12 de janeiro de 2016

David Bowie (1947-2016).


     O mundo acordou, ontem, com a estranha notícia da morte de um dos maiores vultos do mainstream. David Bowie falecera após dezoito meses de luta contra um cancro. O obituário é inusitado. Ninguém sabia que Bowie estava doente, muito doente. Que a enfermidade maligna corroía o seu corpo. Bowie, entretanto, sabia-o.

   Falar de David Bowie reveste-se de certa dificuldade adicional quando não somos fãs confessos e seguidores atentos da sua carreira. Encaixar-me-ei, como a maioria, no lote extenso de homens e mulheres que admiravam o homem enquanto artista que se reinventava, que despudoradamente enfrentou os preconceitos da sua época; um cantor, compositor e actor que embebeu tendências e fases, o que lhe valeria, para a posterioridade, a alcunha de camaleão.

      Bowie negou-nos a despedida. Não pudemos vê-lo ir partindo, como sucedeu com Freddie Mercuy (1946-1991), com quem fez uma das célebres parcerias da história da música. Impossível esquecer Under Pressure (1981). Até a sua morte foi arte. Todo ele era arte. Três anos depois de nos ter presenteado com The Next Day, surgia Blackstar, o último álbum, lançado no mercado meros dois dias antes do seu falecimento. No single "Lazarus", Bowie dizia-nos adeus através da expressão corporal de sofrimento, dos objectos carregados de simbolismo, do negro e das sombras predominantes no vídeo que acompanha a canção. A cama de hospital, a debilidade física, o cadáver em decomposição que surge num rompante enquanto David se encontra à secretária e a morte espreita por baixo da cama, após ele mesmo ter estado deitado no seu leito. O conteúdo da letra completa a mensagem evidente. Um álbum aclamado unanimemente pela crítica, e que pretendo adquirir o quanto antes.

     O legado de David Bowie é uma evidência. De Madonna a Lady Gaga, muitos foram os que se inspiraram na obra musical e estética do artista que agora nos deixa. Desde o seu primeiro trabalho discográfico, de 1967, de título homónimo, Bowie, primeiramente David Jones, o seu sobrenome legal, que refutou para evitar confusões com outro colega, percorreu cinco décadas de criação incessante de personagens e estilos, sem que nunca tivéssemos a oportunidade de o encontrar desprovido de inspiração, mergulhado no tédio ou na apatia até expectáveis em carreiras tão longevas. O sentimento de orfandade, que resta, é uma certeza.

        Até sempre, David Bowie!

12 comentários:

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    1. Eu diria que, directa ou indirectamente, David Bowie marcou a vida de todos.

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  2. Oi Mark! Quanto tempo. Eu andei sumido, viajando.. Feliz ano pra você :)

    Pois é, rapaz.. Eu fiquei bobo quando soube. Nem era assim fã dele, mas o cara era o cara. Único, irreverente. Vai deixar saudades, com certeza.

    Abraços!!

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    1. Olá, Ty.

      Muito obrigado. Um feliz ano para ti também, amigo. :)

      Exactamente como eu. Não seguia a sua carreira de perto. Admirava o homem-artista. Estamos a perder as nossas referências. O que vale é que os artistas nunca morrem verdadeiramente. Temos os suportes físicos, como dvds, cds, etc., que não nos permitem esquecê-los...

      um abraço.

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  3. Nunca gostei do seu estilo musical, tirando uma ou outra. Não entendo este alarido todo :(

    Quando falam de David B lembro do Livro de Christian F "Filhos da droga"

    Grande abraço amigo

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    1. Amigo, o facto de não gostares não diminui o valor de David Bowie enquanto artista precursor. Dou-te um exemplo: é impossível admirar Madonna, enquanto mulher que revolucionou, sem, justamente, reconhecer o mesmo feito a David Bowie. O senhor esteve bem em vários estilos musicais, impôs-se nos anos sessenta, num mundo bastante diferente do actual. Actuava, cantava, compunha. Um artista de mão cheia.

      Tens todo o direito a não gostar, amigo. Mas o "alarido" compreende-se. Bowie merece que o "choremos" (e sem aspas também; acredito que os seus fãs o chorem copiosamente).

      um grande abraço.

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  4. Subscrevo as tuas palavras.
    Ele foi um marco na História Moderna, porque desbravou inúmeras fronteiras. E o seu legado perpetuará, para sempre.

    Abraço :)

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    1. Sim, um marco cultural do século XX. Acho justo considerá-lo na "História Moderna". Cuidado com a terminação "Moderno", entretanto. A Idade Moderna já terminou há muito, com a Revolução Francesa, designadamente (embora alguns autores estendam a sua vigência, mas isso agora "não interessa nada", e lá estou eu a complicar).

      um abraço.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. De facto, apanhou o mundo de surpresa. RIP

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    1. Uma morte inesperada. Ninguém, exceptuando família e círculo restrito de amigos, tinha conhecimento da sua doença.

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