Recordo-me, em menino, de os pais me ofertarem um atlas das múmias. Era enorme, quase da minha altura. Dispunha-o ao longo da cama, sentando-me de lado. Com cuidado, folheava as páginas duras de cartão colorido. Ainda o tenho, guardado algures pela arrecadação da avó. Não fiquei apaixonado pelo Antigo Egipto, não tanto quanto pelas Idades Moderna e Contemporânea, mas curioso o suficiente para me interessar.
Ramsés II foi um dos maiores faraós do Novo Império. Filho de Seti I, casou com a magnífica Nefertari. Ficou associado, indelevelmente, ao episódio bíblico do Êxodo, segundo o qual Deus - o Deus de Abrãao, de Isaac e de Jacob - prometeu a Moisés (príncipe do Egipto, colhido das águas do Nilo pela filha de Ramsés I, Bithia), no Monte Sinai, libertar o povo hebraico do jugo egípcio. O coração do Faraó mostrou-se endurecido pelo Senhor, que o sujeitou às famosas dez pragas, sendo que, à última, - a morte dos primogénitos - Ramsés, O Grande, viu-se obrigado a deixar partir Israel.
Não há qualquer prova arqueológica que demonstre, sem equívocos, que Ramsés II foi, de facto, o homem que liderava os destinos do Egipto aquando da libertação dos hebreus. Todavia, ficou para a posterioridade, e muito para tal ajudou Hollywood, relacionado ao Êxodo judaico.
Já no Monte Sinai, Moisés subiu ao Senhor e recebeu as Tábuas do Testemunho - os Dez Mandamentos, a meio de leis que regularam as condutas do povo e de instruções várias, incluindo a feitura da Arca do Testemunho, que viria a desaparecer, pelos séculos, após permanecer em mãos dos sacerdotes e dos inimigos de Israel. A Arca continha as Tábuas da Lei, primeiramente, a vara sagrada de Aarão, irmão de Moisés, objecto que serviu de intermédio para que o poder de Deus se manifestasse através deste último, e demais utensílios.
Vendo, pois, que Moisés tardava, o povo obrigou Aarão a fazer para si um bezerro de ouro. O Senhor não consumiu o povo a pedido de Moisés, que, descendo, destruiu o ídolo e mandou executar os idólatras. Ulteriormente, Moisés receberia de Deus novas tábuas.
Numa análise pelo Pentateuco, não é difícil perceber que Deus manifestava ira, arrependimento, cólera. Não diria que era vingativo - quem sou eu para sondar os Seus desígnios?, mas um Deus diferente daquele que nos trouxeram os Evangelhos e as Epístolas do Novo Testamento. O Deus de Moisés revela-se perante um povo obstinado, «inclinado ao mal», nas palavras de Aarão (Êxodo 32: 22).
O maior legado do Êxodo foi, certamente, o Decálogo, inspirando as leis dos homens nos milénios seguintes.
Já no Monte Sinai, Moisés subiu ao Senhor e recebeu as Tábuas do Testemunho - os Dez Mandamentos, a meio de leis que regularam as condutas do povo e de instruções várias, incluindo a feitura da Arca do Testemunho, que viria a desaparecer, pelos séculos, após permanecer em mãos dos sacerdotes e dos inimigos de Israel. A Arca continha as Tábuas da Lei, primeiramente, a vara sagrada de Aarão, irmão de Moisés, objecto que serviu de intermédio para que o poder de Deus se manifestasse através deste último, e demais utensílios.
Vendo, pois, que Moisés tardava, o povo obrigou Aarão a fazer para si um bezerro de ouro. O Senhor não consumiu o povo a pedido de Moisés, que, descendo, destruiu o ídolo e mandou executar os idólatras. Ulteriormente, Moisés receberia de Deus novas tábuas.
Numa análise pelo Pentateuco, não é difícil perceber que Deus manifestava ira, arrependimento, cólera. Não diria que era vingativo - quem sou eu para sondar os Seus desígnios?, mas um Deus diferente daquele que nos trouxeram os Evangelhos e as Epístolas do Novo Testamento. O Deus de Moisés revela-se perante um povo obstinado, «inclinado ao mal», nas palavras de Aarão (Êxodo 32: 22).
O maior legado do Êxodo foi, certamente, o Decálogo, inspirando as leis dos homens nos milénios seguintes.
"O maior legado do Êxodo foi, certamente, o Decálogo, inspirando as leis dos homens nos milénios seguintes."
ResponderEliminarEspero que não tenha sido inspiração para a criminalização do piropo, esse ícone da cultura portuguesa.
Agora escrevendo a sério, gostei do texto. Simples e com todos os pontos nos is.
:)) Não, para a criminalização dos comentários de importunação sexual bastou a necessidade de tutela.
EliminarEu gosto imenso do Pentateuco. É lindíssimo. Lembrei-me de escrever "qualquer coisa" sobre. :)
Esclarecedor.
ResponderEliminarIsso é que releva.
EliminarSempre acreditei que foi Moisés que escreveu os 10 mandamentos.
ResponderEliminarEle sabia escrever e tinha uma visão virada para o futuro e Humanidade :)
Abraço amigo
Não se sabe. O Pentateuco é-lhe atribuído, por inspiração divina, claro. O Decálogo, enfim, algumas correntes defendem que foi o próprio Deus que cunhou a lei com o seu dedo ("dedo" aqui em sentido figurado). Vá-se lá saber. Milénios antes de Cristo.
Eliminarum grande abraço, amigo.
Cuidado com as más línguas, já nesse tempo inventavam coisas. rsrsrs
EliminarComo sempre, muito gostoso e fácil de ler teu texto e absorver teus comentários... recentemente tivemos uma novela aqui no Brasil a falar dos Dez Mandamentos! Por não ter sido uma novela da Globo, não sei se passará no exterior, mas conquistou enorme audiência por aqui...
ResponderEliminarAcho muito interessante essas reflexões que podem ser feitas a partir desses conhecimentos... semana passada observava uma discussão onde era comentada a diferença com esse "Senhor" irado e raivoso do velho para o novo testamento.
Grande abraço, Um feliz 2016 meu amigo!!!
PS: Ficou muito gira tua foto para o calendário! (espero ter usado certo! ehehe) Abração.
Eu acho que sim. Sei de algumas novelas de outras emissoras que passam por cá, nomeadamente na RTP1. E também há o cabo. :)
EliminarÉ... O Deus do AT é muito impiedoso. E aquelas leis mosaicas são medonhas. Todavia, o conjunto em si é belíssimo. :)
um grande abraço, amigo, e um feliz ano!
Obrigado por ter gostado do texto e da foto, hehe. :)
Complexo este teu post, não domino, fiquei um pouco a sentir-me inculto, que sou em parte :-S
ResponderEliminarBem, não me repitas isso! Inculto? Jamais. Um rapaz que demonstra tamanha sensibilidade nos seus conteúdos não pode ser inculto. E o que é a incultura? Tudo é cultura! A venda do peixe, no mercado, é cultura. Uma cultura que não domino, que não dominas, mas que aqueles homens e mulheres dominam. Os pregões, tão típicos. Uma manifestação de cultura. :) E não estou a ser simpático; estou a ser sincero.
EliminarNão é assim tão complexo. Aliás, devo dizer-te que o considero bastante incompleto. Um blogue é sempre um blogue. Nunca será uma plataforma perfeita para explanações mais elaboradas. Quando me meto a escrever sobre outros assuntos (História, Direito), às vezes sou bastante complexo, sim, e dar-te-ia razão. Neste artigo, nem vejo isso. :)
Adoro suas postagens de conteúdo histórico. Sempre muito ricas. Dois contextos históricos pelos quais sou apaixonado: A história dos Hebreus e o mundo Nazista.
ResponderEliminarGosto muito do povo judaico. Tem a minha simpatia. :)
EliminarEu quis fazer uma explanação mais teológica do que histórica. Claro que é inevitável abordar factos históricos.
Gostei particularmente da parte relativa ao povo egípcio. ;)
ResponderEliminarQuanto ao texto da Bíblia, é uma questão de fé. Muito se poderia dizer e escrever sobre o assunto. ^^
É curioso, mas estou a interessar-me mais pelo Antigo Egipto.
EliminarIndependentemente da fé de cada um, considero o Antigo Testamento, sobretudo, belíssimo. Estou a reler a Bíblia, e faço-o deslumbrado.
MArk, o Teólogo?
ResponderEliminarO Padre Aqui do Campo diz frequentemente que o Pentateuco é ficcional, sobretudo os Génesis. Foi o registo de mitos que as pessoas tinham para poderem explicar as coisas que não tinham explicação...
Olha, se soubesse o que sei hoje, teria entrado num seminário e levado uma vida de fé. Mas de fé. Orava, meditava, contemplava. Levava uma vida dedicada ao lado espiritual. Não sei se falo a sério!
EliminarÉ provável, mas é lindo. Sim, nomeadamente na Criação. É pouco plausível que Adão e Eva tenham originado toda a humanidade. E a maçã, a expulsão do Éden... Em outro episódio, a origem das diferentes línguas na confusão que o Senhor provocou na dita Torre, de Babel, num claro exemplo de narrativa fantasiosa, uma parábola.
Mark, não sejas tonto. Não ias nada para um seminário.
EliminarAh, iria! Uma vida de paz, de meditação, de contemplação... :)
EliminarEpisódio demasiado filmado no cinema, mas que não deixa se ser aliciante para quem estuda o fenómeno. Adorei filme animado sobre o tema :)
ResponderEliminarPelo menos, a sétima arte vai aproximando o grande público das obras literárias. A Bíblia, com todo o respeito, é uma magnífica obra. De inspiração divina, claro está, mas repleta de episódios, de passagens, de versículos... divinos de tão belos.
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