Não há muitas actividades para desenvolver no rural galego, ainda menos em contexto de pandemia. Quando morava em Lisboa, ia frequentemente ao cinema, esporadicamente ao teatro, assiduamente a museus, exposições e palestras. Aqui, não há nada disso. As cidades mais próximas distam 70 e 30 km, num e noutro sentido.
Já nos meus derradeiros dias em Portugal, mas sobretudo aqui, comecei a ver séries. Há umas semanas, começámos a ver Guerra dos Tronos, a épica produção do canal americano HBO que tanto sucesso fez ao redor do planeta. Desde logo, estranhei, uma vez que não gosto especialmente do género fantasia. E não é que a série é realmente boa? Tem fantasia, tem-na, mas eles fizeram aquilo de uma forma que a mim, particularmente, caiu bem. Provavelmente porque mistura história ficcionada, mitologia, intrigas palacianas, conflitos, religião. Vamos terminar hoje a sexta temporada e, assim espero, iniciar a sétima e penúltima.
Sem contar muito, que quem saber vê, Guerra dos Tronos passa-se algures no início da nossa era, num continente ficcionado chamado Poniente (ou Westeros), dividido entre várias casas senhoriais que dominam vastas áreas feudais (os Sete Reinos) sob o ceptro da família Lannister, que vive em Desembarco do Rei. É precisamente nos domínios da coroa que está o Trono de Ferro. A série centra-se no assédio de várias das casas nobiliárquicas ao trono.
A violência é transversal a todas as temporadas, o que se compreende tendo em conta que o autor se inspirou claramente na Idade Média europeia, que não foi exactamente uma época de tolerância. A religião não existe como a conhecemos, ainda que George R. R. Martin -o autor da saga literária que deu origem à versão televisionada- tenha introduzido elementos do cristianismo e do paganismo. A fé predominante em Westeros consiste na adoração a sete deuses. Há personagens, entretanto, que professam outras crenças.
Pressinto que Guerra dos Tronos tenha estabelecido um novo interesse em mim, ou pelo menos esbatido o desprezo pelo género fantasia (que não era mais tão inflexível desde American Horror Story). Derrubou alguns preconceitos que cultivava. Nem toda a fantasia é infantil. Nem toda a fantasia é um sem-sentido total. A conjugação de vários elementos, medievo e fantasia, religião e paganismo, tolerância e extremismo, resultou numa produção fantástica, muitíssimo bem dirigida e realizada, excepcionalmente caracterizada e interpretada.
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