Adormeci. Subitamente acordei, levantei-me e vi o meu reflexo no espelho do aparador situado entre os quartos. Os olhos ardiam-me ao pestanejar, talvez porque os tivesse esfregado enquanto dormira.
As noites já não eram povoadas por pequenos momentos de fantasia, onde os brinquedos falavam (como no Toy Story) e secretamente combinavam vigílias secretas ao nosso sono, protegendo-o dos pesadelos dos adultos.
A altura traíra-me. As mãos cresceram; as pernas acompanharam-nas. O rosto modificou-se (não fosse o espelho mentir-me, teria uma foto por perto), mas, conforme diz frequentemente a avó, "as bochechas continuam rechonchudas". É sempre bom saber que continuamos com as bochechas rechonchudas...
Se a noite fosse irregular, eu seria mais um fantasma que percorreria corredores. Sentar-me-ia no primeiro degrau e esperaria que ninguém do piso inferior viesse à minha procura. Se o fizesse, sempre poderia deitar-me de novo, cobrindo a cabeça com o lençol. Um bom esconderijo. Ou poderia, ainda, conformar-me com a vinda do velho do saco, "sempre à procura dos meninos mimados e exigentes". Claro que a minha audácia em tudo superaria a sua força física. Levaria um x-acto - no mínimo - abriria o saco e sairia sem que a sinistra figura desse pela minha fuga. Gostaria de ver o seu semblante ao verificar, à entrada do seu lúgubre casebre, onde a lareira não tem lenha e o caldeirão está vazio, que me evadira sem que tivesse sequer notado. Destruiria o mito e seria o herói.
O leite dera-me sono. Afinal, cresci. Voltei para a cama e dormi.
E assim continuarás...
ResponderEliminarUm dia, a saudade dos bonecos que falam, do medo do escuro, ...
1 abraço.
E tiveste bons sonhos :)
ResponderEliminarAbraço amigo
Paulo: Mantenho o medo do escuro. :)
ResponderEliminarFrancisco: Felizmente, nunca fui dado a pesadelos. :)
abraço a ambos :3
Então e o velho não daria pela falta de peso no saco? xD
ResponderEliminarSim, fisicamente cresceste.
ResponderEliminarNoutros assuntos ainda falta... mas a vida é uma constante de crescimento (aprendizagem).
lol
"o velho do saco"... a minha mãe assustava-me com "se não comeres a sopa toda, vem o homem do saco e leva-te".
ResponderEliminaragora, reparamos que os anos passam, que não somos mais crianças e as responsabilidades avolumam-se. eu desejo muitas vezes poder ter a capacidade de regressar ao tempo do tom sawyer; quando tinha 15 anos só queria ser adulta e independente...
maravilhoso o teu texto.
bjs.
Anónimo: LOL, não, porque eu iria no meio do entulho que ele levaria. :D
ResponderEliminarRibatejano: Claro, estamos em constante "crescimento". Falta e faltará sempre, pois jamais aprendemos tudo. Necessitaríamos de - pelo menos - dobrar o número máximo de anos que podemos viver: uns 240. :)
Margarida: Obrigado pelas tuas palavras. :) Também me contavam acerca das investidas do "velho do saco", mas por motivos completamente diferentes: como era muito mimado e exigente (a nível de presentes), chegando ao ponto de fazer birras descomunais, diziam-me que caso não me comportasse bem, um velho horrendo viria buscar-me de madrugada. Amedrontava-me um pouco. :)
Engraçado, nunca tive essa ânsia enorme de ser adulto. Daria tudo para regredir no tempo...
beijinhos :*
Nunca deixamos de "ter medo do escuro", mesmo que nos dê prazer a escuridão.
ResponderEliminarNunca deixamos de ser crianças, mesmo que o corpo cresça e a mente se desenvolva.
E ainda bem...
João: Concordo. :)
ResponderEliminarabraço :3
Que imaginação fértil,Mark.Bem, de uma forma ou de outra, nunca deixamos de ser crianças e usar nossa imaginação. É gostoso abstrair um pouco.
ResponderEliminarUm abraço.
Citizen: Eu vivo na abstracção. Ser óbvio é demasiadamente monótono, eu acredito nisso. :)
ResponderEliminarabraço :3
Linda abstração!
ResponderEliminarObrigado, Luana. :)
ResponderEliminar*whispers* Buuu! De regresso! ^w^
ResponderEliminarAdorei o pormenor de, desta vez, seres o herói! ^^
Hughie :333
Hórus: Ao menos em fantasia. :)
ResponderEliminarhughie :333