26 de dezembro de 2010

Da Quinta


O Natal regressa para o ano. Foram dois dias bem passados, confesso. Ontem, da parte da tarde, rumei para a quinta dos avós no Alentejo. Nem todos os anos passo cá o Natal, todavia, confesso que tem outro sabor. Um sabor mais rural, mais calmo e tranquilo. Passei a noite de consoada com os avós, o mano do meio, a sua namorada, os tios, os primos e ainda com dois amigos dos avós que já não têm família viva. Claro, a mãe também lá estava.
Durante a viagem, observava as cores que o céu assume na quadra natalícia. O escurecer, a queda do orvalho húmido que enobrece a seiva do campo. A mãe dirigia calmamente ao som de Michael Bublé, cantarolando timidamente as letras de cada música ouvíamos. À chegada, os avós receberam-nos com dois beijos quentes e alegres. Os primos já brincavam no chão da sala, junto à lareira. Soube, mais tarde, que os presentes tiveram de ser escondidos da curiosidade infantil. Os primos mais velhos bebiam os aperitivos cá fora. Os primos teenagers (onde ainda me incluo, acho) mandavam sms às respectivas caras-metades e amigos. Fui para o meu quarto na quinta e telefonei ao R. Desejei-lhe um feliz Natal e uma noite agradável. Notei alguma apatia na sua voz. Um descontentamento com a quadra, uma falta de vivacidade... Tentei animá-lo com palavras de apreço e, mais uma vez, tentei redimir-me da falha. Em todo o caso, disse-lhe que tinha trazido o presente na bagageira para o abrir à meia-noite.
A avó bateu na porta do quarto e chamou-me para jantar.
Quando desci já a árvore de Natal tinha imensos presentes (menos os das crianças, que de outra forma não resistiriam até à meia-noite). Já estavam quase todos sentados à mesa, exceptuando eu e mais alguns primos. A avó já sabe que alguns não comem o tradicional bacalhau, onde me incluo, algumas primas e uma tia, mulher do tio Zé. A prima Ana, que é uma querida, apesar de ser uns aninhos mais velha do que eu, o que provocou algum afastamento natural entre nós, tem um corpo de sonho. Não é por ser minha prima, mas é linda. Não a imagino a comer bacalhau com batatas e couve. Ahahahahahahah. Por todos estes motivos, a Glória preparou-nos polvo cozido com salada. É, como se sabe, a ementa de Natal alternativa para esta noite. E a prima Bá ainda quis peixe!, nem comeu o polvo.
À meia-noite foi a hora de abrirmos os presentes. Durante o jantar, um dos tios saiu discretamente e foi a todos os carros descarregar os presentes e colocá-los na árvore, incluindo os nossos que comprámos para oferecer. Ver as faces de alegria dos primos mais pequeninos é um bálsamo para a alma. Sentei-me perto da árvore e ajudei-os a abrirem os presentes. Eram seis, com idades entre os dois e os sete anos. As vozinhas deles: ""Pimo", ajuda a abrir..." chega a comover-me. Isto é o meu relógio biológico. Ahahahahahah. Tenho de ser pai em breve. Alguma mãe se candidata? :)
Acabámos a noite a falar, sentados na sala. A mãe bebia o seu whisky velho, assim como o avô e os tios. A mãe é "um dos homens mais fortes que eu conheço", roubando a ideia a Ronald Reagan quando se referiu a Margaret Thatcher, adaptando-a. A mãe é, efectivamente, uma mulher num mundo (ainda) de homens. Muito feminina, mas implacável e masculina na forma de agir nos negócios. Admiro-a imenso e lastimo não ter herdado a sua veia económica. Sou um menino de Letras. :)
Os primos rapazes falavam de futebol, de televisão, de política e das namoradas. Como devem imaginar, não somos especialmente próximos. Tenho uma relação com as primas que não tenho com os primos. Eles respeitam-me, claro, e gostam de mim, apesar de um por outro olhar para mim com um ar: "Será que ele...?", mas não comungamos dos mesmos interesses.
Os presentinhos foram bons.
Hoje, o almoço de Natal foi o tradicional faisão com laranja, que eu não comi, como é evidente. :) A Glória fez-nos peru e isso lá comi. É carne, eu sei, mas é branca.
Da parte da tarde, quase todos se foram embora para Lisboa. Eu e a mãe ficámos, assim como os avós, a prima Bá, o Pedrinho e a namorada.
Ainda cá estou e devo ficar até meados da semana que vem. A mãe tirou estes dias para descansar. Infelizmente, tive de trazer os livros da faculdade e os cadernos para estudar, para além de uma mala com roupa para um mês. Ahahahahahah. Eu sou assim.
Quanto aos doces, comi dois sonhos e uma fatia de torta de laranja, mas já rezei três Avé-Maria e vou fazer uma dieta em Janeiro. :)
Gostava que o R. estivesse aqui comigo. A planície é fantástica de Inverno. Se bem que com ele não necessitaria da lareira, de forma alguma. Ahahahahahahah.

8 comentários:

  1. Este é o verdadeiro Natal em família.
    Por aqui o bacalhau reina, sem excepção, mas no jantar de hoje, comi borrego assado, em vez do habitual peru, e estava uma delícia.

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  2. Que bacana, realmente natal em familia nao tem preço, ainda mais na presença dos avós...
    Pena que todos meus avós já não pertecem mais a esse mundo...
    Forte abraço!

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  3. Essa citação do Ronald Reagen é genial.

    Também sou muito selectivo com a comida, a minha mãe teve que fazer peru para a consoada só para mim.

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  4. Tu não tens emenda! Então ainda foste mentir ao rapaz e disseste-lhe que levaste a prenda para abrir à meia noite? Ai Mark, só mesmo se chamares a isso uma mentira piedosa.
    Por outro lado, estás mesmo caidinho...
    Estuda muito, pode ser que os ares do campo te inspirem. E sobrevive às saudades.

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  5. hmmm, faisão. que maravilha. Vocês tratam-se muito bem. Um abraço Mark

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  6. Coelhinho, e levei mesmo o presente. Naquele dia só espreitei para dentro do embrulho para ver o que era. :)
    Voltei a fechar e trouxe-o para o abrir oficialmente. :)


    Lots of Love to you all! ^^

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  7. Este texto expressou o meu Natal de sonho: uma familia grande toda reunida a trocar afectos e prendas.

    Gostei da última parte acerca da lareira. Hahaha

    Um bom ano.

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  8. Eric, um dia terás essa família unida. Este teu comentário deixou-me nostálgico. :) Mereces ter isso e muito mais, acredita. :)

    Bom ano para ti também. :))

    Lots of Love. ^^

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