do monarca: era seu guarda-roupa, porteiro da Real Câmara, encarregado do manto real, tesoureiro do bolsinho, guarda de suas jóias e tapeçarias, etc. Regressados a Portugal em 1821, o casal continuou a degladiar-se, sendo o rei constitucionalista e a rainha uma acérrima absolutista. O rei acabou por morrer misteriosamente em 1826. Examinadas as vísceras em 2000, nelas foi detectado arsénico suficiente para matar quatro pessoas. Teria havido mão da Carlota?