22 de fevereiro de 2017

Jackie.


   Quando soube que o filme iria estrear, decidi-me no imediato a vê-lo. Os Kennedy sempre exerceram em mim um enorme fascínio, pelo glamour, o mediatismo, o fatalismo, e pela atenção que despertaram. Já sabia, entretanto, sobre que capítulos, por assim dizer, incidiria. A morte de John seria um deles. Aliás, atrever-me-ia a dizer que Jacqueline Kennedy não existe sem John Fitzgerald Kennedy. Aquele casamento, o assassinato e o pouco tempo que estiveram na Casa Branca tornaram-nos num mito. Os estadunidenses precisam de referências históricas, e os Kennedy funcionavam bem como uma família real. Jackie foi das mais novas inquilinas da Casa Branca, aparentava ser feliz com o marido e os filhos. Uma vida de casal abruptamente interrompida.

     O filme. Não tenho muito de positivo a elogiar. É bastante aborrecido. Está centrado na conversa que Jackie tem com um jornalista, na qual relata as suas memórias do trágico acontecimento que vitimou John, em Dallas. Pelo meio, assistimos aos seus momentos iniciais enquanto primeira-dama, em que se sente visivelmente desconfortável. O filme é um exercício de retrospectiva, de memória.
     Jacqueline foi, a julgar pela interpretação de Natalie Portman - sublime, diga-se - uma mulher vaidosa, fútil, insegura, que treinava o seu papel à exaustão, cujos sorrisos eram superficiais, sem expressividade. Ganhou uma coragem titânica quando John é alvejado. Vê-se obrigada a tomar as rédeas de uma cerimónia de despedida, que julga merecida, a um presidente que mal o chegou a ser. Soube impor a sua vontade, soube comportar-se condignamente - e até hoje é relembrada pela sua postura determinada nesses tenebrosos dias. Natalie Portman esteve irrepreensível enquanto Jacqueline Kennedy. Se arrecadar a estatueta de melhor actriz, será inteiramente merecida.

      A história peca por falta de dinâmica, por falta de alguma objectividade, por se repetir incessantemente. Foi um risco que o realizador correu, e é um risco compreensível, e assumido, num filme que foca uma única personagem. Tudo em Jacqueline, por aqueles dias, é explorado: a roupa, os cigarros, o comportamento errático, a desilusão, a percepção de que não mais era a mulher do presidente, vendo-se obrigada a ceder o seu lugar. A fórmula Kennedy teria tudo para vingar, mas nem Natalie Portman conseguiu o milagre de tornar o filme atractivo e estimulante.

      Para terminar, gostei de uma frase que Jackie profere durante a entrevista: « Nunca nada foi meu, não de modo definitivo. » Por questões pessoais, que claramente não irei explorar, identifico-me sobremodo. Creio que, só para ser confrontado com a minha fragilidade, valeu a pena ver o filme.

10 comentários:

  1. Estou a gostar bastante destes teus posts cinéfilos. Ainda não fui ao cinema uma única vez este ano, embora esteja a ver bastantes filmes em casa. Tenho tomado nota dos filmes que tens visto e apreciado, para um destes dias ver também. Uma coisa que tenho apreciado em filmes de época é como as actrizes ficam mesmo bonitas com aquelas roupas. Adoro a Cate Blanchet no "Carol", muito pelo penteado e as roupas. ;)

    Abraço.

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    1. Tomei-lhe o gosto. Agora não quero outra coisa. Ah, e descobri que o 'Manchester by the Sea' ainda está em cartaz no UCI. Já sabes o que te espera. :) (risos)

      O 'Carol' andou nos TVCine. Não vi. Ainda.

      um abraço, e obrigado.

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  2. O cinema quando se mete a reproduzir biografias nem sempre se mostra feliz ... fato ... poucos assisti que merecessem aplausos ...

    Beijão

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    1. Exacto. Bem, a Natalie esteve à altura.

      um abraço, amigo.

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  3. Confesso que não tenho vontade nenhuma de o ir ver

    Abraço amigo

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  4. Olá Mark,
    também vi o filme e também me desiludi.
    Como tu achei-o aborrecido.
    Mas adoro ler os teus comentários.
    Vamos ter mais 'Mark o cinéfilo'?
    Assim espero.
    Um forte abraço
    P.

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    1. Bom, acabei de publicar mais uma review cinematográfica.

      Hmm, não sei. Creio que começa a ser enfadonho. :) Eu continuarei a ir ao cinema, não sei é se falarei sobre isso desta forma.

      Muito obrigado, P. Vou considerar o teu comentário. :)

      um abraço enorme.

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  5. é um filme que vale pela Natalie Portman. Feito para ela, e feito por ela.

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