15 de fevereiro de 2017

Moonlight.


   Como a vida altera todas as certezas. Dei numa de cinéfilo. Em quatro publicações consecutivas, três dizem respeito às minhas estreias cinematográficas. No Dia de São Valentim, e antes que julguem que fui acompanhado (que fui, em verdade, na minha companhia), decidi assistir ao Moonlight, o derradeiro filme que suscitou o meu interesse numa fase posterior (quero ver o Jackie, que já circula pelas salas).

    Se Silence nos reporta a uma realidade que não é contemporânea, se La La Land é um musical que nos leva a um mundo de fantasia, Moonlight mostra-nos a vida tal qual ela é, crua, dura, sofrida. Acompanhamos três fases de Chiron, Little, Black, desde a infância, passando pela adolescência e terminando enquanto jovem adulto. Sem querer desvendar o conteúdo do filme, as vivências de Chiron confundem-se com as de milhões de jovens: a disfuncionalidade, a ambiguidade, as primeiras descobertas, os assomos de violência juvenil... Não há, em si, uma inovação. O filme é bom, é, mas não é um inédito. Há temas que são caros a Hollywood. O universo da desagregação dos lares e dos valores é um deles.

    Moonlight é uma história trágica, sem adornos e delongas. É a procura do eu, de uma identidade, de uma trajectória, entre o caos, o interior e o provocado. O que a torna particularmente interessante prende-se às personagens envolvidas, ao submundo que as rodeia e às suas idiossincrasias, e a uma sexualidade que nos chega através de terceiros, num primeiro momento, mas que não senti que fosse o drama na vida de Chiron, não o maior dos que o acometeram até se tornar homem. Gostei do traço de candura que o envolve desde pequeno, o que se verifica designadamente no final, que, em suma, conjuga a percepção de que não se superou, quando confrontado com as suas escolhas, e a ânsia por um conforto qualquer, um abrigo.

     Não pude assistir a todos os nomeados ao Oscar de Melhor Filme; sei, entretanto, que La La Land  é o grande favorito. A Academia tem certa tendência por argumentos que propaguem uma mensagem positiva, seja ela qual for. Moonlight não tem diálogos de ouro ou cenários idílicos; é um filme de negros, dos recônditos sinistros daquela América que não convém conhecer, e deixa-nos no incerto.
      Para repetir.


18 comentários:

  1. Gostei do filme, muito.
    E gosto tanto de ler o que tu escreves.
    Um forte abraço
    P.

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    1. Também gostei muito do filme.

      Obrigado, P. Sabes, não quis ler o artigo que me passaste. Quando opto por ver um filme, procuro saber o menos possível. Neste, no 'Moonlight', fui surpreendido. Jamais poderia imaginar aquele desenvolvimento na praia...

      um abraço grande.

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  2. Gostei muito deste filme e sua resenha ficou portentosa. Parabéns ...

    Beijão

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  3. Gostei muito do filme. Achei-o raro, precioso, delicado

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    1. Eu também, e os actores saíram-se bem, sobretudo Mahershala Ali.

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  4. Não gostei da parte de ires sozinho, poderias ter convidado :P

    ehehehehhehehehehehe

    Fiquei curioso

    Grande abraço amigo

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    1. Eu quis passar o dia sozinho. :)

      Vai ver, que estou seguro de que gostarás.

      um grande abraço.

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  5. gostei muito, tanto como o Manchester by the sea, com a devidas diferenças.
    bjs.

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    1. Ah, também viste? :) Tenho de ver se arranjo maneira de ver esse.

      um beijinho.

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  6. Ainda não vi, mas se já vontade tinha de o ver, depois de te ler, mais vontade fiquei! ^^

    E que bom descobrires os prazeres de ver filmes! ;)

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    1. Ainda bem. :)

      Pois é, e daqui a uns dias vou de novo. :)

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  7. Este ainda não vi e tenho curiosidade no mesmo. A critica do Mark fez crescer a vontade de o visualizar ainda no cinema.

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  8. Oi!
    O La La qualquer-coisa não me entusiasma mas, este, sim! =)
    Beijinhos e porta-te mal!! ;)

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    1. Oh, e até sei o motivo que te leva a gostar deste. :)

      um abraço!

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  9. Respostas
    1. Depois diz o que achaste, nem que seja por aqui mesmo, num comentário. :)

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