27 de dezembro de 2013

The day after.


   Como previ, passei o Natal mais tranquilo dos últimos anos. Eu, a mãe e o mano. O melhor de que há memória nos tempos recentes, só equiparável àqueles em que ainda tinha uma verdadeira família. Não me recordo do último Natal que passei em casa. Na casa da avó ou de algum tio, a consoada nunca é por cá.

   Diverti-me imenso a compor a mesa da ceia com a mãe, dada a ausência da Ana a meio da tarde. Na sala de jantar, colocámos umas taças com alguns aperitivos e as iguarias que a mãe encomendou numa pastelaria. Quem visse pensaria que estaríamos à espera de várias pessoas. Felizmente, a Ana deixou o jantar pronto. Como sempre, polvo. Poderia, eventualmente, comer bacalhau. Não é um peixe que aprecie. Como à mãe não faz diferença, nem ao meu irmão, estipulou-se que seria a ementa de todos.

     Quando o mano chegou, trouxe dois presentes: o meu e o da mãe. Anos volvidos, gosto sempre de ver o beijo que trocam. É, de longe, o seu filho predilecto, não deixando de cometer alguma injustiça quando o afirmo. A mãe não faz distinção alguma entre nós, contudo, sente-se. É perceptível. É capaz de estar relacionado com o pai dele, que acredito, hoje, que foi o homem que mais terá amado.
   Senti algum desconforto por nada lhe ter comprado. A mãe fê-lo e, de certo modo, foi o presente de ambos. Tudo coloquei aos pés da árvore.
    Dei-lhe um enorme abraço e beijei-o. Sinto-me seguro quando estou perto dele e o carinho da mãe é em dose proporcional ao meu. 

     Após a ceia, conversámos até perdermos a noção do horário. A meia-noite não tardou. Sentei-me no chão a abrir os presentes. Em primeiro lugar, os que comprei a mim mesmo e cujo conteúdo já conhecia. Nenhum espanto. Abri o da mãe que me deixava inquieto pelo tamanho diminuto. Um cartão-oferta da FNAC. Ela já não sabe o que me há-de dar. Vem bem a calhar. Só não sei onde aplicá-lo. O presente do meu irmão foi o mais hilariante da noite: o último álbum da Katy Perry e, se me permitem, LOL. Eu nunca liguei nada a essa senhora, recordando-me só de comentar que achava piada à Roar.
     Por último, abri o embrulho do P. Trata-se de uma caixinha de música pequenina à qual se dá à manivela. A música que se ouve é a Memory do musical Cats, numa alusão à peça do Henrique Feist a que fomos assistir, juntos, no Verão. Não estava à espera. Senti um arrepio pelo corpo que me faria choramingar, mas consegui controlar-me. De imediato, abri o envelope e li o postal. Fui tomado por alguma desilusão - efeito balde d'água fria. Fala de amizade e pouco mais. Esperava uma referência ao presente ou ao que fomos construindo. Escusou-se a delongas e foi sucinto. Despediu-se com um abraço, falou de saúde e de dinheiro, dos votos para dois mil e catorze. De uma frieza e indiferença gritantes.

    A noite prolongou-se pela madrugada. Fomos dormir por volta das duas. Já deitado, cheguei à conclusão de que por mais que queira, por momentos, acreditar que há algum futuro, farei melhor se aceitar a realidade tal qual ela se me apresenta. Somos amigos e as suas palavras, logo na primeira linha, deixam-no bem explícito. Dou o assunto P. por encerrado, pelo menos no que a algo mais diz respeito. É um amigo como tantos outros. Mais um.
    É difícil desapegar, deixar ir. Terei de o fazer, custe mais ou menos. Eis uma excelente resolução para o ano que se aproxima.

     Por enquanto, tenho artigos por estrear e todo um cd para ouvir. :D
     Now I'm floating like a butterfly.

35 comentários:

  1. Lamento a tristeza mas mereces alguém que goste de ti a sério. Enterrar o assunto não é fácil mas antes isso a mais desilusões. Um abraço grande.

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    1. Efectivamente, Eolo. Não me merece mais um único pensamento naquele sentido. Sendo profundamente convencido, ele é que perde. LOL

      abraço grande. :)

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  2. Quando eu vivia com pais e manos, família toda. A mãe tinha preferência por um dos filhos. Neste caso o mais velho, porque foi o primeiro.

    Sempre que ele chegava a casa, a mãe levanta-se(independentemente da hora), para fazer chá, jantar. Muitas vezes, não o deixava sair de casa, se a camisa tivesse um vinco, porque estivera apertada no armário lololol

    Mesmo depois de casado, a mãe ainda o servia se fosse preciso.

    Há que relevar isso, também tenho vários sobrinhos e gostando de todos, claro que tenho uma preferência... É Natural do Ser Humano :)

    Quanto ao P. "Rei Morto, Rei Posto e Viva o Novo Rei" :D

    Abraço amigo Mark

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    1. Sim, sim, é normalíssimo. Não me importo nada com o facto de a mãe preferir o meu irmão. Fico feliz, inclusive. Também gosto imenso dele e, verdade seja dita, é merecido. É um fofo, sempre disponível para tudo e todos. :) Gosto de os ver juntos. Os olhos da mãe brilham. LOL
      Não é o mais velho. Tenho uma meia-irmã (como ele, meio) que foi a primeira. É ele porque é ele, pronto, e devido ao paizinho dele. Muahah.

      Humm, não vou repor o 'rei'. Amar é uma fragilidade constante. Quero ver se me torno mais frio.

      abraço, querido Francisco. :)

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  3. BTW o álbum da Katy está fantástico, um dos melhores trabalhos dela, na minha opinião. Vale a pena ouvir e o teu mano foi querido, o que conta é a intenção haha

    Quanto ao P.... bola para a frente, é complicado, mas tem que ser

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    1. Conheço pouco da Katy, só as músicas mais marcantes, mas até que estou a gostar do Prism. :)

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  4. Ainda bem que te divertiste, querido Mark. :-D
    O importante, no Natal, é estar com quem nos faz sentir bem. E se assim foi, óptimo!
    Gosto bastante da música da caixinha (se é a que estou a pensar lol) e deve ser um amor. xD Uma vez também ofereci uma, mas quando se rodava a manivela ouvia-se La Vie en Rose <3.
    Quanto ao P., dearest Mark, há mais mundo! Siga para bingo!


    Grande Abraço! :-)

    P.S.: Mais frio nunca! xD

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    1. É uma caixinha da Colecção Berardo, muito fofinha. Quando a vi fiquei logo 'emocionado', mas depois o postal... :s
      Deve ser dessas mesmo! :)

      Muito mais frio, um autêntico bloco de gelo, muahahah. xD

      abraço, querido Inefável.

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  5. Achei o teu natal sereno e bastante agradável, acho que só faz falta quem está, e só assim o natal fará sentido! Gostei do teu "LOL". Achei-o fresco, jovem e inocente. Assim como deves ser, porque ainda és muito novo :) Sobre o P., é uma chatice quando criamos expectativas, mas pondera o seguinte, são precisos dois para dançar o tango, logo não era de certeza o indicado. Não faltam homens por ai (aleluia! Mas não chovem LOL), e a tua parte, da vossa laranja, irá aparecer-te quando menos estiveres à espera :) E vai saber-te muito bem, quando isso acontecer :)

    Grande abraço

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    1. Eu 'LOLO' imenso nos comentários; nos textos é que não é costume. LOL :D Daqui a dias já escrevo sobre um rei qualquer da Prússia. LOL

      Oh, a parte da minha laranja, por onde andará? E eu que nem gosto de laranjas. :)

      abração. :)

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  6. Esqueci-me dizer que queria ser notificado, quando lesses o meu comentário LOL Por isso, deixo mais este LOL

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  7. Quanto ao teu Natal ele foi muito bom, a meu ver.
    E sobre o P., e remando contra a maré, acho que ficará sempre algo em ambos, e não acredito nessa frieza toda...é impossível...

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    1. Sim, foi um Natal tranquilo. Adorei! :)

      Se me perguntares se ele me é indiferente, dir-te-ei que não, claro. Mas não irei andar atrás dele. Não é do meu feitio andar atrás de ninguém, muito menos de relações. Ele é que decidiu, voluntariamente, afastar-se. Lá terá os seus fantasmas e, sinceramente, pese embora ainda seja novo, começo a não ter paciência para este tipo de situações. Sei bem o que quero (queria). Se ele ainda está 'verde', pois bem, trate de amadurecer e depois falamos.

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  8. ""
    Katy Perry , Roar....kkkkkk

    Floresta/tigre/outra bicharada... Tão sozinha e tão acompanhada. No fundo solta o animal que está dentro dela, afinal como todos nós. Mas, no fim é bom sonhar, e a tua ceia de natal foi tipicamente aquilo que se chama de familiar à medida. Pacífica quanto baste e no próximo Natal logo se vê. Até lá desejo-te o melhor, com resultado do teu trabalho e esforço, não deixes de ser aquilo que és...

    # Bom ano #

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    1. Ele ouviu-me falar da Katy, pronto, bastou. :)

      Foi uma noite calma, bonita. Espero que todas sejam assim.

      Muito obrigado, João. Um excelente 2014 para ti também, mas ainda faltam uns dias. :D

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  9. Que bom Mark! Meu Natal foi bem calmo também com minha família :) Eu amo o Natal mas eu queria frio nessa época, rsrs
    Esse P. é um bobão! Ele dá uma caixa de música de presente e depois escreve sobre amizade e frieza. Não entendo isso.. Melhor deixar ele pra lá mesmo..

    Abraços!

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    1. O Natal no calor também tem o seu encanto. Vivemos numa sociedade dominada pelos E.U.A e pela Europa, pelo menos culturalmente, em que se 'impõe' o seu estilo e referências ao resto do mundo. Quem diz que o Natal tem de ser com neve, com frio? No hemisfério sul não é assim.

      abraço. :)

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  10. consoada com a/as pessoa/s mais importantes da tua vida, isso sim, é que é natal, harmonia e amor. mesmo com fossem apenas vocês os dois, seria igualmente tranquilo e feliz.
    a caixinha de música diz muito mais que o postal. há que saber interpretar os gestos. ficam esses momentos que partilharam nesse objecto, para sempre contigo.
    bjs.

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    1. De princípio seríamos só nós, mas entretanto o meu irmão avisou que viria. Eu gostei. Foi um Natal pouco agitado, conversámos, rimos, brincámos... Deu para fazer tudo sem confusões.

      Eu consigo interpretar o seu gesto. Sei que significo algo, todavia, por cada passo em frente que dá, retrocede dois, e eu não posso ficar à espera de algo, por isso, conformo-me com a ideia de que seremos apenas dois bons amigos.

      um beijinho.

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  11. r: muito obrigado Mark :)

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  12. Tiveste uma boa constará, na minha opinião. Estiveste com duas pessoas que São importantes para ti, pode haver melhor? (O bom é inimigo do ótimo, nunca te esqueças)

    Quanto ao P, é seguir em frente. Mesmo as mas experiências ensinam-nos sempre algo. E acho que essa esteve longe de ser má:-)
    Um abraço

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    1. Exacto, foi um Natal muito bem passado. :)

      Não foi uma má experiência. Somos amigos e há carinho. Não devo é sonhar com mais do que isso.

      um abraço, Horatius. :)

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    2. Desculpa, queria dizer "consoada", mas a escrita inteligente trocou me as voltas... lol

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  13. A comparar com a minha, a teu Natal foi de uma tranquilidade extrema. Que noite tão aconchegante. :)

    Quanto ao P., as resoluções de ano novo são para isso mesmo... XD

    Abraço, Mark.

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  14. Talvez o P não seja insensível, mas apenas não esteja habituado a expressar-se, a sentir algo mais do que Amizade ou algum Carinho...

    Fico triste que esta história tenha chegado ao seu final assim...mas como já alguém disse acima, o que conta são as memórias, as recordações boas e as experiências. E não te queixes de ter amigos, Mark.

    É tão bom termos amigos, se forem amigos verdadeiros...! ^^

    Adorei o detalhe de te oferecer uma caixinha de música. Eu dei duas este ano de prendita de Natal. :3

    Beijinho e grande abraço :)

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    1. Pois, talvez não esteja habituado a sentir mais do que amizade ou carinho, disseste bem.

      As recordações ficam, claro. :)

      É, a caixinha foi fofo da sua parte.

      um beijinho grande e um abraço.

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  15. O futuro dirá se é mesmo um ponto final com o P. Seja ou não, o que interessa é que lides bem com a situação (e parece-me que o fazes), e que tenha servido para te conheceres um bocadinho melhor.

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    1. Eu creio que não há grande 'futuro' para nós os dois enquanto algo mais do que meros amigos. Ele está cada vez mais frio e mais distante. Aliás, ainda mais desde que escrevi este texto.

      As desilusões ajudam ao nosso amadurecimento. Acredita que aprendi mais. :)

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  16. o importante é teres definido na tua cabeça o assunto do p. a partir daqui, saberás lidar melhor com os teus sentimentos.
    ainda bem que gostaste do teu natal :)

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    1. É.. já vi que não dá em nada. Retiro daí quaisquer expectativas...

      Sim, gostei, foi muito bom. :)

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  17. Dá tempo ao tempo... Como já te disse tenho a certeza que vais ser muito feliz, se não for o P. a pessoa certa para ti, é porque não está determinado que assim seja! Mas de certo essa pessoa vai aparecer na tua vida...

    Mas agora nada de tristezas... hopes up!

    Grande Abraço e muita força! ;-)

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    1. Oh, Rúben, muito obrigado pelas palavras! És um doce de rapaz. :')

      um abraço grande!

      p.s.: Não sei o motivo, mas estas palavras tocaram-me tanto.

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