Estes dias para mim são aborrecidos. Sinto falta das aulas e da azáfama do estudo. Contrariamente à maioria dos estudantes, eu gosto de estudar. Gosto muito, por vezes mais do que devia. Apesar de não estudar em demasia, preocupo-me com as aulas, sou metódico, super organizado e estudo, sim, é um facto. No entanto, recompensa sempre. As notas são um importante estímulo.
Estas mini-férias não foram más, de todo. Ajudaram-me a descansar. Apesar de gostar das aulas, como referi no parágrafo acima, confesso que ando exausto. Este ano é o ano decisivo. Exames Nacionais implicam um estudo acrescido. Mas, mesmo estando de férias, existem trabalhos a fazer, estudo, etc. Na sexta e no sábado não estudei nada (o lanche e a festa). Estudei no domingo, ontem e hoje saí. Fui almoçar fora com a mãe, a Só e a avó. Almoço carnavalesco. Depois, ainda saímos a um lugar para nos distrairmos um pouco, mas o mau tempo imperou de vez. A Só fantasiou-se de freira (irónico...); eu e a mãe apenas pintámos as caras, a avó nem isso, mas participou. Nem deu para brincarmos porque a chuva não deixou. Mas, mesmo assim, valeu a pena. Tenho o maior orgulho na avó, na mãe e na Só. A avó pelo seu espírito aberto, apesar de nunca a ter visto perder a postura, a sensatez e a elegância; a mãe, porque é uma senhora, embora jovial e dinâmica e a Só porque me completa. Somos dois pratos da mesma balança: eu, coerente e metódico; ela, aluada e incorrigível.
De tarde fomos a casa da avó. Enquanto a Só brincava com o gato, a mãe bebia o seu digestivo e eu estava à janela, talvez tentando abstrair-me do ruído que elas provocavam com as suas conversas. Num dado momento, observei uma senhora. Estava acompanhada por um menino. Apesar de estar distante, vi nitidamente que envergava umas roupas simples e sujas. Subiu a rua. Quase impelido por um impulso, desci as escadas, abri a porta, depois o portão da entrada e também subi a rua. Segui-os por algum tempo, atravessando umas ruas. Até que vi algo que me chocou: a senhora estava a remexer nuns caixotes de lixo, junto com o menino. Retirava pão de um saco que estava depositado no caixote, colocando-o dentro de um outro saco que trazia. Ao aperceber-se da minha presença, ficou constrangida. O menino tinha um ar faminto e sujo. Apercebi-me, pelos seus traços físicos, que não era portuguesa. Balbuciou umas palavras, provavelmente na sua língua, agarrou na mão do menino e seguiu o seu caminho, em passo rápido. Regressei a casa. Naturalmente, tive de dar um monte de explicações, mas acabei por contar a verdade. A avó não ficou espantada, porque naquela zona, habitualmente, aparecem pessoas a pedirem dinheiro ou comer. Como é uma zona considerada nobre, as hipóteses de conseguirem alguma coisa são maiores.
Fiquei surpreso. Foi uma constatação com um mundo com o qual não estou habituado a lidar. Não vejo nenhum motivo válido que justifique tamanhas assimetrias sociais.
Há fome em Portugal. Fome desavergonhada, que aparece aos olhos dos nossos governantes, sabendo que persistirá ao tempo.
Ainda acredito num mundo melhor.
O teu blog começa a afirmar-se como das "coisas" mais promissoras que apareceram na blogosfera, nos últimos tempos.
ResponderEliminarÉ um conjunto de textos muito pessoais, mas que são acompanhados de observações complementares da forma como vês a vida e determinadas realidades quer culturais quer sociais.
E sabes utilizar as palavras, sem cair naquela banalidade do habitual discurso da juventude de hoje, que eu não condeno de forma alguma, mas que é mais próprio de um tratamento oral entre vocês do que para ser utilizado na escrita, particularmente quando se quer relatar assuntos que não implicam esse uso.
Parabéns sinceros.
Abraço.
(...) sem palavras, Pinguim..
ResponderEliminarMuito obrigado pelas tuas palavras.
Fome sempre existiu e vai continuar a existir. Não é preciso serem estrangeiros, se fizeres uma incursão pelo o interior de Portugal irás encontrar muitos idosos e não só a passarem fome.
ResponderEliminarEnquanto existirem governos corruptos e corruptores, este mal é acompanhante do povo da classe baixa. Muitas vezes renegamos o comer que temos no prato e afinal não muito longe de nós poderá estar alguém que daria tudo para comer aquele resto que deixamos...