20 de dezembro de 2011

Christmas Tree.



Luzinhas que piscam incessantemente, em tons amarelo, azul e vermelho. As bolas, vermelhas e brancas, refletem a luz das lâmpadas e dão ao rosto um formato angular. A grande borboleta com brilhantes parece ganhar vida sobre o ramo de azevinho no qual pousa. Por baixo da árvore, olhando até ao seu topo, sinto-me pequeno. Descolo um pouco da fita-cola que sela os presentes de Natal. Vejo o que os familiares me deram, afinal, são os únicos presentes dos quais nada sei do que se trata.

O frio do exterior e o calor da casa embaciam os vidros altos da janela da sala da avó. Desenho o meu nome no ressoado. O dedo esfria. Engraçado, minutos após desenhar e escrever o que me surge na cabeça, começam a escorrer gotas até ao fundo do amplo vidro.
Anos atrás, sentia o perfume intenso da tia quando se dirigia para a sala e decorava a mesa natalícia. Outros membros da família a auxiliavam na tarefa.

Natal, para mim, significava essencialmente presentes e brinquedos caros. Adorava rasgar impetuosamente o papel colorido das embalagens, quase tomado de uma fúria consumista. Desengane-se quem atribui aos adultos o pior defeito do consumismo... Surpreender-se-iam em como uma simples e aparentemente doce criança pode embirrar e chorar quando vê algo que tanto quer... Sim, fala a voz da experiência na primeira pessoa.


Com os anos, apercebi-me do verdadeiro espírito de Natal. Do espírito muitas vezes hipócrita do Natal. Se todos pensássemos em quem não tem o mínimo de alegria, veríamos que o Natal não são os bens materiais. É preciso crescer e perder o véu da inocência, vendo tudo com tamanha clarividência insuscetível de conduzir a equívocos: o Natal está transformado, deturpadamente, numa festa ao consumo, às tréguas cínicas de uma noite, aos sorrisos dissimulados, aos beijos traidores. Judas são-os muitos e poucos vestem pele de lobo.

As horas passaram e na rua escureceu. No horizonte, as luzes dos candeeiros parecem estrelas de cristais através do vidro. A árvore brilha, sozinha, último bastião de um Natal pálido, sem brilho, vida ou cor. Também o espírito se perdeu. Perdeu-se tudo com o ímpeto dos anos, da vida desgastada, da crise de boca em boca... Afinal, dizem os especialistas que o Menino não terá nascido na noite de Consoada. Bacalhau não comeu, de certeza.

Levanto-me do chão e saio. A avó gosta das luzes a brilhar durante a noite. Simboliza a magia do Natal. O que a avó ainda não percebeu é que essa magia não existe mais. Se algum dia existiu, perdeu-se no orvalho da madrugada fria... para sempre.


15 comentários:

  1. Já somos dois a não sentir o espírito natalício (mas a mim,é por razões específicas...).
    E engraçado,eu também era assim.
    Como eu gostava de desembrulhar aqueles presentes todos,para depois ter uma nova carrinha da Barbie ou um nenuco :b
    Mas apesar deste espírito natalício ter passado um pouco..restam-nos as doces memórias.
    E isso,por si só,é bastante bom.
    Por isso,não fiques tristinho não? :´x
    Vá,agora um grande sorriso nessa carinha!
    It´s cristmas! :D
    E apesar de não estares dentro do espírito,podes enfardar-te de doces x´DD
    Sempre há um lado positivo ;D

    Beijinho*

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  2. O Natal é feito por nós mas é normal que te sintas mais sensivel nesta altura do ano.. tenta não pensar tanto na maldade do mundo e vive a época :) vive-a à tua maneira
    feliz natal, abc mark

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  3. Infelizmente o espirito do Natal esvaiu-se na furia consumista que se abateu sobre a sociedade. há muito anos (quantos?).
    às vezes não tenho muita vontade de passar o natal com os meus pais, especialmente se houve alguma discussão recente, mas, à medida que fico mais velho (credo, ainda não cheguei aos 30!) penso que é menos uma oportunidade que tenho de passar uma data que, pelo menos para eles, lhes é muito significativa.

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  4. Mark vem passar o natal comigo que eu faço-te sentir o Espírito do Natal XD

    abr

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  5. Que bonito texto. E que sensibilidade a sua, Mark. Se todas as pessoas tivessem a mesma visão que a sua, estaríamos vivendo num mundo muito melhor. O consumismo faz parte das sociedades atuais,mas isso não exclui a nosso sensibilidade e os nossos questionamentos. As pessoas não percebem o natal como uma festa para celebrar a confraternização,e sim,só uma data para comprar e ganhar presentes.

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  6. O mundo de uma sonhadora: És sempre tão querida e afável. :) Eu não estou triste; apenas fico pensativo com determinadas atitudes desta época que demonstram alguma hipocrisia.
    Os presentes também sempre foram importantes para mim. :D
    Beijinho. *

    Tomás: ... e vou viver o Natal, até gosto. :) Obrigado, abraço para ti também. ^^

    Coelhinho: O consumismo é o que mais caracteriza a época natalícia... :/
    Aproveita todos os Natais que possas passar com eles; um dia mais tarde lembrar-te-ás de cada pormenor com todo o carinho. O ideal era levares o P. contigo e ficarem todos juntos. :)

    Miguel: Oh, és um querido. Seria um Natal diferente, de certeza. LOL :D
    Abraço. ^^

    Despreocupado consciente: Subscrevo tudo o que escreveste. O espírito de Natal perdeu-se totalmente nesta fúria consumista das sociedades atuais. Confesso que também faço compras e gosto de fazê-las; contra mim escrevi este texto. Contudo, trata-se também - mas não só - de uma autocrítica. ^^

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  7. ohh *.*
    Obrigada(pelo elogio) hehe :$
    E eu percebo o que queres dizer.
    Hoje em dia tudo anda à volta dos bens materiais.
    Mas nós no fundo,sempre fomos um bocado assim... :/
    E já agora,sim! Estou muito apaixonada haha :b
    E muito obrigada também (para além do comentário super fofinho que deixas-te!!) do elogio ao novo design do blog.
    p.s-sim,a deficiente na foto sou eu x´D

    Beijinho*

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  8. Ah! Li seu comentário sobre o sistema eleitoral de Portugal. Eu enviei uma resposta pelo meu gmail,não sei se veio pra você.Enfim, gostei da sua explanação a respeito do sistema eleitoral do seu país e acho interessante o sistema de governo daí, semipresidencialista ou semiparlamentarista, Já li sobre esse sistema de governo. Obrigado pelas informações.

    Vários abraços verde e amarelo e boa festas!!!

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  9. Obrigado pelo comentário. Sim, sou muito ligado na defesa dos Direitos Humanos. Fico indignado com que vemos por aí,não dá pra ficar calado.

    Chegou a ver o vídeo da menina que calou o mundo por 5 minutos? Muito bonito,não é?! se todos fossem que nem essa criança... Que belo mundo teríamos.

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  10. PS.: Você acha estranho eu escrever usando muito o "você". Uma vez eu li que aí, ele pode ter uma conotação meio pejorativa ou algo do tipo.

    O tu e o ti é muito pouco usado no Brasil e,quando usado, geralmente é de maneira incorreta.

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  11. O Natal transformou-se, objectivamente, num consumismo desenfreado.
    E subjectivamente, com o desaparecimento de familiares e o afastamento de outros, numa noite triste, cheia de saudades e lembranças...
    Mas com uma Mãe com 89 anos, todos os momentos passados na sua companhia, são poucos...E ela, ainda vive muito o Natal, é algo de muito importante para ela; só isso justifica o meu pouco interesse por esta data.

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  12. pinguim: Meu querido amigo, compreendo esses teus sentimentos no Natal. Com o tempo, perdem-se pessoas e imagino as emoções e as lembranças que terás. Certamente não é fácil. :/
    Que bom saber que a senhora tua mãe ainda tem gosto pelo Natal; infelizmente, devido à crise, às doenças e ao abandono dos familiares, muitos idosos não sentem mais o espírito natalício. Ela ainda o sente com a bela idade de 89 anos. Isso é fantástico. ^^
    Aproveita todos os momentos com ela.
    Abraço. ^^

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  13. Deliciosa descrição da deterioração do espírito natalício. Algo que há muito se verifica. Talvez por isso a crise seja importante: o individualismo dissipa-se e dá-se largas à partilha (lentamente...).

    Abraço grande.

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  14. Paulo: Boa perspectiva, de facto... Nunca tinha pensado nisso... O altruísmo acentua-se nestas épocas difíceis... Bom, também é importante que as pessoas estejam dispostas a isso... Acreditemos que estão. :)

    Abraço. ^^

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  15. O Natal é amor. Todas as formas bonitas que o amor pode ter. Deve ter sido por essa razão que nasceu aquele ditado que diz "o Natal é quando o Homem quiser".

    É certo que a sociedade tornou a época muito festiva e apelativa ao consumo, mas basta olhares para o presépio [que na época natalícia embeleza muitas casas], para tomares a consciência do verdadeiro significado do Natal. O nascimento do Menino Jesus, numa manjedoura.

    Eu até colocava a questão que tu abordas no texto por outro prisma. Os adultos é que tem de começar a educar as crianças para os verdadeiros significados do Natal e de outras festividades.

    Recordo-me que quando eu era pequenino, ao receber as prendas, primeiro divertia-me imenso com o papel de embrulho. Só depois de, já cansado de brincar com ele, ia prestar a devida atenção ao presente.

    Creio que esta crise que há tanto tempo se fala [ao ler o teu blog, fiquei com a noção real do tempo que já andamos a lidar com esta mal-fadada crise] terá essa consequência positiva na vida das pessoas.

    As pessoas darão prendas mais objectivas, mais úteis, menos "espalhafatosas"...e muitas crianças farão "birras" por não terem "mais" uma Barbie ou um jogo novo para a consola. Ou talvez não. Talvez vejam o sofrimento que os pais passam no dia a dia e graças a isso estejam a amadurecer precocemente.

    Não direi perderem o "véu da inocência", porque eu acho que esse é um dos dons mais maravilhosos que temos e que devemos preservar a todo o custo.

    É tão bom sermos puros!

    Bem sei que o Mundo não é de pintado com mil e uma cores como o era quando nós o víamos há uns anos atrás, mas, ainda assim, vale a pena. A beleza do mundo e da própria vida começa na forma como nós queremos ver. Temos é que ter sempre uma dose de consciência da realidade. Mas que isso nada impeça de mantermos a nossa inocência, aquilo que nos torna sempre, mas sempre, um ser único. ^^

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