19 de outubro de 2011

Tragedy.


Numa altura em que a maior parte das pessoas reflete sobre o seu futuro, objeções surgem a todo o momento. Quando se fala em crise, a importância que lhe damos confere-lhe um caráter quase humano: a Crise, que personificada seria alguém muito maléfico e despudorado de sentimentos; ou fazendo uma zoomorfização, transformando a Crise num monstro terrível e medonho, semelhante ao gigante Adamastor. O monstro dos tempos recentes.

Hoje, tivemos uma demonstração clarividente, eu diria, das proporções desta Crise animalesca que amedronta os sonhos de milhões por esse mundo fora. Numa aula, aborrecida até, um professor disse-nos claramente que há alunos que vão para as faculdades sem comer e que num dos muitos estabelecimentos de Ensino Superior de Lisboa, o reitor disponibilizou uma sopa quente, ao almoço e ao jantar, para os alunos da noite, de forma a que estes possam continuar a frequentar as aulas.
Fiquei mais do que perplexo, fiquei revoltado. Não consigo imaginar o que será não ter uma refeição quente para ingerir, para mais em Portugal. Uma realidade tão próxima de nós levou-me, quase instantaneamente, a olhar para a colega do lado e pensar: "Será que tu tens um prato de comer quente quando chegares a casa?".


A miséria dos novos tempos não é igual à vivida antigamente. É a chamada nova fome, os novos pobres. Porque se, há cinquenta anos atrás, nas populações, todos sabiam quem passava dificuldades, atualmente não é assim. As fomes modernas são escondidas, envergonhadas, rostos cujo o semblante disfarça a dor contida.
Saí da aula pior do que entrei. Lembrei-me e mandei uma mensagem ao tal rapaz da livraria. Argumentei de que precisava de ajuda numas matérias, quando, na verdade, preciso de me tornar menos sério. Procuro um Eu antigo, não muito, talvez recuperável. Sinto sobretudo a falta da capa de indiferença, que me envergonhava enquanto pessoa, mas que me defendia a todo o momento. Os efeitos já se fazem sentir e eu corro atrás de mim próprio.


7 comentários:

  1. tive o caso de uma colega que enfim...aconteceu mais ou menos o mesmo...

    as coisas andam muito complicadas, hoje pode passar-se fome e ter o melhor dos aspectos...faz-me lembrar um pouco a crise de 1929...a fome e o desespero da miséria e com um carro na garagem.

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  2. portugal está mesmo a bater no fundo... mas olha que fome escondida também já havia, agora há é mais por ai. também fico triste mas de certa forma temos culpa porque não soubemos escolher os governantes ideais desde que temos democracia...
    abc

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  3. Infelizmente Portugal está assim...
    Espero que consigas o que queres Mark. Beijinhos

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  4. Meia Noite e Um Quarto: Sim, as pessoas temem que se saiba que passam dificuldades. Deve ser difícil ter tudo e, num quase passe de mágica, ficar sem nada. :(

    Tomás: De certa forma, tens razão. Fizemos más escolhas políticas. No entanto, também houve negligência por parte de vários dirigentes políticos ao longo destas décadas pós-democracia. Concordo, então, com a responsabilização dos políticos que se aproveitam dos cargos para os quais são escolhidos apenas para proveito pessoal.

    Cláudia: Obrigado. :3

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  5. Já consegui escrever um textinho... espero que não tenha perdido qualidade.

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  6. Também espero que sim... :) Obrigada querido

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