11 de novembro de 2010

Doce Sabor

O dia começou com aulas no auditório. Eu gosto das aulas em auditório. Gosto da sensação de estar a ouvir uma pessoa mais velha e experiente a falar. Gosto, sobretudo, de aprender mais. Aprender com quem tem algo para ensinar. Aprender as matérias, mas também aprender o que é a vida real. Na faculdade, pelo menos em algumas cadeiras, aprendemos que existe uma vida que se sobrepõe e completa os programas leccionados. Aprendemos o dever de responsabilidade, ouvimos os conselhos de quem deseja que sejamos a esperança única de um país desiludido com o seu futuro. Aprendemos, por fim, que lá fora existe injustiça que é necessário combater. Lá aprendemos a teoria, a vida encarregar-se-á de nos ensinar a prática.
Estava tão concentrado no discurso do professor que não senti o R. a sentar-se ao meu lado. Apenas senti o som da cadeira móvel a baixar e de alguém que tinha acabado de chegar. Dei pela sua presença e trocámos o habitual «olá». Hoje estava sério, calado. Sentou-se confortavelmente e ficou a escutar o professor com atenção. Que estranho, pensei. Parece-me mais magro do que quando o conheci. As mangas da camisola arregaçadas para cima revelavam os seus braços morenos e vigorosos. Estava totalmente relaxado com os braços sobre a superfície de madeira enquanto eu tirava apontamentos atentamente. Ao parar, também eu me encostei para trás. Passados uns minutos, sinto o seu braço a atravessar as minhas costas, de forma a que ficou com o braço esquerdo sobre a superfície de madeira da fila imediatamente atrás da nossa. Ou seja, envolveu-me por completo. Creio que me estou a fazer entender. Parecia que queria colocar o braço sobre os meus ombros. Intimidou-me. Senti o cheiro do seu after-shave e do detergente suave da sua roupa. O seu braço é tão masculino, com algumas veias salientes e alguns pelitos castanhos claros. Eu olhava assustado para a sua cara mas ele não desviava o olhar do professor. O meu coração batia profundamente sob o efeito daqueles aromas exalados por ele. Desejei que me tocasse. As suas pernas abriam-se cada vez mais. Travei o meu ímpeto selvagem de o tocar com a mão. Olhei para e vi uma proeminência anormal. Um alto vigoroso surgia querendo sair por entre as suas calças. Uma colega sentou-se do meu lado esquerdo.
Comecei a falar com ela e simultaneamente com ele. Apercebi-me de que a vida é feita destes pequenos momentos. Mark, parvo, ele está com o braço a envolver-te sem te tocar, está ao teu lado, está a falar contigo, aproveita! Fala, brinca, ri-te, manda-lhe olhares, saboreia o momento! Para o ano ele pode já não estar e podes nunca mais o ver.
Foi o que fiz.
Levei o resto da aula a fazer tudo o que descrevi acima. Aproveitei e é tudo tão inocente. São só pequenos gestos mas eu consigo interpretar o que ele quer. Digamos que os namorados beijam-se, amam-se publicamente; ele, como não pode fazer isso, tenta demonstrar carinho por mim da forma como pode. Da forma como é aceite. É um pouco triste, eu sei, mas a vida é assim.
Ainda fomos todos (eu, ele e uma colega) à papelaria da faculdade, ao bar e até ao jardim. Vou aproveitando cada dia. Cada um é único e irrepetível. Quem conhece o amanhã? A nossa química é muda, contudo, compreensível.
Respeito-o e ele respeita-me. Gosto da sua companhia e creio que ele gosta da minha.
Retiro das suas acções todo o doce sabor de cada olhar, toque ou palavra.

5 comentários:

  1. Ai que eu não me continha assim tanto; respeito sim, mas tinha-o tocado "sem querer" com a perna...
    Bem, "prazer adiado é prazer aumentado"...
    Hoje sou eu que estou ousado, desculpa, mas a minha cabeça está neste momento em Belgrado!!!!

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  2. Uau, não imaginas a felicidade que me invadiu quando li este post, está magnifico, imaginei cada palavra. É fantástica essa "revelação", é como se ele estivesse a responder-te com linguagem corporal, tal como tu o fizeste. Parece-me que as coisas estão a ir no bom sentido, que continuem assim, boa sorte!

    PS: Confesso que fiquei com um bocadinho de inveja, mas também ainda não perdi a esperança de algum dia o Tuga se revelar.

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  3. Gosto tanto destes posts. Se chegasses ao fim e dissesses que tudo isto era um trabalho de ficção eu ficaria muito triste.

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  4. Realmente, eu não me continha. Tocava-lhe na perna, ou caso tivesse "maluco" dava-lhe mesmo um beijo...

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  5. tens de combinar com ele uma saída à noite. O escuro liberta

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