8 de dezembro de 2013

Weekend.


   Colocando o estudo de parte, antevendo-se semanas que serão complicadas, aceitei o convite da Margarida e estive presente, no sábado à noite, no lançamento do livro O Corredor de Fundotradução da obra The Front Runner, elaborada pela INDEX ebooks. O evento teve lugar no Bairro Alto. Antes disso, pude jantar, e confraternizar, com o Francisco, além da Margarida. Jantámos pelo Chiado e pusemos a conversa em dia (pouco havia a actualizar, uma vez que estivemos juntos no sábado anterior, numa ocasião em que pude conhecer o Arrakis e respectivo companheiro - são dois senhores encantadores, acrescente-se).

   Pelo que tive conhecimento, o livro foi o primeiro best-seller da literatura homossexual, aconselhando, por isso, a que o adquiram no site da editora acima mencionada.


   Hoje, de manhã, estive com o P.. Liberou umas parcas horas do seu dia para estar comigo. Ideia sua. Ao longo da semana, combinou-se para a manhã de domingo devido ao meu compromisso com a Margarida. Acaso pudesse ter optado, estaria com ele na sexta à noite de forma a podermos desfrutar da iluminação natalícia da cidade.
    Estipulámos para as dez. Quando estava prestes a chegar à Baixa, liga-me. Adormecera. Ainda estava na cama. Anda cansadíssimo. Levanta-se muito cedo e deita-se tarde porque fica a a estudar. Às sextas, regressa a casa, de noite, para voltar à residência na segunda bem cedo. Ficou constrangido e desfez-se em mil desculpas. Evidentemente, compreendi. Só me custou ficar meia-hora ao frio, nesta Lisboa gelada a quinze dias do Natal. Aproveitei o compasso de tempo e fui ao Rossio comprar um livro para a faculdade. Uma bíblia no tamanho, não no preço, que as Bíblias são baratas e este livro ficou-me num balúrdio. No ano que vem sai uma legislação nova e, pronto, chapéu, desactualizado fica. 
   Olhei para o telemóvel. Nenhuma sms. Observei os pombos e uma gaivota a bebericarem a água no topo da fonte norte. Volta e meia, molhavam a cabeça e as asas. Turistas aproximavam-se e fotografavam os edifícios envolventes, bem como a praça. Um casal pediu-me para que os captasse com a objectiva. Alemães. Uma simpatia. Troquei breves impressões com eles. Estavam a adorar Portugal e o clima... ameno. Irónico mundo o nosso.

   Ouvi o som das mensagens. Estava a chegar. Desci e voltei para a Rua do Ouro. Não me via. Ligou-me no momento em que nos cruzávamos. Bem, não lhe punha a vista em cima há um mês. Emagreceu. Barba de quatro ou cinco dias, cabelo molhado do banho, um casaco preto e um sorriso de orelha a orelha. Estava especialmente simpático. Caminhámos em direcção ao Terreiro do Paço. Uma neblina encobria o Tejo. Frio de cortar a respiração. Instalada no centro da praça, uma abóbada da Comissão Europeia pretende dar a conhecer mais aos lisboetas sobre a sustentabilidade agrícola e económica. Até de forma a evitarmos o frio, entrámos no recinto. Que quentinho lá dentro. Dirigimo-nos a um dos vários ecrãs tácteis dispostos pelo espaço. Para um futuro agrónomo, não poderia ser melhor. Pouco lá estivemos. Saímos e decidimos ir ao Chiado.

   Subimos todas aquelas ruelas características até chegarmos ao miradouro de Santa Catarina. Timidamente, o sol começava a revelar-se por entre as nuvens. Lá, deu-me um presente. O presente de Natal. É um embrulho, um pequenino embrulho vermelho de laço amarelo.

    Emocionei-me. Disse-me que não queria que ficasse triste. Viu tristeza onde eu vi alguma comoção. Quase que lhe disse que, certamente, seria o presente mais especial que teria, neste ano, na árvore de Natal. Achei que soaria a algo brega (benditos brasileiros que têm sempre uma expressão adequada para tudo). Retive para mim. Não quis demonstrar ainda mais fragilidade. Sentiu alguma tosse que persiste. Sabe das minhas mazelas. Achou-me branco. Olhando bem para o seu rosto, também não vi boas cores.

Ainda seremos dois velhinhos doentes. Eu, mais. Dás-me o braço quando lá chegarmos?, brinquei. Sorriu.

   Diria, a julgar a pela sua expressão, que sim. Hoje, e não pelo presente, desvendei algum futuro. Não posso afirmar em que moldes. Do seu carinho, não seria justo duvidar. Numa sociedade volátil, em que importa o sexo desenfreado, o prazer momentâneo, que rapaz de vinte anos dá um presente a outro, passeando com ele, brincando, sorrindo, se nada sente?
    Guardei o embrulho na mala. Colocá-lo-ei aos pés da árvore.

    Perto do meio dia, regressei a casa. Falou-me por alto da possibilidade de passarmos o réveillon juntos. Teme que a mãe não vá para lado algum, o que o levará a fazer-lhe companhia. Falámos da faculdade, das notas - boas, segundo o que me contou. É um dos melhores alunos da turma. Gaba-me as notas, jamais por inveja. Elogia-me. Faço-me de acanhado, mas gosto. Só me desagrada quando refere que sabe menos ou que sou melhor do que ele. Custa-me ouvir e não é verdade, de todo. Dessem-me qualquer coisa agrícola para as mãos e nada saberia fazer com aquilo.
    Gosto dele assim, simples.

   O melhor presente que me podia dar era a sua presença. O seu carinho.
   Habituei-me ao pouco que dá, que é muito se olharmos com atenção.
   Embora sinta saudades dos seus beijos, há maturidade. Estabilidade.
   Vai chegando.

22 comentários:

  1. obrigada pela companhia. o fim da noite foi divertido. :)
    eu senti esperança neste texto. muito melhor que os últimos tristes que escreveste sobre o P. acho que o melhor conselho que te posso dar é 'dá tempo ao tempo'. ele gosta de ti e vice-versa. :) e uma relação à distância não é o fim do mundo.
    desejo-vos muitas felicidades.
    bjs.

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    1. Achei-o mais próximo, carinhoso. Teve saudades, o que já não é mau.

      Obrigado, Margarida.

      um beijinho.

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  2. Nós temos expressões bem hilariantes né :D Que bom, Mark, feliz por vc! Esse texto está bem fofo. Vc tá doente? Viu só, já tem presentinho na árvore de Natal kkk :D
    Aqui tá mó calorão. Que inveja dessa friozinho gostoso da Europa. Lisboa deve ser LINDA com neblina *-* Ai, quem me dera conhecer aí :)

    Abraços!!

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    1. O do costume: asma. Já estou habituado.

      Sim, o primeiro presente. Não sei se resistirei em abrir uma 'pontinha' do embrulho. É melhor não. Violo as regras do jogo e acabo por ver tudo. LOL XD

      Lisboa é uma cidade bonita, sim. Mas está triste. Muita miséria, muitos sem-abrigo. A cidade transpira fome e pobreza. Triste demais.

      Espero que um dia venhas cá e, quando assim for, avisa.

      um abraço.

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  3. Oh, que ternura. Não há nada mais bonito do que passear pelo Chiado com a companhia perfeita e um presente vindo de alguém tão especial.

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  4. Que ternura, mon Mark! :-)
    Faço mesmo força para que tudo se recomponha. Ele parece ser um rapaz impecável e tu impecável és. Impecável + impecável = :-)

    Pode ser que eu um dia encontre outro Inefável, ahah!! xD
    E nada de abrir o regalinho antes da meia-noite de dia 25! Vamos lá ver, han! xD

    Abraço :)

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    1. É uma relação inominada e não tipificada. Há algo da sua parte.

      Oh, muito obrigado, Inefável. És um rapaz muito querido e simpático. Afável.

      Vou controlar-me. :)

      abraço. :)

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  5. Lá serei o Padrinho :D

    Que belo presente de Natal ;)

    Grande Abraço

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  6. Li este post com um sorriso nos lábios :) Momento tão bonito e tão bem descrito :)

    Em relação ao e-book, já soube da sua existência e obviamente terei que o ler :)

    Abraço caro Mark :)

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  7. Fiquei feliz.
    Afinal ainda nada está perdido...
    E as relações à distância são árduas, mas não impossíveis.

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    1. Exacto, e do longe se faz perto. Sabes, até prefiro que tenhamos cabeça e que isto vá ter a bom porto. Gosto de sentir que não me trata como um objecto. Ele lida mal com as palavras, apenas.

      João, gostei de te (re)ver. Estavas com a face rosadinha.

      um abraço.

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  8. Li a tua descrição com um sorriso. Gosto tanto deste vosso romance, acho que tem mesmo boas bases! E como vês nada se encontra, nem se encontrava perdido, muito pelo contrário.

    Tenho a certeza que serás muito feliz, tu é um miúdo fantástico! E digo isto mesmo de coração! :D:D:D:D

    Grande Abraço

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    1. Sim, acho que tem bases. Ele é que muda imenso o comportamento. Ontem estava bem humorado. :)

      Oh, obrigado Rúben. És muito querido. Também te desejo as maiores felicidades com o teu P. ou com qualquer outro rapaz que te faça feliz.

      um abraço grande!

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  9. Mark,
    Obrigado pela tua companhia no lançamento do nosso ebook. Gostei de ter ver. Tenho pena de não ter tido oportunidade de falar um pouco mais contigo. Espero, que na próxima vez, possas trazer o P.
    Abraço
    João

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    1. Olá João. :)

      Parabéns pelo lançamento. O espaço era muito agradável. Gostei imenso da intervenção do Luís.
      Lamento que não tenhamos falado mais, mas certamente não faltarão outras oportunidades. :)

      um abraço.

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  10. gostei de saber que tiveste um bom dia e que o P voltou a ser um pouco o que tu gostas que ele seja. espero que as coisas andem bem mas cuidado com os teus sentimentos, mas acho que já sabes bem disso melhor do que ninguém.
    foi um momento giro :)

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    1. Foste ao ponto, Aaron. Voltou a ser um pouco o que eu gosto que ele seja. É exactamente assim e, sendo responsável, espero não me ter precipitado com este texto demasiado optimista. Há, porém, dados garantidos. Eu não posso ser um qualquer para ele.

      Sim, foi uma manhã (ou melhor, umas horas...) muito gira. :)

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  11. Fico muito contente, se fosses qualquer um para ele, não teria o cuidado e atenção especial de te trazer um presente :)
    Como dizes que o presente é pequenino, se calhar é um anel com pedido e tudo...XD just kidding :D

    Abraço, Mark.

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    1. Eu também penso assim. :)

      Ahahahah, pois, quem sabe. :D

      Abraço, Arrakis.

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