3 de fevereiro de 2021

Rumos.

 

   Este desabafo é muito íntimo, muito pessoal. Creio que há muito tempo que não falava tão franca e transparentemente de mim. A idade das grandes exposições ficou lá atrás (que nunca foram tão grandes assim). Perdi a necessidade de contar aqui o que me angustiava.

    Pela primeira vez na vida, sei o que quero; sei o que quero de futuro, sei o que quero para mim, após anos, muitos, de instabilidade e devastação emocional, de crises existenciais, de fracassos autoinfligidos por teimosia e inércia. Pela primeira vez, gozo de uma tranquilidade e certeza inabaláveis. O futuro desvenda-se-me ante mim com uma clarividência total. Quase que consigo apalpar cada degrau. Já defini mentalmente cada etapa.

   O primeiro passo, de suma importância, dei-o o ano passado, quando bati com a porta e deixei tudo, rigorosamente tudo, para trás. Não vim com uma mala de cartão como a outra (pelo contrário até, com bastante segurança), mas não é menos verdade que cheguei aqui com a roupa que trazia vestida. Sem medos. Falta, entretanto, concretizar o que comecei, e agora não depende exclusivamente de mim, mas do meu marido, que não se pode ausentar do rural galego. Preciso da cidade. Preciso da cidade para me começar a dar sentido, para fazer surgir um eu que não existe e que idealizo há tanto, oh, tanto tempo, e que teima em não sair dos projectos que se sonham e se adiam. 

    Os mais próximos aconselham-me a ter paciência. É difícil ter-se paciência quando se vê o copo meio cheio, ou meio vazio, e com o tempo a correr atrás. Impiedosamente.

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