20 de janeiro de 2016

As Presidenciais (IV).


   A RTP agendou um derradeiro debate entre todos os candidatos presidenciais. Ontem, terça-feira, pudemos assistir ao confronto. O dia coincidiu, tragicamente, com a morte súbita de um histórico socialista, legislador exímio do nosso ordenamento nos primeiros anos da democracia, ex-Presidente da Assembleia da República e Presidente Honorário do Partido Socialista, Dr. António de Almeida Santos. Maria de Belém, uma das candidatas que havia confirmado a sua presença, por respeito e manifesta consternação pela morte de um amigo e apoiante, decidiu não comparecer. Ao todo, portanto, estiveram presentes nove candidatos.

      Não irei esmiuçar o conteúdo das intervenções de cada um. Um debate amplo, com duração superior a duas horas, exigiria páginas de comentário político. Não o farei. A saúde não mo permite - nos últimos dias, tenho sentido certa taquicardia, tonturas. Farei uma análise alargada, ainda assim bastante pormenorizada.

    Desconhecia a conduta de certos candidatos. O debate ficou marcado por algumas acusações pessoais, dirigidas a Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Paulo de Morais, encabeçadas por Cândido Ferreira. Não enobrece o debate político. Levantar suspeitas sobre o currículo de determinados candidatos, o cumprimento ou não do serviço militar e a apresentação ao Tribunal Constitucional da declaração de rendimentos e de património são calúnias que mancham qualquer campanha.
      A maioria, de forma veemente, criticou a decisão do Tribunal Constitucional relativa às subvenções vitalícias. E bem, a meu ver. Igual reacção, unânime e positiva, à reposição das trinta e cinco horas de trabalho semanal na função pública. Tino de Rans defende o alargamento para o sector privado, bem como Cândido Ferreira. Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa consideram a reposição justa.

      Marcelo Rebelo de Sousa foi, uma vez mais, criticado por alegadas contradições no seu discurso, ora elogiando a contenção nos custos das campanhas, ora criticando alguns candidatos por receberem donativos de privados. Sampaio da Nóvoa aludiu a essas aparentes oscilações.

       Marisa Matias e Henrique Neto foram coerentes. Marisa Matias, por seu lado, desafiou Paulo de Morais a mencionar que titulares de cargos políticos da sua área considera corruptos, na sequência de declarações suas que visaram toda a classe política, conspurcando-a. Paulo de Morais, aliás, responde num processo por difamação a Luís Filipe Menezes. A candidata do Bloco de Esquerda referiu ainda a sua participação em manifestos contra a corrupção e contestou a celeuma que se criou em torno do apoio dos partidos aos candidatos. Assumindo a retaguarda do Bloco de Esquerda, expôs a ideia de que todos os ex-Presidentes e o ainda Presidente em exercício de funções tiveram apoios partidários nas candidaturas, e entre eles houve bons e maus Chefes de Estado. Para Henrique Neto, um candidato deve assumir o que pensa. Não o fazendo, mente «por omissão». Destacou episódios de corrupção que considera «vergonhosos».

       Passando ao candidato do PCP, Edgar Silva, gostei da sua proficiência ao discorrer sobre os direitos sociais. Demonstrou empenho, uma preparação anterior que em muito o beneficiou. Distendeu-se para além do espectro eleitoral do PCP, esperando, pelo que disse, votos de cidadãos que tradicionalmente não participam eleitoralmente pelo partido a que pertence.

        O momento cómico da noite foi protagonizado por Tino de Rans, que roubou gargalhadas no público pela sua descontracção e pelo desconhecimento às perguntas que lhe foram feitas. Manifestamente em desvantagem, o candidato não se conseguiu assumir como uma alternativa credível. Acredito que o seu jeito conquiste uma parcela do eleitorado no próximo domingo.

        Não tenho nada a dizer quanto a Jorge Sequeira. Não conhecia e assumo, culpa minha, certamente, que o debate não teve a utilidade de me dar a conhecer o senhor e/ou o seu ideário.
   
      Fica o registo daquilo que considero essencial das intervenções de cada um dos oradores. Demais análises e o debate propriamente dito, inclusive, estarão disponíveis online. Não creio que tenha havido um vencedor ou uma vencedora. Houve, claramente, isso sim, um alvo comum dos candidatos com menos visibilidade pública: Marcelo Rebelo de Sousa. Eu diria que o propósito de todos será evitar uma vitória à primeira volta. Confirmou-se a revolta de Marisa Matias. Marcelo e Sampaio da Nóvoa como que se diluíram entre os sete oponentes. O Professor (Marcelo) não quis incitar às tricas políticas. Sorriu, comunicou. Queria ainda salientar uma característica sua que tanto admiro: a humildade. Sendo, que o é, uma sumidade do Direito, debateu com serenidade, como se estivesse entre pares.

       Será, com toda a certeza, o penúltimo artigo que dedicarei às eleições presidenciais. Considerei pertinente, contudo, esta publicação, pelo carácter esclarecedor que pretendi imprimir nas minhas palavras.

21 comentários:

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    1. Eu também, assumo.

      Tenho argumentos contra e a favor de todos.

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  2. Maria não ter participado, foi de propósito. Porque o PS sabe que tiver Nóvoa e Maria a dividirem os votos do PS. MRS ganha logo na 1ª volta lolololololol

    Do que já li e ouvi, o meu voto continua no Tino :D

    Grande abraço amigo

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    1. Não sei o que irá no coração de Maria de Belém, mas não considero respeitosa essa observação, amigo. Não conhecemos o vínculo que unia Maria de Belém a Almeida Santos. Eram, pelo que é público, amigos, e o Dr. Almeida Santos esteve num jantar de apoio a Maria de Belém.

      Os meus avós paternos conheceram o Dr. Almeida Santos e os seus pais. Devo dizer-te que eram pessoas de bem.

      Todos terão os seus sentimentos, conquanto sejam políticos. Não vejas malícia em tudo. Acredito que Maria de Belém esteja francamente consternada.

      um grande abraço, amigo.

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    2. Mark, desculpa se fui mal interpretado. Acredito que sejam pessoas de Bem :) Eu gosto muito do Almeida Santos, afinal ele deu coração e alma a um tema muito problemático nos anos 80

      Paz à sua alma

      Grande abraço amigo (os meus sentimentos socialistas)

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    3. Sim, amigo, claro. Eu referia-me mesmo a Maria de Belém. Acredito que a senhora tenha sentimentos e que tenha decidido não ir ao debate por respeito à memória de um grande amigo seu. Não acredito que haja jogo político.

      um grande abraço. :)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Muito bem-visto. Devo dizer que me esqueci de incluir esse detalhe: a maioria dos candidatos diz-se independente, mesmo os que têm máquinas partidárias por trás. É curioso.

      Tem um motivo, sabes. Eles têm conhecimento de que os partidos estão desgastados junto da opinião pública. As pessoas não crêem nos partidos, nem nas boas intenções dos políticos. Quanto mais apartidários se mostrarem, melhor se sairão.

      Deste vistoso leque de dez candidatos, menos de quatro serão verdadeiramente independentes. Até os que apregoam independência, recordando-me por ora de dois, são, na realidade, apoiados por partidos.

      São imensos. O debate teve um mérito: dar a conhecer as suas caras. Eu desconhecia dois, vê lá!

      Espero que sim. Não tenho nada de bom a dizer do actual Presidente.

      Obrigado, Tiago. Reparou. :) Sim, não tenho andado muito bem. Deve ser pressão arterial, provavelmente.

      um abraço.

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  4. "O Professor (Marcelo) não quis incitar às tricas políticas. Sorriu, comunicou. Queria ainda salientar uma característica sua que tanto admiro: a humildade. Sendo, que o é, uma sumidade do Direito, debateu com serenidade, como se estivesse entre pares."

    Sabe o que isso é? Sentido de Estado. Que o Professor já demonstra na campanha. Eu vi o debate alargado, que serviu para confirmar o meu voto. A Marisa Matias é uma arruaceira de bairro. O Sampaio da Nóvoa foi desmascarado em directo. Bem o vi nervoso. Professor da treta! Os outros estavam lá para compor o ramalhete. Grande Professor.

    As melhoras.

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    1. Concordo consigo quando refere que o Professor Marcelo tem sentido de Estado. Não é o único, quanto a mim. O Professor Sampaio da Nóvoa também o revelou. E Edgar Silva, à sua maneira.

      Evitaria, no seu lugar, dar azo a essas suspeitas. Ataques à honra, à credibilidade, à honestidade das pessoas não enobrecem, como expus no artigo, as campanhas presidenciais, e tão-pouco os candidatos que fazem uso desses artifícios.

      Obrigado. :)

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  5. eu penso, modesta oopinião, que os portugueses na sua grande maioria já estão cansado desta história de eleições. Já estamos em eleições desde quando? Junho ou julho do ano passado? Talvez antes? :P

    Já nessa altura alguns candidatos presidenciais falavam aqui e ali. já se questionava os nomes. Confesso que, quando começaram os tempos de antena nas televisões, me questionei:

    "O quê? Mas só agora é que estão mesmo a começar?!?"

    Com esta trapalhada, o escândalo do Banif lá passou mais ou menos por debaixo da porta. O escândalo que vem a seguir, o do Montepio...isso já não sei como irá passar...

    Não vi o debate pelo que não poderei opinar. A minha opinião quanto ao voto já a tenho à algum tempo. Não estou satisfeito com as últimas notícias que têm vindo a público, mas também é facto que não me surpreende. Revolta-me isso sim, aquilo que certos políticos têm vindo a dizer na televisão, a respeito das subvenções. Até parece que alguém os obrigou a ir para deputados! Não é um trabalho? Pois então, que se sujeitem, como qualquer outra pessoa com os prós contras do seu trabalho. Se vão para lá à espera de ganhar o dito subsídio, pois haviam de lhes cortar as "asas" logo de início. Mas isso para a Maria de Belém é pura demagogia... ^^#

    Em relação à tua saúde, há quanto tempo tens as tonturas? Não será falta de oxigénio no sangue? Tens andado com problemas respiratórios? Devias procurar ajuda médica, porque dar-te tonturas quando estiveres na rua pode ser perigoso. O ano passado tive esses problemas e era devido a isso.


    Beijinhos, forte abraço e votos de rápidas melhoras! ^^

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    1. Sim. Segundo li, o debate teve baixas audiências. As pessoas estão cansadas.

      O debate deve estar disponível online. É caso de procurares. Vê-se bem. Teve os seus momentos de circo, é verdade...

      Eu estou indeciso. Devo dizer que não fiquei imune ao escândalo das subvenções. Surgiu muito oportunamente, é certo, mas dá que desconfiar.

      Há uns dias. Não, não sinto qualquer alteração no sistema respiratório, e como sou asmático até estou atento. Se persistir, irei ao médico.

      Muito obrigado, Mikel, e um grande abraço!

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  6. Amigo, com certeza um dos pontos altos dessa sonhada viagem à Portugal é encontrar com os queridos amigos já tenho por ai, inclusive você! Com certeza será um prazer tê-lo com anfitrião e parceiro para uns copos! (ou café mesmo!) ;)

    E o mesmo vale para ti e os outros... espero um dia ter a chance de recebê-los por aqui também! Tenho um amigo que sempre nos encontramos quando ele está aqui no Brasil... sempre muito bom! Já chegamos a viajar por aqui.

    E espero que as eleições resultem em um bom governante para vocês!!!

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    1. Com certeza. Assim que tencionar vir, avise-me. :)

      Eu gostaria imenso de visitar o Brasil. Ainda não se proporcionou. Claro que, se for, avisá-lo-ei. Um dia terei mesmo de cruzar este imenso Atlântico, e já levo vantagem sobre Cabral, que chegou com menos condições. (risos)

      Obrigado, amigo. Veremos o que o povo escolhe.

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  7. De todos, pelo menos dos que conhecia, o que mais me desiludiu foi o Paulo de Morais. Pensei ser outro tipo de pessoa, mas só consegue debitar a palavra "corrupção" e que é o paulatino da mesma, mas depois... bah. Mas também para quem escrevia para o Correio da Manhã... está tudo dito.

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    1. Também não gostei do tal Cândido Ferreira. Pareceu-me demasiado intriguista.

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  8. Não vi este debate. Sampaio da Nóvoa, nesta altura, acalentava a esperança de ir a uma segunda volta (Maria de Belém já estava abaixo, com a história das subvenções).
    Acho que Edgar Silva, Marisa Matias e Henrique Neto fizeram uma excelente campanha no sentido do combate à abstenção. Isso foi positivo, a meu ver, para permitir que fossem necessários mais votos para ter 50%. Infelizmente, foi insuficiente.
    Para além da abstenção propriamente dita (pessoas que ficam em casa e não vão votar), há mortos nos cadernos eleitorais que não foram apagados, e há muitas pessoas que emigraram e ainda não regularizaram a situação nos seus países de acolhimento. Logo, continuam cá inscritas, e são abstenção...

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    1. Eu gostei de Henrique Neto. Simpatizei com o senhor.

      Sim, a sombra dos mortos ainda paira nos cadernos eleitorais, e agora, a acrescer, temos os jovens que emigraram, constando ainda nos cadernos.

      Oh Horatius, um off topiczinho: então, a camarada Odete pediu a subvenção vitalícia também? :|

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    2. Não sei. Mas se pediu fez muito bem... LOL
      Trabalhou mais naquela AR que muita gente que a pediu...

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    3. Eu não esperava esta atitude de Odete Santos, assumo. Se criticamos Maria de Belém e os demais, Odete não pode ficar imune.

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    4. Não conheço o contexto da vida de Odete Santos. O conheço dela é simplesmente a deputada.
      Poderá (não estou a dizer que é) ser um daqueles casos que não tem outra forma de rendimento que não a dita subvenção. Ela foi deputada muitos anos, e não sei se terá outras formas de desconto que lhe possam proporcionar uma reforma. Há alguns casos desses, não sei se é o dela. Ouvi um "boato" que é uma pessoa que até tem património (imóveis) que herdou, mas que tem algumas dificuldades financeiras (será isto uma razão para o pedido?)

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