D. Maria I é uma figura ímpar da História de Portugal. Foi a primeira rainha de jure, sucedendo a seu pai, El-Rei D. José I. Nesse sentido, D. Maria I foi a primeira mulher a governar em Portugal de forma legítima. As historiografias portuguesa e brasileira não têm sido correctas para com esta rainha. D. Maria I foi uma monarca por excelência, diplomata, corajosa e decidida, não obstante o seu forte pendor religioso.
D. Maria I nasceu a 17 de Dezembro de 1734, em pleno reinado de seu avô, D. João V. A pequena Maria, como filha primogénita do herdeiro da coroa, o princípe D. José, ficou em segundo lugar na sucessão ao trono, logo a seguir ao seu pai, recebendo o título de Princesa do Brasil, título até então atribuído aos herdeiros do trono do sexo masculino. O seu avô alterou estas leis e agraciou a sua neta com este importante título honorífico. D. Maria cresceu no luxo e no fausto da Corte do seu Magnânimo avô, o que influenciou a sua educação. Com a subida ao trono do seu pai, e pelo facto de não nascerem filhos varões, D. Maria assumiu cada vez mais um papel de destaque. Em 1760, D. Maria casa com o seu tio paterno, D. Pedro, assegurando a legitimidade da coroa portuguesa. Sublinhe-se que a princesa, para a época, casou muito tarde. Em 1755, dá-se o Terramoto de Lisboa, facto que perturbou a princesa D. Maria e provocou a ascensão de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, pessoa pela qual D. Maria nutria um profundo desprezo e rancor. Em 1758, a execução de importantes membros da fidalguia portuguesa, os Marqueses de Távora e o Duque de Aveiro, implicados numa tentativa de regicídio, afectou fortemente a estabilidade emocional de D. Maria.
D. Maria ascende ao trono com a morte de D. José I, em 1777. Uma das suas primeiras medidas foi afastar o Marquês de Pombal da governação do Reino (o mesmo já tinha pedido a demissão). Instaura-lhe um processo que não chega a conclusões definitivas. Muitos pretendiam o julgamento e a execução do Marquês, porém, a rainha contentou-se com o seu desterro para o vilarejo de Pombal, proibindo-o de regressar à Corte. Os primeiros anos da sua governação foram benéficos e ficaram conhecidos para a História como a Viradeira, ou seja, um retrocesso nas políticas pombalinas. A nobreza recuperou algum poder, bem como a Inquisição, que estava fortemente diminuída. No entanto, em 1786, morre o seu marido, o rei D. Pedro III, facto que a abalou fortemente. Em 1789, despoleta a Revolução Francesa, que acaba com o Antigo Regime e com o Absolutismo Régio. A rainha, absoluta, ficou chocada com a execução de Luís XVI, em 1793. Todavia, a fatalidade que mais contribuiu para a sua instabilidade mental foi a morte precoce do seu filho primogénito e herdeiro da coroa, o princípe D. José. A partir de 1792, a rainha perdeu a razão de forma permanente, obrigando D. João (filho secundogénito), futuro João VI, a assumir a regência em nome de sua mãe. Desengane-se quem pensa que D. Maria morreu poucos anos depois. A rainha viveu mais 24 anos, tempo suficiente para se dar conta (terá dado?) das invasões francesas e da subsequente fuga para o Brasil. Haveria de morrer em 1816, com 82 anos de idade, uma longevidade raríssima naquela época. Viveu longos 24 anos no seu mundo especial...
No Brasil, a rainha é recordada pela sua loucura e, de facto, existem episódios muito caricatos. Conta-se que a rainha adorava ir ver o mar no Rio de Janeiro, mas tinha o péssimo hábito de se querer despir, acto que em muito constrangia as suas aias. Morreu longe do seu Portugal, onde cresceu a ver e ouvir as óperas, as árias e as peças teatrais que em muito marcaram a sua juventude. Um ano antes de morrer, em 1815, foi agraciada com o título de Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
D. Maria I é uma das minhas monarcas favoritas. Adoro-a inexplicavelmente. Tenho uma curiosidade em saber o que pensava durante tantos anos de loucura, como via o mundo. Nunca o irei saber. No entanto, admiro a honra e o respeito daquela época. Um rei só o deixava de ser pela morte. Deixou de governar, efectivamente, em 1792, mas D. João, o seu filho, manteve-se como regente, assinando e decidindo em nome da sua mãe. Muito idosa e louca, um ano antes de morrer, em 1815, foi aclamada rainha novamente, devido ao facto do Brasil ter ascendido à categoria de Reino Unido a Portugal.
D. Maria é muito relembrada no Brasil, felizmente. Ficou na memória do outro lado do Atlântico. Por cá, poucos se recordam dela. Os portugueses são, em geral, um povo que desconhece a sua História, aliás, um povo que não sabe nada, a não ser de futebol, falta de educação e álcool. Da minha parte, recordar-me-ei sempre daquela que foi a primeira Rainha de Portugal.
Mais uma bela lição de História. E quem quiser complementar este belo texto, visite o Palácio de Queluz.
ResponderEliminarAmo estas tuas lições de História, são sempre fantásticas e cativantes.
ResponderEliminarSempre me interessei por História, especialmente a História do Mundo Antigo, mas a Época Medieval e Renancentista também me fascina por todo o requinte e sabedoria.
Continuação de posts cativantes.
O texto está bem escrito, faz juz à história de Portugal. Só não entendo o último comentário, em que chama de ignorantes a todos os portugueses. Não o deveria fazer. Em Portugal existe com muita cultura, e gente sóbria.
EliminarMuito obrigado, Anónimo. :) Ainda bem que gostou!
EliminarBom, queira perdoar-me. Tinha menos quatro anos. Era (ainda) mais imaturo. É evidente que há gente de valor em Portugal. Fui extremista. Bem, também fiz a ressalva: "regra geral". E, assumamos, não me afastei muito da verdade. :)
Se um um dia eu puder e assim Deus me permitir, conhecerei o Palácio de Queluz
ResponderEliminarEspero que sim, Mônica. :)
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