21 de dezembro de 2013

Compras.


  Tirei a tarde para as compras de Natal. Guardo sempre para o final porque consigo retirar algum encanto da azáfama dos últimos dias. Quem mora numa grande cidade (se é que Lisboa é uma grande cidade) acaba por se acostumar ao trânsito, ao lufa-lufa, à correria própria de quem tem pouco tempo disponível.
  Este ano, em especial, precisei de me compensar. Sou consumista. Não o digo com orgulho; pelo contrário, tenho refreado bastante o meu ímpeto em comprar e comprar. Há quem diga que serve de consolo. Não diria melhor. Hoje foi mais que um conforto. Foi uma necessidade. Uma necessidade de esquecer os últimos tempos e de recuperar algum ânimo. Para meu infortúnio, no final do dia, com sacos a mais e dinheiro a menos, não me sinto, de todo, melhor. Ando numa espiral de melancolia que teima em perseguir-me para onde quer que vá. E sei de quem a herdei. Da avó paterna. Efectivamente, é uma senhora extremamente circunspecta, atenta, inteligentíssima - reconhecido por todos - mas há uma tristeza, um sentimento de inconformismo que não a abandona. É o oposto da avó materna, de quem herdei bem menos, mal o meu, que é a minha preferida e a avó com quem desde sempre me relaciono. O seu espírito leve, patente na mãe, não me chegou. O filtro do pai o impediu. E se de coração sou todo materno, de genes sou o lado do pai.

   O que comprei? Comprei bastante roupa, um perfume, um livro (O Vermelho e o Negro, de Stendhal) que vai para a prateleira porque a paciência é nula, um secador de cabelo, caríssimo, que o que tinha soltou uma faísca há coisa de uma semana, sendo que prontamente o atirei ao chão, indo de seguida para o lixo. Passei pelas agendas e adquiri uma para o ano que se aproxima - espero dar-lhe uso. Comprei sapatos, clássicos. Quero mudar um pouco o meu estilo. Nunca fui de ténis nem nada que se pareça; quero, contudo, ficar progressivamente sóbrio. E comprei mais umas coisas pequenas que até fica mal mencionar. Acessórios. Para a família mais chegada: escolhi um nécessaire lindo para a mãe e um porta-retratos para a avó, onde pretendo colocar uma fotografia nossa. Para o avô comprei uma caneta. Ele adora canetas. Lembrei-me do pai. Comprei-lhe um perfume que vou enviar pelo correio. Não sei nem quero saber se vem a Lisboa pela consoada. Entretanto, se vier, pode tirar o cavalinho da chuva que não estarei disponível. Para si, nasço e morro, salvo seja, em Dezembro. Para a Ana, confesso, foi o mais difícil. Acho de mau tom comprar roupa para oferecer - é do mais vulgar que se pode fazer. Não lhe conheço hábitos de leitura e, ao longo dos anos, comprei tudo o que poderia e esgotei a imaginação. Sei que ela gosta de fado, por isso, optei por um álbum do Carlos do Carmo. Por último, o P. Adorando ópera, achei que o melhor seria presenteá-lo com um cd também. Assim foi. Pedi ajuda ao empregado e escolhi um da Callas. Talvez seja cliché, mas foi o que me ocorreu.
    Doem-me os braços de carregar tanto saco. Nem pude vir de metro. Meti-me num táxi.

  A mãe acedeu ao meu pedido. Há dias, pedi-lhe para passarmos o Natal em casa, evitando as reuniões familiares e afins. É provável que fiquemos os dois. Não sei se os manos vêm. A Ana tem família e é comum ausentar-se nesta altura. Sinceramente, não me custa. Perdi a paciência para priminhos histéricos e montes de gente à minha volta. O barulho atormenta-me. E, além disso, não tenho mais idade para fazer o que não quero. 
   Estranhei o facto de a mãe anuir. No fundo, prefere ficar sossegada. É, de longe, a pessoa que mais amo, a par da avó. Ficar na sua companhia, sozinhos, é quanto me baste. Isto deve estar relacionado com o Complexo de Édipo, muito provavelmente, mas, querem saber? Não me importo. Até dispenso o polvo cozido (não como bacalhau, ugh!). Graças aos anjinhos todos e mais alguns, o meu padrasto (...) vai passar o Natal com uns parentes. Que vá e não volte. Nunca mais, seja como for.

   Na segunda estarei com o P. Espero que goste do meu presente. Tenho resistido à tentação de abrir o seu, com sucesso. :) O que será aquele embrulho pequenino? Aguento mais uns dias, claro.

   Uma tarde ridícula, muitas musiquinhas de Natal e bolinhas e fitinhas. No dia vinte seis tudo volta ao normal. As Testemunhas de Jeová têm alguma razão, oh se têm. Têm pois...

    Viv'ó Natal.

32 comentários:

  1. Ah que assumir o consumismo, também eu gosto de comprar para os outros e para mim sou atraído por coisas bonitas e partilhamos não gostar de ténis. Mas o Natal em si perdeu a magia desde a morte da avó materna e o ano passado agravado com a perda da minha irmã. Um abraço Mark, é nestas alturas que digo família há só uma e a gata foi achada na rua.

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    1. Eu uso ténis MUITO raramente. Tenho uns da Nike, cinzentos, que parecem umas botinhas - desses gosto. São clássicos.

      Eu assumo que adoro comprar. É dos poucos prazeres que me resta. LOL

      Oh Eolo, lamento muito a morte da tua avó. Também sou muito chegado à avó materna e nem quero imaginar esse dia...

      um abraço!

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  2. Xii tem meses que eu não compro nada de roupa pra mim, eu não ligo pra essas coisas.. Pra mim uma camiseta, uma bermuda, uma calça tá bom e dura anos :) Perfume eu gosto, rs e livros também! Stendhal é um clássico, nunca li nada dele.

    Feliz Natal Mark! Joga essa melancolia fora!

    Abraços!

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    1. Eu ligo muito à roupa, afinal, é a nossa 'segunda pele'. Sou vaidoso, confesso.

      Oh, mas aí faz calor. Uma bermuda aqui, agora, bem, o que seria! Já vi na rua, hoje mesmo! LOL

      Feliz Natal, Ty.

      um abraço!

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  3. Desejoso de receber a minha :)

    heehhehehehehehhehehehehehheheh

    Abraço amigo Mark e Bom Natal :D

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    1. A tua ainda aqui está. Há semanas. :)

      um abraço, Francisco, e feliz Natal.

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  4. Tenho a certeza que o P. vai adorar a tua prenda, afinal foi escolhida de coração...

    Grande Abraço e feliz Natal Mark ;-)

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    1. Isso sim, de coração foi. Não conheço muito do repertório da Callas nem de seus contemporâneos. Aliás, não sou chegado a ópera. O pai adora!

      abraço, Rúben, e feliz Natal.

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  5. Eu vou apenas amanhã tratar de algumas coisinhas. Só agora é que tenho tempo para me desviar dos meus afazeres e dar-me ao luxo de ir gastar algum dinheiro. xD
    Tenciono mimar-me um bocado também. Todos os anos costumo comprar algumas coisas para mim e peço para embrulhar. Depois, na Noite, demoro tempos infinitos a abrir tudo lolol. Mas não desfaço o teatrinho. Enquanto vou abrindo, digo: "Olha, não estava nada à espera. Esta foi o X, que me deu; aquela foi a Y..." :D :D É um bocado totó, reconheço, mas desde que me divirta... :D

    Abraço, querido Mark ^^

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    1. OMG, eu também peço para embrulhar as minhas coisas. :D E depois, tal e qual, abro e faço a minha cara de espanto. LOL Tem piada é colocar ao pé da árvore. O que vale é que no El Corte Inglés fazem os embrulhos - lindos, como em todos os anos. Este ano têm um papel muito festivo e uns laços enormes, verdes. Love it!

      Ahahah, isso eu não digo. Só mando embrulhar os meus porque gosto mesmo de ver a árvore cheia. A graça está aí. Comprar, compramos o ano todo.

      abraço, querido Inefável.

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  6. Compras tira todo e qualquer stress...

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  7. Eu sou exactamente o oposto de ti.
    Detesto o consumismo e não compro nada de roupa, a não ser o essencial.
    De vez em quando oferecem-me alguma coisa e são essas a novidades no vestir.
    Só gasto dinheiro, e muito controlado, já que não abunda, em livros e claro nas viagens para estar com o Déjan.
    De resto, zero!!!!
    Não vou condenar essa tua opção, já que a podes fazer, mas há tanta gente sem cheta para pagar as contas da electricidade, da água, da renda da casa, até para comer...
    Eu não deito um resto de comida fora, tudo se aproveita e comigo o comércio ia à falência ( o que ainda resta, claro...)

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    1. A mãe também tem muitas despesas, João. Não penses que compro com dinheiro que peço pelo Natal e me dão. Compro com o dinheiro que recebo da mãe e do pai, é certo, mas que vou juntando na conta à ordem ao longo do tempo, montante que recebo desde sempre. E da avó, que até me dá mais. Sou muito poupado também. Poupo na alimentação. Odeio gastar dinheiro em restaurantes e afins. Acho um desperdício. Em roupa, livros, acessórios, cds, etc, é bem empregue.

      Oh, já tenho comido ao almoço o que sobra do jantar. LOL Depende, se for bom e se gostei, repito. :)

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  8. eu gosto do Natal. é giro passarmos com a família, a reunião à volta da mesa e os presentes :D não compro para mim isso não, mas ofereço e recebo e é nesse espírito que acho tudo giro. ahahahah o secador deu faísca e desligaste no quadro a energia? :P abraço!

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    1. Não digo que não seja giro, claro que é. Mas é-o havendo sentimentos, carinho recíproco. Tenho fé de que tudo isso abunde na tua família. :)

      LOL, atirei logo para o chão. Depois foi a Ana que o desligou da ficha. Tive medo de mexer naquilo. :s

      abraço.

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    2. Por vezes, talvez seja necessário saber alimentar/criar esses sentimentos. É certo que sempre senti o mesmo na minha família mas os anos passam... Os pais envelhecem e surgem, em alguns casos, terríveis doenças, como o cancro. Dado ser filho único (ou ter sido criado como), a perspetiva do futuro é assustadora... Remete-me para a solidão, ainda que a profissão a acentue. Por isso, procura viver este momento rodeado daqueles que para ti tem significado, sem esquecer os amigos. Erros meus, Mark...
      Abraço

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    3. Com certeza, Paulo. Mas, sabes, estou com eles (familiares) frequentemente. Com a família mais próxima, todos os domingos. É uma chatice. Torna-se uma rotina que retira o 'encanto' do Natal.
      Sou por natureza dado ao recolhimento. Nunca gostei de confusão ou barulho, preferindo passar a consoada com a mãe, não querendo com isto dizer que o almoço de Natal será também a dois. Em princípio, passaremos com a família. Ah, e falta saber se os manos estarão ou não presentes, bem como a Ana.

      um abraço, Paulo, e as melhoras de todos.

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  9. És a minha alma gémea no que diz respeito às compras! :D Percebo-te perfeitamente, porque sou igualzinho! Mas também não me orgulho muito disso... e estes últimos tempos tenho-me contrariado nas compras... embora a fase não ajude muito, mas tento, mas tento... e nem sequer vou a centros comerciais para não cair em tentação... mais do que já caí.

    Abração cara alma gémea das compras (Mark) LOL :P

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    1. Tal e qual! Eu evito os centros comerciais para poupar dinheiro! Ai, mas é uma tentação. LOL Então o El Corte Inglés, Gosh!, como aquele 'antro' me faz gastar dinheiro! Foi a melhor coisinha que os espanhóis fizeram em pouco mais de quinhentos anos de história como país (eu 'é' sempre para mandá-los abaixo xD).

      Gastei tanto dinheiro ontem. LOL Muito mesmo!

      abração, Namorado!

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  10. Only comment: Lisboa é uma cidade grande, pode não o ser em tamanho, mas como já dizia o poeta, tamanho não é sinónimo de grandeza. (é claro que o poeta sou eu)

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  11. o natal serve mesmo para passarmos com as pessoas que gostamos. muitas vezes nem é com a família de sangue. basta uma companhia e um sorriso para quebrar a solidão de pessoas e isso vale muito mais que hipocrisias. e nem imaginas a quantidade de gente que vive sozinha em pensões, casas de hóspedes. e criam-se laços de amizade com essas pessoas 'desirmanadas'...
    passa uma consoada o mais tranquila possível :)
    bjs.

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    1. Consigo imaginar. É uma realidade muito dolorosa que muitos preferem ignorar. Por esta altura aumenta o número de idosos abandonados nos hospitais. A ingratidão e a desumanidade no seu esplendor.

      Obrigado, Margarida. Desejo o mesmo a ti. :)

      um beijinho.

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  12. Eu acho que sou um consumista moderado. A menos que estejamos a falar de uma FNAC. A minha mãe já me disse que não sabe onde vou colocar mais livros, mas que estou terminantemente proibido de comprar outra estante, senao a nossa casa qq dia vira uma biblioteca... LOL

    Quanto aos presentes de natal, tirei um dia para isso. E tive sucesso, pois comprei-os a todos. Só para o meu rapaz é que não encontrei o que queria, e tive de entrar por um plano B... lol

    Feliz Natal Mark! :)

    Abraço

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    1. O melhor presente que lhe podes dar é o teu amor. :) LOL Isto foi tão cliché. Kidding!

      Eu gosto da FNAC, mas nunca encontro os livros de que preciso para a faculdade. Estão sempre esgotados. xD

      Obrigado, Horatius! Feliz Natal!

      um abraço!

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  13. 'E comprei mais umas coisas pequenas que até fica mal mencionar. Acessórios.'
    Eu sei o que foi: CUECAS.
    :P

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    1. Muahahahah, por acaso não. :D Foi um cinto, meias, uma mala, essas coisas. :)

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  14. Este ano por aqui também será assim, um Natal diferente. Não porque eu tenha dito à avó para ficarmos só os dois, mas porque com os meus pais separados definitivamente, cada um já com novas companhias - sendo que a minha mãe já não me fala há mais de um mês - cliché do que aconteceu há 16 anos atrás? é possível, se bem que aja ali uma certa vergonha por ter arranjado alguém e ainda não mo ter dito...mas como sempre as coisas descobrem-se... - vamos passar o Natal só eu e a avó. Ela tem estado um bocado triste com isso, já que para ela o Natal é sinónimo de família e este ano, mais do que nunca ela compreendeu ou está a aperceber-se que só me tem a mim. Eu bem tento animá-la mas também já não sei o que mais fazer ou dizer...é daquelas coisas inevitáveis que a vida tem...

    Apesar de tudo vai ser um Natal feliz e pelo menos tranquilo :)

    Beijinhos e um forte abraço, tenho a impressão que de tudo o que compraste o que mais vais gostar será do pequeno embrulho que ainda não abriste... :3

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    1. Não estou triste por, em princípio, passar só com a mãe. É divertido à mesma e, como referi acima, prefiro mil vezes o sossego ao barulho. O problema é que as pessoas adoram o reboliço de Natal e estranham quando alguém não é assim. No meu caso, passar o Natal só com a mãe, se assim for, será giríssimo. :)

      Olha, a mãe quando arranjou este marido (LOL) não teve pudor nenhum e bem sabe que não gosto dele, ou suspeita...

      Sim, com certeza terás um Natal tranquilo e feliz.

      um abraço forte e um grande beijinho!

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  15. Não gosto particularmente de compras de Natal, o que mais detesto é lojas que parecem a feira do Relógio (que por acaso é um sítio onde gosto muito de ir). Mas, atrasado como sou, deixo sempre tudo para a última hora. Nos últimos anos tem sido durante a manhã do dia 23, este ano antecipei-me um bocadinho... foi no dia 21. ;)

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    1. Nunca fui à feira do Relógio. :)

      Eu gosto de fazer as compras de Natal nos últimos dias porque considero a azáfama natalícia como algo que tem o seu encanto. Nunca cheguei ao ponto de só as fazer no dia 23, ahahah. :D

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