21 de fevereiro de 2012

Riacho.


 Segunda-feira. Nas ruas, serpentinas espalhadas pelo chão. Uma varanda, que se erguia sobre um prédio amarelo torrado, exibia várias serpentinas dispostas em todo o seu comprimento. Várias crianças brincavam à medida em que caminhavam com familiares. Vi índios, fadas, princesas, cowboys, piratas e vi muita impaciência dos pais. Em criança, os pais não tinham muita paciência para mim, é verdade, mas deixavam-me viver o meu dia da forma que queria. Digamos que não tinha ninguém que me retirasse o sonho e a fantasia das mãos.
 Num jardim, parei numa ponte suspensa sobre um pequeno riacho. Debaixo, um grupo de patos nadava na água. Lembrei-me, então, dos passeios dados com a mãe pelos jardins da Gulbenkian. A perplexidade por não compreender o motivo que levava um pato a ter a penugem da cabeça verde enquanto os restantes a tinham branca. Tornava-se impossível para a mãe colocar-me no chão. O ímpeto da curiosidade de todo um mundo por explorar era um perigo. A vontade de entrar na água e de nadar com os patos era real.
 A mesma vontade que me tomou hoje. Podendo, entraria na água e nadaria riacho fora. Fiquei-me antes em terra e despi o casaco. Ao que tudo indica, a primavera chegou.
 Pode ser que ganhe embalo e voe com as andorinhas que se aproximam na época quente. Se uma quiser pousar sobre as margens do riacho, contar-lhe-ei as histórias da minha infância e dos patos.
 De noite, voltarei na corrente do curso de água.


11 comentários:

  1. Temos poeta...escrevendo em prosa!

    ResponderEliminar
  2. belo texto Mark. Nada melhor para terminar a minha noite, que já vai longa. abraço

    ResponderEliminar
  3. Bom descanso, Speedy, e obrigado pelas palavras sempre afáveis.

    Abraço. <3

    ResponderEliminar
  4. Ótimo texto, onde somente a natureza nos livra dessa época de folia...
    Abraços

    ResponderEliminar
  5. Este texto fez-me lembrar um livro que gostei muito, de Luís Sepúlveda "História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar".

    ResponderEliminar
  6. Gostei.Mas, sabe que esse conto tem cara de crônica? Parece muito real (isto é, se não for real como estou pensando ^^).
    Blog Abstrações | Tumblr pessoal

    ResponderEliminar
  7. Coelho: Deve ser um livro fantástico. Não conheço, mas adoraria ler. Quem sabe quando tiver mais tempo disponível. ^^

    Suzi: Sim, é real. (:

    ResponderEliminar
  8. OH mas que texto bonito :´)
    Faz-me também lembrar a minha infância.
    Era tão lindo quando éramos crianças..não tinhamos a noção de quase nada.Éramos tão inocentes...
    Mas olha não podemos é ficar tristinhos com isso,temos é de nos relembrar da nossa infância mas relembrar os bons momentos.
    E se uma andorinha realmente pousar na margem e fores contar alguma história,conta-lhe uma feliz para ela tornar a primavera ainda mais bonita com o seu voo :)

    Beijinho*

    ResponderEliminar
  9. OH não tens de agradecer,tu mereces :)
    Eu só não quero é que fiques assim triste ^^

    beijinho* grande.

    ResponderEliminar