Difícil não estabelecer um paralelismo com o Julho de há uns anos. Impossível esquecer os dias passados em Sintra, com os educadores de infância, professores e coleguinhas, correndo por entre as mesas de pedra que pareciam menires à altura de crianças irrequietas. Mesmo a mim, assemelhavam-se a pedras do Megalítico, deliciosamente esculpidas, a um menino atento, que preferia ficar a baloiçar as suas pernas morenas, com as sandálias vermelhas oferecidas pela avó, do que arranhar os joelhos correndo atrás de uma bola ou de um gafanhoto que lá surgia por entre as silvas.
As piscinas conheciam-nos pela manhã. Desafiado pelo Bruno (onde andará?), pulávamos da parte mais alta do recinto de contornos rectos, onde não tínhamos pé. Sendo mais alto e robusto do que eu, apercebendo-se da minha dificuldade em manter-me à tona, pegava nas minhas mãos de forma a que pudesse chapinhar na água. O véu que nos cobria permitia-nos agir espontaneamente, sem os grilhões do mal parecer.
Colhendo flores de tarde, vendo o campo de basquetebol ao longe e os automóveis deixando um rasto se sujidade na estrada, não deixava de me sentir num mundo à parte. No mundo normal, as meninas cochichavam segredos e brincavam às escondidas e à apanhada. Os meninos jogavam futebol, derrubando-se uns aos outros, exibindo a agressividade que acabaria por definir as suas personalidades. No meu mundo, onde as pétalas necessariamente cobriam o chão de pequenas pedras e terra cor de barro, era bom rodopiar até perder o equilíbrio, falar sozinho e criar amigos imaginários. Dançar à brisa da tarde, cantando as músicas dos filmes de animação. Colocar o chapéu de abas e não os bonés estereotipados. Afrontar o expectável, mudando o habitual.
Marcava o compasso de cada dia; as horas seguiam o som da minha música e o tempo era todo meu, nas doces férias de Julho.
Era também uma dessas meninas que ficava aos cochichos e que preparava maravilhosos bolos imaginários com utensílios vários. Chegava a casa sempre mais suja do que a maioria... :)
ResponderEliminarCreio que amigos imaginários todos tivemos em criança XD
ResponderEliminarAbraço amigo
Tânia: Eu chegava impecavelmente limpo. Era um "careta". :D Mas, cochichar, fartava-me de fazê-lo. x)
ResponderEliminarFrancisco: Eu tive tantos... :)
abraço :3
julho é um mês maravilhoso, não é? tens lindas memórias. e em Sintra, que melhor sítio para as viver? as sandálias vermelhas, o baloiço, a solidão, bem-vindos, amigos imaginários :)
ResponderEliminarbjs.
A tua escrita é sempre bela. Constrois beleza com as palavras, mas ainda que linda nao te deves refugiar no menino que ainda hoje és, longe dos outros, na sua concha particular que o simultanemanete o protege e distancia do mundo.
ResponderEliminarFaz deste Julho e de Agosto o Julho e Agosto de 2012, Mark.
Ready?
Go!....
Hugs
Margarida: Memórias maravilhosas de Sintra, da Praia das Maçãs, de Colares... :)
ResponderEliminarbeijinhos :*
Daniel: Pegando nas tuas palavras, às vezes refugio-me numa concha. É uma boa analogia. A concha é segura, abre e fecha quando quero. Às vezes saio, mas volto sempre. :)
abraço :3
Fizeste com que a minha memória retrocedesse uns trinta anos... que delícia... momentos que não mais acontecerão.
ResponderEliminarObrigado Mark
PS: encontrei um pequeno erro no teu texto (uma raridade) - "... sandálias vermelhas oferecidas pelo avó..."
Ribatejano: És tão mau. Ahah :) Não se dá o nome de "erro" a esse lapso, mas sim "gralha". Não se trata de nenhum erro ortográfico, mas de uma troca de género na preposição "pela". Em todo o caso, vou já emendar. Obrigado. :)
ResponderEliminarTu eras diferente dos demais, concordo, mas eras tu!!!
ResponderEliminarJoão: Sim. :)
ResponderEliminarabraço :3
Bons momentos da sua infância,Mark. Você é um rapaz muito sensível e diferente dos outros. Acho isso bacana. Na sua introspecção, você criava um mundo só seu,mas interagia com os outros à sua maneira. Vejo que não mudou muito, continua introspectivo,mas sociável e amigo.
ResponderEliminarUm grande abraço.
Citizen: Obrigado pelas palavras. :)
ResponderEliminarabraço grande :3
Que belas recordações de infância...em alguns pontos retrocedi no tempo e revivi doces momentos ao ler-te...só faltava dizeres que te sentavas à sombra de uma árvore e que lias algum livro. Eu adorava ler "O Raposinho" - nasceu aí o meu fascínio pelos lobos e pelas raposas.
ResponderEliminarjinhos :333
Hórus: Nesta idas a Sintra não costumava levar livros.
ResponderEliminarEm todo o caso, nunca li "O Raposinho". Lia as histórias da Disney e os contos infantis clássicos. :)
beijinho :*