21 de março de 2016

A queda de um anjo.


    A recente crise política no Brasil ultrapassou as suas fronteiras, recebendo Portugal as ondas de impacto; pelos laços históricos que nos unem à Terra de Vera-Cruz e pelas alegadas implicações da Operação Lava Jato com um processo que decorre actualmente na justiça portuguesa, a Operação Marquês.

   Lula da Silva, um dos inúmeros nomes envolvidos nestes mega processos judiciais, vê-se confrontado com a indignação dos seus opositores e com o apoio velado de quem acredita que tudo não passa de uma perseguição política àquele que foi um líder incontestável no Brasil. Lula, com o PT, e durante os anos dos seus mandatos, ajudou a construir uma classe média até então inexistente; com os programas "Bolsa Família" e "Fome Zero", milhões de brasileiros puderam estudar, saciar a fome crónica que teimava em colocar o país nos números cimeiros de todas as listas de desigualdades sociais. Em suma, Lula da Silva foi o obreiro de um país mais justo, mais humano, mais igualitário. Dilma, sua sucessora, seguiu os seus planos, não possuindo, todavia, o carisma do ex-Presidente.

    De modo a escapar à investigação judicial e a uma possível detenção ou até mesmo prisão preventiva, Dilma pôs à disposição de Lula um cargo ministerial, e Lula aceitou-o. Sendo ministro, Lula responderia tão-só perante o Supremo Tribunal Federal. Na prática, ganharia uma quase imunidade, em virtude de escapar à alçada do juiz Sérgio Moro, tido como implacável e que tem em mãos este processo que visa também Lula. Dos onze juízes que compõem o STF, oito foram nomeados por Lula e por Dilma. A promiscuidade avizinhava-se.
     Qualquer cidadão cumpridor, honesto, com a sua consciência tranquila, pelo contrário, colaboraria com a justiça, sem temê-la e sem receios. Já diz o povo: «Quem não deve, não teme». Lula, com a sua atitude, encorajou as vozes críticas, quase que se incriminando. Se tanto, deu azo a que incrementasse a desconfiança que paira sobre si.

   O que se seguiu foi todo um espectáculo degradante que humilha o Brasil. Acções e providências cautelares infindáveis por um lado, pronunciamentos favoráveis dos magistrados por outro, até que o Supremo Tribunal Federal se decidiu, e bem, a meu ver, pela suspensão de Lula da Silva, que poderá, entretanto, recorrer ao plenário do Supremo. Ao que a imprensa veicula, o STF pronunciar-se-á definitivamente no final deste mês. Inocente ou culpado daquilo de que o acusam, não é digno, seja em que democracia for, que um suspeito da prática de um crime exerça qualquer cargo político. Diz-nos o bom senso. O mesmo bom senso que não orientou correctamente Lula. 

     Há quem fale em politização judicial. A independência de alguns magistrados ligados ao processo tem vindo a ser questionada, nomeadamente de Moro e dos juízes envolvidos nas decisões sobre a suspensão ou não do mandato de Lula enquanto ministro do governo de Dilma Rousseff - sobre quem há muito recai um descontentamento generalizado, pedindo-se o impeachment da "Presidenta". Um caso longe de ser pacífico, arrastando o nome do Brasil para as páginas dos jornais de todo o mundo.

     O risco que os intervenientes correm é notório: Lula pode perder todo o prestígio que conquistou com o seu legado. De bestial, passar a besta, manchando o seu nome na história, em particular na história do Brasil; Dilma seguir-lhe-á os passos, com a agravante de poder vir a ser destituída. O que me preocupa mais, devo dizer, é o risco que o Brasil corre, de descrédito, de estar na mira de todos os organismos internacionais, incluindo aqui a imprensa - que já vai estando. O povo brasileiro não o merece, não depois de tantas décadas de exploração e de sacrifício. Um país que ultrapassou a crise, cuja economia crescia, catapultando-o para o lugar mais que devido de potência. O «impávido colosso» que agoniza com o que lhe têm feito, com a corrupção que se propaga pelos seus alicerces e os corrói, impedindo-o de lograr «a grandeza» vitoriosa que evoca o seu belíssimo hino.

       Que tudo não vá além de um sonho ruim para a querida Nação-irmã.

26 comentários:

  1. o penúltimo parágrafo resume tudo.
    o povo não merece.
    bjs.

    ps: tenho curiosidade em ler alguns comentários de teus leitores brasileiros; como estarão a lidar com esta situação.

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    1. Partilho dessa curiosidade. Tenho conversado com um amigo brasileiro e, efectivamente, este caso atingiu um mediatismo ímpar, também pelas personalidades que estão envolvidas. Lula era quase intocável.

      um beijinho.

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    2. fui procurar o Calisto Elói, mas o livro do CCB está em casa da minha mãe, ainda...

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    3. Quando escolhi o título, nem me lembrei disso. Pensei realmente num anjo caído, como Satanás o foi, segundo o Cristianismo.

      Lula era tido como um herói, e está a cair em desgraça.

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  2. estive a dar uma vista de olhos pelos seus textos e 90% deles são de cariz histórico. e o que é k não é histórico, pode perguntar-se...

    este seu texto sobre o Brasil, é descritivo e elucidativo, mas o título dá-lhe toda a graça. a História não é uma ciência exata, como sabe, e portanto, os factos, até os orais, são ou podem ter diversas interpretações.

    é estudante de História, eu já fui, e continue a escrever, aconselho, até pke o seu português é bastante escorreito, e todos os dias, nós, o mundo faz História.

    estou a escrever com a mão esquerda, daí a falta de alguns acentos e letras maiúsculas. a outra foi intervencionada.

    dias felizes e com aventuras, Mark, já agora...

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    1. Olá, Céu.

      Muito bem-vinda. :)

      É verdade. Eu gosto imenso de História. Volta e meia, faço uma publicação histórica. Será uma eterna paixão.

      A História é tudo menos exacta, correctíssimo. :) Nós somos os seus intérpretes. Qualquer facto histórico é alvo de interpretações díspares.

      Não, não sou estudante de História. Licenciar-me em História está nos meus planos, sabe, mas talvez no ocaso da minha vida. Sou jurista de formação.

      Oh, não se preocupe. O seu comentário está perfeito. :)

      Muito obrigado pela sua agradável visita, Céu, e também pelas suas atenciosas palavras.

      As melhoras! :)

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    2. agradeço a calorosa e afável receção.

      fiz a afirmação de k o Mark era estudante de História, pke no seu perfil, refere na ocupação, estudante, e depois devo ter olhado para baixo, última linha, e só vi a palavra História. isto significa, k me foge o pé pra dança, entre aspas.

      mto obrigada... dias luminosos.

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    3. Sim, História surge, e surgirá sempre, como um dos meus interesses. :)

      Para a Céu também.

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  3. Vamos ver os próximos desenvolvimentos... Infelizmente não me parece que sejam favoráveis ao Povo Brasileiro. Onde há fumo, há fogo e quem não deve, não teme...

    Grande abraço amigo

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    1. Lula, se inocente, faria melhor se colaborasse com a justiça. O que nos dá a entender é que receia algum desenvolvimento. De duas, uma: ou é culpado ou não confia na justiça brasileira. Não há outra explicação plausível que justifique esta sua nomeação para o governo, justamente agora.

      um grande abraço.

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  4. Pois acredito que seja ambas eheheheheeheheheh

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  5. A politização do judiciário é clara, tanto por favoráveis a Lula quanto por não favoráveis. Se a justiça é cega, neste caso não está sendo. Acusados de crimes públicos não poderem assumir cargos públicos não se aplica ao Brasil. Isso é uma piada normalizada e internalizada em nossas mentes. O parlamento está repleto destes, protegidos pelo foro privilegiado.
    Algo que você não saiba ou talvez tenha esquecido de mencionar é o papel dos conglomerados midiáticos no desenrolar desta história, eles possuem muito poder e principalmente lado, pois blindam de todas as formas o candidato derrotado na última eleição presidencial. O mesmo é acusado de diversos crimes e citados inúmeras vezes em delações resultantes da operação lava-jato, fora os crimes de improbidade administrativa cometidos durante seus 8 anos à frente do governo do estado de Minas Gerais, além de sucatear o funcionalismo público do estado. Nesses oitos anos, parece ter governado unicamente a capital do estado. Temos um presidente da Câmara dos deputados acusado de diversos crimes que pensa ser primeiro ministro de uma república parlamentarista. Desde o fim da última eleição esse senhor impede a presidente de governar
    Nessa "batalha" não há bandidos e mocinhos, todos são vilões ávidos por poder, seja lá qual for intenção para com este. Fico admirado com a força que a presidente do Brasil demonstra e sua resistência diante destes acontecimentos. Resistiu duramente à ditadura, tem cicatrizes em seu corpo, talvez daí venha a força que tem demonstrado. É de conhecimento de todos que não é uma boa governante, mas nada justifica até o presente momento destitui-la de seu cargo. Foi eleita democraticamente. O mais importante neste momento para o Brasil é proteger a sua jovem democracia, golpeada num passado recente, para que não caía mais em descredito perante o resto do mundo. A destituição da presidente não traria benefícios positivos, apenas negativos, pois não somos uma ilha isolada do mundo, tomada pelo anacronismo histórico e incapaz de ver além como muitos brasileiros pensam estarem vivendo.
    Talvez a indicação do ex-presidente ao cargo de ministro seja para protege-lo de um juiz politizado ou talvez por ele ser culpado de algo. Como saberemos diante deste cenário?

    Honestamente, não sei em quem confiar, a justiça é politizada, a mídia não cumpre seu papel de informar, mas toma as vestes da justiça e julga criando factoides e figuras heroicas como a do juiz Sérgio Moro, alguns meses atrás era um ministro aposentado do supremo era o herói da nação criado pela mesma mídia que cria Neyamars e Peles.
    Além de um fenômeno novo, a reprodução desvairada de conteúdo sem veracidade em redes sociais, que dá a muitos brasileiros a falsa sensação de juízes, quando na verdade, comportam-se como meros papagaios-de-pirata. Sinto-me um fantoche e desiludido enquanto cidadão do país que nasci.

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    1. Olá, Dominus.

      Obrigado pelo contributo. É sempre importante receber o feedback na primeira pessoa, no caso de um brasileiro.

      Eu considero que um suspeito da prática de um crime não deve exercer qualquer cargo político. Não deve. Vai depender de cada ordenamento jurídico se pode ou não. Por um imperativo de consciência, não deve. Sendo um inocente acusado injustamente, o melhor que tem a fazer é esperar que os órgãos judiciais apurem toda a verdade.

      Eu sei do poder da Comunicação Social, o que não sucede apenas no Brasil. Aqui em Portugal é igual, e acredito que seja assim um pouco por todo o mundo. Não mencionei porque considero que a Comunicação Social, não obstante todas as críticas que lhe possamos fazer, desempenha um papel fundamental na denúncia destes casos de corrupção. Mal seria se a imprensa não existisse ou se não pudesse ser livre de esclarecer os cidadãos. Também sei que Lula sempre foi alvo das críticas da imprensa, bem como Dilma. Sei que a imprensa não tem sido branda para com o PT. Talvez tenha motivos para isso. Não sei.

      Como venho dizendo, os méritos de Lula e de Dilma ninguém esquece ou elimina da História. Todavia, se realmente são culpados dos crimes de que os acusam, devem responder como qualquer outro cidadão. Se isso implicar, no caso da Presidente, a destituição do seu cargo, pois bem, que implique. A sua legitimidade democrática não sana os crimes que possa vir a cometer. Posso dizer-lhe que, em Portugal, o Presidente responde pelos crimes praticados no exercício das suas funções, podendo, no limite, ser destituído.

      A evidência de ter sido uma resistente nos tempos da ditadura militar brasileira também não lhe confere qualquer tipo de impunidade. É de louvar, sim, mas não a torna irresponsável e inviolável. Eu considero que, sim, seria a evitar o impeachment. Não traria nada de bom à imagem do Brasil no palco internacional, no entanto, se for realmente imperioso, o Brasil terá de se conformar. Não seria um facto inédito. Collor de Melo, na histórica recente do Brasil, resignou ao cargo após um processo aprovado de destituição.

      É difícil chegar à verdade. Temos informação vinda de todos os lados. Pode dar-se o caso de Dilma tentar proteger Lula da politização, o que, confirmando-se, seria igualmente terrível para o Brasil: a sua Presidente não confiaria no sistema judicial do país. Haveria uma descredibilização total das instituições. Ou seja, de uma ou de outra forma, o Brasil sairá sempre amargurado de todo este processo.

      O melhor, a meu ver, seria respeitar a divisão de poderes. O nome de Dilma Rousseff e do seu governo nunca deveria surgir associado a um processo judicial. Isso compromete a imagem da democracia brasileira perante o exterior. O Executivo imiscui-se em competências do Judicial, que ele próprio é alvo de desconfianças de politização. Resta o descrédito.

      É bastante preocupante, sim. Você tem mais do que motivos para estar apreensivo. Eu próprio, que sou um estrangeiro, lamento pelo povo brasileiro.

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    2. Os princípios de consciência que você cita, infelizmente não fazem parte da nossa realidade. Eu queria e desejo que venha fazer parte um dia.

      A mídia no Brasil comporta-se de maneira diferente do restante do mundo. Uma emissora consegue deter 70% do mercado publicitário, alcança 99% do território nacional e possui poder de influência não observado em nenhum outro país do mundo. Suas matérias têm enfoque "terrorista", intercalam entre um cenário de crise econômica assustadora e denúncias de corrupção que enfocam quase unicamente o PT, quando os investigados pela lava-jato provém de diversos partidos. A mesma emissora não informa que existem uma crise econômica global que se arrasta desde 2008 e agora atinge o Brasil. Não informa da desaceleração da economia chinesa que atinge diretamente o Brasil, pois é seu principal parceiro comercial. Não informa que a indústria está passando pela sua quarta transformação, que tem como consequência demissões em massa em virtude da robotização de linhas de produção, apenas fica em seus quadros profissionais com capacitação e longos anos de experiência. Moro próximo a uma montadora de automóveis, sua próxima camionete tem fila de espera para ser comprada. Observando isso, eu me pergunto: Quê crise econômica assustadora o Brasil vive? Vivemos um cenário de baixa arrecadação de impostos provocado pelo redução do consumo e incapacidade do governo de gerir as contas públicas e a alta da inflação, mas que não se compara a cenários do passado onde um produto sofria modificações em seu preço diversas vezes ao dia. A mesma emissora não informa e dá destaque a um recente esquema de corrupção envolvendo o governo do estado de São Paulo no desvio de verbas destinadas à merenda escolar, porque o partido que governa este estado (PSDB) é apoiado pela emissora que cito. A minha crítica incisiva sobre mídia é pela lógica dos dois pesos duas medidas que usa para noticiar esquemas de corrupção envolvendo agentes públicos.


      Sou completamente consciente das implicações da nomeação de Lula como ministro e das consequências que tal nomeações suscitou e pode suscitar. Em meses de investigação não foi acusado de nenhum crime, não se negou em nenhum momento a prestar esclarecimentos as autoridades que o investigam. Não acho ético, tampouco concordo com sua nomeação, mas num cenário com a justiça sem venda, tal nomeação pode ser “aceita”, embora indigesta.

      Os fatores que movem manifestações pró-impeachment não são apenas a indignação pela corrupção, mas também as políticas sociais e leis aprovadas pelos governos petistas que incomodam essa classe média que se veste de verde-amarelo e que vai as ruas exibir impropérios e dar voz a fascistas e saudosistas da ditadura militar. Dou exemplo através de uma lei que estende todos os direitos trabalhistas que os demais trabalhadores detêm há anos para empregadas domésticas. Essa lei rompe com um sistema hereditário das mucamas da casa-grande-senzala; mãe empregada doméstica, filha empregada doméstica. Não é tão barato mais ter uma empregada. Muitos perderam suas “escravas domésticas” e se vestem de verde-amarelo e vão às ruas gritar em protesto porque milhares de mulheres podem ter direitos trabalhistas, depois de quase uma século e meio do fim da escravidão. Quando digo escravas não é exagero, conheço de perto essa realidade.
      Deixo dois links que provam a histeria que a classe média vive.

      http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/03/medica-se-recusa-a-atender-bebe-que-tem-mae-petista.html

      http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/03/arcebispo-de-sao-paulo-e-covardemente-agredido-por-mulher-apos-celebrar-missa.html

      Por fim, esclareço. As barbáries sofridas por Dilma e Lula durante a ditadura não os absolvem de nenhum crime cometido no presente. Quando citei o passado de Dilma é por simplesmente admirá-la como mulher e pela mesma resistir a um cenário aterrador como este, apesar de ser visível em seu corpo o abatimento. Em nenhum momento disse que seu passado a torna imputável.

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    3. Dominus,

      Repare, eu sei do peso da Globo, nomeadamente, no Brasil. Imagino que se refira a essa emissora. Eu sei que, nos anos noventa, a Globo foi a responsável pela eleição de um candidato presidencial, justamente o Collor de Melo. Acredito no que me diz. Por cá, em Portugal, uma emissora privada, líder de audiências, fez verdadeira oposição política, visando derrubar o então Governo. Tinha, inclusive, um bloco informativo, à noite, cujo único objectivo era a perseguição pessoal e política.
      Actualmente, o ex-Primeiro-Ministro português está a ser alvo de uma investigação, no âmbito da Operação Marquês, com ligações à vossa Lavo Jato, e também há um órgão de Comunicação Social que lhe dedica diariamente várias matérias. Mas, lá está, acredito que o Poder Judicial saiba apartar-se dessas pressões.

      No entanto, pergunto-me: será Lula da Silva tão inocente assim daquilo de que o acusam? Não se servirão, os petistas, da desconfiança que paira sobre a imprensa para tentar acusá-la de parcialidade e perseguição ao PT?

      Bem sei dos efeitos da crise de 2008. Portugal, como o Dominus saberá, foi um dos países mais atingidos pela crise internacional, que deflagrou a crise nacional, levando-nos, no limite, a recorrer à ajuda do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia.

      Respeito a sua posição. A nomeação de Lula, de facto, não é ética; poderá ser oportuna. Eu próprio coloquei dois cenários numa resposta a um comentário acima: ou Lula teme porque sabe que é culpado, e por isso quer munir-se de uma imunidade nos tribunais inferiores, ou está inocente e teme a tal perseguição pessoal. Mantenho o que disse: o maior prejudicado será sempre o Brasil. Na primeira hipótese, o seu líder carismático e histórico poderá ser culpado de crimes altamente censuráveis; na segunda, a justiça brasileira não é independente nem imune à pressão da imprensa, movendo-se pela perseguição pessoal, levando a que os cidadãos careçam de esquemas por forma a evitar a fúria persecutória.

      Meu amigo, há links para todos os gostos. Deixo-lhe este, bastante preocupante (e de um semanário português, para que não acuse a imprensa de parcialidade - tive esse cuidado).

      http://www.sabado.pt/mundo/america/detalhe/advogado_contra_governo_de_dilma_morto_a_tiro.html

      É normal que alguém seja assassinado por discordar da actual Presidente?

      Posto isto, eu compreendo que admire a Dilma. Só não considerei pertinente que tivesse invocado o seu passado anti-ditadura. Tal posição política do passado não a torna particularmente honesta, acima de qualquer suspeita. As pessoas mudam. Lula também referiu, em 1988, que, no Brasil, «um pobre que rouba vai para a cadeira; um rico vira ministro». Vinte e oito anos depois, é vítima da sua própria afirmação. E julgo que a frase que lhe é atribuída não é apócrifa. Só um reparo: sim, não disse que o seu passado a tornaria "imputável"; quanto muito, seria inimputável. :) O que Dominus quis dizer é que em momento algum disse que o seu passado a tornaria INimputável (que é o antónimo de imputável).

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  6. Uma análise clara e precisa dos fatos. Estamos ao meio de um processo que levará, de vez, para o lugar devido esta corja de políticos que assolam este país. Eles são de vários matizes, mas todos encontraram guarita e incentivo no projeto de poder perpétuo desenvolvido pelo PT. A coisa é tão séria que já está envolvendo até as terras lusitanas. Haveremos sim d extirpar este câncer de nossa história e, espero que, doravante, a sociedade brasileira seja mais consciente e responsável na escolha de seus políticos.

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    1. Muito obrigado, Paulo. É-me importante, tratando-se do Brasil, perceber o que os amigos e leitores brasileiros consideram acerca das minhas apreciações. :)

      Independentemente de partidos políticos, que todos sejamos mais lúcidos na hora de escolher quem nos governa.

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  7. Olá Mark!

    Dominus, perfeita a sua análise, irretocável, diria. Se vieres ao Brasil neste dias, não diga nada do que escreveu aqui. Nestes dias obscuros, quem não segue a cartilha e diz o que o povo quer ouvir, está sob o risco de sofrer represálias.

    Existe muitas nuances possíveis neste caso. Prefere-se caçar as bruxas ao invés de admitir que a crise não é conjuntural, é estrutural.
    A estrutura das esferas de poder está corrompida. Um exemplo simples; A doação de empresas para campanhas eleitorais permitida no Brasil, além de enfraquecer a democracia, já que existe a possibilidade de, por meio do poderio econômico, cooptar o poder ao seu favor, tornando-o mais próximo de uma plutocracia e exacerbando as relações promíscuas existentes entre o público e o privado, um dos gatilhos de corrosão desta estrutura. Inadmissível num país que se intitula como um Estado democrático de direito. É como no dito popular; Quem paga a banda escolhe a música.

    Existe também outros fatores, como o preconceito e o ódio de classes, porque aqui no Brasil a classe média (média mesmo, não aquela citada classe "C" do texto amplificada pelos governos Lula e Dilma nos últimos anos) é uma abominação cognitiva, pela sua ignorância, e uma aberração política por sua falta de consciência de classe.
    Tomam para si os valores e anseios da classe social acima da sua e defendem como leões ideais que não lhes pertence. Menosprezam e subjugam as classes sociais abaixo da sua como inferiores, acreditam que somente eles trabalham e pagam impostos e sustentam toda uma nação de vagabundos beneficiados pelas políticas de acesso promovidas pelo Estado.
    Acham-se donos do Brasil e acreditam ser uma afronta a divisão de renda promovida pelos governos petistas nos últimos anos. Os programas de acesso à universidades e programas habitacionais em condições que jamais seria ofertada pelo mercado, que obviamente se interessa pelo lucro e estão na contramão do desenvolvimento social, uma vez que quanto maior o déficit habitacional, maiores os seus lucros.
    Esta subclasse é o epicentro destas ondas de manifestações burguesas que pipocam Brasil afora fomentadas pela mídia tendenciosa é terreno fértil para toda espécie de oportunistas,lunáticos, alienados e os facistas, que enxergam neste cenário a oportunidade ideal para sair do armário, já que são bem aceitos neste meio.
    Estas manifestação são transmitidas ao vivo na tv aberta e recebem cobertura sempre favorável dos principais jornais e portais de notícias, inclusive tendo o números de participantes inflados. Algo que não acontece com as manifestações de repúdio e as pró governo.

    Os principais e maiores veículos de imprensa do Brasil fazem política e são todos alinhados com a extrema direita, não há democracia neste meio, é uma voz uníssona destas empresas que são controladas por meia dúzia de famílias. Bom lembrar, a maioria delas apoiou e construiu os seus impérios durante o período de regime militar no Brasil, sob as cinzas de nossa frágil democracia e no período mais negro da história do Brasil.
    É a velha prostituta pregando a castidade no país.

    A intenção desta investida não é fazer justiça, o que se pratica aqui é justiçamento seletivo, com o objetivo de inviabilizar uma possível candidatura do Lula para a presidência em 2018 e emplacar algum candidato que assuma a agenda neoliberal, que no passado recente, manteve o trabalhador de joelhos com retirada de direitos, sucateamento e privatização de Instituições e empresas Estatais, arrochos salariais, cortes na Educação e inflação galopante.
    Algo que garanta o status quo das elites dominantes.

    Enfim, não compro este peixe porque não confio em que está vendendo.

    Desculpe o texto longo e o anonimato, mas o clima de linchamento é tal que talvez respingue por aqui, então prefiro me preservar.

    Abraço Mark.






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    1. Olá, Anónimo.

      Bom, eu julgo que a minha análise está bastante imparcial, além de que se trata de uma análise de alguém que não é brasileiro e tão-pouco mora no Brasil. Eu gostaria de ver a sua proficiência em abordar assuntos que digam respeito a Portugal. Não gostei muito do tom de demérito quanto à minha análise.

      Continuo com a minha posição, que é clara, e que até transcende este caso mediático de Lula da Silva: qualquer cidadão sobre o qual recaia suspeitas da prática de um ilícito deve abster-se de desempenhar um cargo político, menos ainda se isso lhe conferir alguma vantagem pessoal.

      Em economias capitalistas, de mercado, as plutocracias proliferam. Não será só no Brasil. Na Europa, a classe política cede aos interesses dos investidores privados, o mesmo que dizer que está subordinada ao poderio económico. Talvez pelo facto de a tradição europeia ser um pouco diferente da latino-americana, até porque a democracia portuguesa não é tão mais antiga do que a brasileira, esses efeitos não são tão ostensivos assim, mas eles existem e são comentados amplamente.

      A classe média. Claro está que o Brasil teria a sua classe média antes dos mandatos presidenciais de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, mas seria de uma desonestidade intelectual negar que, na prática, Lula foi o obreiro da actual classe média brasileira, num país em que existiam ricos e pobres, muito ricos e muito pobres, deixando lugar a uma classe média reduzida e insignificante no universo brasileiro.

      A sua opinião não é imparcial, desculpe que lhe diga. É uma visão política apaixonada, visivelmente pró-PT. Já a minha, com o handicap de ser a de um estrangeiro, procurou ser justa, reconhecendo o valor a quem o tem, tentando abarcar o máximo de informação possível. Não favoreci ninguém. Em sua defesa, acredito que seja difícil manter uma visão equidistante quando vivemos intensamente as situações. Pode ser o que sucede consigo. Comigo, e mesmo tratando-se de assuntos nacionais, procuro manter o discernimento, sem cair na armadilha fácil das preferências pessoais. Chama-se isenção.

      Creio que nem o caro anónimo e talvez nem o Dominus entendam o que está em causa. Falamos de um homem que almeja um cargo político por forma a evitar uma investigação judicial, o que é gravíssimo. O que defende, caro anónimo, implicitamente, é que atitudes como estas sejam de louvar e, quem sabe até, a encorajar. No fundo, não o querendo, acredito, defende a impunidade de uns sobre outros, que o cidadão comum brasileiro, na prática de um crime, não terá certamente a oportunidade de se munir de um cargo ministerial para responder apenas perante o STF, em cuja composição estão juízes nomeados por Lula e por Dilma, fomentando-se a promiscuidade e a falta de imparcialidade dos magistrados na apreciação valorativa dos factos.

      Acusar a imprensa de parcialidade é uma estratégia facilitada quando nos ajuda aos argumentos. Eu diria que a imprensa brasileira tem desempenhado um papel importantíssimo na denúncia de certos casos que de outra forma não chegariam à opinião pública, daí que a tentação de controlar os media persista em vários dos países que se consideram Estados de direito democrático.

      Fique bem.

      um abraço.

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  8. Mark,

    Não foi minha intenção desmerecer sua análise, se assim pareceu, peço sinceras desculpas. Gosto do seu blog e tenho empatia por vc.
    Acho que exagerei mesmo. Os ânimos estão acirrados por aqui, as coisas estão mal e me excedi.
    Não consigo ser imparcial, contudo perceba que em nenhum momento tive esta intenção.
    Já passei fome, tive de sair da escola para trabalhar, morei na rua e tive passagens por uma instituição de medidas socioeducativas para menores infratores.
    Sendo assim, defendo o que me possibilitou acesso a educação, moradia, dignidade e três refeições ao dia. Fui a primeira pessoa da minha família a entrar numa universidade, sério, entrei numa universidade pública onde eu era o mais pobre da sala, recebi ajuda de custo até o último ano, trabalhei, nas horas vagas, no restaurante da faculdade para ter um $$ extra.
    Tenho um imóvel adquirido por meio de um programa social de financiamento estatal com juros e condições muito favoráveis.
    Sou a prova de que políticas sociais aplicadas são capazes de alterar trajetórias que seriam fatalmente comprometidas por falta de acesso e miséria.
    Por este prisma, e tendo que tomar partido, porque quem sobe no muro toma pedradas dos dois lados, sou pró governo. Não é questão de paixão, caro amigo, é obrigação moral e senso de justiça social.

    Mais uma vez, peço desculpas e reitero que não tive a intenção de ofender ou chateá-lo. Foi sem dolo.

    Publico este apenas para pedir perdão e esclarecer o mal entendido. Fique a vontade de não publicá-lo, confesso que até prefiro, porém a decisão e o espaço são seus, faça como preferir.

    Um abraço, D.

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    1. Anónimo,

      Bom, então sou eu que devo pedir desculpa, mas, efectivamente, foi o que senti com o seu primeiro comentário.

      Não, não exagerou. Deu a sua opinião; fê-lo de forma educada. Só considerei, como tive a oportunidade de lhe dizer, uma visão muito apaixonada e algo sectária. Como confirma, não quer ser imparcial. Acredito que o governo de Lula tenha feito muito por si e pelos seus familiares, e respeito isso. Aliás, no meu artigo, eu tive a preocupação em reconhecer o mérito de Lula nas políticas sociais. Não careço de me repetir: Lula, com os seus programas sociais, tirou milhões da fome crónica, ajudando outros tantos a estudar. Eu sei disso.

      O que eu tento fazer ver é que Lula, pese embora tenha contribuído decisivamente para um Brasil mais justo e igualitário, pode não ser tão honesto assim. E se está envolvido em condutas tipificadas como crimes, deve responder por elas, como qualquer outro cidadãos. Já cumpriu o seu mandato presidencial. É um cidadão como outro qualquer. Vive numa República, que não reconhece privilégios de nascimento, de condição socioeconómica, etc. Não há cidadãos acima da Lei.

      Não me chateou. :) Sinta-se à vontade para aparecer sempre que queira!

      um abraço.

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  9. Mark,
    Saudades do seu blog. Não sei se estou enganado, mas acho que esse post foi o mais polêmico de todos os que escreveu até agora...
    Aqui no Brasil estamos falando muito do IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito Constitucional que acontece ai por estes dias.
    Qual é sua impressão sobre ele? Na verdade, seria interessante ver a sua impressão sobre ele em um post específico,
    Abraços,
    Marcelo B. Pires.

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    1. Olá, Marcelo. Há quanto tempo!

      Estimo saber que ainda acompanha o meu blogue. :) Aliás, é óptimo saber que tenho bons seguidores do país-irmão tão querido.

      Bom, um dos mais polémicos, sim, que houve outros. :)

      O Seminário não logrou tanto mediatismo em Portugal, infelizmente, fora do círculo académico.

      Eu considero esses seminários muito importantes. Os nossos países partilham mais do que a história, a cultura, a língua; partilham também muito do Direito. Até ao advento do primeiro Código Civil brasileiro, as Ordenações Filipinas vigoraram no Brasil, mesmo quando já não vigoravam em Portugal. Isto quanto ao direito civil. No Direito Constitucional, a nossa Carta Constitucional de 1826 inspirou-se na Constituição brasileira de 1824, ou não tivesse sido outorgada por D. Pedro IV (I do Brasil). Já no actual quadro constitucional, a Constituição brasileira de 1988 não foi indiferente à congénere portuguesa de '76. Isto para lhe dizer que temos muito em comum também no Direito.

      Bom, vou pensar sobre isso. :)

      um grande abraço, amigo.

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  10. Os brasileiros já estão prestes a ver-se livres do irmão do PS português (que o bom senso esteja com os deputados na votação de hoje). Acabaremos por beneficiar da mesma sorte.

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    1. A minha próxima crónica será sobre o impeachment. Esteja atento.

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