Os professores lançaram as notas. Fiquei satisfeito com os meus resultados. Ainda tenho os exames, por isso, terei de me aplicar mais.
Num dos intervalos, a meio da manhã, fui até ao jardim da faculdade ter com o R. Como vos disse, pensei em convidá-lo para vir comigo às compras na segunda-feira. Hesitei um pouco, pensando que talvez não fosse de bom tom, mas a atenção dele para comigo, ultimamente, permitiu que tomasse esta decisão. Quando cheguei ao jardim, ele estava sentado num banco a fumar um cigarro. A pose dele dava uma boa fotografia. Estava sentado de pernas abertas, apoiando o braço esquerdo na perna enquanto o direito manuseava o cigarro. Estava ligeiramente inclinado sobre si. À medida que inspirava o cigarro, franzia os olhos numa expressão bastante masculina. Sentei-me ao seu lado em silêncio. Fazia muito frio.
-"Parabéns pelas notas." - disse-me, continuando a olhar em frente.
-"Obrigado. Parabéns também pelas tuas, apesar de saber que não conseguiste a Direito Civil." - agradeci-lhe, tentando confortá-lo pelo facto de ter tido negativa no teste.
-"Tinhas razão. És melhor do que eu. Lembras-te, no anfiteatro, no outro dia?" - perguntou-me, num tom triste.
-"Não coloques as coisas nesses termos. Estou triste por ti como se de mim se tratasse. Eu gosto de ti, por isso, sinto as tuas perdas como se fossem minhas." - tentei confortá-lo ainda mais.
-"Sinto-me derrotado."
Atirou o cigarro para o chão, pisando-o de seguida. Expirou o último fumo que tinha nos pulmões.
-"Não fiques assim. Eu estarei aqui sempre para te ajudar. Podemos estudar juntos, se quiseres. Ainda tens o exame e a oral. Nada está perdido. Apenas terás de te esforçar mais um pouco..." - tentei dar-lhe força e ânimo.
-"Mais ainda?"
-"Um pouco mais. Valerá a pena, vais ver." - disse-lhe, continuando - "Segunda vou fazer as minhas tradicionais compras de Natal; pensei que talvez pudesses vir comigo... Aceitas o convite?" - sorri.
Olhou para mim e sorriu.
-"Estás a falar a sério?" - perguntou-me.
-"Claro. Achas ridículo da minha parte?" - respondi com outra pergunta.
-"Não, não é isso, mas não vejo que interesse eu posso ter para ir contigo..."
-"O interesse normal de um colega... Mas, bom, esquece..." - rematei.
-"Não, não, não leves a mal. Não é nada contigo. É que somos tão diferentes... Não sei que interesse eu possa ter..."
-"Deixas que seja eu a julgar isso?" - sorri, apesar de querer parecer «sério»...
Devolveu-me o sorriso.
-"'Tá bem, 'tá bem" - disse, continuando a sorrir - "E vamos a que horas?"
-"Bom, eu sou muito chato nas compras. Costumo ficar toda a tarde até à noite. Do género, das duas da tarde às dez da noite." - respondi.
-"Agora digo eu: estás a brincar? Isso é um exagero, desculpa lá." - disse, rindo, num tom brincalhão, nada sério.
-"Pronto, eu modero um pouco este ano." - prometi.
-"Não, ficas as horas que quiseres. Eu também tenho de comprar umas prendas para a família. Vou aproveitar e compro também. Parece mal seres só tu a comprar."
-"Não se diz «prenda», é feio; o certo é «presente»." - disse-lhe, brincando, mas não deixando de dizer a verdade.
-"Desculpe, menino, não volto a fazê-lo." - gargalhou.
-"Goza, goza!" - sorri.
-"É melhor irmos andando. É que já entrámos!" - exclamou.
Saímos do jardim e fomos a correr pela faculdade como duas crianças que correm ao sabor do vento. A ânsia e a vontade de sabermos a nota a mais uma cadeira era muita. Porém, enquanto corria, sentia-me mais leve e feliz. Senti-me quase o seu namorado, ou a sua «namorada». Sinto-me mais uma rapariga ao seu lado do que um rapaz. A masculinidade dele consome-me enquanto homem quase por completo. Apesar disso, gosto desta nova sensação. Gosto do papel que desempenho quando estou perto dele. Gosto de saber que ele é a força, eu a delicadeza; ele o trato banal, eu a educação; ele o imprevisto, eu a previsibilidade; ele o comum, eu o incomum; ele a timidez, eu a falta dela. Conseguimos recriar as expectativas que um tem em relação ao outro. Eu quero que ele seja o que é; eu quero ser o que sou.
Olhei pela janela da sala de aula. Os colegas falavam, a professora ouvia.
Eu sentia o frio que trespassava por entre o vidro húmido.
Voei por entre as árvores que observava. Corri ao seu redor.
Voltei à sala quando a professora chamou pelo meu nome.
PS: Tentei recriar as palavras do nosso diálogo da forma mais fidedigna possível. Como devem calcular, é impossível escrever com exactidão cada palavra que dissemos. No entanto, eu tenho uma excelente memória. O discurso foi esse, com mais ou menos alterações. :)
PS: Tentei recriar as palavras do nosso diálogo da forma mais fidedigna possível. Como devem calcular, é impossível escrever com exactidão cada palavra que dissemos. No entanto, eu tenho uma excelente memória. O discurso foi esse, com mais ou menos alterações. :)
O que sera que vai na cabeca do R.???? Mas aceitou o convite :)
ResponderEliminarNão sei! :S Ele baralha-me por completo.
ResponderEliminarSim, e vai ajudar-me a carregar os sacos, que maravilha. :)) Lol
Agora, na segunda-feira, tens uma excelente oportunidade de ficar a conhecer um pouco mais sobre os seus gostos... o que normalmente reflecte muito sobre a personalidade da pessoa. :)
ResponderEliminarAh, e boas férias!
Vocês são realmente muito diferentes.
ResponderEliminarEu, não tenho pachorra nenhuma para andar às compras teria reagido como ele; e continuando a pôr-me no seu lugar, acho que se aceitou é porque gosta mesmo de ti, pois não será algo que o entusiasme muito, peses embora tenha algo a comprar também, mas que provavelmente despacharia numa hora se estivesse só.
Eu já o teria convidado para algo mais comum, como por exemplo ir ver um filme junto contigo; e até pode ser que alguma coisa se defina melhor...
Pois é, Liker, vamos lá ver se me admiro com os seus gostos ou se fico assustado. :)
ResponderEliminarObrigado. Para ti também (caso estejas de férias). :P
Pinguim, eu adoro ir às compras. É que ando lá horas e horas mesmo com gosto. :)
Sim, ele despacharia tudo em uma hora, mais coisa menos coisa. Como os homens normalmente fazem. Lol :)
Sabes, eu não o convido para que suceda alguma coisa. De facto, gosto mesmo da sua companhia. Se acontecer, tanto melhor. :)
Lots of Love to You All. ^^
Quatro horas diárias de estudo! Quatro!?!
ResponderEliminarDepois de ter recuperado do choque inicial que o teu post me provocou… fico contente que tenhas tido coragem de convidar o R. e que ele tenha aceitado.
:) Francisco, temos tanta coisa para assimilar que só lá vai com quatro horas de estudo diárias. Isto é, se quisermos ter bons resultados. É que se estivermos lá para conseguir resultados medíocres, até uma hora - ou menos - por dia chega. :)
ResponderEliminarCoragem eu tenho, mas estava receoso de que fosse indiscreto. :)
Lots of Love. ^^
Bem, vou ter de me capacitar acerca dessas horas de estudo.
ResponderEliminarAchei a conversa muita querida, o R. é mesmo um amor.
Boa sorte para as compras, vai ser engraçado ver os vossos contrastes, isto é, se os tiverem.
Eric, temos, de certeza que temos contrastes. :)
ResponderEliminarSim, ele é simpático, mas é frio, distante. Desta vez até foi uma excepção.
Em relação às horas de estudo, de facto, o Ensino Superior é exigente, mas tu consegues. :)
Lots of Love. ^^
Ainda bem que o convidaste, fico muito contente. A reação dele, pelo que leio no texto, parece ser por ter algum receio dadas as vossas diferenças, e a tua resposta foi muito adequada. Se isto não der em nada (coisa que não acredito) ele saberá pelo menos que tem em ti um bom amigo.
ResponderEliminarBoas compras.
Coelhito, sim, antes de mais, eu sou amigo dele. Só depois penso no que se segue. E se gosto da sua companhia é porque realmente gosto. Foi isso que lhe quis transmitir.
ResponderEliminarObrigado. :) Espero que as compras com o teu coelhinho também tenham sido divertidas. :)
Lots of Love. ^^
o R. mostrou que também gosta de ti ou pelo menos sente qualquer coisa. já foi alguma coisa ele ter aceitado o convite. acho que vocês fazem um par que se completa.
ResponderEliminargostei da forma do texto. tens uma escrita que não é usual por aquilo que eu vejo ai. tens um estilo diferente =)
fica bem e bom Natal.
Tomás, eu não lhe fiz o convite para o conquistar ou para ele gostar mais de mim. Aliás, como já disse várias vezes, eu não gosto de conquistar, gosto de ser conquistado. :) Fiz-lhe o convite porque me apeteceu e porque vi que estava em baixo. Pensei que fosse uma forma de mostrar que tenho apreço por ele e de ele se distrair um pouco também.
ResponderEliminarQuanto à minha escrita, obrigado pelos teus elogios. Sabes, não faço nada por isso. Escrevo o que sinto e sem pensar estrategicamente em nada. Chamem-lhe dom, chamem-lhe o que quiserem. :)
Feliz Natal para ti também. :)
Lots of Love. ^^